Yoo Minna
Sejam todos bem vindos ao meu blog!
Se desejarem entrar em contato comigo, ADD Dayannah no Amor Doce.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

FanFic- Por Demetria- 47 Capítulos- Encerrado

Yooo Minna

Alguém ai curte animes??
Já ouviram falar do anime Rosário + Vampire??

Bom, a jogadora de AD, Demetria, criou uma FanFic do AD baseada no anime!
Eu adorei, espero que curtam!!

#Dayannah


http://imageshack.us/a/img855/4940/cima2.png


Mais uma vez, deixando bem claro que essa fic é baseada no anime: Rosário + Vampire



É a minha 1ª fic sobre amor doce e também a primeira usando tantos personagens, então me desculpem e puxem a minha orelha se algum personagem principal ficar meio de lado, mas garanto que os meninos principais vão ter no mínimo um capitulo inteiro de destaque no desenrolar da história.  Resumindo: Tenham paciência com a minha pessoa, desculpem-me qualquer erro.

Dicas, sugestões e críticas construtivas serão bem aceitas. 

Um agradecimento especial, pra minha amiga, beta, ajudante Florzinhaaa e também as meninas que aceitaram participar da fic. ♥

Tema: Vida escolar, fantasia, romance, comédia e futuramente drama.

Sinopse

A história se passa - na maior parte do tempo -  no internato para monstros chamado: Sweet Amoris Youkai.
O principal objetivo do colégio é ensinar os monstros de todos os tipos a coexistirem com os humanos, para que possam sobreviver no mundo que dominado por eles.

As três regras bases do regimento escolar são:

1° Os alunos em hipótese alguma devem dizer uns aos outros qual é a sua forma original.
2° A transformação só será aceita, sem punição, se ocorrer em casos de EXTREMA necessidade.
3° Os humanos que conseguirem, por alguma desventura cruel do destino, colocar os pés na escola Youkai, serão mortos imediatamente.

O que aconteceria se 2 humanas trocassem sua inscrição acidentalmente e fossem parar no internato errado? Conseguiriam viver um mês naquele lugar sem revelar sua verdadeira natureza? Talvez os garotos de beleza desumana tornem sua estada nesse lugar misterioso mais fácil... Ou seria o contrário?

Personagens

Primários →

Feminino:
Demetria (Demi) Kanade – Humana - @demetrria
http://imageshack.us/a/img706/4075/demikanade.png

Flor – Humana - @florzinhaaa
http://imageshack.us/a/img51/5048/flory.png

Catrinn Hudson – Raça: Bruxa /Mestiça – Classificação: E - @Dhampir
http://imageshack.us/a/img138/2602/catrinn.png

Callisto – Raça: Mulher  Neve – Classificação: D  @Eycharistisi
http://imageshack.us/a/img338/8011/calisto.png

Anelize – Raça: Mulher Gato – Classificação: E - @lua312
http://imageshack.us/a/img255/307/anelize.png

Cristãs - Raça: Succubbus - Classificação: C - @cristthall
http://imageshack.us/a/img18/2567/crists.png


Masculino:

Lysandre – Raça: Vampiro – Classificação: A
Castiel – Raça: Râkshasa (Tigre) – Classificação: B
Nathaniel – Raça: Lobisomem – Classificação: B
Armin – Raça: Bruxo – Classificação: C
Alexy – Raça: Bruxo – Classificação: C

Secundários →
Leigh – Raça: Vampiro – Classificação: A – Enfermeiro
Kentin: Raça: Elementar água – Classificação: D
Jade – Raça: Elementar terra – Classificação: D – Professor
Ambre – Raça: Lâmia – Classificação: C
Charlotte - Raça: Sereia - Classificação: C
Melody - Raça: Transforma (Cobra) - Classificação: D
Rosalya – Raça: : Gumiho (Raposa de 9 caldas) - Classificação: D


Alguns outros personagens do jogo podem surgir, mas com uma relevância menor.

O que é a classificação “A, B, C, D ou E”?

Significa o grau de periculosidade e raridade de cada raça, considerando principalmente a sua FORÇA. No caso A é a mais rara e forte e E é a mais irrelevante.
No decorrer da história irei deixar mais claro a característica de cada raça e classe.

Chega de falar, vamos a fic. (:


PRÓLOGO

Meu nome é Demetria Kanade, mas todos costumam me chamar de Demi. Tenho 16 anos e sou filha mais nova de uma família rica e bem estruturada. Meus pais amam minha irmã mais velha, que acabou de entrar na faculdade. Ela sempre matou aulas, viveu a vida adoidada enquanto eu estava trancada dentro do meu quarto lendo, estudando, sendo certinha e uma boa filha. Sabe o que eu ganho por ter as melhores notas? Por em comportar? Por não ter uma tatuagem vulgar na árvore e não fumar mais que uma caipora? Sou mandada para um internato, por que segundo os meus pais:
“Essa é a melhor forma de você demonstrar ainda mais seu potencial, temos certeza que você se dará bem, amorzinho.”

Em toda a minha vida a única amiga que consegui fazer foi Flor, com a personalidade bem ao contrário da minha, ela é espontânea e às vezes a invejo por levar tudo tão bem e mesmo que ela sempre nos coloque em encrencas, ela sempre nos ajudar a sair.
Não questionei meus pais, na verdade pensei: Quer saber, nessa nova vida pra qual estão me mandando, espero fazer tudo o que não fiz, tentando agradar meus pais. Ou seja, eu vou ser uma boa aluna, mas se tiver vontade de fazer uma tatuagem na TESTA farei e dane-se tudo. Pra minha sorte, Flor perturbou tanto os pais dela que acabou por ser transferida também, acho que não conseguiríamos enfrentar qualquer lugar se estivéssemos sozinhas. Digamos que a única coisa que temos em comum é que: Todos nos acham umas perdedoras, mas é por que não nos conhecem de verdade.

CAPITULO 1 •• 1° passo para a liberdade.

Desci do trem e arrumei a alça da minha bolsa sobre o ombro, percebendo que nunca havia visto aquela estação TÃO lotada. Será que assim como nós, estão todos de mudança? Mas garanto que nenhuma dessas pessoas que passeia tão descontraidamente de um lado para o outro esteja se sentindo tão bem quanto eu, esse era meu primeiro passo para a liberdade.
- Mas de onde foi que brotou tanta gente? – Ouvi minha melhor amiga, Flor, resmungar ao meu lado enquanto parecia emergir da multidão.
- O que houve com você? – Perguntei ao nota-la perdida atrás de uma vastidão de cabelos negros. A garota bufou, esse ato fez com que vários dos fios flutuassem e revelasse a sua expressão NADA contente, me arrancando uma risada.
- Deixe-me adivinhar, você foi mastigada por alguma vaca e depois cuspida? – Ainda perguntava tentando segurar o riso, enquanto ela arrumava os cabelos e a mochila nas costas.
- Não fui mastigada, fui pisoteada mesmo. – Ela me lançou aquele olhar de: “Se abrir a boca de novo, te espanco” e com isso pressionei os lábios e fui andando na frente, pra que ela não me visse rindo.
Saímos da estação e o movimento ali era bem menor, dava até para respirar sem sentir o cheiro forte de perfume ou outro odores. Estendi os braços para me espreguiçar e um vento frio soprou minhas roupas, sacudindo o tecido fino do vestido branco que eu usava, por sorte não sentia tanto frio nas pernas e usava uma jaqueta azul bem potente.
- Eu pensei que o inferno fosse mais quente. – Flor quebrou o silêncio e voltei a ri, dando um cascudo no alto de sua cabeça.

- Eu disse que o clima aqui era diferente, quem mandou colocar essa camiseta sem mangas, fina e larga? Caberia duas de você aí dentro, se você assumisse que precisa fazer dieta. – Pronto, foi tudo o que precisei dizer pra levar um tapa certeiro na nuca, mas ainda sim continuei a ri, era nosso tratamento carinhoso aflorando.
- Olha quem fala! Se enxerga baleia, você come mais do que um bebê dinossauro. Pra alguém do seu tamanho é muito e não sei onde vai parar tanta comida. – Revirei os olhos e fiz careta, que exagero! Eu não comia tanto quando ela dizia, mas resolvi não discutir.
- Vamos, temos que pegar o ônibus pra escola. – Batendo o pé e empinando o nariz, fui à frente como se soubesse exatamente onde devia esperar a condução.
- Ameba, é por ali. – Ouvi a voz da minha amiga e olhei pra onde ela apontava, verificando que havia uma placa GIGANTE indicando o ponto de ônibus.
- Eu já sabia, estava só descobrindo novos caminhos. – Dei de ombros e arrastei a mala para o outro lado, ouvindo as risadas atrás de mim.
- E ainda se diz a mais inteligente. – Mais uma gracinha dela e nós cairíamos no braço ali mesmo.

**

- Neeeeeum neuuum, nheeeeum tanananaã nã nã NÃ! – Ouvir aqueles guinchos me faria acreditar que ela estava sofrendo de sérios problemas mentais, se que não a conhecesse e soubesse que ela estava apenas tocando a sua guitarra imaginária, provavelmente era Nirvana. Não que eu não goste, eu realmente gosto... Só não 24 horas por dia, acompanhado por aquele barulho que ela fazia, que parecia muito o gato da minha irmã quando estava com dor em algum lugar.
- FINALMENTE, o ônibus. – Levei as mãos aos céus e agradeci por essa benção. Joguei a bolsa nos ombros e levantei, afinal estava sentada sobre a mala, já que não havia ali nem um mísero banquinho.

O ônibus parou a nossa frente e abriu a porta. O motorista estava todo vestido de azul, e o chapéu que usava era muito maior do que a sua cabeça, já que seus olhos mal apareciam. Ele virou-se lentamente e quando aqueles olhos psicopatas se colocaram sobre nós, eu senti um calafrio estranho.
- Legaaal... Vamos. – Ouvi Flor dizer, mas antes que pudesse falar mais alguma coisa ela já havia subido para o ônibus. Eu fiquei ali, parada com um mau pressentimento zumbindo na minha cabeça.
- Não tenho o dia todo. – A voz dele soou como a de um monstro, acho que fiquei com tanto medo que quando vi, já esteva encolhida em uma cadeira.
- Antes... O passe de vocês. – Ele tinha grandes olhos negros, a sua íris de formato estranho ocupava quase toda a órbita dos olhos, percebi isso enquanto ele nos fitava pelo retrovisor.
- Passe? – Flor vasculhou a bolsa e encontrou lá dois envelopes lacrados em um papel encardido, com um grande brasão pressionado em cera vermelha, pra selar o conteúdo.
- Espera, onde você conseguiu isso? – Perguntei estendendo a mão para toca-los, mas a garota agindo com naturalidade – como sempre – levantou e entregou os envelopes ao motorista, que tinha a pele mais branca que já vi na vida.
- Deve ter vindo junto com as folhas para preencher a inscrição, não seja tão paranoica e aproveite a viagem. – Ela me lançou aquele sorriso irritante que dizia: “Vai ficar tudo bem!” e ficava mesmo tudo bem, depois da gente quase perder um membro do corpo. Cá pra nós, eu sou muito nova pra ficar sem alguma parte preciosa.

Durante a viagem fiquei me coçando pra comentar sobre como aquele era o cara mais estranho que vi na vida, só que algo me dizia que ele podia escutar até os meus pensamentos e por isso me abstive a apenas observar a paisagem lá fora. Apesar do vento frio, o sol estava iluminando tudo e parecia que as cores estavam muito mais fortes pela manhã.
- As senhoritas que são novatas na Academia Youkai, não são? – A voz monstruosa e grave ecoou pelo ônibus que rangia estranhamente.
- Somos! – Flor respondeu de forma animada enquanto eu tentava entender que academia era essa? Alguma academia de Yoga?
- Academia Youkai? Do que ele está falando? – Sussurrei entre os dentes depois de me inclinar na direção da minha amiga que estava sentada ao meu lado.
- Não faço ideia, apenas sorria e acene. – Ela me respondeu da mesma forma e eu voltei a sentar direito com o sorriso falso implantado no rosto.
- Então é bom vocês se prepararem. – Ele terminou a frase e aí que eu senti vontade de abrir a janela e me jogar dela, por que tinha a sensação de que algo muito errado ia acontecer.

Tentei voltar a enxergar a paisagem lá fora, mas aquele “aviso” não me deixava pensar e nada mais.  Nesse momento entramos em um túnel sem um pingo de iluminação, demorou um tanto até que chegássemos do outro lado e quando chegamos o ônibus parou imediatamente.
- Chegamos. – Eu queria fazer diversas perguntas pra ele, mas estava tão amedrontada que peguei as minhas coisas e corri até a porta do ônibus com Flor do meu lado, tentamos passar pela porta juntas e acabamos as duas rolando pra fora do transporte,  nos estatelando no chão.
Antes de sair o motorista abriu um sorriso diabólico e seus olhos pareceram brilhar por algum instante.
- Tomem cuidado, minhas jovens. – Dito isso ele soltou sua risada diabólica, fechou a porta e arrancou com o ônibus. Fiquei ali parada tentando entender os avisos do cara estranho.
- Espero que tenha uma caixa de sugestões, por que vou sugerir que troquem esse motorista o mais rápido possível. – Deslizei os dedos por entre meus cabelos platinados e arrumei o chapéu sobre a minha cabeça.
- Ótima ideia, agora SAIA DE CIMA DE MIM! – Opa, nem percebi que estava sentada sobre as costas de Flor.
- Por isso achei o chão tão macio. – Falei depois de me levantar e tentar ajuda-la, mas ao invés de segurar a minha mão ela tentou me acertar socos.
- Não ajudo também. – Parei de querer ajuda-la e comecei a deslizar a mão pelas minhas roupas, para bater a poeira. A garota se levantou sozinha e xingou até a minha décima geração, o que estava mais que acostumada. O estranho foi que Flor parou de repente e ficou me encarando com cara de susto.
- Que cara é essa? Eu sei que minha beleza surpreende, mas não precisa exagerar. – Sorri e ela estendeu a mão, apontando pra trás de mim, arqueei uma de minhas sobrancelhas e me virei, dando de cara com a coisa mais sinistra que já vi: Um grande e sinistro mar com tonalidade vermelha, depois de um penhasco do qual estávamos bem próximo da ponta.

CAPITULO 2 •• Em um novo mundo

Não costumo me impressionar fácil, sabe? Mas não é todo o dia que vejo aquele bando de água com aquela coloração. Depois que passamos pelo túnel parecia que havíamos entrado em um mundo completamente diferente. O sol que eu admirei há minutos atrás simplesmente desapareceu e o céu estava totalmente carregado de nuvens cinza. A iluminação do ambiente era diferente também, parecia mais vermelha... Mais sombria.
- Melhor nós sairmos logo daqui. – Flor tinha a voz um tanto aterrorizada. Para você ver, se ELA estava amedrontada, imagine EU? Engoli a seco e respirei fundo, dando alguns passos para trás sem tirar os meus olhos da água rubra.
- Talvez seja só a iluminação, ou poluição. – Falei mais pra mim do que pra ela. Era isso, não pode existir uma água assim. Continuei a dar pequenos e receosos passos de costas, até sentir esbarrar em alguma coisa. Meu rosto se moveu lentamente até fitar o de Flor, que levava uma expressão chorosa.
Se eu não estivesse com tanto medo, juro que ia ri da cara dela, mas tudo o que fiz foi olhar pra trás.

Havia duas orbitas vazias e tenebrosas de um esqueleto bem atrás da gente “olhando” em nossa direção, quando tentamos nos mover o maxilar da caveira se moveu também e isso foi demais pro meu coração.
- AAAAAAAA NÓS VAMOS MORRER! – Berrei de forma histérica e Flor me acompanhou nos gritos, se debatendo. Comecei a me debater também, mas quando fui correr senti que meu casaco ficou preso.
- ELE ME PEGOU, EU VOU MORRER, ELE ME PEGOOOU. SOCORROOO. – Meu chapéu já havia voado. Debatia-me em desespero e me descabelava, tentando me livrar da caveira assassina que me segurava, pronta para ceifar minha vida com as suas mãos esqueléticas, e eu vivi tão pouco. Adeus mundo cruel.
- Demi, para! Para de se mexer. – Ouvi a voz risonha de Flor, mas como ela podia está tão calma enquanto eu estava sendo arrastada para a morte certa?
- VOCÊ!! SUA COBRA TRAIÇOEIRA, EU AQUI MORRENDO E VOCÊ RINDO? ME AJUDAAA. – Gritava enquanto ainda tentava me soltar. Só não tirava o casaco por que ele era bem quentinho e eu ganhei da minha mãe, num acesso de peso na consciência que ela teve.
- Paaara sua inútil! Não tem monstro nenhum, você só está presa em um espantalho. – Nesse momento a minha ficha caiu. Pensando bem ele não havia saído do lugar, se fosse pra me matar ele não iria ficar esperando tanto, não é mesmo? Parei de me debater e implorar pela minha vida e quando o fiz, Flor desenlaçou o prego, em que uma tira da minha jaqueta azul ficou agarrada.

- Você precisava ver a sua cara de desespero, eu tinha que ter filmado isso. – Ela começou a gargalhar bem alto.
- Eu só me assustei um pouco! Para de bancar a hiena e vamos logo. – Sentia minhas bochechas quentes, não sou do tipo de pessoa que demonstra tão claramente o meu desespero, mas esse lugar me deixou BEM, sensível.
“Ai me ajudaaaa, ele me pegou” – Enquanto me esforçava pra arrastar a mala pelo chão de terra batida, ainda tinha que escutar Flor me imitando e dando risadas que mais pareciam relinchos.
- Do que você está falando? Você também se assustou. – Fiz careta pra ela e então seguimos pelo único caminho que havia ali.
A maioria das árvores pareciam velhas, seus galhos secos se esticavam por cima de nós quase formando um túnel. Havia pouco verde e quase nenhum som de animal, dando a impressão de que era uma floresta morta.
- Talvez devêssemos voltar e procurar o motorista. Tenho quase certeza que ele nos trouxe para o lugar errado. – Quebrei o silêncio e olhei pra minha amiga pela primeira vez desde que entramos na trilha.
- Já chegamos até aqui, vamos continuar. Talvez encontremos alguém que possa nos informar. – Meu problema não era não está encontrando ninguém, meu problema era o medo que tinha de QUEM iriamos encontrar.

- Você ouviu isso? – Perguntei, e Flor me fuzilou com seus olhos coloridos. Sim, ela tem um verde e um azul e sim, ela odeia quando eu digo que eles são “super coloridos”. A garota estava farta de me ouvir perguntando coisas a cada 5 minutos, mas agora eu havia mesmo escutado alguma coisa.
- Você quer morrer? – Queria dizer: Obrigada pela sua sensibilidade! Eu estou com medo, me julgue.”. Mas fiquei quietinha e fiz bico de choro. Ela parou, bufando e tentando buscar no ar o som a que me referia.
- Dessa vez ouvi! É só o vendo batendo nas folhas, implorando pra que você mantenha a boca fechada. – Cruzei os braços e bati o pé, por que ela tem que ser assim? Não passou muito tempo até eu ouvi o barulho de um sininho.

- SAIAM DA FRENTEEEEEEEEEEE! – Pra mim, tudo aconteceu em câmera lenta. Olhamos ao mesmo tempo na direção do som, só que era tarde demais. Tudo o que pude ver foi um garoto saltando da bicicleta e voando na nossa direção. Depois disso fui esmagada.
Quando abri os olhos, havia dois olhos verdes me encarando de muito, muito perto. De sua cabeça escorriam fios lisos e castanhos, que combinavam perfeitamente com a sua pele branca. Suas bochechas vermelhas pelo esforço se destacavam, e seus lábios finos e bem desenhados se moviam me perguntando alguma coisa, mas demorei muito pra entender.
- Você está bem? – Ah, era essa a pergunta. Pisquei meus olhos algumas vezes e não consegui responder, apenas acenei com a cabeça, de forma positiva.

CAPITULO 3 •• Um novo amigo?

- SOLTA ELA SEU TARADO! – Apresento a vocês: Flor, mestre em quebrar um clima, com estilo.  A garota pegou a bolsa e acertou na cabeça do menino, que rolou para o lado, saindo de cima de mim e tentando se proteger com os braços.
- Flor, para! PARA! Você vai acabar machucando o menino. – Falei alto pra chamar a atenção dela, que parou de acerta-lo com a bolsa.
- Qual o problema? Ele que quase arrebenta a gente! Isso é jeito de dirigir essa gerigonça? Aposto que foi só uma desculpa pra se jogar em cima! Nunca viu uma garota??? – Ela ainda segurava a bolsa em posição de ataque, pronta pra acerta-lo caso fizesse alguma gracinha.

- Não era essa a minha intenção, mas se você quiser eu posso me jogar em cima de você também. – Ele abriu um sorriso safado que fez meu coração tremer e meus joelhos baterem forte... Espera, acho que troquei e...
- TA VENDO? TARADO! E por sua causa eu rasguei a minha calça. – Ela ia dar outra bolsada nele, mas a impedi, enquanto tentava não ri.
- Não seja assim tão estressada e sua calça JÁ É rasgada. – Dei de ombros e ela cruzou os braços, empinando o nariz.
- Mas tem um rasgo que não estava aqui antes. – Revirei os olhos e a ignorei, me voltando ao menino.
- Olá! Sou a Demetria, mas pode me chamar de Demi. A maníaca da bolsa é a Flor. – Ela me encarou, acho que não gostou do novo apelido.
- Prazer! Sou Kentin. Mas me chamem de Ken! Mil desculpas pelo acidente, mas é que a bicicleta perdeu o freio. – Ele fez uma pequena pausa encarando nós duas de cima a baixo, com aquele mesmo sorriso de antes. Confesso que fiquei bem incomodada com isso.
- Você se machucou Demi? Ahh... Não estão vestindo uniformes, mas só se tem um lugar pra ir aqui. Posso acompanha-las? – Olhei pra Flor e ela não parecia NADA feliz com essa história, mas dei de ombros e acenei positivamente com a cabeça.
- Não me machuquei, obrigada por perguntar e vai ser um prazer que nos acompanhe. – O que foi? Ele é uma gracinha.

Durante todo o caminho, eu e Ken embalamos uma conversa amigável sobre coisas bobas, como o ele ficou com o cabelo roxo uma vez. Eu não entendi algumas das coisas que ele dizia sobre habilidades, e sobre ele ser um elementar, mas vai que são gírias novas que não conheço?  Depois de mais uns 5 minutos de caminhada, paramos diante do portão do tal colégio.
- Vou me despedindo aqui. Tenho coisas a resolver, nos vemos depois Demi. – Eu acenei e fiquei observando enquanto ele se afastava.

- Essa escola era bem diferente na internet. – Desviei os olhos de Ken e entendi ao que Flor se referia.
- Isso que chamo de propaganda enganosa. - Por que era exatamente isso. No site, as fotos que vimos do colégio eram totalmente diferentes do mausoléu que encontramos. O internato era gigante, as grades da frente estavam todas enferrujadas e uma estava até meio empinada. O pátio na parte da frente não era muito grande e havia algumas árvores como as que vimos no caminho, meio mortas. A construção era muito larga e tinha uns quatro andares. O telhado e a barra das paredes estavam cheios de musgo e a tinta saindo. Pra dar o toque final, no último andar havia algumas gárgulas, horrorosas.
- Olha colocaram estátuas suas lá em cima, que gentileza, não é Demi? – Flor abriu seu sorriso mais debochado, não resisti e lhe acertei um soco no braço.
- Claro, por que a sua era aquele esqueleto que nos recebeu. – Franzi o nariz e quando percebi, ela já estava quase dentro da escola, enquanto eu estava ali, falando com as gárgulas. Por falar nelas, elas me olhavam de um jeito tão estranho que tratei logo de correr atrás da garota.

O corredor estava bem movimentado e as pessoas nos encaravam de forma estranha, desejava mentalmente que fosse só por que estávamos sem uniforme. A melhor parte de tudo era que dentro da escola não era tudo tão assustador quanto lá fora, e as pessoas pareciam pessoas normais.
- Vocês duas, garotas sem uniforme. – Galei, será agora nossa morte? Virei, dando de cara com uma mulher alta, vestida com uma calça social preta, uma blusa branca por baixo do blazer e os cabelos pretos presos em um coque. Seus olhos negros nos encararam por cima do pequeno óculos redondo.
- Devem ser as novatas. Me acompanhem!  – A mulher tinha uma voz que passava superioridade, quem seria louco de não acompanha-la? Ainda arrastando minha mala, estou pra dizer que não aguento mais, saí tropeçando pelo corredor, cansada de tanto andar.

**

- Esse será o quarto de vocês. – Ela abriu a porta e nos lançou mais um olhar carrancudo.
- Sem uniforme, só nos finais de semana! Mas dou um desconto já que os uniformes de vocês estão aqui. Espero que comecem a ler as regras da escola, entre elas está não se atrasar! O que significa que vocês têm 10 minutos para estarem sentadas em suas respectivas salas, se não desejarem passar a tarde limpando os troféus sobre a minha supervisão. – Dito isso ela saiu e nos deixou lá, em choque
- 10 minutos? – Perguntamos em uníssono e começou a corrida desesperada.

CAPITULO 4 •• Descobertas

Nunca tomei banho, me vesti e penteei tão rápido na minha vida, acho que o caos que o nosso quarto havia se tornado, explicava tudo, mas arrumaríamos quando voltássemos... TALVEZ.
- Assim não dá! Não consegui sossegar a minha bunda nem por um minuto. – Eu fiz cara de choro e concordei, descansar era como um sonho longínquo.
- Ah, é aqui! Sala 2B. – Informei a Flor. Aproximamo-nos da porta e como SEMPRE acabávamos fazendo, tentamos passar pela porta ao mesmo tempo.
- Eu 1°, saiii. – Flor resmungou, e resolvi fazer com ela o que sempre fazia comigo.
- Vaai então, enjoada. – Dei um passo pra trás e ela cambaleou pra frente, quase indo de cara no chão, agora ela não teve que ouvir só as minhas risadas, mas como os dos poucos alunos que estavam ali.

- Sua.. Sua... – Mostrei a língua pra ela e prendi o riso, entrando na sala e desviando do tapa que ela tentou me acertar.
- Então vocês são da minha sala. – Levei um susto quando ouvi a voz de Ken, na verdade desde que cheguei nesse lugar, tenho me tornado ainda mais assustada.
- Oh... Oi Ken, que bom ter mais alguém conhecido. – Não que ele fosse muito conhecido, mas era o mais perto disso.
- Puff... Agora o ambiente ficou poluído, chegou o tarado da bicicleta. – Flor jogou seus cabelos negros pra trás do ombro, empinou o nariz e foi se sentar em uma das mesas que ainda estava livre.
- Não ligue pra ela, ela vai guardar rancor por um tempo. – Sorri sem jeito e me desmanchei quando ele coçou a nuca e sorriu de forma doce.
- Não tem problema, desde que mantenha a bolsa longe de mim. – Soltei uma risada baixa e suspirei, tentando não parecer ainda mais mongol.
- Então... Eu, vou, vou... Vou sentar. – Fiz um breve cumprimento com a cabeça e me virei, dando de cara com uma garota uns 5 centímetros mais alta do que eu e muito linda!

As pessoas aqui são todas assim? Pensei que a pele do motorista fosse branca, até ver a dessa garota. Talvez as tonalidades escuras de seus cabelos curtos, pretos com a franja roxa, que a deixasse ainda mais pálida e isso combinava estranhamento com ela. Seus olhos cinzentos e bem delineados estavam postos sobre mim, parecia desconfiada e entediada ao mesmo tempo e a sua boca formava uma fina linha, deixando-a mais séria. Eu acabaria sumindo, se pudesse encolher de medo.

- Pode me dar licença? – Ao contrário da sua aparência, a sua voz soou menos séria, mas também não era amorosa. Minha ficha caiu, de que ela estava me encarando por está atrapalhando a passagem, e me virei no pequeno corredor entre as fileiras e permitindo a passagem e ainda observando-a ir se sentar.
- Não ligue pra ela, Callisto é mais amorosa quando se conhece. Prazer sou Catrinn Hudson!  E você é? – Finalmente uma segunda alma gentil nesse lugar. A garota era basicamente da minha altura, tinha cabelos negros escorridos, que estavam trabalhados em duas longas tranças laterais, usava uma franjinha alinhada um pouco abaixo das sobrancelhas dando a ela um ar amigável. Seus grandes olhos castanhos eram bem gentis e ela sorria enquanto esperava a minha resposta.
- Sou Demetria Kanade, me chame de Demi. – Ela acenou com a cabeça e se sentou. Finalmente consegui chegar até a cadeira vazia, sentando ao lado de Flor.
- Já te falei o quanto odiei esse uniforme? – Soltei uma risada baixa e acenei com a cabeça.  O uniforme era composto por uma saia azul marinho na altura da coxa, uma camisa social branca e um blazer do mesmo tom da saia com grandes botões dourados e um brasão estranho do lado esquerdo, bordado no bolso. Também tínhamos de usar uma gravada azul, com listras douradas como as que haviam nas bordas das barras da saia e no contorno do blazer. Apesar de não ter o costume de usar tonalidades tão escuras, eu gostei.

- Você está vendo, o que estou vendo? – Desviei o olhar para porta e fui rápida o suficiente para ver entrar um garoto alto, loiro, com cabelos bagunçados, sorriso fácil e olhos no tom âmbar, como os meus. Seus dentes eram tão brancos e perfeitos que fiquei até com vergonha de sorrir.
- Mas o que... Como é possível? Estamos em uma escola de anjos. – Eu mal terminei de dizer essa idiotice e ouvi alguém do meu lado dando uma risadinha.
- Eu não diria bem... “Anjos”. – Notei uma garota de curtos cabelos encaracolados a me encarar, por mais incrível que pareça ela tinha os olhos cor de rosa, possivelmente lentes, e quando sorria, sorria com os olhos também. Prendendo uma mecha de seu cabelo havia uma presilha em forma de estrela e as suas bochechas estavam levemente rosadas, sua aparência era delicada e eu não parava de me impressionar com a beleza das pessoas desse lugar.
- Eu... Não...- Ela balançou a cabeça negativamente e soltou novamente a sua risada melódica.
- Pode deixar, não ouvi nada. – A garota piscou pra mim e voltou a atenção para o livro que estava sobre sua mesa.

- Continue olhando. – Flor me cutucou e ao erguer a cabeça, meus olhos se depararam com outras divindades. O 1° garoto tinha os cabelos negros e olhos de um azul tão intenso, que mal podia imaginar que existia, ao sorrir uma pequena covinha se formou na sua bochecha, ele acenou para a garota que havia falado anteriormente Catrinn e se sentou. Logo atrás dele um menino de cabelos azuis, que parecia muito com o que entrou a sua frente, com o detalhe que seus olhos também eram rosa! Haja lente de contato. Não me importava, combinava perfeitamente com ele. Não sei quando meu queixo caiu, mas eu definitivamente já estava esquecendo os mal bocados que passei até chegar ali.

- É Demi, pela primeira vez na vida por causa de você, eu vim parar no lugar certo. – Flor me deu alguns tapinhas nas costas e se endireitou, enquanto eu ainda tentava assimilar a beleza deles com a realidade. Como era possível?
- Todos em seus lugares. – Acordei do meu transe e fitei a frente da sala, onde uma mulher baixinha, de cabelos curtos e loiros entrou na mesma. Seus olhos eram tão pequenininhos que pensei que ela estivesse com eles fechados. A professora usava uma saia alta em tom salmão, que caiam até os joelhos, e uma camisa social branca com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos, era com certeza a professora mais nova e bonita que me lembro de ter.
- Olá queridos! Sou a professora Ruby e estarei junto com vocês ensinando Inglês durante esse ótimo ano que se inicia. É com um grande prazer que lhes dou as boas vindas. – Ouviram-se alguns sussurros entre os alunos e então ela bateu com a mão sobre a mesa, silenciando-os.
- Desculpe o atraso professora. – Desviei a atenção da professora e fitei o dono da voz grave.
- Certo, sentem-se. - Aquilo é que eu chamo de beleza. Um jovem ruivo com cabelos razoavelmente compridos estava parado na porta, sem o blazer do uniforme, a camisa branca um pouco aberta com uma regata também branca por baixo, sua gravata estava enrolada no braço e um sorriso maroto reinava em seus lábios.

Quando achei que não fosse mais me surpreender, eis que entra um garoto alto, de ombros largos e feições bem desenhadas, cabelos brancos com as pontas e partes pintadas de negro, sua pele pálida parecia tão suave que me fez ter vontade de toca-la. Seus olhos, assim como os de Flor, eram um de cada cor, os dele eram: verde e âmbar. Ao contrário do ruivo, ele usava o uniforme de forma impecável, abotoado e passado, ao julgar pelo seu atraso não devia ser um aluno exemplar, mas certamente prezava pela aparência.

Daí em diante não podia mais tirar os meus olhos dele, também não podia me mover na cadeira e também não podia controlar meu coração que pulava de forma desesperada dentro do peito. Ele respirou fundo e imediatamente me lançou um olhar diferente, franzindo a testa. Engoli a seco e tentei desviar o olhar, minhas bochechas estavam queimando e havia algo gelado no meu estômago, mas não conseguia parar de encara-lo. Seu olhar mal humorado me fuzilou e depois que ele sentou, as coisas no meu estômago continuavam a se remexer, só parei de encara-lo quando Flor me deu um cutucão e me fez voltar a terra.

CAPITULO 5 •• Descobertas parte 2

- Antes de começar, quero lembrar vocês algumas coisas. O mundo está dominado por humanos e é por isso que estamos aqui, para aprender não só os conteúdos curriculares normais, como a coexistir com eles. – Ela fez uma pequena pausa e eu encarei Flor, pra vê se ela havia entendido o mesmo que eu.
- Babaquice! Por que simplesmente não nos alimentamos deles? Eles têm um sabor tão bom. – Virei à cabeça para observar de onde vinha aquela voz e um garoto troncudo, com um moicano baixo colocava a língua, que mais se assemelhava com a de um lagarto, para fora. Deixando uma grande quantidade de baba escapar.

- Senhor Mikiora, saiba que é extremamente proibido dizer coisas desse tipo dentro da escola. E já que disse isso, cabe a mim a tarefa de lembrar-lhes as regras. – Minhas mãos suavam e tremiam, sentia meu coração ir batendo lentamente como se fosse parar a qualquer momento. Olhei pra Flor, ela estava branca e parecia está tendo náuseas, assim como eu.
- Regra número 1: Os alunos em hipótese alguma devem dizer uns aos outros qual é a sua forma original! Regra número 2: A transformação só será aceita, sem punição, se ocorrer em casos de EXTREMA necessidade. Por ultimo e não menos importante, a regra número 3: O humano que conseguir, por alguma desventura cruel do destino, colocar os pés na escola Youkai, será morto imediatamente. – Agora sim eu tive uma parada cardíaca.

- Não pode ser... - Falei olhando pra Flor, que ainda parecia com vontade de vomitar, o que significa que EU NÃO estou louca, e que ela também ouviu tudo aquilo que ouvi.
- Algum problema, senhorita? - A classe inteira virou-se pra trás e me encarou, eu balancei a cabeça negativamente e forcei um sorriso.
- Nã-ão, problema algum. – Ela me lançou um olhar estranho e deu inicio a aula, todos viraram para frente, menos a garota de tranças que havia trocado algumas palavras antes da aula começar, aquele olhar era uma incógnita.
Quem disse que conseguia prestar atenção na aula? Só conseguia pensar que estava no meio de uma pegadinha, será que era algum tipo de brincadeira estranha da professora e dos alunos? Tinha que ser! Aquela coisa saindo da boca do estranho, foi a minha imaginação dando corda a tudo o que escutamos. Isso, só podia ser isso.

As primeiras aulas foram de inglês, o sinal tocou para o intervalo e eu soquei todo meu material de qualquer jeito na bolsa.
- Até mais queridinhos, não se esqueçam do exercício pra próxima aula. – Saltei da cadeira e segurei no braço de Flor, que ainda estava com aquela cara de besta.
- Desgruda essa bunda daí garota! Vamos, temos que ir. - Continuei a puxa-la, que não fazia nem questão de se mover.
- Vocês duas, meninas novatas! Não se esqueçam de terminar a inscrição de vocês! – A professora sorriu e eu olhei pra tapada sentada na cadeira, que pareceu voltar à vida e ter a mesma ideia que eu.
- É isso! – Falamos em uníssono e ela saltou da cadeira. Corremos feito duas desesperadas pra fora da sala, derrapando na hora de fazer a curva, comigo tudo bem, pior Flor que meteu a cara no peito do garoto ruivo.

- Garota, qual seu problema? – Ele exclamou com raiva e deu um passo pra trás, em seus olhos vi um brilho bem estranho.
- Foi mal! Quem mandou você se jogar na minha frente? – Flor esfregava a mão sobre a testa, onde havia colidido contra o ruivo.
- E ainda por cima é abusada!  Eu sei que tenho um imã pra garotas, mas quem disse que você faz meu tipo, hamster? – Soltei uma risadinha ao ouvir o novo apelido que ela ganhou.
- HAMSTER? HAAAMSTER? –  Segurei a garota, que tinha fechado as mãos em punho e estava pronta pra começar a atacar o menino, que agora tinha um sorriso zombeteiro no rosto.
- Chega Flor, temos algo a fazer. – Segurei o pulso dela, e o garoto de cabelos brancos que havia citado anteriormente apareceu ao lado do ruivo.
- Arrumando briga com garotinhas agora, Castiel? – Ele perguntou sem tirar os olhos de mim, o que me fez congelar e apertar mais a mão de Flor, que ainda tentava socar o tal de Castiel.
Como era de se esperar, ela acertou um chute na canela do garoto que nem se moveu e enfiou as mãos nos bolsos.
- Você deve ser um monstro inferior a E, seu chute não fez nem cocegas, bolinha de pelos. – Outra risada debochada.
- Oras seu grande filho de uma... - Coloquei a mão na boca da minha amiga e comecei a arrasta-la pra longe, será que ela não percebeu que podemos está no meio de um bando de monstros sanguinários, doidos por um pedaço da nossa carne?
Depois que saímos da visão daqueles dois, Flor mordeu a minha mão e bufou, soprando a franja.

- Aiiii! Não disse que você tem que fazer dieta? Até o ruivão acha isso. – Debochei limpando a baba dela no blazer do seu uniforme, nunca tinha visto ela tão irritada.
- Aquele desgraçado! Como ele ousa? Vou lá socar ele até que peça por clemência. – Revirei os olhos e a puxei pelo braço mais uma vez.
- Respira, nunca te vi tão estressa! – Ela pareou de se remexer e eu sorri. - Você já se esqueceu de tudo que ouvimos na sala? Tem noção do perigo? – Acho que esse menino mexeu com os neurônios dela.
- E o que você planeja que façamos, gênio? Sair por aí perguntando: Você é um monstro de verdade? – Sacudi a cabeça negativamente e olhei em volta, pra vê se não havia ninguém por perto.
- Nós temos a nossa ficha de inscrição, não temos? Nela deve ter alguma informação valiosa. – Uma luz pareceu se acender na cabeça oca dela.
- Até que você serve pra alguma coisa! As nossas fichas estão na minha outra bolsa. – Dito isso seguimos de volta para o dormitório.

CAPITULO 6 •• Corram para as colinas!

Empurrei a porta do quarto de forma brusca e me joguei pra dentro dele, fechando-a depois que Flor entrou.
- Onde está? – Ela se perguntou, observando a montanha de roupas reviradas sobre a sua cama.
- Isso vai demorar. – Afirmei, respirando fundo e começando a retirar as coisas de cima da cama, jogando peça por peça para o alto, com a intenção de encontrar a bolsa. Não foi uma busca fácil.
- ACHEIII! – Ela ergueu a mão e retirou a meia da cabeça, se sentando na cama.
- Finalmente. – Me joguei ao lado dela, enquanto observava a bolsa.
- Espera, cadê meus bótons? – Enquanto apalpava a bolsa ela se deu conta que havia algo muito diferente ali.
- Depois a gente pensa nisso, primeiro as fichas. – Flor não insistiu em reclamar a falta dos bótons e abriu a bolsa, tirando de lá o envelope com as fichas e me estragando um deles, tremia.

- É agora ou nunca. – Pelo visto vai ser nunca. Não tive tempo nem de abrir o envelope e ouvi um toque na porta, encarei a menina e ela me encarou... Quem poderia ser? Enfiamos as fichas de volta dentro da bolsa e fui ver quem era.
- Não sabia que a aula de física estava sendo dada dentro do dormitório. – A mesma mulher que nos indicou o nosso quarto apareceu, com aquele olhar de que iria nos fuzilar. Mas como ela sabia que estávamos aqui? O sinal para o final do intervalo tocou e nós nem escutamos.
- É... Oh, é que não achamos nossos horários e voltamos com o intuito de encontra-los, por que não sabíamos onde seria a aula. – Flor falou e eu sorri aliviada, tentando parecer inocente, enquanto eu tentava imaginar que tipo de criatura a mulher poderia ser, provavelmente um cão farejador. Flor parou ao meu lado, tentando parecer tão inocente quando eu.
- Não tem problema, eu levo as duas. – A grandalhona nos pegou pelas orelhas e saiu nos arrastando pelo corredor.
- Eii, isso machuca. – Ouvi minha amiga resmungar, mas preferi ficar calada e andar nas pontas dos pés, pra vê se os puxões ficavam menos fortes, que ótimo jeito de se tratada em uma escola.
A bruxa empurrou Flor pra dentro da sala e ainda segurando a sua orelha me puxou também, nos fazendo ficar diante a turma, penduradas pelas orelhas. Não sei se sentia mais vergonha pelas risadas, ou por está sendo observada pelo garoto que me fez sair de órbita, mais cedo.

- Desculpe interromper a sua aula professor Jade, mas encontrei essas duas alunas “perdidas” e resolvi ajuda-las a encontrar o rumo da sala. – Seu tom era o mais debochado possível, dito isso ela soltou nossas orelhas.
- Obrigado por trazê-las, senhora inspetora. Tenho certeza que agora elas não irão mais se perder. Podem se sentar, meninas. – Fiz uma pequena reverência para o professor e mantive a cabeça baixa até chegar à primeira cadeira vazia que encontrei, ignorando as risadas.
Não consegui prestar a atenção em mais nada. 1° Por que ainda queria ler as fichas, 2° por que sentia que alguém estava me observando, mas quando buscava em volta, não havia ninguém me olhando e 3º Por que estava ligeiramente apaixonada pelo meu professor, o dono de madeixas rebeldes verdes, assim como seus olhos intensos e significativos. Como podia alguém  tão lindo ser um monstro? Estava começando a desacreditar naquela bobagem. Suspirei novamente, acho que pela milésima vez desde que percebi como aquele professor era doce, sutil e como se movia como um anjo.

No final da aula, já havia esquecido até qual era o meu nome e parecia imersa em um mundo totalmente verde.
- Demi... Demi? Demetria!!! – Flor me acertou um tapa no alto da minha cabeça e eu pulei na cadeira, caindo de volta na minha realidade, longe do meu anjo verde.
- O que? Quem? Onde? – Perguntei enquanto arrumava os fios de cabelo que ela tirou do lugar, com toda a sua delicadeza.
- Acabaram as aulas, temos que resolver aquela coisa. – Acho que também não iria sossegar enquanto não soubesse que estava mesmo no lugar certo. Levantei e saí pisando leve e suspirando.

- O que deu em você, garota? – Flor me perguntou, fazendo careta.
- Um anjo verde em minha vida... – Dito isso, dei de cara com Catrinn. Ao seu lado estava Callisto e a garota de olhos rosa que eu não sabia o nome.
- Eu te entendo, Jade é incrível. – Justamente a garota que eu não sabia o nome comentou, me fazendo ficar corada.
- Não me apresentei, sou Anelize! – Ela acenou e sorriu de novo, daquele jeito meigo.
- Demi! E essa é Flor... Flor, aquelas são Catrinn e Callisto.  – Apresentei-as, quando me dei conta de que Flor ainda não as conhecia.
- Não vimos vocês na hora do intervalo, estava querendo ter uma conversa. – Catrinn tinha aquele mesmo olhar enigmático de mais cedo e isso me deixou um pouco nervosa.
- Mas antes, vocês não querem que mostremos a escola pra vocês? – Anelize ofereceu de forma gentil e fiquei tentada a aceitar.
- Não podemos... Temos uma coisa pra resolver, da nossa inscrição. – Flor me lembrou e acenei com a cabeça.
- É verdade, mas quem sabe depois? – Sugeri, pra não parecer mal agradecida.
- Está bem, nos vemos depois. – Por que todas nos olhavam daquela forma estranha? Estava realmente difícil entender.
Esperamos elas virarem as costas e lá fomos nós vagando pela escola. Acabamos nos escondendo atrás de umas árvores e arbustos, fora dos portões enferrujados.
- Agora me de as fichas. – Pedi. Com receio, ela tirou da bolsa os envelopes e me entregou um deles.
Certa de que ali teria todas as minhas respostas, fui rápida em abrir o envelope e retirei de lá à ficha que tinha a foto de uma garota, com cabelo curto e roxo.
- Colégio Interno Sweet Amoris Youkai, há 900 anos ensinando monstros a conviverem com humanos. Aluna: Lyana Seung, nível de periculosidade D, raça medusa. – Parei de ler e encarei Flor.
- Aluna: Lyssa Seung, nível de periculosidade D, raça medusa. - Ela leu a outra ficha. Agora TUDO, absolutamente TUDO se encaixava. O motorista estranho, a água vermelha, a língua de lagarto e as regras básicas da escola. ESTAMOS NO COLÉGIO ERRADO!

- Demi, você lembra a 3ª regra? – Minhas mãos tremiam, olhei fixamente a garota agachada ao meu lado e entendi o que ela quis dizer.
- Aquela sobre matarem humanos? – Comentei com a voz chorosa. – Ela afirmou com a cabeça e não deu outra, começamos a gritar.
- CHEGA, PARA DE GRITAR. AAAAAAAAAAAAA - Gritei.
- VOCÊ QUE ESTÁ GRITANDO, PARA VOCÊ PRIMEIRO. AAAAAAAAAAAAAA – Coloquei a mãos sobre a boca e tentei manter a calma.
- E agora? O que fazemos? Se nos descobrirem estamos mortas... Literalmente. – Me livrei das folhas que havia colocado na cabeça, com a tentativa de me camuflar e fiquei de pé.
- Só tem uma coisa a fazer... CORRE! – Puxei a garota pelo pulso e comecei a correr desesperadamente, voltando pelo caminho assombrado.

CAPITULO 7 •• Essa foi por pouco

Durante toda a corrida, só escutávamos o som dos nossos passos e da nossa respiração ofegante, não aguentava mais correr, mas o medo era muito maior do que eu, como sempre.  O incrível é que agora, o caminho parecia bem mais curto.
Paramos de correr só quando chegamos ao ponto onde o ônibus havia nos deixado, era uma área aberta e parecia mais uma pedreira. Flor assim que parou de correr se jogou no chão, sem se importar com a poeira da terra seca, eu me curvei e apoiei as mãos sobre os joelhos, ofegando baixo e sentindo o suor escorrer pela minha testa.
- Olha... O horário. – Flor falou ainda sem muita força e depois de me recompor, caminhei até o espantalho onde havia uma plaquinha pendurada.
- NÃÃÃOO! – Gritei e me agarrei ao espantalho, escorregando e caindo de joelhos, abraçada a madeira que o sustentava.
- O que foi isso menina? Ficou louca? – Flor levantou-se e caminhou até perto de mim, verificando também a placa presa ao espantalho com cabeça de caveira e chapéu de palha.
- MAS COMO É POSSÍVEL? NÃÃÃO. – Viu? Depois ela me chama de dramática.
- UM MÊS, o ônibus só passa a cada UM MÊS, estamos mortas. – As palavras dela não estavam me confortando. Flor caiu de joelhos e enterrou o rosto nas mãos.
- Já sei, vamos fazer um barco e fugir. – Disse apontando pra água vermelha e Flor ergueu a cabeça me encarando séria.
- Que genial, e quem sabe a gente não da sorte e um monstro marinho não devora a gente? Adoraria virar de banquete para o monstro do lago Ness, sempre fui uma grande fã dele. – Engraçadinha como sempre.

- Vamos voltar, talvez depois de comer e dormir nós consigamos pensar em algo. – Ouvi a minha barriga roncar, foi só falar de comida.
Com os ombros caídos, voltamos pelo caminho, agora mais escuro.
- Então é daqui que vem esse cheiro tão bom? – Um garoto magro e baixo apareceu do nada, me dando um mau pressentimento.
- Não vão dizer nada? O que duas garotas tão bonitas fazem sozinha perdidas pelo caminho? Os portões logo vão fechar. Talvez queiram ter a honra de passar a noite ao meu lado. – O garoto mais parecia um perseguidor, daquele tamanhinho e com um ego tão grande, quem diria?  Soltei aquela minha gargalhada nada discreta. Pense, não estava zombando dele, só me lembrei de como esse tipo de garoto costumava perseguir Flor na outra escola também, acho que eles gostavam de apanhar.
- Rã, você deve está mesmo louco. Não tenho tempo a perder com a sua cara feia, por favor, retire esse seu traseiro gordo do caminho, que não tenho o dia todo. - O garoto foi ficando vermelho. Seus olhos esbugalhados não pareciam nada amistosos e isso me fez parar e ri.

- Acho que você acabou de decretar nossa morte. - Comentei baixo, já havia pulado pra trás de Flor e observava a mutação da criatura a nossa frente por cima do ombro dela.
- Ninguém ousa falar assim comigo. – A sua voz já havia mudado pra uma mais grossa e embolada, sua camisa foi rasgando e sua pele ficando verde, enquanto seus olhos ficavam negros. As unhas cresceram negras e pontiagudas, enquanto ele rosnava e mostrava a língua em tom verde musgo, me fazendo querer vomitar quando por fim, se assemelhou a um sapo.
- Acho que não foi uma boa ideia responder. – Flor sussurrou e sai de trás Dela, estufando o peito.
- YA! Seu lagartão é uma das regras da escola não mostrar a sua forma original. – Eu sou heroína do dia, obrigada, podem me aplaudir.
- Não estamos dentro da escola. – É, faz sentido. Corri pra trás de Flor mais uma vez e a ouvi bufar.
- Ao menos eu tentei. – Completei com a voz chorosa.
- No 3...a gente se joga nos arbustos e corre desesperadamente. –Ela falou e eu concordei com a cabeça;
- 1... 2... AAAAAAAAA.- Antes do três, o lagarto esticou a sua língua gosmenta e a enrolou na canela direita de Flor a arrastando e depois a pendurando no ar.
- SEU VERME NOJENTO, ME SOLTA. DEMI FAZ ALGUMA COISA. – Ela berrava e se debatia.
- Amiga, segura a saia está tudo aparecendo! – Gritei apontando pra ela.
- QUE SAIA O QUE, FAAAZ ALGUMA COISA. – Ela berrava enquanto o monstro a sacudia de um lado pro outro. Eu tentei ajudar e... Certo.
Eu tentava me manter calma, meu corpo todo tremia e sentia uma enorme vontade de correr e gritar: "Quero a minha mãããe". Mas Flor precisava de mim.
- Ei grandalhão, solta ela. – Peguei uma pedra no chão e taquei de forma certeira na cabeça dele. AHÁ se tem uma coisa que sou boa é de mira.
O monstrengo soltou Flor e eu comecei a fazer a dança da vitória.
- Consegui, consegui. – Dizia rebolando e balançando os braços, até que ele e virou pra mim.

- Cuido da sua amiga depois. – Com um único salto ele saiu de onde estava e parou na minha frente. Olhando pra cima percebi que ele era ainda mais feio de perto.
- Opaa. – Engoli a seco e tentei dar um passo pra trás, a criatura abriu a boca e coaxou alto espirrando parte daquela sua baba gosmenta contra o meu rosto. Só não vomitei por que não havia comido nada desde cedo.
- Demetria, se abaixe. – Uma voz conhecida ressoou e seja lá de onde veio eu obedeci, me encolhi com as mãos no ouvido e fechei os olhos, cantando internamente uma música enquanto esperava a morte certa – quantas vezes eu a esperei hoje? – ou uma salvação honrada.
Ouvi alguns barulhos estranhos bem ao fundo e comecei a cantar mais alto, o chão tremeu e alguns gritos ecoaram e eu continuava a cantar, pra não identificar o que estava acontecendo. Então por um momento tudo ficou silencioso.

CAPITULO 8 •• Se tornando parte

Senti uma mão tocar o meu ombro e abri os olhos, percebendo que o monstro não estava mais ali. Virando o rosto, dei de cara com a dona da mão, a garota de olhos castanhos que antes pareceu tão simpática.
- Está tudo bem agora, Callisto cuidou dele. – Me ergui e notei a garota que tinha a franja roxa parada não muito longe, com os braços cruzados e a expressão entediada, enquanto Flor a idolatrava dizendo coisas como: “Seus braços viraram duas armas mortíferas de gelo, como fez aquilo?”.

- O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei me levantando e limpando o rosto na manga do blazer.
- Não deveria agradecer? – A garota séria falou e me deixou envergonhada.
- Oh sim, muito obrigada. – Fiz um cumprimento dobrando o corpo, como eles costumam fazer na maioria dos países orientais.
- Ela é tão fofinha, vocês não acham? – A garota que tem por nome Anelize se aproximou em um salto e puxou a minha bochecha, deixando-a dolorida.
- O-obrigada, eu acho. – Esfreguei a mão na bochecha, pra verificar se ela ainda estava ali.
- Respondendo a sua pergunta, viemos atrás de vocês. – Foi Catrinn quem respondeu, me deixando intrigada.
- Por que atrás de nós? – Flor questionou, desconfiada.
- Vivi a minha vida toda em meio a humanos, sei quando reconhecer um. A tensão de vocês na aula da professora Ruby, só me fez ter certeza. – Ela fez uma pequena pausa e eu quis gritar e negar, mas me sentia aliviada por ela não está tentando me devorar.

- Quando Catrinn comentou isso, Callisto imaginou que vocês tivessem sido bobas suficientes para tentar fugir, e não é que ela estava certa? – Mesmo Anelize dizendo isso daquela forma tão doce, a parte do "bobas" me deixou bem frustrada.
- Como não há outra forma, vocês terão que conviver com a gente como se fosse um de nós. – A garota de olhos castanhos colocou a mão sobre o queixo e ficou pensativa.
- Você tem alguma ideia Callisto? – Anelize, que parecia mais otimista de todas, perguntou. Não era como se fosse uma pergunta, parecia que ela só queria instigar a amiga a falar.
- Vocês sabem que isso é uma loucura, certo? Que se elas foram pegas, não só elas como nós estaremos em sérios problemas. – As duas sacudiram a cabeça e a jovem respirou fundo, massageando as têmporas.

- Vamos lá então, já que estão dispostas a se meter nessa loucura. – Ela ainda não parecia feliz. – Não vai ser fácil, mas pode da certo. Os youkais não são capazes de reconhecer humanos enquanto não estão em sua forma original e isso da a vocês uma chance. Contanto que evitem andar sozinhas, não olhem diretamente nos olhos de ninguém, os olhos são a porta de entrada para a manipulação, entenderam? – Apenas acenamos com a cabeça, ela ficava tão bonita assim dando ordens e parecia tão inteligente. - A coisa mais fundamental de todas é: evitem se machucar. A cor do sangue pode instigar algumas criaturas, já que humanos tem o sangue mais vermelho e atrativo. Fora que o cheiro é mais forte também e devem saber que muitas espécies preferem a carne e o sangue humano, mas se vocês evitarem ficar muito perto dos outros, acho que isso pode dar certo. – Evitar, evitar, evitar... Fiquei com medo de perguntar o que podíamos fazer. Fora que a parte do "sangue e carne humana" me fizeram ficar congelada.

- Ora... Ora, as meninas resolveram dar uma festa e nem chamaram a gente? E o que é mais legal, trouxeram humanas para o banquete. – Pronto, agora ferrou tudo de vez. Saindo do meio das árvores, veio Castiel acompanhado daquele outro garoto. Imediatamente pulei pra trás da garota mais próxima, que era Anelize.
- Caaaaaaaaaaastieeeeeeeel! – A menina saiu da minha frente e correu na direção do ruivo pulando no seu pescoço e em seguida esfregando as mãos nos cabelos dele, enquanto ele fechava as mãos em punho, frustrado e visivelmente envergonhado.
- Para com isso, anda. – Ele a afastou de forma até gentil, e o mais engraçado SUAS BOCHECHAS ESTAVAM VERMELHAS.
- Ora... Ora, se não é o grande resmungão corado. – Flor não perderia tempo mesmo, claro.
- Está querendo virar almoço gorducha? Tem tempo que não provo carne humana. – A garota não se intimidou com a fala dele, digamos que talvez ela esqueceu de que ele pode querer mesmo lancha-la.
- Cas, gatinho feio!  Não fale assim com minhas novas amigas. Já as conhece? Demetria e Flor! Não são lindas? – Okay, onde eu enfio a minha cabeça agora?
- Eu não sou um GATINHO, quantas vezes vou ter que dizer? É TRIGRE! TI-GRE! – Ele resmungou com as palmas das mãos viradas para o céu.
- Tanto faz, somos toooodos uma família de felinos. – Ela parecia dizer coisas do tipo apenas para provoca-lo. - Ei Lys, por que está tão calado? – Perguntou e seguiu o olhar dele, parando em mim. Essa é a hora que cavo o buraco e me enfio dentro.
- Ó seu danadinho, assim você assusta a garota... Seja mais sutil. – Anelize deu um tapinha no braço dele e sorriu, balançando as sobrancelhas.

- Só estou tentando entender o que duas humanas fazem aqui. – A indiferença na sua voz me deixou um tanto magoada.
- Também não entendi como elas conseguiram passar pelo portal. – Catrinn tinha sempre a voz serena e baixa, na verdade ela parecia está em outro mundo às vezes e voltava, como se nunca estivesse saído dali.
- Foi por culpa da jumenta... Digo, da Flor. – Corrigi antes que apanhasse mais.
- Foi um acidente, eu tropecei em uma garota na estação. Acabamos trocando as nossas bolsas, e dentro da bolsa tinha o passe e as fichas de inscrição. Demos conta só quando chegamos aqui. – Flor parou de falar e trucidou Castiel com o olhar, por causa das risadas que ele soltava.

- Tinha que ser, se tratando dessa criatura sem cérebro. – Castiel continuou a ri e Catrinn segurou Flor, pra que ela não avançasse no garoto.
- Se tratando da raça que é, não me espanta que tenha descoberto só quando estavam na aula. – O tal Lysandre soltou um “tsc” debochado e revirou seus olhos misteriosos, voltando a pousa-los em mim.
- Nós vamos ajuda-las até a o dia do próximo ônibus. – Anelize colocou as mãos unidas com os dedos entrelaçados abaixo do queixo e fez um pequeno bico, piscando seus grandes olhos cor de rosa.
- Por favor, guardem esse segredo. – Ela pediu e Castiel bufou, contrariado.
- Por-por favor, só por um mês! – Saí de trás da Catrinn e me curvei, baixando a cabeça pra sustentar meu pedido.

- Certo, mas não contem com a minha ajuda. – Lysandre virou as costas e começou a caminhar.
- Vai ser engraçado ver vocês tentando sobreviver. – O ruivo riu novamente, enfiando as mãos nos bolsos e seguindo o amigo.
- Esse garoto vai se arrepender... – Ouvi a voz de Flor, nunca a vi ficar tão irritada por causa de um garoto, é o amor.
- Lysandre parecia estranho, não parecia meninas? – Anelize comentou e Callisto apenas o encarou, Catrinn parecia perdida fitando eles andarem e apenas acenou positivamente com a cabeça.

CAPITULO 9 •• Despertando curiosidades

Lysandre e Castiel andavam mais a frente em silêncio, logo atrás estava Callisto com seus headphones no ouvido, provavelmente desligada de nós. Era incrível como ela estava sempre quieta a observar tudo a sua volta. Ane e Flor, ainda comentavam alegremente sobre como ela havia acertado lanças de gelo no garoto e de como ele saiu correndo desesperado.
Mais afastadas do grupo estávamos eu e Catrinn, ela parecia tentar adivinhar como seria de agora em diante, mas eu queria saber como as coisas eram entre eles antes de nós.

- Vocês se conhecem há muito tempo? – Perguntei a garota que caminhava ao meu lado.
- Nós estudamos juntos há quase dois anos, mas eles estão juntos há mais tempo. Era um grupo muito mais unido e muito mais amigável. Na verdade nunca vi Lysandre se portar de forma tão estranha, mas há uma história de que ele odeia os humanos. – Dito isso eu olhei pra frente e tentei ver o garoto com ódio no olhar, garanto que não foi difícil.
- Não queria ter que causar tantos problemas. – Me sentia realmente chateada.
- Callisto há um tempo me disse uma coisa e eu sempre guardei isso comigo. “Às vezes devemos parar de lamentar e tentar entender o motivo do que acontece conosco e apenas encarar o problema de frente.  Você deve abrir bem seus ouvidos quando ela decidi falar, por que no final sempre tem razão. – Ela fez uma pequena pausa e sorriu.
- Ela disse algo como isso? – Perguntei, desviando o olhar pra garota, que parecia desejar ser invisível.
- É da natureza dela ser uma garota fria e distante, mas houve uma época em que ela era menos. Pelo que eu sei ela ficou ainda mais fechada depois do... - Catrinn foi interrompida.

- Os portões foram fechados, passou-se tanto tempo assim? – Ouvimos Ane comentar e paramos logo em seguida.
- RÁ, isso não é problema pra mim. – Castiel afastou-se um pouco e depois de encontrar uma distância que lhe agradasse, saltou e com apenas um pulo atravessou o portão e caiu ao lado de Lysandre... Espera, quando foi que Lysandre pulou o portão? O que me lembra que não sei que tipo de monstros eles são.
Depois disso, com a maior facilidade do mundo Anelize escalou o portão e caiu em pé do outro lado, Callisto a seguiu. Catrinn tirou uma varinha do bolso e agitou, uma quinquilharia bem estranha apareceu e ela se segurou naquela coisa que começou a girar como um ventilador e a levou para o outro lado, soltando uma fumaça estranha e desaparecendo logo em seguida.

Todos já estavam do outro lado, enquanto eu e Flor ficamos ali como duas mongóis vendo-os se afastar.
- Então, não é por nada não, mas... Alguém pode ajudar? –Pedi. Riria se não fosse trágico.
- O que? Quer que eu vá aí te pegar no colo? – Castiel perguntou com um tom safado na voz. Eu ia responder que não era uma má ideia, mas Flor foi mais rápida.
- Prefiro dormir aqui fora e esperar até que abram os portões do que ter suas mãos nojentas em mim. Nós podemos escalar. – Ela afirmou. Espera... Nós?
- Po-podemos? – Perguntei encarando a grade alta, enferrujada e torta.
- Tudo bem, a gente ajuda. – Anelize falou e eu me senti aliviada, sorrindo feito boba.
- Não precisa, não somos tão inúteis. – Minha expressão de sorridente foi pra chorosa.
- Eba, adoro uma escalada. – Debochei e encarei Flor, pronta pra esmagar seu pescocinho.
- Vou ter que assistir isso. – Castiel cruzou os braços e ficou lá, com aquele sorriso grande e desafiador, nos lábios.

Nos aproximamos da grade e do muro.
- Anda Demi, me da pezinho. – Ela ficou maluquinha da Silva.
- O queeeee? Eu lá vou te aguentar? Mais fácil ser o contrário. – Flor tinha nos olhos um olhar psicótico de quem tinha a obrigação de provar que poderia pular pro outro lado. Sem reclamar fiz o tal pezinho, levando mãozadas na cara e quase morrendo pra aturar todo aquele peso. Quando ela não precisava mais de mim e se atracava com o muro e a grande, suspirei cansada. Voltei a encarar o grupo que assistia ao pequeno show de Flor, percebendo que dois garotos haviam se juntado a eles. Tentei prestar atenção no que diziam.
- Elas ficaram presas lá fora, agora Flor está escalando o muro enquanto Demi espera. – Anelize explicou a situação para os dois garotos e forçando bem a vista, vi que se tratavam dos dois anjos imaculados que vimos mais cedo na aula
- Hei baixinha, precisa de ajuda? – O de cabelos azuis gritou, mas Flor continuava a subir, com muita dificuldade, e a resmungar.
- NEM PENSAR! Eu posso fazer isso. – Ela estava vermelha e eu me pendurei na grande, ela fazia ideia do quanto estava exausta? Não devia fazer, por que ainda queria que eu escalasse um muro.

- Pensando bem, acho que vou dormir por aqui mesmo. – Suspirei e ao me virar, notei o garoto de cabelos azuis bem ao meu lado.
- Estava falando com você, baixinha. – Ele se curvou um pouco e colocou seus olhos na altura dos meus, então ergueu a sua mão grande e esfregou na minha franja, desalinhando-a ainda mais. O garoto mantinha um sorriso largo e gentil nos lábios, depois de tudo o que passei hoje como poderia não me derreter com aquele jeito fofo?
- Me permite te ajudar? – Paralisada, com as bochechas ardendo, o coração agitado apenas acenei positivamente com a cabeça.
- Se afaste dela! Acha que somos inferiores? – Desculpe-me Flor, mas preciso daqueles braços fortes me segurando e foi dito e feito. O garoto me segurou no colo e meu corpo relaxou, agora tinha certeza do quanto estava dolorida. Deitei a minha cabeça sobre o peito largo dele e fechei os olhos, enquanto um frio na barriga tomava conta de mim, era diferente do frio que Lysandre me causava, mas era bom.
O garoto colocou os pés no chão, só soube por que ele sussurrou “pronto”. Eu não queria sair dali, queria dormir assim mesmo. Mas recobrei a consciência e a razão, saindo do colo do menino e agradecendo.

- Muito obrigada! – Ele sorriu e mais uma vez bagunçou meus cabelos.
- Sou Alexy e foi um prazer. – Será que uma garota pode ter mais de uma paixão? Se sim, Alexy é o segundo da lista, logo abaixo do professor Jade e acima de Kentin.
- Sou Demi. Isso foi incrível... – Minha voz saía mais baixa e lenta do que desejava.
- Não foi nada, por que não usou suas habilidades? – Foi como tropeçar e cair de cara no chão.
- Depois eu te explico, Alexy. – Catrinn afirmou, acho que o garoto era confiável.
- Sua traidora! – Vi Flor sair de trás de uns arbustos tirando algumas folhas do cabelo, enquanto Castiel se afastava rindo.
- Obrigada pelo espetáculo, foi hilário. – Ele acenou e depois sumiu pra dentro da escola. Nem Lysandre e nem Anelize estavam mais ali.
- Vocês me parecem exaustas, descansem bem e não esqueçam o que conversamos. – Catrinn falou e saiu, provavelmente indo atrás da amiga. Depois de nos despedirmos de Alexy e de seu irmão gêmeo Armin, fomos direto para o dormitório, foi o dia mais longo da minha vida.


CAPITULO 10 •• A escolha certa?

Agora que estava tudo esclarecido, me sentia um pouco mais tranquila. Depois de dormir meu corpo ainda estava dolorido pelo esforço do dia anterior, mas me sentia bem melhor, ainda mais agora que estávamos em uma das minhas partes preferidas do dia: Café da manhã!
Mesmo que ali tivesse muita comida estranha, eu mal podia conversar de tanta coisa que ia enfiando na boca, com os olhos sempre atentos em Catrinn que queria roubar os meus bolinhos.
- Acho que Catrinn encontrou uma inimiga a altura. – Anelize comentou e revirou os olhos.
- Essas duas parecem duas mortas de fome. – Flor complementou e revirou os olhos, afinal ela já estava acostumada a ter o lanche roubado por mim.

- Aí estão vocês! Olá novatas, olá Catrinn, o que está jogando dessa vez? – Depois de mexer nos cabelos dela, Armin o moreno com quem não tive a oportunidade de conversar se sentou ao seu lado e passou o braço atrás dos ombros dela, se esticando pra vê-la jogar.
Há poucos segundos atrás ela estava se atracando com a comida, virei o rosto e quando volto, ela já estava com a cara enfiada no vídeo game portátil, com as bochechas altamente vermelhas e mal desviando os olhos enquanto falava.
Huum, isso tudo é o efeito Armin? Soltei uma risadinha maliciosa.

Senti alguém empurrando meu corpo e sem tirar os olhos da comida me arrastei para o lado.
- Ei, você já está melhor da queda do muro? – Percebi que era Alexy, sentado ao meu lado, tão lindo com aquela gravata frouxa e suas covinhas ao sorrir.
- Rá, eu não caí. Saltei, você que estava ocupado demais salvando a gorda pra perceber. – Flor tinha um sorriso brincalhão no rosto, parece que o antigo eu dela estava de volta, já que no dia anterior ela parecia alguém totalmente diferente.
Outra pessoa que tinha uma expressão diferente no rosto era Anelize, seus olhos pareciam irritados e ela havia cruzado os braços, parecendo hostil.
- Desculpe perder a maestria do seu salto. – Alexy riu e esfregou seus dedos longos nos meus cabelos, era um carinho tão bom e não me importava com o fato que ele estava sempre me bagunçando.

- Olha, ela está fazendo de novo, a mesma expressão da aula de física. – Flor esticou a mão e tentou pegar meu ultimo bolinho, mas voltei à terra a tempo.
- Nem pense nisso. – Rosnei e bati na mão dela, recuperando meu alimento e fazendo uma dancinha de alegria.
- Como pensei, a comida é mais importante. – Flor revirou os olhos.

- Hei meninas, vocês estão em algum clube? – Armin perguntou me olhando e em seguida olhando pra Flor.
- Seria legal se vocês entrassem para o clube de música, está faltando garotas por lá. – Foi a vez de Alexy falar. - Isso serve pra você também Ane, mesmo que eu adore o fato de você está no clube de culinária, pra poder cozinhar pra mim depois. – Alexy piscou para a garota e fazendo isso pareceu quebrar a barreira de hostilidade que ela havia colocado ali, deixando-a corada.
- Huum... Ela ficou corada. – Flor disse isso e tocou a bochecha da menina, que ficou mais vermelha e deu um tapa do dedo que se aproximava de sua bochecha, arrancando risadas dos demais da mesa.
- Não estou corada, é impressão sua. – Percebendo a agonia dela, Catrinn interveio.

- Eu já optei pelo clube de jardinagem. – A expressão de Armin, passou de esperançosa pra desanimada.
- Você? Jardinagem? Não me surpreenderia se fosse culinária pra servir de cobaia, mas jardinagem? Aquele Ken tá lá, não é mesmo? – Ele falou, demonstrando todo seu desapontamento.
- É, ele está lá Armin. E estava até pensando em chamar as duas, mas vocês foram mais rápidos. – Ela deu de ombros e sorriu sem jeito, nem ela parecia muito animada com o clube.
- Vamos meninas, vai ser divertido. Cas, Lys, Callisto e Nath, estão todos lá. – Alexy fez biquinho e eu quase vi Anelize aceitando, mas ela sacudiu a cabeça negativamente.

- A gente topa! – Flor exclamou animada, me fazendo saltar no banco,
- Na verdade quero o de jardinagem!  Eu adoro flores e não tenho nenhum talento musical. – Tentei soar convincente, mas Flor me lançou aquele seu olhar igual o da garota do exorcista.
- Você NENHUM talento musical, Demetria? – Por baixo da mesa chutei a canela dela, que resmungou alguns palavrões.
- É, eu realmente quero ir para o de jardinagem. – Exclamei e Catrinn pareceu gostar disso. – Mas tenho certeza que você vai se divertir sem mim lá, afinal tem o Castiel pra alegrar seu dia. – Ela não pareceu nada feliz com essa ideia, mas mesmo assim não se arriscou a trocar de clube, já que é alérgica a pólen.
- Tá fazendo isso só pra ficar perto do tarado? – Flor perguntou me lançando um olhar ameaçador.
- Tarado? – Alexy se afastou um pouco pra poder me fitar, aquele olhar fixo me deixou incomodada.
- É aquele tal de Kentin, ela ficou caidinha por ele na estrada, literalmente. – Ela riu da própria piadinha.
- Há há há, não é nada disso. Já disse que gosto de jardinagem. E por falar em Callisto, onde ela está? – Eu sei que ela tinha sido citada há muito tempo, mas precisava mudar o foco do assunto, não queria deixar bem claro o quanto Lysandre me deixava desconfortável que ir para o clube de jardinagem era para evita-lo.
- Kentin não é um garoto confiável Demi, tente não se aproximar dele. – Anelize parecia bem séria com relação a isso e os outros concordaram com a cabeça, o que me deixou sem jeito.
- Eu... Não... – Não fazia ideia do que foi aquele aviso.
- EU SABIA! Não fui com a cara dele. – Flor esmurrou a mesa. Agora sim, era só o que faltava pra ela começar a implicar com o menino.
- Callisto deve está na biblioteca, é um tipo de refugio dela. – Grata pela ajuda de Catrinn soltei um “aaaah”. Um silêncio estranho reinou, mas não por muito tempo já que o sinal da primeira aula tocou e fomos juntos pra sala.



CAPITULO 11 •• O paraíso, digo... O clube de jardinagem.

O sinal da ultima aula tocou e fichei o caderno, começando a arrumar as minhas coisas.
- Flor, nossa querida Flor, Florzinha. – Alexy e Armin falaram juntos, o que soou muito engraçado. Não sei se era coisa de gêmeos, mas eles conseguiam fazer as coisas totalmente iguais, quando queriam.
- Vamos, temos que fazer você passar pelo ritual de aceitação. – Na voz de Armin havia um tom misterioso, que nem abalou a minha amiga.
- Tomara que seja pra eu quebrar uma guitarra na cabeça do Castiel. – Ela completou animada, abusando do tom. Dito isso, ouviu-se o resmungo do ruivo vindo do outro lado da sala, não pude evitar ri.
- Vamos logo vocês dois, não temos o dia todo. – O ruivo irritadinho saiu batendo o pé e continuei a ri, mas fiquei séria quando percebi que Lysandre continuava me olhando daquele jeito, isso está ficando chato.
- Então vamos. – Armin pegou Flor por um braço e Alexy pelo outro e ambos foram a arrastando, enquanto ela reclamava que não precisava daquilo e batia os pés.

- Eles não têm jeito mesmo. Então tem mesmo a intenção de ir para o clube de jardinagem? – Catrinn me perguntou de forma insegura e sorri, acenando positivamente com a cabeça.
- Tenho sim, eu não menti quando disse que gosto de flores. – Levantei-me e passei a acompanha-la, que caminhava de cabeça baixa pelos corredores.
- Me diga... você não parece que queria está no clube de jardinagem. – Comentei casualmente, enquanto andávamos sem pressa.
- Não muito, mas é obrigação da escola que estejamos em algum clube de atividade humana... E o clube de Tecnologias já estava completo. – Viramos o corredor e começamos a rumar pra fora da escola.
- E por que não foi para o de música? Não é lá que estão seus amigos? – Ela acenou com a cabeça, mas minha ficha logo caiu.
- É por causa de Armin, não é? Você gosta dele. - Esbocei um grande sorriso travesso.
- E-eu... N-ão, não é isso... É que... – Já havia entendido tudo.
- Mas qual o problema? Ele parece que gosta de você também, da pra vê pela forma que ele te olha. – Dizendo isso, acabei por deixa-la mais vermelha.
- Você acha? Acha mesmo? – Olhinhos brilhando, ela com certeza está apaixonada.
- Claro, talvez se você não se escondesse atrás de um vídeo game. – Soltei uma risada baixa e dei de ombros.
- Mas não pode ser... Ele tem a Rosalya! Todos sabem o quanto ele gosta dela. – A animação se esvaiu rapidamente do rosto dela, me fazendo ficar intrigada.
- Não a conheço, mas digo o que digo pelo que percebi. Não deverias fugir dessa forma.  – Catrinn parecia não querer mais falar disso e dei-me por vencida. - Mas Callisto está no clube de música me surpreendeu. – Anunciei. Não é como se achasse que ela odeia música, mas a imaginei em um lugar onde não tivesse que se socializar muito.
- Isso vem de muito tempo, ela e Nathaniel que o fundaram praticamente.  Callisto é muito boa com arranjos e melodias, e também quando gosta escreve boas letras, mas agora ela fica só por conta da administração, como uma empresária. Acho que é a única coisa que ela ainda faz com o Nath. – Soltei um “huuum” e me lembrei de que ontem ela estava a me contar essa história.
- É verdade, você estava me contando algo sobre isso ontem. – Ela afirmou com a cabeça e pareceu insegura.
- Eu não devia está contando isso, mas você vai acabar por descobrir. Só peço que não comente nada. – Fiz um sinal de que estava trancando a minha boca.
- Foi o que Ane me contou. Antes de eu chegar aqui, eles eram outro grupo: Nathaniel, o loirinho que você já deve ter reparado. Callisto, Anelize, Castiel, Kentin, Lysandre e as gêmeas Lyssa e Lyana. – Gelei ao ouvir esses nomes... Não eram as garotas da inscrição?  - Alexy e Armin eram desligados do grupo. Sei que Callisto conhecia Nathaniel, desde quando eram muito novos e chegaram a namorar, mas então... - No auge da história, alguém me chamou, interrompendo Catrinn.
- Ah... Oi Ken. – Sorri ao vê-lo, esquecendo que ele podia ser perigoso.
- Acho que o destino está nos juntando, afinal. – Ele sorriu e se aproximou de mim, segurando no meu pulso.
- Ela está comigo Ken. – A voz de Cat não era a mais gentil.
- Olha, não sei o que falaram de mim pra você Catrinn, mas eu realmente não quero que fique esse tipo de clima entre nós. A Demi é minha... – Arregalei os olhos. – Amiga, e eu quero ajuda-la a se enturmar com gente que valha a pena. - Dito isso ele me puxou e Catrinn ficou parada mais atrás, com uma expressão distante.
- Não fale assim Ken, eu vim pra cá pra não deixa-la só. – Não foi só por isso, mas também não gostava dessa ideia.
- Não se preocupe, eu só vou te roubar por alguns minutos. – E daí ele lançou aquele olhar, que me deixava um tanto boba, como ele consegue?

- Olhe só, não são lindas? – Kentin abaixou e me puxou pra perto dele , o acompanhei, parando abaixada frente ao canteiro onde haviam alguns lírios brancos plantados.
- Ó são lindos. Eu adoro lírios. – Completei tocando com a ponta dos dedos, as pétalas de um deles.
- Assim que vi que floresceram me lembrei de você, a cor é branca como seus cabelos e o interior âmbar como seus olhos. – Ele disse isso com o rosto perto demais do meu, tão perto que podia sentir sua respiração e havia algo nos olhos dele que me assustou naquele momento.
- Ele está demasiado metido desde que os lírios floresceram. – A voz grave pertencia a minha paixão número um: Professor Jade. Me senti envergonhada quando ele me olhou, esperava que não percebesse o quanto o encarava, mas era inevitável.
- Por que está aqui, professor?  – Às vezes não sei fazer perguntas inteligentes.
- Ele é o nosso instrutor, todo clube tem um. – Ken me informou. Ó SENHOR, ESTOU NO LUGAR CERTO, OBRIGADA!
- Que ótimo... Digo, eu adoro flores. – A risada dele soou e fez meu coração bater mais rápido.
- Que bom, fico feliz que tenha interesse no nosso clube. Agora por que não pega umas luvas e me acompanhe? Vou te mostrar o que devo fazer. – E lá fui eu, como se flutuasse direto para o paraíso, sento instruída diretamente pelo homem mais lindo do universo. No meio do caminho puxei Catrinn pra que ela pudesse ouvir as instruções também, e ela riu quando sussurrei que estava apaixonada.

CAPITULO 12 •• Uma situação estranha.

- Pelo visto você gostou muito do clube de jardinagem. – Ouvi a voz de Ken ecoar pelo corredor, enquanto eu girava e dançava, cantarolando animadamente.
- É... É que a natureza me deixa bem animada. – Menti, eu queria dizer: “É que estive durante uma hora tendo orientações exclusivas com meu deus grego da beleza”.
- Certo, fingirei que acredito nessa sua desculpa. – Ken riu e o acompanhei na risada, continuando a caminhar, mas dessa vez sem dar tão na cara.
- Quero te mostrar um lugar. – A voz dele parecia bem animada, e ele ficava realmente fofo quando sorria daquele jeito.
- Certo, e onde é? – Dei-me conta que ainda não conhecia bem a escola, me arrependo de não ter aceitado o tour das meninas.
- Segredo. – O garoto arqueou uma das sobrancelhas e pegou o meu pulso, me puxando.

- Demetria? – Ouvi uma voz me chamando e quando virei o rosto, dei de cara com o garoto com o garoto loiro que todos se referiam como sendo o Nathaniel.
- Sou eu... Algum problema? – Segui seu olhar e ele fitava a mão de Ken no meu pulso.
- Preciso que você me acompanhe por alguns instantes. – Arregalei os olhos e senti a mão do garoto se apertar contra o meu pulso.
- E-eu fiz algo errado?  - Eles me descobriram, só pode ser isso.
- Ela está ocupada agora, não percebe? – Ken falou, abandonando seu tom amigável.
- É um problema administrativo, ao menos que seja mais importante que isso... - Sério o clima ficou realmente pesado aqui, eles não gostam mesmo do Kentin!
- Tudo bem, eu vou. – Puxei o meu pulso, me liberando e sorri. – Outro dia você me mostra o lugar, está bem? – Ele não pareceu muito feliz, mas ainda sim sorriu e foi embora, depois de lançar um olhar ameaçador para o garoto loiro.
Sem dizer uma palavra, segui Nathaniel, que não parecia nada feliz.

- Então... - Tentei quebrar o silêncio.
- Você esqueceu de assinar a segunda via da sua inscrição. – Ele logo me cortou, cadê toda a gentileza que Anelize falou que ele tinha?
- E isso era tão urgente ou... – Cortada de novo.
- Não teria problemas se você prestasse mais atenção, a inscrição é um documento e não uma brincadeira. – Certo, tive vontade de baixar Flor e socar ele até a morte.
- Não acho que eu tenha algo a ver com seus problemas pessoais. – Resmunguei, ele estava visivelmente me tratando mal sem necessidade alguma.
- Olha Demi... – Continuei a andar, enquanto ele parou.
- Olha Nathaniel, eu tenho que assinar a folha, não tenho? Então vamos logo com isso. – Parei mais a frente com os braços cruzados e me arrependi do que disse, ao ver a expressão chateada no rosto dele.
- Eu não queria ter sido grosso, realmente sinto muito, mas é que aquele cara me tira do sério. Desculpe-me. – Ele fez uma voz e expressão tão doce, que quase derreti ali mesmo.
- Tudo bem... Só que Kentin é meu amigo, ele foi gentil desde que cheguei. – Dei de ombros e ele pareceu não querer entrar nesse assunto.
- Só tome cuidado. – Por que todos dizem isso? Pareço tão frágil assim? Acenei com a cabeça e Nathaniel voltou a andar.
Fomos à sala dos representantes e eu assinei o que havia esquecido, feito isso me ofereci para ajuda-lo a arrumar uns papeis. Ele aceitou a proposta e enquanto o ajudava conversávamos animadamente, foi bom pra tirar o clima estranho que havia ficado anteriormente. Depois das fichas organizadas, me despedi do representante e voltei ao meu quarto, ao menos esse caminho eu sabia bem.

- Onde você se meteu? – Ouvi assim que entrei no quarto. Um “olá, tudo bem?” ela sempre se esquece de dar.
- Eu estava ajudando nosso lindo representante e 3° amor na minha lista. Sinto muito Ken você agora é o 4°! – Chutei minha sapatilha pra longe e me joguei na cama, outro dia cansativo. Em pensar que as coisas na outra escola eram tão pacatas.
- Arruma um cachorro, por que um namorado vai ser difícil desse jeito. – Ela gargalhou e fechou o livro do Harry Potter, acho que era a milésima vez que ela o lia.
- Como foi lá no clube dos estranhos? – Perguntei, me referindo a Lysandre e Castiel.
- Tem uma aura negra naquele lugar, parece uma seita de pessoas convocadas pra fazer um funeral. – Dizia enquanto arrumava um travesseiro atrás das costas e se sentava na cama. - Callisto e Nathaniel nem sequer trocam olhares, parecem duas pedras de gelo. Tenho que aturar Castiel falando besteiras a cada 5 minutos, Lysandre e os gêmeos foram até simpáticos e rimos muito das fã-girls dos meninos, tentando entrar pro clube. Uma escreveu uma música pro Castiel: “Castiel, Castiel meu doce de mel.” – Ela soltou aquela sua gargalhada escandalosa e se jogou na cama, e não pude deixar de ri ao imaginar o garoto tendo que ouvir esse tipo de declaração.
- Não sabia que eles eram tão populares, ainda mais Lysandre, com aquele jeito fechado. – Pelo visto era implicância comigo.

- Lysandre até que é bem divertido e cabeça de vento! Só não é de falar muito. Alexy e Armin são dois palhaços e ajudaram a quebrar o clima ruim. Acho que eles estão brigados com Nathaniel, que também estava sempre sério e parecia inibido. – Então me lembrei de que pela segunda vez, Catrinn não conseguiu me contar a história... Mas se Callisto e Nath namoraram, pelo visto a coisa acabou mal.
- Ouvi qualquer coisa assim, sobre eles não estarem se dando bem. – Dei de ombros e sentei, tirando as meias, depois de um banho relaxante estava preparada pra dormir a semana inteira.
- E como foi lá no seu clube sem graça? – Ela resmungou e cruzou os braços, costumávamos fazer todas as atividades extracurriculares juntas, então entendia aquela expressão.
- Foi muito divertido! Sabe quem é o instrutor? O PROFESSOR JADE. – Suspirei e balancei os pés de forma animada. – Como sou nova no grupo ele me ajudou, e ficou do meu lado a aula toda. – Disse com uma voz infantil e boba.
- Você consegue... Pensei que não conseguiria parecer mais boba, mas você consegue. – Ela me acertou uma almofada, e comecei a ri.
- Ah sim, Kentin e eu conversamos bastante assim que as atividades se encerraram. Depois encontramos com Nathaniel no corredor e eles também não parecem se gostar, sinto que tem uma história cabulosa por trás disso. – Ela concordou com a cabeça, seria algo que envolvia Kentin, Nathaniel e Callisto?
- Seja como for, ainda não gosto daquele retardado. – Dei de ombros, talvez Kentin tivesse feito algo que ofendeu os outros, e eu tenho que descobrir. – Espero que não tenha escolhido o clube por causa dele, Demetria. – Revirei os olhos, vai começar de novo.

- Não, eu só não quero ficar no mesmo ambiente que Lysandre. – Ela podia saber, ela sabia tudo sobre mim.
- Eu vi como ele te olha. Aquele sim devia está na sua lista. – Ela riu e pegou o livro de volta. - Ah mais uma coisa, não sei se você reparou, mas pensei que Anelize fosse te fuzilar quando Alexy te abraçou pela manhã, acha que ela gosta dele? Eu o acho meio gay...  – Estava me preparando para o banho enquanto a escutava.
- Sério? Eu não reparei esse lado gay dele, acho que fiquei impressionada demais com seus braços másculos me segurando. De qualquer forma não imaginei que a expressão chateada dela, fosse por isso. – Joguei a toalha nas costas e sentei mais uma vez. – Também há uma tensão entre Catrinn e Armin, mas parece que ele tem namorada ou algo assim. – Dei de ombros, não gostava de ver as pessoas longe de quem gostam. Mais amor aí, por favor, minha gente.

- Não faça essa expressão!  Demi... Não... Nãooo... Pode parar. – Ouvi Flor dizer e gargalhei.
- Qual o problema? Talvez eles precisem de um cupido. – Ela bateu contra a própria testa.
- Estava temendo que dissesse isso! Sabe o quão desastrosa se tornam as coisas quando você resolve se meter? – Cruzei os braços e fiz bico.
- Mas eu ajudei o senhor Lee a se declarar pra vizinha! – Falei com a voz chorosa.
- É, ele se declarou com o poema que você escreveu e depois teve que sair correndo da casa dela, que o espantava a vassouradas. – Ela fazia isso soar pior.
- Mas graças aos hematomas que ele conseguiu nessa aventura, se apaixonou pela enfermeira e se casaram!! Foi mérito meu também. – Fiz careta e saltei da cama, ignorando os comentários maldosos de Flor e indo tomar meu banho.

CAPITULO 13 •• Quebra-cabeças - 1ª peça.

- Eu vou matar a Flor. – Resmunguei, enquanto caminhava pelo mesmo corredor pela 10ª vez, é alguma macumba ilusória? Por que estava dando voltas e não achava a tal quadra, onde a primeira aula seria.
- Tá perdida? – Virei-me pra saber de onde vinha aquela voz, e quando descobri meu coração começou a saltar desesperado, senti o meu corpo tenso quando aquele olhar me atingiu, ao mesmo tempo em que me causava medo, me fazia feliz.
- E-eu? Perdida? De jeito nenhum! – Franzi a testa e fiz careta, dando as costas pra ele e continuando a andar pelo corredor, com receio que deixasse ainda mais na cara os efeitos que ele tinha sobre mim.
- Caminho errado... A quadra é para o outro lado. – Parei de andar e fechei as minhas mãos em punho, ele era a ultima pessoa, na frente de quem eu queria fazer papel de idiota, mas as coisas comigo acontecem de forma contrária.
- Eu com certeza sabia. – Forcei um sorriso amigável e tentei ignorar o garoto, encostado a parede com os braços cruzados. Virei e comecei a caminhar pelo lado que ele havia indicado.
- Sabia mesmo? E por que está indo para o lugar errado? – Parei de andar quando ouvi aquilo.
- Hei, você não disse que era pra lá? – “Mantenha a calma” repetia mentalmente.
- Você não disse que sabia? – Riu. Respirei fundo e cansei de tentar sorrir amigavelmente pra ele, dei as costas e tentei sair andando.
É... Tentei.
O garoto de cabelos platinados me puxou e me prendeu na parede, com a maior facilidade do mundo, colocando suas mãos abertas apoiadas bem ao lado dos meus ombros, pra que não tivesse como fugir. De forma instintiva fechei os meus olhos e virei o rosto, pra não ter que olhar a expressão dele.

- Seu cheiro é ainda melhor, assim de perto. – Sua voz soava rouca e baixa, perto do meu ouvido. Logo em seguida ele deslizou o nariz pela minha bochecha. Meu coração batia tão descontrolado que certamente ele conseguiria ouvir, mal podia me mexer ou respirar, era uma mistura realmente louca de medo e satisfação, por podê-lo sentir tão perto. Seu cheiro era melhor do que imaginei, e o toque do seu nariz me fez descobrir o quanto a sua pele era fria e macia, a sua voz naquele tom fez meus joelhos virarem gelatina e eu queria desesperadamente erguer a mão e tocar seus cabelos, pra saber como era a textura.
- Quando você fica corada, todo esse sangue concentrado na sua bochecha... Me deixa faminto. – Pera lá, que tipo de coisa ele quer dizer com “faminto”? Minha mente começou a trabalhar rápido e me lembrei de um fator agravante:

“... devem saber que muitas espécies preferem a carne e o sangue humano, mas se vocês evitarem ficar muito perto das outras criaturas, acho que isso pode dar certo.”
Será que Callisto se referia a esse tipo de proximidade? Coloquei as mãos sobre o peito do garoto e o empurrei com força, tentando afasta-lo, mas foi inútil. .
- Sai de perto de mim, seu brutamontes! – Minha voz saiu falhada, talvez fosse aquele perfume me embriagando ou seriam os pensamentos maliciosos como: ele tocando meu queixo e em seguida meus lábios? Acho que eram os dois trabalhando juntos.
“Como uma mera humana, pode simplesmente me fazer perder o foco?” Era o que me perguntava. Mas agora entendo, só há uma coisa que posso querer. – Ele dizia como se eu não fosse “alguém” realmente, como se não pudesse escuta-lo e isso começou a me irritar. Respirei fundo e ergui a cabeça o encarando, por mais que quisesse evitar isso, a raiva que ele me deixou, falou mais alto.

- Não sei que tipo de deficiência você tem, se é surdo, cego ou apenas tem problemas mentais, mas eu vou repetir. Sai de perto de mim! – Pela primeira vez eu vi aqueles olhos agirem de forma diferente e ele sibilou um largo sorriso, que quase me fez desmaiar, mas tentava manter na minha mente que ele era só um monstro egocêntrico.
- Você é bem engraçada, humana. - QUE CARA MAIS IRRITANTE! – Você me intriga, não entende humana? Preciso pensar. – Ele fechou os olhos e voltou a me cheirar.
- Fala como se você fosse grandes coisas, ou esqueceu que tem que usar sempre a sua forma humana? Sendo assim, aqui somos iguais. – Dito isso ele me soltou, acho que consegui ofende-lo. - E só pra esclarecer: meu nome é Demetria! Da próxima vez vá pensar longe de mim! – Estava pra sair novamente quando ele me segurou pelo braço, sua expressão neutra mudou pra uma bem mais fechada.
- Você está me machucando!  - Tentei me soltar e aquilo não ajudou.
- Você escolheu as palavras erradas... Humana. – Opa, acho que o deixei bravo até demais. Nota mental: Não comparar um monstro com um humano.

- Lysandre, o professor está a sua procura.  – Ao ouvir o chamado ele soltou o meu braço e pareceu voltar a si, sua expressão mudou e fitou a garota no final do corredor. Anelize estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo e alguns fios escapavam, já que o comprimento não ajudava. Ela usava as roupas de ginástica, e mantinha um olhar curioso sobre nós.
- Estou indo. – Dito isso ele me lançou mais um olhar frio e se afastou, e eu fiquei igual uma pateta parada no corredor, se Anelize não tivesse aparecido eu sinto que algo ruim ia acontecer.

CAPITULO 14 •• Um pequeno acindente.

CAPITULO 14
- Tudo bem, Demi? – Anelize perguntou depois que Lysandre se afastou de nós. Respirei bem fundo e esfreguei as mãos nos olhos, que ardiam. Se ele ficasse me segurando por mais tempo, juro que iria chorar feito um bebê. Suspirei e acenei positivamente com a cabeça.
- Tudo bem sim, eu me perdi... Não achava a quadra. – Ela percebeu que eu não queria falar sobre o ocorrido e sorriu, passando a mão pelos meus ombros e me fazendo acompanha-la.
- Po-posso te fazer uma pergunta indiscreta? – Anelize me olhou de rabo de olho, parecendo temer o que viria. - O... O que ele é? Sei que é proibido, mas parece que ele me olha como se fosse um pedaço de frango assado. – Pensar no frango me deu fome. Ouvi a risada musical da menina e me senti um pouco sem graça.
- Não tem problema, é uma regra da escola, mas acho que é bom você saber. Ele é um vampiro, classe A, baby. Mas são pouquíssimas pessoas que sabem! E você não vai querer ver ele transformado, de qualquer forma não comente com ninguém, está bem?  – Certo, agora aquele papo de sangue e “me deixa faminto” explica tudo, o que significa que tenho que tentar ao máximo ficar longe dele.
- Posso te pedir uma coisa? - Eu sei que já estava sendo abusada o suficiente, mas precisaria de ajuda.
- Se eu puder fazer. - Anelize deu de ombros.
- Pode me ajudar a me manter o mais longe possível dele? – Ela riu novamente e deu de ombros.
- Não é como se fosse fácil, você sabe os vampiros... Quero dizer, acho que você deveria começar a se informar um pouco sobre nosso mundo. De qualquer forma vou te ajudar no que for possível! – Ela fez outro carinho no meu ombro, com a tentativa de me confortar e me guiou até a quadra.
Ao chegar à quadra, fui direto ao vestiário colocar a minha roupa de ginástica. Era um short de tactel azul escuro e uma regata branca justa, com o brasão da escola desenhado em marca d’água na lateral. Depois de prender os cabelos em um rabo de cavalo, voltei à quadra correndo e rezando para o professor não perceber o meu atraso monumental. Quando cheguei à quadra, havia uma pequena roda de alunos e escutei uma discussão estranha.
- Você só pode está ficando maluca! A água oxigenada queimou seus neurônios foi? Eu dando em cima do infeliz do Castiel? Prefiro cair mortinha aqui e agora. – Essa era a voz da Flor, eu não podia mesmo tirar meus olhos dela.
Tentei me enfiar na multidão até consegui chegar finalmente e ver com quem ela estava brigando. Era uma garota alta, com olhos verdes intensos. Seus cabelos loiros formavam cachos bem desenhados, como se ela tivesse passado a manhã toda para fazê-los. A garota tinha as bochechas vermelhas e estava com os braços cruzados, parecendo bem contrariada. A cada lado da loira havia uma garota, uma com traços orientais, com os cabelos lisos e negros escorridos ate a altura dos ombros e a outra era totalmente mal encarada, um rabo de cavalo prendia seus cabelos castanhos e ela mascava chiclete de forma irritante.
- Se é esse o seu desejo, não me importo em acabar com a sua raça agora. – A loira deu um passo à frente, mas uma das amigas segurou seu ombro.
- O que foi loira águada? Está com medinho? Ah é... Na forma humana você não passa de uma fracote. Mas aposto que sem habilidade especial nenhuma eu consigo esfregar esse seus nariz empinado no chão da quadra. – Por que essa menina não mantem a língua dentro da boca?

- Castiel, faz alguma coisa. – Virei e notei que Anelize estava bem ao meu lado, enquanto segurava apreensiva no braço de Castiel, que ria.
- Eu? Falei que não ia me meter... E é até divertido ver duas garotas brigando pelo gostosão aqui. – Ele soltou uma risada e deu de ombros.
- Você acha que eu ia perder meu tempo brigando por você, filhote de Fofão? –Filhote de Fofão? Por acaso ela se referia a aquele boneco ruivo com as bochechas caídas? Tentei não gargalhar.
- Okay Ambre, acaba com ela. – Castiel falou irritado.

- Onde está o professor? – Perguntei a Ane, essa zona na aula não é comum.
- Ele e Nathaniel foram levar uma garota que se acidentou a enfermaria. – Ótimo, sobrou pra mim agora.
- Já chega Flor, nada de brigas. – Falei me enfiando no meio da roda e segurando o braço da garota, que parecia tensa a ponto de explodir.
- Não se mete Demi, estou pronta pra estourar o botox da cara dela, só pra ela deixar de ser abusada. – Ela puxou o braço e me empurrou, me deixando incrédula.
- Você perdeu o juízo? O que tinha no seu café pela manhã? Para com essa ladainha. – A segurei de novo e puxei.
- Por que não escuta a meio metro, fedelha? Assim me poupa de quebrar cada osso do seu corpo. – Ouvi a voz da loira e gelei, virando pra encara-la.
- Você não pode usar suas habilidades dentro da escola, é contra as regras. – Falei com a mão fechada em punho, não queria perder a minha paciência e tornar as coisas ainda piores.
- Quem disse que eu ligo pra regras? – Dito isso a garota deu dois passos na minha direção e bateu as mãos contra os meus ombros, me lançando longe como se fosse um saco vazio.
- DEMI! – Foi a ultima coisa que escutei antes de tudo ficar escuro.

CAPITULO 15 •• Uma nova amiga e uma nova sensação.

Meus olhos pareciam pesar uma tonelada, mas ainda sim consegui abri-los.
- OH, você acordou. – Uma garota de olhos negros que usava uma maquiagem forte e escura estava me olhando bem de perto, sua franja desfiada era composta por fios negros brilhantes, o resto do seu cabelo estava preso em um coque no alto da cabeça e ela também usava um uniforme de ginastica. – Olá, eu sou a Cristãs! Todos estão na aula. Leigh, o enfermeiro, pediu que eu ficasse de olho em você enquanto ele tinha algo a resolver. – Ela sorriu e se sentou na cama enquanto eu ia me erguendo, minha cabeça girava. – Sua cabeça está doendo? Se estiver tome isso. – Ela estendeu uma aspirina e eu aceitei, tomando um pouco da água que ela colocou no copo pra mim.
- Eu sou Demi! O que aconteceu? – Acho que bati forte com a cabeça, por que não me lembrava de nada.
- A Ambrejenta te empurrou e você bateu como um saco de batatas contra a parede. Então o Lysandre te trouxe pra cá, não é fofo? Ele parecia bem preocupado. – A garota deu de ombros e sorriu, algo nessa história não se encaixava.
- Lysandre? Tem certeza? O cara alto, de cabelos brancos e heterocromia?  - Ela balançou a cabeça positivamente, não entendo a minha expressão.
- Uou, tenho certeza que ele foi obrigado... - Que remédio era aquele? Minha cabeça já estava bem melhor.
- Não sei, não estava lá. Mas a parte legal é que agora Ambre vai ter que usar o colar da punição. – A menina parecia tão feliz com isso, mas eu não fazia ideia do que se tratava.
- E isso é...? – Perguntei.
- Ah sim, é um colar que faz com que você fique totalmente em sua forma humana, ou seja, ela não poderá usar suas habilidades por duas semanas. É um colar muito poderoso e os alunos não são capazes de remover e só é colocado quando algum aluno desrespeita alguma das regras. – Me senti feliz com isso, mas temia quando esse tempo chegasse ao fim.
- Que bom, estou a salvo por duas semanas. – Ri e apoiei as costas na cabeceira da maca.
- Eu não diria você e sim sua amiga, pelo que ouvi Ambre jurou se vingar. – Ótimo, como se não precisássemos de mais problemas. Agora esse mês que está por vim, parecia muito mais perigoso do que antes. - Não se preocupe Demi-chan, se ela tentar te machucar eu mostro a ela o que uma succubus pode fazer! Afinal ninguém mexe com a garota do meu futuro cunhado.  – A menina fez uma cara de má, que me deu até medo.
- Succubus? Futuro cunhado?  – Tudo na frase dela parecia incompreensível.
- Não sabe o que é? Ó deixe-me adivinhar, você é mestiça e viveu a maior parte da vida com os humanos não é? – Concordei com a cabeça, era a melhor desculpa.
- Succubus são criaturas que tem asas, unhas looongas e afiadas e uma calda. Geralmente nós sugamos a energia vital de um humano do sexo oposto através de um beijo e a alma dele passa a pertencer a nós, se os deixarmos vivos é claro... Com outros monstros é um pouco mais difícil. As succubus mais experientes podem até controlar a mente das pessoas, somos de classe C. – Fiquei congelada na maca, então existiam mesmo criaturas tão perigosas? Ela falava coisas desse tipo tão naturalmente que um frio me passou pela espinha.
- E você o que é? Eu sei que é contra as regras, mas me deixou curiosa. – Arregalei os olhos e baixei a cabeça, o que faria agora? – OH, entendo. Por ser uma mestiça você deve ser classe E não é? Tudo bem, não precisa ficar com vergonha e não precisa dizer. – Essa parecia, pra mim, uma conversa de maluco.
- O-obrigada... O que quis dizer com “garota do seu futuro cunhado”? – Não sabia que Lysandre tinha irmãos, na verdade não sabia nada sobre ele. Também não sabia que Flor era sua garota, afinal era dela que Cristãs falava, né? E aquela vaca não me falou nada.
- Tenho que te confessar, sempre arrumo uma desculpa pra vir a enfermaria ficar com Leigh, o irmão de Lysandre. – Ela apontou para o joelho enfeixado e sorriu de forma travessa. – Não sou o tipo de monstro que se regenera e todos quando estão na forma humana são como humanos e se machucam , cansam, sentem como tais, claro os da classe C pra baixo, os mais elevados mesmo na forma humana não conseguem apagar de todo suas habilidades, afinal são muito fortes não é? – Ela conversava de forma animada, enquanto eu sacudia a cabeça positivamente e sorria sem jeito.
- Flor está com Lysandre e nem me contou? Pensei que ela fosse se atracar com Castiel. – Pensei alto e a menina gargalhou.
- Mas estava me referindo a você, acho que foi por sua causa que Leigh foi conversar com o irmão. – Me engasguei com a própria saliva e comecei a ri, depois que a crise de tosse passou.
- Você está imaginando coisas, não tenho nada com ele! Lysandre é o pior dos monstros! Ele me da medo e tudo o que quero dele é distância. – Desabafei, na verdade depois daquele momento no corredor já não tinha certeza se queria distância ou proximidade.

- Bom saber... Vejo que já se recuperou. – Quando foi que Lysandre chegou? Não sei, mas estranha foi a forma que saiu: batendo o ombro contra o de um homem alto e de cabelos negros, que estava parado ali, nos analisando com uma expressão... Indecifrável. Agora eu queria poder me enfiar em uma cova e gritar pra jogarem areia em cima.
- Acho que é um momento ruim entre o casal. – Cristãs falou para Leigh e eu corei envergonhada, não queria que Lysandre ouvisse aquilo, algo dentro de mim se quebrou ao ver aquela expressão.
- Nã-ão somos um casal. – Respondi rapidamente, ainda querendo me desintegrar e sumir, por que Leigh não parava de me encarar pensativo, isso é um mal de família?
- Você deveria voltar pra sua cama Cristãs, não se esforce muito. – Ele me deu outra encarada e deu as costas, saindo e entrando em uma porta onde dizia “Escritório”.
- Não se preocupe, espero que vocês se acertem logo... – Ela me lançou um olhar compreensivo e depois sorriu. -  Percebeu como Leigh é lindo? Ai ai, mal de família. – Será que ela não entendeu que não somos um casal? Aos suspiros ela voltou mancando e deitou-se na maca que estava próxima a minha. Aquele remédio parecia ter algum tipo de sonífero, por que logo apaguei novamente.

**

- O que eu disse sobre as coisas se tornarem desastrosas quando você se mete? Quando vai entender que você tem um imã pra fazer as coisas darem errado? – Flor parecia bem brava enquanto dava o seu sermão. Eu mal voltei da enfermaria e tenho que enfrentar esse furacão, ótimo.
- Mas você não para de se meter em confusão, tinha que provocar a Ambrejenta. – Sim, aderi o apelido que Cristãs deu a ela.
- Ambrejenta? Gostei... Mas não vem ao caso. Imagine se ela te jogasse com mais força, você rachasse a cabeça e tivesse uma hemorragia? Ia ser o banquete dos monstros! – Franzi a testa e a encarei.
- Falou aí, pessoa que não é humana. Se não fosse eu, seria você... Eaê? – Cruzei os braços e fiz bico.
- Acontece que eu tinha tudo sobre controle, como se eu fosse mesmo brigar por causa daquela lombriga tingida. – Cada apelidinho que ela arruma pra Castiel, que até me impressiona.
- Certo... Eu vou tomar mais cuidado, chefona. – Às vezes acho que ela esquece que não estamos lidando com “pessoas comuns”, mas tudo o que queria era descansar e dormir.
- Eu com certeza vou me vingar dele. – Sorriso diabólico detectado.
- Por falar no diabo... Eu sinto uma tensão sexual entre você e o Castiel, parece que quando ele te chama de gorda ele está implorando pra ver por baixo dos seus panos... E você bem que mostraria, né?  – Comentei de forma zombeteira pra ela, que soltou uma risadinha sem humor nenhum. PARA TUDO! Aquelas bochechas estavam mesmo vermelhas, ou era impressão minha? - SABIIIIIIIA, VOCÊ QUER O CORPO DELE NU. – Gritei e levei uma almofadada bem no meio da cara.
- Cala a boca, nanica. Eu não quero mostrar nada a aquele Shrek ruivo e muito menos o corpo cheio de pelanca dele nu. – Ela continuou a me bater enquanto eu continuava a gargalhar.
- Okay, pareei! Mas que vocês formariam um casal excêntrico, isso sim. – Mais uma olhada mortal e me encolhi, não queria passar outra noite na enfermaria.

CAPITULO 16 •• Dando uma volta.

O final de semana chegou e Flor resolveu me arrastar pra uma vila que ficava próxima a escola. Ela usava uma calça jeans escura com alguns desfiados, seus all star preto costumeiro, uma camiseta do Nirvana larga, também preta (que ela mesma arrancou a gola) deixando a camisa caída no ombro, revelando a alça de renda do seu top também preto. Optei por um vestido com um tom creme, cheio de bolinhas marrom, o mesmo tom da fita que ficava logo abaixo dos seios formando um laço nas costas, e uma sapatilha no mesmo tom de bege que o vestido.
  Não eram nem 9 da manhã, o sol não apareceu, mas mesmo assim o clima estava abafado, depois de uma caminhada com certeza iriamos suar, por isso não optei por levar um casaco. Só concordei em ir pra essa chatice, depois de passar no refeitório e encher a bolsa de guloseimas.
  Nos encontramos com as meninas no pátio. Catrinn usava um colete preto por cima de uma camisa branca folgada, shorts jeans também larguinhos e um tênis preto de cano alto meio desamarrado. Anelize usava um vestido rosa bem claro com a barra de renda, por cima do vestido caia um bolero branco. Seus cabelos estavam bem alinhados e seus cachos como sempre brilhantes... O que ela faz pra ter um cabelo tão lindo? Nos pés ela usava uma sapatilha rosa, pra ela não usar nem um pequeno saltinho, era por que o caminho seria longo. Callisto também estava lá, usando uma calça jeans preta e tênis no mesmo tom com alguns detalhes brancos. A blusa que usava era num tom cinza mais claro e por cima ela vestia uma blusa quadriculada em verde, preto e podia-se ver alguns fios raros de vermelho, a manga da camisa estava dobrada até seus cotovelos. No pescoço ela usava os headphones, prontos pra serem acionados a qualquer bobeira que disséssemos.

  Durante todo o caminho, eu fui me empanturrando com a comida que catei no refeitório e por isso nem me liguei muito na conversa que elas estavam tento. Quando chegamos a tal vila de onde Judas perdeu as botas, a primeira coisa que fiz foi me jogar em um banco do protótipo de praça que havia lá, com Catrinn morta ao meu lado.
  - Anda lá, deixem de ser sedentárias. – Anelize não parecia nem um pouco cansada, Callisto muito menos e Flor estava tão ansiosa pra comprar sua vingança com Castiel, que nem sequer pode ter tempo pra se cansar.
  - Eu preciso achar uma tinta pra cabelo. – Ela anunciou.
  - Eu sei onde vende, mas é um tonalizante e saí mais rápido... Quer mudar as madeixas? – Claro, Ane sempre estava preocupada com a sua aparência, isso não fazia dela uma garota chata, mas com certeza ela saberia onde encontrar esse tipo de produto.
  - Não é bem pra mim...- Flor me olhou e piscou.
  - Vá Ane, leve essa criatura e me deixe descansar. – Reclamei, eu iria ficar por ali por uma meia hora, até retomar meu fôlego.
Callisto também não pareceu muito interessada em andar em busca de totalizante pra cabelo.

  - Não é o Nathaniel ali? Nath! – Acenei, e só depois me lembrei de que estava sendo totalmente desagradável.
  - Eu vou com as duas, pra garantir que não se metam em problemas. – A voz de Callisto pareceu meio falhada, como se estivesse nervosa. Lá foi ela arrastando Flor e Ane, o que me lembra de que tenho certa história a descobrir.
  - Olá Catrinn, olá Demi. É bom vê-las aqui. – Ele sorriu, sempre daquela forma gentil de que queria agradar a todos.
  - Veio espairecer? – Perguntei, a garota ao meu lado parecia imersa em outro mundo.
  - Tentar, Ambre não parava de reclamar no meu ouvido e não sabia que vocês estavam aqui. – Ele pareceu meio sem graça e olhou na direção pra onde as garotas haviam ido, corado e com um brilho estranho no olhar.
  - Viemos conhecer, mas depois dessa caminhada não tenho forças pra nada mais. – Ele riu e estendeu a mão, segurando minha bochecha e apertando.
  - Você parece mesmo exausta. Bem, vou até a livraria, aproveitem a vila... Se conseguirem. – Depois de dar mais um sorriso caloroso ele se virou e partiu. Por que eu sentia que mesmo que o sorriso dele fosse o mais largo, ele nunca estava contente de verdade?
  - Eu acho que ele ainda gosta dela. – Catrinn falou, me lembrando de que ela ainda estava ali.
  - Percebi isso também, acho que não importa o passado, importa? Se você gosta de alguém, você luta por esse alguém. – Falei como se entendesse muito de amor... Coitada de mim.
  - Eles terminaram por culpa de Ambre, de Ken e da família do próprio Nathaniel. E também como eles terminaram... De qualquer forma, eles se gostam e parece que ambos sabem disso. – Catrinn falava isso tão casualmente como se já tivesse se acostumado com a ideia.
  - Ken? Ele gosta da Callisto? – Essa pra mim, era a única explicação dele está no meio dessa história.
  - Não, ele gostava da Lyana e a Melody, soube bem como usar isso. – Certo, agora a coisa começou a ficar confusa.
  - Quem é Melody? – Cada vez que ela me conta essa história aparece um novo criminoso.
  - É a melhor amiga de Rosalya, as duas são as maiores piriguetes da escola, e adoram chorar na frente dos meninos se fazendo de santinhas... E ela ao que parece gosta dos meninos especialmente.  - Era só o que faltava, não acredito que alguém assim conseguiu separar os dois.
  - Dos meninos? Não de um?
  - Não, ela da em cima de todos... Como: O que aceita-la está valendo. – Fechei as mãos em punho.
  - Isso não vai ficar assim, eu vou juntar Callisto e Nathaniel. - Falei decidida.
  - Boa sorte... Você vai precisar. – Nossa, obrigada pela ajuda.
  - Você vai me ajudar e, nem pense em negar. – Catrinn abriu a boca pra tentar discutir comigo, mas desistiu assim que eu fiz cara feia. Eba, estou ficando assustadora.

  Depois dessa conversa o silêncio reinou e ficamos mais meia hora mofando lá no banco, ambas sem a mínima vontade de levantar, enquanto eu matutava um plano maligno pra juntar Nathaniel e Callisto novamente. Ah... O que me lembra que antes preciso saber a história completa.
  - Vamos voltar? Eu realmente não quero ir à loja alguma. – Catrinn pediu e achei ótimo, assim iria fazer as perguntas no meio do caminho.
  - Certo, eu também não. – Acho que Flor não ficaria chateada de eu está indo embora sem ela, depois que eu lhe passasse todas as informações fresquinhas ela entenderia que foi por um bom motivo. Joguei a bolsa nas costas e começamos a caminhar de volta.

CAPITULO 17 •• 1ª empurrãozinho.

Não andamos nem 5 minutos e eu me arrependi mortalmente de ter aceitado vim, da próxima vez vou ficar largada na cama. Não que seja totalmente sedentária, mas essa foi à semana mais conturbada da minha vida, sinto como se não tivesse descansado o suficiente... AINDA.
  - Preciso de mais comida! – Resmunguei, só a comida pra me fazer feliz.
  - Admito que também estou faminta, se você não tivesse comido todo o lanche teríamos algo pra volta. – Forcei uma cara de ofendida e fiz bico.
  - Nem vem, você ajudou a comer. – Ela riu baixo e fez uma cara de quem não sabia do que eu estava falando. – Seu cadarço está desamarrado. – Alertei.
  - Segure aqui pra eu poder amarrar. – Ela pediu e eu o fiz, pegando a bolsa dela e colocando atravessada no meu ombro.
  - Olha só Misuki, encontramos duas lebres no meio do caminho. – Qual o problema dos caras dessa escola? Não podem ver uma garota que usam esse tom de predador!!
  - É a bruxinha e a novata... Estava mesmo querendo me divertir. – Ele mostrou aquela língua bifurcada, igual na primeira aula de inglês e sorriu.
  - Então vá se divertir na casa do car...- Catrinn segurou minha mão e me encarou séria.
  - Você reclama de Flor, mas faz o mesmo que ela. – O que posso fazer? É a convivência.
  - Certo... Apenas vamos. – Dei de ombros e comecei a andar, mas o cabeça quadrada parou bem na nossa frente, ele tinha um bafo de álcool realmente forte.
  - Não tão rápido. – Ótimo, será que tenho mesmo o imã pra problemas que Flor se refere? Ainda acho que o imã dela é bem mais forte.

  - Algum problema? Posso saber por que você está segurando a minha garota? – Armin tinha as mãos no bolso e uma expressão séria, foi quando me dei conta que o outro cara estava segurando Catrinn pelo pulso, e quase dei um grito de tão fofo que foi ouvir aquilo.
  - Armin? Eu não sabia... – A voz do garoto, mudou de ameaçadora pra amedrontada.
  - Mas agora já sabe. – Armin colocou a mão na cintura de Catrinn e puxou a garota pra perto dele, lançando um olhar significativo pros dois babacas. Misuki saiu da minha frente xingando alguma coisa.
  - O-obrigada. – Catrinn tinha uma expressão iluminada no rosto, e sorria feito uma boba. Ah paixão...
  - Como Castiel disse, vocês são um grupo que atrai mesmo os problemas. – Ele disse isso olhando especialmente pra mim, vou fingir que não senti a indireta.

  - Hey Demi, Hey Cat... Não vi vocês na vila, estão voltando também? – Alexy falou chegando logo depois, sempre com aquele seu sorriso empolgado. Percebi que Armin ainda segurava Catrinn e tive uma ideia.
  - ALEXY! Que bom que você está aqui, eu preciso voltar com urgência pra escola e Cat tá cansada e num quero voltar sozinha e tenho que correr, e Armin cuida dela e vem Alexy e anda e corre... – As palavras saíram rápidas e emboladas. Segurei no braço de Alexy e saí correndo com ele pelo caminho, na tentativa de deixar aqueles dois sozinhos.
Depois que conseguimos uma distância boa, parei de correr e coloquei as mãos no joelho, puxando o ar com força.

  - Certo... Me explica: O que foi isso?! – Alexy também estava ofegante e tentava não ri, pra poder conseguir respirar melhor.
  - Não percebeu? Queria deixar aqueles dois sozinhos. – Dei de ombros e me ergui, me espreguiçando e estralando alguns ossos.
  - Aaaah... Sua danadinha. – Ele riu e segurou a minha bochecha, assim como Nath mais cedo, só que Alexy a apertou e começou a balançar.
  - Aish... Isso dói! – Falei com dificuldade e ele soltou, rindo.
  - Desculpa, não resisti. – Eu que num resisto a tanto apertão.
  - Ótimo... Mas me diga, o que seu irmão acha da Catrinn? – Eu definitivamente vou juntar alguém.
  - Catrinn? Essa é uma boa pergunta... Não sei bem, ele está sempre falando dela e desde que ela chegou, ele parece está em conflito com alguma coisa. Mas quando tento entender a situação ele faz algumas analogias que não fazem o menor sentido pra mim... E quando os dois estão juntos só falam de vídeo games, internet, rede, ou estão jogando... Eles são parecidos.  – Alexy coçou a nuca e fez uma expressão confusa, que o deixava muito engraçado.
  - Você não é muito perceptivo. De qualquer forma, quero ver como eles se viram, sem um vídeo game. – Falei soltando uma risada maléfica, me lembrando que a bolsa de Catrinn havia ficado comigo.

  - Senti “medo” de você agora... Vocês são as humanas mais engraçadas que conheci. – QUE? Congelei no lugar, sentindo o meu mundo desabando aos poucos.
  - Hu-humanas?
  - É, humanas.
  - Quem é humana aqui?
  - Você e Flor.
  - Humana?
  - É Demi, humana.
  - Humana? Que absurdo rere.
  - Não se preocupe, Anelize nos contou e pediu pra que ajudássemos vocês. – Um peso pareceu sair dos meus ombros, por um minuto pensei que estivesse muito na cara que somos humanas.
  - Quase morri agora, pensei que tivesse dado pinta. – Deslizei a mão pela testa e limpei o suor ali, sério... Fiz exercício em uma semana, pra compensar os 16 de preguiça.
  - Pra você se sentir melhor, digo que sou um bruxo. Minha especialidade é levitar as coisas... Agora sei algo de você e você sobre mim. – Ele estufou o peito, parecendo bem orgulhoso e eu ri, agora entendo a facilidade com que ele flutuou pelo portão.
  - E que tal você me levitar de volta pra escola? – Brinquei e ele soltou uma gargalhada. – Estou brincando, vamos andando. – Dei de ombros e comecei a caminhar.

  - Cuidado com... – Ouvi a voz de Alexy, mas era tarde demais. Meu pé se enfiou em um buraco, que apareceu do nada e eu me espatifei no chão, soltando um urro ao torcer meu pé.
  - Demi! Ta tudo bem? Eu tentei avisar. – Ele pareceu bem sentido por não conseguir evitar, mas enquanto estava estatelada no chão, comecei a gargalhar bem alto, ele não resistiu e riu também.
  - Eu sou tão cabeça de vento, por isso essas coisas acontecem comigo. – Falei assim que consegui parar de ri. – Esfriou de repente, não é? – Comentei quando um vento frio soprou e me deixou arrependida por ter esquecido o casaco.
  - Isso me lembra de outro cabeça de vento que conheço... Deixe-me adivinhar, você esqueceu o casaco?  – O garoto riu e me estendeu a mão, eu segurei a sua mão e um tanto envergonhada acenei com a cabeça de forma positiva. Alexy leu meus pensamentos?
  - Toma, fique com o meu. – Antes que eu pudesse negar, ele jogou seu casaco sobre os meus ombros e automaticamente me senti mais quente. Enfiei os braços dentro das mangas, caberiam três de mim ali dentro.
  - Quase coube perfeitamente. – Ele debochou e bagunçou meus cabelos, me fazendo gargalhar.
- Se sentir frio pegue-o de volta, daí vamos revezando. – Ele parecia não querer discutir e acenou com a cabeça, então voltamos a caminhar. Foi bem fácil a principio, mas com o tempo meu pé começou a doer mais e mais e eu tentava disfarçar, mas Alexy começou a perceber a minha enrolação pra andar.
- Chega de se fazer de forte, vem eu te levo... – Ele abaixou na minha frente.
- Eu não quero te causar problemas, posso ir andando. – Alexy me ignorou e puxou os meus braços.
- Anda, vai atrapalhar se for mancando o caminho todo. – Ele tinha razão, nunca iriamos chegar à escola. Um pouco relutante joguei meus braços em torno dos seus ombros e ele segurou nas minhas pernas, me arrumando nas suas costas. Agradeci mentalmente pelo meu vestido não ser curto demais.
- Sabe, desde que você e sua amiga chegaram, as coisas ficaram mais divertidas. – Ele comentava empolgado, enquanto eu estava com a cabeça pousada no seu ombro, sonolenta.
- Oh... Está no chamando de bobas? – Ele riu e balançou a cabeça negativamente.
- Também, mas vocês foram capaz de nos deixar mais próximos e de nos fazer rir por nada. Sinto que estão por vim várias aventuras. – Soltei uma risada baixa e voltei a acomodar minha cabeça, não éramos tão desastrosas assim, éramos?
- Disponha... – Falei baixo, aquele balançar estava me deixando mesmo embriagada de sono.
- Nem pense em dormir mocinha. – Ele anunciou e começou a pular e a correr, me obrigando a despertar e soltar gargalhadas, enquanto me segurava firme naquele maluco.



CAPITULO 18 •• Always.

P.O.V. ARMIN

  Pela primeira vez em muito tempo me sentia satisfeito por Rosalya não está ali, sempre nutri por ela um sentimento que acreditava ser muito forte e sólido, sempre corri atrás dela e tentei lhe agradar e sempre recebia as mesmas respostas, os mesmos “nãos”. Só que as coisas mudaram há algum tempo, desde quando meus olhos pousaram em um par de olhos castanhos.
            Meu mundo deu uma chacoalhada com a chegada de Catrinn. 

  “Naquele primeiro dia, não fomos capazes de parar de olhar um para o outro. Como se o resto do mundo tivesse parado, como se fossemos infamiliares com o amor.”

  Rosa e Cat são tão diferentes, e quanto mais conheço Catrinn mais me pergunto: “O que vi na Rosalya?”, O jeito como ela corava, como era a única que entendia quando falava sobre algum jogo, como conseguíamos conversar horas sobre as coisas mais bobas e as mais inteligentes também.  Sempre que passava algum tempo com ela, não conseguia mais aturar Rosa.

  “Eu gosto de tudo em você, até mesmo do seu jeito desajeitado e da sua expressão quando acorda. Espero que possamos nos tornar amigos, espero que possamos nos tornar amantes.”


  Foi só eu começar a passar mais tempo com Cat e parar de tentar provar que era bom pra Rosa, que a garota que antes me esnobava mudou e passou a se pendurar em mim, bem diferente de antes... Foi quando começamos a ficar, em meio a idas e vindas eu não queria abrir mão dela de alguma forma, odiava quando falava mais grosso e ela começava a chorar, adorava os carinhos dela, seu sorriso e suas vantagens físicas.
  Por um tempo tudo pareceu perfeito, ter Rosalya pareceu o suficiente. Mas agora só consigo pensar no quanto Catrinn estava cada dia mais bonita e cada vez mais distante, isso me mata e me confunde.
Tudo eu que eu queria já tinha, não é? Rosalya.
                 Mas por que não me sinto feliz?

  - Você anda bem distraído ultimamente, heim? – Alexy estava em uma loja de roupas da pequena vila, não era tão sofisticava quanto ele gostava, mas ele se virava assim mesmo.
  - Só aproveitando, enquanto Rosa não volta de viagem, pra pensar. – Meu irmão soltou um chapéu extremamente horrendo e me encarou.
  - Até que enfim você percebeu que ela não te deixa pensar. Você é facilmente manipulado pelas lágrimas daquela garota, Armin. – De novo com aquela história, revirei os olhos e bufei impaciente, olhando a hora no pequeno relógio na parede da loja. Onde Cat estaria agora?
  - Eu vou indo na frente... – Dei as costas e ignorei as reclamações de Alexy, que odiava fazer compras sozinho.

  Já estava cansado daquele lugar morto, então decidi voltar pra escola. Talvez fosse jogar algo, era o único jeito de distrair a minha mente. Não andei por muito tempo até escutar algumas vozes alteradas, uma delas me parecia da novata engraçadinha, que as meninas comentaram ser humana. Nunca tive nada contra humanos e desde que aquelas duas chegaram nós estamos tendo uma dose extra de diversão, principalmente quando se trata de Castiel e Flor.

  Adiantei os passos e notei que ela não estava só, mas o que me enfureceu de fato foi ver um dos idiotas da sala segurando no pulso de Catrinn e ela não parecia gostar nada daquilo... Gostando ou não, não suportei olhar e agi.
  - Algum problema? Posso saber por que você está segurando a minha garota? – Mantive as mãos nos bolsos e não me alterei, aqueles dois estavam cansados de saber que não deviam se meter comigo.
  - Armin? Eu não sabia... – Como pensei, mas mesmo assim o imbecil não a largou.
  - Mas agora já sabe. – Falei interrompendo-o e instintivamente colocando o braço em torno da cintura da garota e puxando-a pra mais perto, podendo sentir aquele perfume que eu bem conhecida. Voltei a olhar para os dois que saíram aos resmungos, enquanto Demi tinha uma expressão extremamente engraçada no rosto. Seus olhos pareciam ainda maiores e ela estava com as mãos junto à boca, como um gatinho pedindo carinho e olhando pra nós, enquanto fazia barulhos estranhos como “owwn”, “awwwn”, e “nhac”, ela parece bem perigosa quando faz isso.

  “Não tenha medo, que eu jamais me afastarei de suas mãos, mesmo quando olho pra você agora, você é tão preciosa pra mim.” 
  - O-obrigada. – As bochechas de Cat estavam coradas, e o meu sorriso parecia ser incapaz de diminuir.
  - Como Castiel disse, vocês são um grupo que atrai mesmo os problemas. – Olhei pra Demi, na verdade desde que ela e sua amiga chegaram às coisas tem sido movimentadas, como se ambas fossem dois furacões colocando todos preocupados, enquanto reviravam nossas vidas de cabeça para baixo.

  - Hey Demi, Hey Cat... Não vi vocês na vila, estão voltando também? – Alexy chegou e deu dois tapinhas no meu ombro.
  - ALEXY! Que bom que você está aqui, eu preciso voltar com urgência pra escola e Cat tá cansada e num quero voltar sozinha e tenho que correr, e Armin cuida dela e vem Alexy e anda e corre... – Ahn? Eu fiquei encarando os dois correndo feito loucos pela estrada, com a boca aberta e tentando assimilar aquela imagem bizarra.

  - O que foi isso? – Perguntei. Quando senti Catrinn se mover, me dei conta de que ainda a segurava, corei e a soltei.
  - Isso é a Demi... Sendo Demi. – Ela usou aquele seu tom filosófico e soltei uma risada alta, levando a mãos aos cabelos negros e desalinhando sua franja.
  - Então vamos voltar juntos. – Sorri o percebi que ela procurava alguma coisa.
  - Não acredito... Minha bolsa ficou com a maluca... Meu vídeo game... – Cat parecia bem decepcionada com isso.
  - Não tem problemas, eu te distraio. – Dito isso, passei o braço em torno do pescoço dela e comecei a caminhar arrastando-a, agradecendo mentalmente a Demi por ter nos deixado só e carregado à bolsa. Era a primeira vez em muito tempo que ficávamos a sós, sem um vídeo game entre nós.

  - Será que agora vai me dizer por que não foi para o clube de música? Ane me confidenciou que achou estranho, já que você gosta de tocar baixo. – Ela pareceu tensa e distante... “Por que você se afasta cada vez mais de mim, Cat?” era o que queria perguntar, mas algo me dizia que já tinha a resposta.
  - Ane...! – Ela revirou os olhos. - Parece que não, mas eu realmente gosto de jardinagem. E agora tenho me divertido mais, até plantei uma coisa... Verde e... – Ela parou pensativa e tirou o meu braço dos seus ombros.
- Estou vendo, seu amor à jardinagem. – Comentei rindo sem tentar demonstrar toda a minha decepção por ela ter me afastando.

“É por isso que você precisa saber garota, meu coração que te espera por muito tempo está triste, eu quero te abraçar como se eu fosse o céu. Mesmo no uivo de uma tempestade, não há nada para se temer agora. ” 

  O silêncio incomodo reinou enquanto andávamos, ela não me olhava e algo dentro de mim dizia que eu a estava perdendo... Se é que alguma vez a tive. No momento em que Rosalya me beijou pela primeira vez, dizendo que gostava de mim, aquilo me encheu de uma forma que esqueci que antes havia dito a Catrinn o quanto ela fazia eu me sentir especial, o que eu devia está parecendo pra ela?

  - Olha Cat... As coisas parecem estranhas entre nós. Sobre tudo o que aconteceu...
  - Não se preocupe com isso Armin, eu já esqueci tudo o que você disse, não precisa nem pedir. – Pela primeira vez eu a vi brava daquele jeito, ela apertou os passos e começou a me deixar pra trás, mas me adiantei conseguindo segurar no seu braço e puxa-la.
  - Olha pra mim.. Por favor. – Ela não olhou. – Cat, tudo que eu disse antes não era mentira. – A segurava pelos braços, mesmo que não estivesse direcionado pra mim, seu olhar que me arrebentava por dentro.
  - Não era o que parecia enquanto se agarrava com Rosalya. – Ele me olhou, ainda parecendo irritada, com os olhos marejados. Parece egoísmo, mas isso acendeu a esperança... Ela gosta de mim, afinal? Depois que lhe disse o quanto gosto dela, dei as costas e não a escutei, com medo de uma rejeição. Mas ela gostava de mim? Só havia uma forma de descobrir...
  - Cat... Se eu, o encanador, chegasse ao castelo pra te salvar, você ficaria comigo ou apenas agradeceria e arrumaria um príncipe? – Ela me olhou agora com os olhos arregalados e sorri.
  - O... O que...? – Continuei a segura-la pelos ombros.
  - E se eu fosse o Ash e escolhesse você? E se eu dissesse que a minha senha no Tíbia é o seu nome? – Tudo o que queria era vê-la sorri e pareceu dar certo por que podia ver um sorriso no canto dos seus lábios rosados.
  - Só você... Sempre com essas brincadeiras...
  - E se... Eu disser que não sou o Yoshi, mas daria a minha vida só pra te dar uma segunda chance? E se dissesse que eu vou te salvar mesmo depois de desligar o vídeo game? Que não são brincadeiras?  – Perguntei isso com o tom de voz mais baixo e sem a parte brincalhona de antes. Tirei a mão direita do braço dela e toquei o seu queixo, aproximando meu rosto o suficiente pra sentir a sua respiração. – Você me aceitaria...? – Estava tão próximo que meus lábios quase podiam tocar os dela.

...

  - Aaaaaaaaaarmiiiiiiiiiiiiiiiiin!  - O som da voz fina fez Catrinn saltar pra trás e quando olhei percebi Rosalya correndo em minha direção. Usando de suas habilidades ela não demorou pra me alcançar, jogou seus braços em torno do meu pescoço e juntou seus lábios aos meus. Demorei pra assimilar o que estava acontecendo, e quando me livrei de Rosalya não vi mais Catrinn .

  “Às vezes, temos os nossos próprios momentos ruins também, mas em cada briga de casais a dor chega e vai embora.”

CAPITULO 19 •• Desabando.

- Alexy você vai me derrubar. – Gritava praquele desmiolado que continuava a correr, mas desisti e fiquei as gargalhadas, usando as mechas de cabelo dele como rédeas.
  - Chegaaaamos! Pode dizer que foi a maior aventura da sua vida. – Ele afirmou e eu tentei retomar o ar, voltando a jogar os braços sobre os ombros dele;
  - Você nem pra me deixar tirar uma soneca. – Resmunguei, tentando limpar o suor da testa dele com o lenço que achei na minha bolsa.
  - Pelo visto, a caminhada foi boa. – Ouvi a voz sacana de Castiel, que estava com as meninas e Lysandre ao seu lado.
  - Como vocês chegaram aqui tão rápido? – Perguntei e Flor estava com os braços cruzados, me encarando.
  - Pegamos um atalho... E você me deixou lá pra poder brincar de cavalinho com o Alexy? – Ela falou de forma maliciosa e eu corei violentamente, me lembrando de que ainda estava nas costas dele e que Lysandre poderia ver isso, eu não queria que ele pensasse coisas erradas... Mesmo que fosse tarde demais.
  - Não foi bem assim... Me ponha no chão Alexy. Espera... Tem um atalho? UM ATALHO E A GENTE PEGANDO AQUELE CAMINHO GIGANTESCO? – Todo o meu esforço poderia ser poupado, não acredito.

  - Não grite tanto Demi e não vou te soltar. – Quando ele disse isso percebi a expressão de Anelize ficar bem... Chateada.
  - Estou vendo que vocês estão bem íntimos, não é? Demi se da muito bem com os meninos... De qualquer forma tenho mais o que fazer. – Ane disse aquilo e foi como um balde de água fria bem na minha cara, ela me chamou de piriguete? Ela estava brava? Espera... Ela gosta mesmo do Alexy?
  - Ane... Qual o problema? – Alexy perguntou meio chateado, mas ela estava longe.
  - Vá falar com ela Alexy, eu vou daqui. – Ele acenou com a cabeça e me colocou no chão, correndo atrás de Anelize.
  - O que deu nela? – Flor se aproximou de mim e perguntou.
  - Todos sabem que Ane gosta de Alexy, menos ele... E pelo visto essa aí. – Lysandre se referiu a mim como “essa aí” e a forma grosseira como suas palavras saiam me ofenderam mais do que desejei. Senti um gosto amargo na boca e respirei fundo, conhecia aquela sensação.

  - E você acha que a gente é adivinha, ô mal encarado? – Flor interveio, eu deveria está mesmo com a cara péssima.
  - E depois não querem que digamos que os humanos são burros, rá. – Castiel entrou na onda do amigo e ambos,( os idiotas, infelizes, desgraçados, ignorantes e metidos) foram embora daquele jeito descontraído que sempre tinham.
  - EU VOU FAZER VOCÊ ENGOLIR ESSAS PALAVRAS CASTIPRAGA! – Flor gritou e eu coloquei a mão no ombro dela, forçando ao máximo pra sorrir.
  - Comprou o que tinha que comprar? – Perguntei e os olhos dela brilharam.
  - SIIIIM! Em breve alguém sentirá a minha ira. Oh por falar nisso eu vou indo na frente, Callisto ficou com a minha sacola, quando Castiel chegou tentei disfarçar e enfiei a tinta na bolsa dela. Vou lá pegar... A gente se vê no dormitório. – Acenei positivamente com a cabeça e vi Flor correr em busca de Callisto.
  - Então... Só eu e eu. – Meu pé estava parecendo uma bola e firmar no chão me fazia ver estrelas, por isso fui andando da forma mais enrolada possível, enquanto tentava não me lembrar das palavras grosseiras que ouvi agora pouco. Acho que estou ficando mais forte, Flor sempre dizia que eu não podia ficar chorando por qualquer coisa como costumava fazer, e por isso estava tentando ser forte, tanto pra ignorar a dor física, quanto pela dor que era nova.
  Eu queria poder entender o motivo de Lysandre sempre fazer isso. Ele estava sempre me machucando, sempre me fazendo desejar desaparecer.

  Senti um esbarrão forte e me desequilibrei quase me espatifando no chão novamente.
  - Cat? Está tudo bem? – O rosto dela estava inchado e vermelho, ao me perceber ela mostrou a sua expressão raivosa.
  - Você não tinha o direito! Não tinha o direito de me deixar sozinha com ele. – Ela gritou comigo e eu fiquei paralisada.
  - Mas... Eu não queria... Eu... - Catrinn puxou sua bolsa dos meus ombros e me olhou novamente.
  - Nunca mais se meta onde não foi chamada. – Dito isso ela se afastou e foi como se eu recebesse um soco bem no estomago. Já estava tarde pra tentar evitar as lágrimas, já fui forte por tempo demais e me deixei cair no chão, cansada de andar e chorando como uma mongol, por sempre fazer as coisas do jeito errado.
  - Demetria? – Ótimo! Tudo o que eu queria era alguém me vendo chorar feito um bebê. Engoli o choro e enxuguei o rosto nas mangas do casaco de Alexy, que ainda estava comigo. – Você se machucou? Precisa de ajuda? – Era Nathaniel.
  - Não foi nada. E-entrou um cisco no meu olho... – Tentei mentir e ele me ajudou a levantar.
  - E é por isso que você está chorando jogada no meio da entrada? – Ele perguntou fazendo eu me sentir ainda pior.
  - Eu ma-ma-chuquei o... O pé. – Não era esse o motivo, mas era um motivo.
  - Sempre distraída, não é mesmo? – Ele se abaixou perto de mim e tocou meu pé - Está mesmo feio seu pé, vou te levar a enfermaria... Agora não precisa mais chorar tanto, está bem? – Eu fiz que sim com a cabeça e ele se aproximou. Quando o fez eu o abracei e comecei a chorar de novo, soluçando enquanto ele acariciava o meu cabelo tentando me acalmar e dizendo que tudo ficaria bem.

  Depois que parei de chorar feito um bebê, Nathaniel me pegou no colo (mas que mania) e me levou até a enfermaria. Duas vezes em uma semana, estou me superando.
  - Oi Demi! Oi Nathaniel! – Ouvi a voz de Cristãs ressoar assim que Nathaniel entrou comigo na enfermaria.
  - Você pode chamar o Leigh? – Ele pediu e ela concordou, se levantando do banquinho.
  - Demi-chan se machucou Leigh! – Ouvi a voz dela após abrir a porta do escritório dele.

  - Pronto chorona, está melhor agora? Leigh cuidará bem do seu pé. – Nathaniel esfregou suas mãos de forma carinhosa no meu cabelo e eu acenei com a cabeça, ele parecia um irmão mais velho. Quando Leigh veio até mim e eu o vi, comecei a chorar alto de novo.
  - O que aconteceu? – Ele perguntou ao Nathaniel.
  - Ela torceu o pé... – Ele parecia desconfiar se essa era de fato a razão pela qual eu chorava tanto. Nem eu sabia por que chorava, eu só não conseguia controlar e queria poder amarrar uma pedra no meu pé e me jogar no rio mais profundo do mundo.
  - Eu cuido disso. – O enfermeiro anunciou, arrastando um banco e sentando a minha frente.
  - Eu volto mais tarde pra vê como está. – Nathaniel disse e depois ouvi a porta da enfermaria se fechar e continuei ali, chorando, mas por sorte tinha a mão de Cristãs no meu ombro, tentando me acalmar e isso realmente funcionou.

  Leigh enfaixou o meu pé, disse que foi só uma torção e que em uma semana eu ficaria melhor. Diferente da primeira vez que nos vimos ele foi gentil e me tratou bem, enquanto riamos das piadas que Cristãs fazia sobre as vezes que se acidentou e foram muitas.
  - Descanse aqui por hoje, você parece cada vez mais exausta e continua de estripulias. Não me faça te deixar internada aqui por dois dias inteiros sem direito a visitas. – Fiz biquinho de choro e acenei positivamente com a cabeça, não é como se eu pudesse ir contra ao que ele dizia.
  - Cris... De olho nela. – Leigh tocou a bochecha da menina com uma leve caricia e sorriu, voltando pra terminar uns relatórios que lhe foram pedidos.
  - Demi-chan, seu choro quebrou todos nós. Não chore mais... – Cristãs me acariciou como se eu fosse um cachorrinho e sorriu. Queria tanto conversar com Flor agora.

CAPITULO 20 •• Realidades.

Eu dormi e quando acordei já me sentia melhor, apesar do pé continuar doendo.
  - Você parece um anjo, enquanto dorme. – Ouvi Ken dizer assim que abri os olhos, com aquele sorriso galante.
  - Vo-você está aí há muito tempo? – Perguntei envergonhada passando a mão pelos cabelos, na tentativa de tentar não parecer tão horrorosa.
  - O suficiente... Vi Nathaniel te carregando pra enfermaria e esperei até que a parasita saísse de perto pra vim te ver. – Ele deu de ombros e me estendeu um lírio, daqueles que ele havia me mostrado anteriormente.
  - Parasita?
  - Sim, a doida que vive se machucando de propósito.
  - Não fale assim dela Kentin, Cris é uma ótima pessoa e é minha amiga. – Ele me olhou estranho.
  - Esquisito, você é a única pessoa com quem ela conversa então, além do Leigh é claro. – Dei de ombros.
  - Só não a chame de parasita novamente. – Ele bateu continência e riu.
  - Me desculpe, senhorita. E esse pé, como está? – Eu puxei o lençol e mostrei a ele meu pé enfaixado, e o garoto fez uma careta.
  - Pense positivo, ficará um tempo sem ter que fazer educação física. – O acompanhei nas risadas.
  - Só vai ser ruim pra ficar andando por aí... Obrigada pelo lírio, eu realmente amei. – Fiz biquinho.
  - Não se preocupe com isso, eu te carregarei pra onde for preciso...– Dito isso ele curvou os braços e bateu nele, como quem indicava que era muito musculoso. - E como disse antes, eles me lembram de você, nada mais justo do que um ser seu. – Soltei uma risada sem jeito, nunca nenhum garoto falou comigo dessa forma.
  - Ah claro, senhor fortão. Mas não vai ser preciso. – Tentei disfarçar.
  - É não vai ser preciso, agora dá o fora filhote de cruz credo. – Flor apareceu e trouxe contigo toda sua simpatia.
  - Volto depois Demi, se cuide. – O Garoto segurou o meu rosto e me deu um beijo perigosamente perto dos lábios, me deixando assustada e petrificada na maca.  Saindo em seguida.

  - Mas esse pervertido vai ver só. – A garota estava pronta pra ir atrás dele, quando a segurei.
  - Chega de confusões, certo? – Pedi fazendo biquinho.
  - Eu que o diga né? Duas vezes na enfermaria em menos de uma semana garota? Está querendo morrer antes da hora?- Flor se sentou numa cadeira perto da maca e me encarou.
  - Eu sei... Estou surpresa comigo mesma! Mas eu tropecei no caminho, era por isso que Alexy estava me carregando. – A garota soltou um “huuum” e cruzou os braços.
  - E por que foi a choradeira? – Corei ao ouvir essa pergunta.
  - Cho-choradeira? Não sei do que está falando. – Puxei o lençol pra cima de mim e empinei o nariz.
  - Corta essa, cabeça de vento! Nathaniel me contou que você chorou feito uma desesperada e não venha me dizer que isso é por causa da torção no pé! Foi pelo que Ane e Lysandre disseram, não foi? Quer que eu acabe com a raça deles? – Soltei uma risada, como poderia levar ela a sério?

  - Mas Nathaniel já deu com a língua nos dentes...
  - Olha quem fala, a fuxiqueira mor da escola. – Fiz bico de choro. – Nem comece a chorar, pode parar.
  - Me desculpe... - Mas meus olhos já estavam inundados, por me lembrar de Lysandre, de Anelize e principalmente de Catrinn, mesmo não sabendo por que ela estava daquela jeito, sentia que a culpa era exclusivamente minha.
Era tarde demais e eu já estava aos prantos, quando Flor se sentou ao meu lado e puxou minha cabeça pro seu ombro, acariciando meu cabelo, como fez da primeira vez que nos vimos. Quando me acalmei e expliquei tudo o que havia acontecido, um silêncio estranho reinou no ar.

  - Não vejo a hora de voltarmos pra casa... Faltam três semanas. – Parecia uma eternidade falando dessa forma. Ergui a cabeça e funguei. – Daí tudo vai se resolver. – Forcei meu maior sorriso.
  - Você está fazendo de novo... – Flor se levantou e respirou fundo. – Desde que chegamos aqui conseguimos bons amigos e um lugar onde somos quase sociáveis. E você como sempre, ao primeiro sinal de perigo quer fugir... Está na hora de você começar a concertar os seus erros, ao invés de fugir deles. – Ela pareceu brava.
  - Mas não disse nada demais, disse? Em três semanas nós vamos embora Flor... Nós não pertencemos a esse lugar, você sabe o que quero dizer. – Percebi nos olhos dela o que estava acontece. – Você não quer partir... Por quê? Ou melhor... Quem, né? – Minha amiga arregalou os olhos e cruzou os braços de forma irritada.
  - E eu lá ligo praquele tomate podre? Eu só não quero ir embora... É a primeira vez que nos encaixamos bem em um lugar, que pessoas que mal nos conhecem querem proteger nosso segredo. Só não quero perder isso. – Nunca pensei que teríamos esse tipo de conversa.
  - Como sabia que me referia a ele? E outra fale por você, por que eu não passo de uma peça da muito torta nesse quebra-cabeças. Eu posso ir até eles e explicar as coisas e posso não me meter mais na vida dos outros, mas isso não vai mudar que vamos partir e nunca mais vê-los... E eu não vou aguentar me despedir se começar a criar raízes. – Um nó se formou na minha garganta, fiquei machucada com as minhas próprias palavras.
  - Eu tenho tentado não pensar nisso, está bem? Vou aproveitar enquanto posso... Se não quer criar raízes não o faça e boa sorte. – Ela deu de ombros e se virou, sei que essa não seria a ultima vez que teríamos essa conversa e era a primeira vez em muito tempo que brigávamos realmente.

  - Mas até com ela estou brigando agora?  – Já estava eu chorando mais uma vez.
  -  O que está fazendo? – A voz de Cris ecoou pela sala e eu enxuguei rapidamente o rosto, sorrindo.
  - Estava pensando um pouco...
  - E estava chorando de novo... – Ela fez aquela cara de má e eu ri.
  - Cris, se você tivesse apenas mais 3 semanas que pudesse está aqui, o que faria?  - Ela fez uma careta e ficou pensativa.
  - Eu acho que me declararia pro Leigh, acho que diria tudo o que penso pra todos. – Ela falou de um jeito fofo, com um brilho no olhar. Então Cristãs gostava mesmo dele.
  - E o que te impede de fazer isso? – Ela parou e ficou pensativa.
  - Eu conseguiria viver três semanas vendo ele, caso me rejeitasse... Mas não conseguiria ficar um ano e alguns meses que ainda temos pela frente. – Será esse outro casal problema? Prometi não me meter...
  - E como você vai saber o que pode aguentar se simplesmente não tentar? Você nunca vai saber o que poderia dar certo. – Ela me olhou e sorriu.
  - Essa é uma boa questão, não é? – E então entendi. Talvez eu devesse apenas tentar começar a resolver meus problemas sozinha, só assim eu saberia até onde posso ir.

                                      **

  - Você é a pior jogadora de cartas do mundo! – Cristãs falou em meio a gargalhadas e eu ainda fazia bico, encarando aquelas cartas.
  - YA! Você deve está usando algum feitiço pra confundir minha mente. – Cerrei os olhos e ela sorriu de forma angelical, negando.
  - Você é mesmo ruim! Eu te ensinei umas cinco vezes e você ainda joga as cartas boas, não tem nem graça te vencer. – Fiz cara de choro e Leigh apareceu, sério como sempre.
  - Não posso virar as costas e as duas começam a bagunça? – Ambas olhamos pra ele com carinha de pedintes e ele sorriu.
  - Leigh, ela está roubando... Pede pra ela parar. – Falei apontando pra Cristãs que continuava a ri de mim.
  - Ela é muito ruim, consegue ser pior que você. – Cris disse em meio a risadas e ele riu e coçou a nunca.
  - Você ganha por que deixo. – Leigh afirmou e segurou na orelha dela, dando um puxão suave.
  - Essa é a pior desculpa Leigh, admita sua derrota. – Zombei dele e todos rimos. Soltei as cartas, percebendo que havia perdido mais uma vez.
  - Você é pior que eu. – Ele empinou o nariz e depois de nos deixar o remédio pra dor, saiu. Dessa vez Cristãs estava ali por que caiu da escada, um dia ela vai acabar se machucando realmente sério.

  - E como estão as coisas entre você e Lysandre? – Agarota perguntou de supetão, quase me fazendo engasgar com a água.
  - Não existe nada entre a gente, já disse. – Corei, eu bem que queria que tivéssemos... OH no que estou pensando?
  - Ele pareceu chateado com o que você disse, você não devia mentir que o quer longe se quando fala dele você fica assim. – Ela disse isso e empurrou o dedo contra o meu nariz.
  - A-assim como? Não fico de jeito nenhum. – Ela balançou a cabeça negativamente.
  - Fique aí, se enganando então... – A garota deu de ombros e voltou a embaralhar as cartas. Fiquei ali fitando o teto por um tempo e me lembrando do nosso encontro no corredor... Só de lembrar o cheiro dele, me sentia diferente.

CAPITULO 21 •• Cada coisa no seu devido lugar.

- Demi? – Ouvi a voz me chamar e ergui a cabeça, observando Anelize se aproximar da cama, um tanto acanhada.
  - Oi... – Tentei sorrir, mas me sentia insegura.
  - Como está? Alexy me falou que você se machucou e Flor disse que estava aqui. – Ela parecia um pouco envergonhada.
  - É, eu costumo ser um perigo ambulante. Mas já estou melhor, Leigh disse que já posso ir, mas estava fazendo companhia a Cris. – Por falar nela, quando Ane se aproximou a menina pulou pra sua cama e estava lá lendo mais um de seus mangás, com uma expressão concentrada no rosto.
  - Ah sim, que bom... – Ela parecia querer me dizer algo.
  - Aconteceu alguma coisa?
  - Eu queria me desculpar pela forma que falei com você. Eu só estava um pouco chateada e acabei descontando... Não sabia que você tinha se machucado e ele estava te ajudando. – Ela pareceu mais aliviada e eu sorri.
  - Não se preocupe, se fosse eu no seu lugar também sentiria ciúmes. – Dei de ombros e fui me levantando, colocando os pés pra fora da cama, depois de recolher as cartas.
  - Não era bem ciúmes.. Eu...
  - Eu sei que você gosta dele, me fizeram descobrir de qualquer forma... E eu pensava que nós humanos que fossemos inseguros. – Estiquei os braços e voltei a encara-la. – Não sou a melhor pessoa pra dar conselhos amorosos, mas espero que um dia possa dizer a ele como se sente... Vocês ficariam lindos juntos! – Um capetinha  fazia com que eu me coçasse de curiosidade pra saber mais sobre cada um deles, mas quando mais sabia, mais queria me meter e por isso ficaria quietinha e só desejaria sorte a todos.
  - Obrigada. Mas é mais complicado...  – E eu aqui tentando não ser instigada pela curiosidade. - Está voltando para o dormitório? – Ela perguntou, desviando do assunto.
- Não, tenho uma missão importante... Duas na verdade! Preciso falar com Catrinn e depois com Lysandre. – Ela em olhou confusa.
  - Lysandre? Pensei que quisesse manter distância dele.
  - Eu também pensei, mas decidi que precisamos conversar. – Sorri e me ergui. – Cris-chan, eu volto depois pra te dar uma surra nas cartas. – Ela me lançou um sorriso amigável e acenou, então meio mancando fui caminhando.
  - Precisa de apoio? – Ane ofereceu e eu neguei com a cabeça.
  - Não precisa, vou me virando bem. Sabe onde Cat está? – Ela acenou positivamente com a cabeça.
  - Trancada no quarto desde ontem, Armin também andou procurando por ela. – Com ele eu acertaria minhas contas depois.
  - Pode me mostrar onde fica? – Ela concordou.

  Não foi preciso andar o caminho todo até o dormitório já que esbarramos com ela pelo corredor.
  - Podemos falar? – Pedi e Catrinn acenou com a cabeça.
  - Vou deixar vocês, e se continuar andando por aí vou falar com Flor que Leigh te mandou não forçar o pé, e você sentirá a ira dela. – Anelize riu e saiu caminhando, aquela era uma chantagem muito maldosa. Quando a garota se afastou o suficiente me virei pra Cat.
  - Me desculpe, eu não sabia que iria ficar tão chateada. Ele percebeu? Achou que estava tentando te jogar pra cima dele de propósito? Só queria que ficassem algum tempo juntos, sem vídeo games no meio. – Fui o mais sincera que consegui.
  - Não foi sua culpa o que aconteceu, desculpe pelo que falei... Foi preciso uma humana intrometida vim aqui, pra me fazer voltar a ter um bom momento com ele. Por isso... Obrigada. – Ela sorriu e senti menos um peso nos ombros.
  - Não quer me contar o que aconteceu? – Fiz carinha de inocente e ela riu, confirmando com a cabeça.

  Arrumamos um banco do lado de fora da escola, era um domingo sem sol (como sempre) e com um vento fraco. Flor me levou um novo vestido e um casaco no dia anterior e fui capaz de me trocar e devolver o casaco de Alexy, que foi com Armin me zoar e recontar a história de como eu caí.
  Enquanto tomávamos um refrigerante, Cat me contou o que aconteceu.
  - ESPERA, ELE DISSE ISSO TUDO? – Perguntei quase saltando do banco e ela lançou a mão na minha boca, me pedindo silencio pela milésima vez.
  - Disse, e parecia tudo perfeito até ela aparecer. Daí agora estou sem entender o que realmente foi aquilo... E o que fazer... – Agora entendia a agonia dela, foi de fato um acontecimento inesperado.
  - Entendo... Mas heim... O que é tíbia mesmo? – Me desculpem, sou “noob” como diriam.
  - Não vem ao caso...
  - Você percebeu uma coisa?
  - Que coisa?
  - Que eu sou QUASE UMA CUPIDA! – Falei jogando os braços pra cima, e ela ficou me encarando assustada.
  - Eu não acho que se...
  - Shiu, não diga isso! Agora só preciso assassinar a RosVaca e com a sua ajuda, escondemos o corpo e tudo vai se encaixar. Então você vai lá, se pendura no pescoço dele e lasca um beijão aí você se tornará a Princesa Peach do Armin!! – Anunciei enquanto fazia uma dancinha vitoriosa. E sim, estou aderindo todos os apelidos (RosVaca) que Cristãs inventa.
  - Não diga besteiras Demi. – Mesmo que sua boca dissesse aquelas palavras, vi no seu olhar que ela acha a minha ideia perfeita.
  - Não vamos falar disso por hora... Agora vou só ficar quieta e prometo não me meter em mais nada. – Na verdade só depois que falasse com Armin, mas ela não precisa saber disso.
  - O que? Só por que tive uma boa ideia pra juntar Callisto e Nathaniel? – Senti até comichões pelo corpo tamanha a minha animação.
  - CONTE-ME! – Gritei, fazendo-a gargalhar.
  - Sabia, você não vai deixar de se envolver, não é? – Murchei de novo, ela me pegou.
  - É mais forte do que eu.- Fiz bico.
  - Tudo bem, eu também não gosto desses dois separados... Vamos pensar em algo. – Tentei não demonstrar totalmente a minha animação.
  - Certo! – Vou fazer as coisas de forma bem cuidadosa, temos que bolas táticas de guerra.

  Ficamos conversando por mais um tempo e depois nos despedimos, falei que tinha algo importante a falar com Flor e despistei Catrinn. Antes de ir falar com Lysandre... Precisava encontrar Armin. Algo dentro de mim agradecia totalmente por ter uma desculpa pra evitar o encontro com o vampiro.

  - Pensei que não pudesse forçar muito o pé. – Kentin surgiu a minha frente no corredor, era estranho como ele sempre aparecia quando não havia ninguém, como se estivesse sempre esperando que eu ficasse sozinha.
  - Poder não posso, mas não aguento ficar o dia todo com o pé pra cima. – Ele riu e deu de ombros.
  - Percebi que você não consegue ficar quietinha. – E então se aproximou de mim, tocando meu cabelo.
  - O que posso fazer se tenho muitas missões? Tenho que lutar pelo bem da nação. – Comentei de forma animada, tentando ignorar a forma como ele me olhava quanto ia me afastando um pouco, Kentin é lindo e tudo mais, mas desde o dia do corredor com Lysandre não quero esse tipo de aproximação de mais ninguém.
  - E quem vai lutar pelo seu bem? – Ele deu mais um passo a frente e segurou a minha mão, enquanto me olhava sugestivamente.

- Pode deixar que eu faço isso. – Lysandre apareceu de repente como ele adora fazer. Meu coração começou a dançar Gangnam Style e eu tentei não abrir um sorriso largo pra não magoar Kentin, que é meu amigo.
  - Eu disse pelo bem Lysandre, isso não se encaixa em você. – Ken apertou mais a mão contra o meu pulso e a sua expressão sombria voltou, aquilo me dava medo.
  - Estamos falando de mim ou de você? – O vampiro rebateu de forma debochada.
  - Então...
  - Vamos Demi. – Kentin insistiu e tentou me puxar, mas Lysandre tirou a mão dele da minha, colocando-se entre nós.
  - Vou dizer só uma vez, não encoste nela novamente. – Ele empurrou o dedo contra Kentin uma só vez e o garoto bambeou pra trás. Depois disso Lysandre se virou pra mim. – E nós... Vamos conversar. – O garoto me pegou no colo (mas como gostam de me carregar)  fazendo-me sentir uma criança. Muito feliz, mas ainda sim uma criança.
  - Eu posso ir andando. – Menti, na verdade tinha medo de ficar ali, naqueles braços, sentindo aquele cheiro tão de perto e não consegui raciocinar muito bem.
  - Mesmo se pudesse, eu ainda iria te carregar. – Sua voz foi suave e rouca, bem ao pé do meu ouvido, me fazendo arrepiar e esquecer totalmente o mundo a nossa volta... Quem precisa de razão?

CAPÍTULO 22 •• Quebra-cabeças. 2ª e 3ª peças.

P O V Flor

  A conversa com Demi me deixou realmente chateada, as coisas não estavam boas pra ela e eu não queria piorar tudo, mas de alguma forma saber que teríamos que partir em poucas semanas, me deixava angustiada. Respirei fundo e tentei não pensar nisso. Como disse a ela: iria aproveitar e começaria com a minha vingança. Como minha cumplice fez o favor de se machucar, agora arrumaria outra.
  - Callistoooo... Preciso da sua ajuda. – Pedi, assim que me sentei no outro lado de uma das mesas da biblioteca, me debruçando sobre a mesma.
  - Nem pensar. – Ela nem me deixou explicar, credo.
  - Por favooor! Preciso terminar meu plano contra o Castiel, mas eu e Demi não estamos muito bem e ela machucou o pé. – Callisto respirou fundo e me encarou, séria como sempre.
  - Sua amiga gosta mesmo da enfermaria... – Ela deu de ombros e voltou a encarar as páginas do livro.
  - Por favor! Pelo bem de todos! Dar uma lição em Castiel é um bem comum. – Fiz meu melhor olhar pidão.
  - Não. – Insistiu a garota.
  - Eu prometo não te perturbar mais durante a leitura. – Ela estreitou os olhos e me encarou. – E também prometo... Não falar alto na biblioteca e parar de pedir que você crie cubos de gelo pro meu suco... E também não peço mais pra você me refrescar depois da Educação Física.  – Sorri de forma angelical.
  -... E o que tenho que fazer? – Saltei da cadeira, quase não acreditando que consegui.
  - Preciso que você vigie a porta, e congele quem nos ver na cena do crime. – Ela revirou os olhos e fechou o livro bruscamente, ficando de pé.
  - Tudo pra me livrar de você. – Quase me senti ofendida... Callisto pegou no meu braço e saiu me arrastando.
  - O que? Agora? – Perguntei, ainda nem tinha avaliado o terreno.
  - Quanto mais rápido fizermos, mais rápido terei minha paz de volta. – Ela anunciava enquanto me arrastava em direção ao lado leste, onde ficavam os dormitórios masculinos.
  - Mas não sei nem onde Castiel está... – Callisto não parecia me ouvir, ótimo.
  - Eu sei. Você tem 10 minutos. – A garota anunciou quando paramos à frente da porta de um quarto.
  - 10 minutos? O que...
  - Seu tempo está passando. – Parei de tentar entender e entrei no quarto, é agora que você me paga Castiel.
P O V Flor OFF

**

  - Precisava me trazer ao telhado, pra falar? – Perguntei. O telhado era realmente gigante, e não sabia que tinha como ter acesso a ele, pelo visto Lysandre gostava mesmo de está por ali. Quando chegamos, ele me soltou e eu sentei em um banco de madeira, que ficava encostado na parede. Agora o garoto estava apoiado no muro que cercava a parte superior, sua presença parecia ser apenas física.
  - Lysandre? – Chamei outra vez, talvez ele tivesse me trazido aqui para acabar de vez com a minha vida inútil.
- Desde que chegou você pareceu diferente pra mim. – Ouvi a sua voz e as palavras me encheram de uma esperança diferente, nunca me senti daquela forma.  Não consegui disfarçar o sorriso.
  - E... E por quê? – Tentei não fantasiar respostas.
  - Por alguns momentos eu pensei que você havia chegado pra me fazer esquecer um passado. – Ele parou e eu comecei a não entender do que ele estava falando.
  - Eu não...
  - Bem, no final descobrir que você é humana me deixou bem irritado. Humanos são fracos e desprezíveis, e se acham capazes de destruir a tudo e a todos. Isso me irrita entende? Mas eles também têm algo que muito interessa a minha raça. – Dito isso Lysandre se aproximou e toda aquela esperança foi se apagando,
  - Você me trouxe aqui pra ofender a minha raça? – Perguntei após respirar fundo e engolir a frustração.
  - Não... Só queria esclarecer umas coisas. – Ele parou a minha frente e se abaixou.
- O seu sangue é realmente uma tentação pra mim Demetria, isso está claro pra você? – Ele não vai conseguir, não vai me fazer chorar.
  - Não precisava me trazer aqui, você deixou isso bem claro no corredor. – Resmunguei e me levantei, agora entendo por que ele me trouxe tão alto, assim com o pé ruim eu não conseguiria correr.
  - Eu quero me desculpar pela forma como te tratei... – Ele se levantou também. - Ainda não terminei. – Lysandre segurou meu braço e fitei o chão, ainda de costas pra ele.
  - Me solta, eu estou cansada disso... Por que disse aquilo pro Ken? – Meus olhos estavam marejados, por isso mantinha a cabeça baixa, não queria que ele visse.
  - Não quero que se iluda.  Eu disse a verdade, vou proteger você! Mas é por que não quero seu sangue jorrando no meio de todos e me fazendo perder o controle, por isso tente não ser tão desastrosa. – Como eu fui boba! Por que acreditei que ele iria se apaixonar por mim? Solucei, estava difícil segurar.
- Me largue de uma vez... Eu não quero sua proteção. – Ele percebeu o choro e apertou mais a mão contra o meu braço.
  - Você não pensou que... Não seja tola. Pensei que tivesse deixado às coisas claras, me desculpe se te confundi. – A voz dele era tão cavalheiresca que me fazia chorar ainda mais. Ele estava tentando quebrar o meu coração de forma gentil e isso me matava.
  - Por favor... Deixe-me ir. – Implorei.
  - Antes... Eu quero provar... Só um pouco. – A voz dele saiu falhada e meus olhos se arregalaram, ele não podia está falando sério.
  - Você enlouqueceu? – Só que era tarde demais, Lysandre me puxou e me ergueu colocando uma de suas mãos na cintura e prendendo meu corpo no seu. Senti seus dedos gelados em contato com o pouco da minha pele que aparecia e me arrepiei. Minha respiração ficou descompassada e a sua proximidade me deixava nervosa... “É o medo” tentava me enganar, ao mesmo tempo em que tentava empurra-lo. Ele fixou seus olhos nos meus e percebi que os dele foram mudando de cor, agora uma íris estava vermelha e a outra branca, ambas com o contorno forte e preto, deixando aquele olhar ainda mais hipnotizante. Por alguns momentos eu não consegui mais me debater. Lysandre inclinou a minha cabeça e retirou os cabelos da altura do meu pescoço, passando os dedos pela minha nuca e descendo. Seu toque era suave e gelado, mas por onde seu dedo passava ficava um rastro quente provocando uma sensação tão boa. Ele enfiou os dedos pela gola e puxou a minha blusa, fazendo os primeiros dois botões se arrebentarem e relevando assim meu ombro. Eu continuava sem me mexer, como se estivesse presa dentro do meu próprio corpo, queria gritar e chorar, queria pedir que ele parasse (mesmo que meu corpo desejasse o contrário) mas nada resolvia. Senti seus lábios macios e frios contra o meu ombro distribuindo beijos pela minha pele, Lysandre subiu a boca ao meu pescoço e cravou seus dentes afiados, causando uma dor realmente incomoda a principio, mas depois eu só senti uma pequena tontura e um ardor, minha visão ficou desfocada e não conseguia me concentrar em nada realmente.
  - Solta ela Lysandre! Ficou maluco? – Ouvi a voz de um garoto e a dor cessou. Caí no chão e ainda não conseguia me mover, meu rosto estava contra o cimento frio e era como se eu estivesse em um sono profundo, sem conseguir despertar.

**

P.O.V Flor
  - Aqui está. – Soltei uma risada maléfica quando encontrei o shampoo nas coisas do verme. Tirei metade do conteúdo dele e coloquei no lugar o tonalizante que havia comprado com a ajuda de Ane. Terminei de fazer o que devia e coloquei tudo no lugar, voltando ao quarto e pela primeira vez reparando nas coisas. Um lado do quarto era totalmente organizando e o outro era uma zona... Acho que a zona é do Castiel e a arrumação de Lysandre.
  - Já que estou aqui. – Aproveitei que ainda tinha um tempo e comecei a vasculhar as coisas, a principio não achei nada interessante, mas quando abri a ultima gaveta da mesinha que ficava entre as duas camas, achei algumas fotos. Nelas havia um grupo de pessoas, alguns eu reconheci: Nathaniel, Callisto (sorrindo, acreditem se quiser) , também haviam mais garotas que não conhecia, Lysandre e Castiel. Comecei a passar fotos e percebi que em todas elas, as meninas que não conhecia estavam penduradas nos dois. Ouvi um barulho vindo de fora e peguei as fotos enfiando no casaco, devolveria depois de analisar todas melhor.
  - O que está fazendo? Ande logo. – Ouvi a voz de Callisto e saltei, me arrumando e saindo do quarto, com a cara de quem não aprontou nada.
  - Fez o que tinha que fazer? – Ela perguntou desconfiada.
  - Siim! Obrigada, agora aquele verme vai ver só!! Preciso ir... Tchau. – Tratei de correr pelo corredor, precisava encontrar Demi e mostrar as fotos a ela.
P.O.V Flor Off

**

  - Está tudo bem? Olha pra mim Demi, sou eu Nathaniel. – O garoto loiro deu leves tapinhas no meu rosto e aos poucos fui recobrando a consciência. Ergui os olhos e vi Castiel barrando a passagem de Lysandre, que ainda mostrava as suas presas e ainda tinha os olhos com aquela cor. Então aconteceu de novo, o choro foi muito mais forte e as lágrimas começaram a cair.
  - Chega Lysandre, vamos embora. Faz alguma coisa seu verme idiota, tira ela daqui. – Ouvi a voz de Castiel. Nathaniel me pegou no coloco e fez o que o ruivo havia pedido, com uma velocidade extrema o garoto loiro saltou comigo até a porta e desceu as escadas em pulos, enquanto minha cabeça continuava a girar, mas não era a mordida que me doía mais, e sim ter a certeza que Lysandre só desejava isso de mim.


CAPÍTULO 23 •• Começando a entender.

Depois do acontecido, passei o resto da tarde na sala dos representantes. Nath me deu chocolate, alegando que ajudaria a me recuperar. Depois que terminou o que tinha que fazer o garoto ficou sentado ao meu lado, me ouvindo chorar, sempre tão paciente. Finalmente consegui voltar a mim.
  - Como você me achou? – Perguntei, já não havia mais o que chorar... Eu acho.
  - Eu estava indo saber se você estava melhor quando encontrei Kentin no corredor. Ele pareceu preocupado e me disse que Lysandre tinha ido com você. Castiel estava procurando Lysandre por que ele não havia se alimentado pela manhã, e então juntamos as peças... – Engoli a seco.
  - E de que um vampiro normalmente se alimenta?
  - De um sangue sintético, muito parecido com o sangue humano. Ou sangue animal, mas não é a mesma coisa... O sangue humano é realmente tentador. – O encarei.
  - Você já sabia? – Perguntei baixo.
  - Não, mas hoje sentindo o cheiro do seu sangue eu percebi. – Ele pareceu um pouco desconcertado.
  - Me desculpe... Foi tudo um acidente, trocamos os passes sem querer... O que vai aconteceu comigo? Ele me mordeu e... – Minha voz era baixa, me sentia sonolenta.
  - Você não vai se transformar, não é assim que funciona. Ele teria que dar o sangue dele pra você quando te mordesse... É algo mais ou menos assim... E como Lysandre é um vampiro muito jovem é possível que não consiga transformar um humano com tanta facilidade. No máximo o sangue dele te ajudaria a ficar mais forte.  – Nath fez uma pequena pausa. - Isso é tão louco e perigoso... Você não sabe nem metade do que pode acontecer se alguém realmente ruim descobrir. – Ele parecia preocupado, e era fofo da parte dele.
  - Não vai nos entregar?
  - Não faria isso... Mesmo no inicio, você e sua amiga são cheias de vida e engraçadas. Callisto...  – Ele corou. – Quero dizer, as meninas... Pra terem topado ajudar vocês, com certeza, é que viram algo bom. Só que agora vou ser obrigado ficar de olho em vocês. – Nathaniel apertou a minha bochecha e sorriu.
  - Você gosta dela Nath... - Falei baixo, sorrindo.
  - Er... De quem?
  - Não se faça se bobo, eu sei alguma coisa.
  - E do que você sabe?
  - Sei que já tiveram algo e quando olha pra ela, sei que gosta dela.
  - É complicado entende? – Ele parecia sem jeito com o assunto.
  - Por que todo mundo diz isso? Não... Eu sou incapaz de entender esse tipo de coisa, me desculpe. Acho que seria tola o suficiente pra enfrentar o mundo, se fosse preciso, pra ficar com quem me retribuísse. Mas sou apenas uma humana e dizem que os humanos tendem a fazer coisas tolas... Mas no final, fazendo coisas tolas, acabamos dominando o mundo, não é? – A expressão dele pareceu mudar, então ele me encarou.
  - O que quer dizer?
  - Que olhando assim, vocês parecem mais fracos e burros que eu. – Ele franziu a testa, mas depois de pensar um pouco entendeu o que quis dizer.
  - Você não pode entender como um mundo diferente funciona, estando há 3 dias nele. – Sua voz parecia serena, mesmo quando discordava de mim.
  - Mas o amor é igual em qualquer lugar do mundo. – Rebati e ele colocou a mão no rosto, esfregando-o e massageando as têmporas.
  - Tem certeza? Em qualquer lugar do mundo é comum se apaixonar por um vampiro e ele simplesmente quase te matar? Não Demetria, as coisas aqui funcionam de uma forma diferente. O dinheiro move o mundo humano e as classes movem o mundo dos monstros. O preconceito é mortal e motivo de guerras das quais você não pode imaginar... Quando se tem muito poder acaba despertando responsabilidades das que você não iria querer... Amar também significa se sacrificar por quem você ama... – Voltei meus olhos aos dele.
  - Qual foi o seu sacrifício? – Perguntei.
  - Essa é uma longa história... Por hora concentre-se em cuidar de si mesma. Os monstros são perigosos uns para os outros, imagine para os humanos? Não espere o que aconteceu hoje se repetir pra entender. - Nathaniel me fez sentir vontade de chorar novamente, mas não o faria ali e agora.
  - Eu vou pro meu quarto. – Levantei e suspirei.
  - Eu te acompanho. – Pensei em recusar, mas ao me lembrar da expressão de Lysandre aceitei o pedido, e Nath me serviu de apoio até a frente do meu dormitório.
  - Obrigada Nath, por tuuudo hoje. Você está sempre me salvando. Só não falo que é meu melhor amigo, por que se não Alexy me esfola. – Completei de forma brincalhona e ele riu também.
  - Certo, me conformo em ser o segundo melhor amigo. Até amanhã e tente ficar viva até lá. – Ri e acenei com a cabeça, aquela conversa ainda girava na minha cabeça.

  Entrei no quarto, parecia que não vinha ali há milênios. Peguei meu pijama e minha toalha e tomei um banho bem demorado. Quando sai do banheiro Flor estava sentada na cama, vendo alguma coisa que não consegui identificar, ela parecia um tanto chateada.
  - Tudo bem? – Perguntei caminhando até a minha cama e sentando na mesma, percebendo que ela via fotos.
  - Sim... Só que... Você ainda tem as inscrições das garotas que pegamos o lugar? – Ela perguntou e eu afirmei com a cabeça. Me inclinei e abri a mesinha de cabeceira, tirando debaixo de toda papelada os envelopes e entregando a ela. Flor abriu os envelopes e analisou um pouco, suspirando em seguida.
  - O que foi? – Ela estava me assustando com aquela expressão.
  - As meninas que nós tomamos o lugar... São essas. – Flor me estendeu algumas fotos e comecei a olha-las, e lá estava o grupo sobre qual Catrinn havia me falado. Nathaniel, Callisto, Anelize, Castiel, Lysandre um garoto esquisito e as gêmeas que nós vimos na foto da inscrição, pareciam mais jovens, mas estava claro quem era quem.  Passei a foto e nesse estava apenas Lysandre e Castiel, com as meninas ao seu lado, mais uma foto e era Castiel com os cabelos negros e a garota de cabelos rosa abraçada no seu pescoço e a ultima, Lysandre com um sorriso que nunca vi nada parecido, enquanto a que parecia ser a outra gêmea lhe beijava o rosto...
  - Ele nunca sorriu assim pra mim. – Pensei alto, me doía saber que ela o fazia feliz.
  - O que é essa expressão? – Ela perguntou, Flor sabia me ler melhor do que qualquer pessoa.
  - Eu... Acho que gosto dele. – Confidenciei e depois coloquei as mãos no rosto. Ouvi Flor se levantar e sentar ao meu lado, colocando o braço em torno do meu ombro.
  - Só agora você foi perceber Demi? – Flor deslizou a mão pelas minhas costas enquanto eu, pela milésima vez em 3 dias, chorava. Estou ficando cansada disso. – Eu soube disso desde o dia na estrada, o jeito que você olha pra ele te denuncia. – Estava tão na cara assim?
- Mas o problema... O problema é isso. – Puxei a manga do meu pijama e mostrei a Flor os dois furos vermelhos e profundos na minha pele. A expressão dela mudou de imediato e a cor saiu do seu rosto.
  - Mas... Aquele desgraçado... Como? Quando? Demi... Preciso de um pedaço de madeira. – Ela gritou, levantou e saiu revirando as coisas.
  - Madeira? Pra que madeira? - Fiquei confusa agora.
  - Por que vou fazer uma estaca e enfiar no... Coração dele. – Ela parecia bem irritada, mas tive que ri da piada.
  - Sente-se aqui, deixe-me explicar o que aconteceu. – A garota sentou de novo e comecei a contar tudo, desde o dia que chegamos ali, minhas conversas com Catrinn, com Anelize, com Cristãs, com Ken... Tudo.

  - Mas onde eu estive quando você passou por tudo isso? Como você sabe todas essas fofocas? Tem certeza que Nathaniel te disse isso? – Ela perguntou apreensiva.
  - Você estava meio ocupada com Castiel sabe... Já que te contei, agora admita! Você está caidinha por ele. – Flor ficou corada e sacudiu a cabeça negativamente.
  - Não diga besteiras, ele é um insuportável, egoísta, metido e odeio pessoas como ele. Só quero coloca-lo em seu devido lugar. – Sua voz saiu meio falhada, como se nem mesmo tivesse certeza do que sentia, mas tudo bem... Eu sabia.
  - Certo, se é o que você diz... Nathaniel me falou que não vou mudar em nada, com a mordida. Mas a marca fica... O mais estranho é que quando ele me mordeu, uma imagem veio a minha mente e parecia como se já tivesse sentindo aquela sensação da mordida antes... O que me lembra da marca no antebraço. Não é estranho? – Flor bagunçou meu cabelo.
  - As marcas são de quando você teve catapora, não são?  E por um instante pensei que você fosse virar uma vampira... Acho que você andou tendo sonhos eróticos com o Lys te mordendo e por isso acha que já sentiu. - Ela gargalhou e eu lhe acertei a almofada, ficando corada.
- Não diga besteiras. Eu estou com medo dele. – Afirmei.
  - Não se preocupe, eu estou aqui, certo? Vou fazer uma estaca... Por precaução. – Acenei positivamente com a cabeça e voltei a encarar as fotos. Se eles se gostavam... Parecia tão cruel que por nossa causa elas não pudessem está ali na escola, talvez tivesse sido melhor se não viéssemos parar ali... Todos seriam mais felizes... Meu Lysandre voltaria a sorrir daquele jeito?

CAPITULO 24 •• Um dia comum... Digo...

Na manhã seguinte Flor me ajudou na maior parte do tempo, encontramos Alexy no meio do caminho acompanhado de Anelize. O garoto me jogou nos ombros e saiu correndo comigo pelos corredores, enquanto Flor e Ane corriam atrás dele gritando pra ele me largar. Depois de dias tão tristes, aquelas gargalhadas estavam mesmo me ajudando a respirar melhor e tentava não me lembrar do acontecido, agiria como antes... Ignorando Lysandre.
  - CHEGAMOS! – Ele gritou pulando comigo nas costas.
  - Aleeexy, vou vomitar todo meu café da manhã assim. – Gritei enquanto ele ainda me sacudia. O apertava com tanta firmeza que não conseguia colocar os cabelos no lugar.
  - Seu desmiolado, quer terminar de quebrar a menina? – Flor gritou, meio sem fôlego, assim que nos alcançou.
  - A menina está de saia ainda, Alexy. Quase que mostra os fundos dela pra escola inteira. – Ao me lembrar desse pequeno detalhe corei e bati nas costas dele... Por sorte eu sempre uso shorts, mas ainda sim era constrangedor.
  - Me põe no chão. – Ele obedeceu e riu a me ver vermelha.
  - Não se preocupe, não deixei ninguém ver... Essas coisas só no privativo. – Ele riu e eu comecei a soca-lo, até que ele correu pra dentro da sala escapando de mim.
  - Não ligue, ele costuma fazer esse tipo de comentários todo o tempo. – Ane falou e sorriu, acariciando meu cabelo e arrumando algumas mechas que estavam fora do lugar.
  - Mas como ele corre... – Flor bufou e então ri.

  - VOCÊ! SUA PEQUENA CRIATURA DESPREZIVEL E NOJENTA, FOI VOCÊ! – Ouvi o grito de Castiel ecoar pelos corredores e todos se voltaram pra vê-lo. O garoto usava uma touca e sua testa e pescoço estavam rosa, sua expressão não era NADA amigável o que me faz pensar que o plano de Flor deu certo, principalmente pela risada dela.
  - Ah você sabia que não se pode usar touca na sala de aula Castiel? – Ela falou, sem temer a morte, pra variar.
  - Não brinque comigo garota, você não sabe do que sou capaz. – Ele falou assim que se aproximou dela, com a cabeça curvada e fitando-a de perto. Flor não se moveu nem um centímetro e pareceu não teme-lo.
  - Pois não faço ideia do que está falando. – E então ele rugiu, pegando a garota e jogando nas costas.
  - Pois você vai descobrir! – Pronto, ele vai mata-la.
  - Castiel larga ela! O que você está fazendo? – Gritei e segurei a camisa dele, que bateu na minha mão e saiu levando a minha amiga.
  - CASTIEL ME PÕE NO CHÃO. – Ouvi o grito e fiquei realmente angustiada.
  - Não se preocupe, ele não vai mata-la. – Senti uma mão segurar meu ombro e um frio subiu pela minha espinha ao escutar aquela voz. Odiava o simples fato que a sua mera presença fizesse meu corpo inteiro reagir. Tremia, suava frio, meu coração pulava e meus joelhos amoleciam, mas tão grande quando se tornou seu efeito por mim, se tornou o fato de que não queria falar com ele!
  - Espero que não, mas nunca se sabe. – O respondi e tirei a mão dele do meu ombro, me afastando um pouco.
  - Vamos conversar. – Ele falou sério, sentia seu olhar em mim, mas não era capaz de encara-lo.
  - Não, não vamos. – Me afastei dele. – Kentin! – Chamei e o garoto sorriu, vindo à minha direção.
  - Hei Demi, como se sente? – Sorri, ainda bem que ele apareceu ali.
  - Bem, pode me dar apoio até a cadeira? – Eu não precisava disso, só queria me afastar de Lysandre.
  - Claro, vem aqui. – Ken se posicionou ao meu lado e envolveu a mão na minha cintura, me puxando pra perto dele e me dando apoio até a minha mesa.
Quando sentei notei Lysandre entrar e a sua expressão me quebrou ao meio, por que nunca sabia que o que ele estava pensando? Por que não conseguia odiá-lo? Por que foi tão difícil afasta-lo de mim? Nos momentos seguintes permaneci sempre de cabeça baixa ou iria começar a chorar ali na aula e não queria esse tipo de coisa.

  - Onde está Flor? – Catrinn perguntou e se sentou perto de mim, logo atrás vinha Callisto.
  - Castiel a levou, ele parecia irritado com a brincadeira. – Dei de ombros.
  - Esses dois se gostam, está na cara. – Catrinn anunciou e eu concordei com a cabeça, tentando sorrir.
  - Você está pálida. – Callisto falou e depois de vasculhar sua bolsa me deu uma barra de chocolate.
  - O-obrigada. – Ela me lembrou Nathaniel naquele momento.
  - Aconteceu alguma coisa? – Catrinn perguntou e eu suspirei, balançando a cabeça negativamente.
  - Não, está tudo bem.  – Sorri e a professora Ruby entrou, colocando ordem na turma.

  A aula acabou e Alexy voou até a mesa de Ane, fiquei os observando e era fofo como ele sempre brincava com as mechas de cabelo dela, e como sempre fazia com que a garota ficasse corada.
  Procurei Armin com os olhos e ao lado dele estava à garota que devia ser a tal Rosalya, ela era realmente muito bonita, mas ainda prefiro a Catrinn! Armin percebeu o meu olhar e eu o encarei bem séria, tentando parecer ameaçadora e ele sorriu sem jeito, tentando afastar a menina, que não se despendurava de jeito nenhum do pescoço dele.
  - Mas que garota... – Resmunguei baixo e Catrinn parou ao meu lado.
  - A outra já está indo ao ataque. – Demorei um pouco pra entende sobre quem ela estava falando, mas logo que vi uma garota sem um pingo de sal conversando com Nathaniel, enquanto estava sempre dando um jeito de passar a mão no ombro dele e soltava risadas de tudo que ele falava.
  - Aposto que essa é a Melody. – Afalei e Catrinn concordou com a cabeça. Notei Callisto recolhendo seu material e saindo, quando Nathaniel a seguiu com os olhos Melody colocou a mão no rosto dele e fez com que a olhasse. Fechei as mãos em punhos e soquei a mesa.
  - Mas que vagab... – Parei no meio da frase, quando percebi que todos me encaravam. Sorri sem jeito e me sentei.
  - Você é tão discreta quando um elefante. – Cat bagunçou meu cabelo e rimos. Agora só faltava Rosalya se desgrudar de Armin, pra eu consegui falar com ele.


CAPITULO 25 •• Bad boy.


P.O.V CASTIEL

”Amor, eu não posso, eu não posso porque sou muito mau. Eu queria tratá-la melhor, mas é difícil. Todo dia e toda noite, eu sou muito mau, Porque é assim que eu sou e eu sinto muito (mas não posso mudar).”


  - Mas que inferno! – Berrava do banheiro enquanto tentava tirar aquela coisa da minha cabeça, meu cabelo estava ROSA! RO-SA! – Eu vou acabar com a raça daquela demônia! – Minha cabeça estava doendo de tanto que esfregava.
  - Não ficou tão ruim assim Castiel, por que não adota a cor? – Ouvi aquele miserável falar alto no quarto, rindo da minha desgraça.
  - Você não devia está tão contente depois de quase matar a sua amada. – Rebati, colocando uma toalha na cabeça e saindo pro quarto, dando de cara com aquela expressão mórbida que Lysandre fazia quando pensava na fedelha humana. – Já está você com essa cara de novo! Se você gosta dela, vai lá, joga ela na parede e tente dessa vez não sugar seu sangue. – Dei de ombro e me joguei na cama, estava cansado de falar pra ele agir de uma vez e parar com essas frescuras.
  - Não posso fazer isso, já que sangue é a única coisa que quero dela. – Mentiroso, mas não iria discutir de novo. - De qualquer forma você está falando assim, mas continua a ficar em pé de guerra com Flor, em outras épocas você resolvia as coisas de modo diferente... Não me diga que está apaixonado por uma humana? – Odiava quando ele usava aquele tom de senhor sabe tudo, mas era incapaz de olhar para o próprio rabo.
  - Se estivesse, não teria vergonha disso. – Percebi a expressão dele mudar e sorri vitorioso, me levantando e indo me vestir. – Mas pra isso eu preciso me apaixonar primeiro... E você sabe, não sou esse tipo de cara. – Voltei pro banheiro com as minhas roupas, já sabia o que faria com aquela garota enviada do inferno.

  Depois de colocar o uniforme, coloquei uma touca pra disfarçar a merda que meu cabelo estava e saí ouvindo comentários sobre meu pescoço rosa... A minha calma foi se esvaindo, quando eu colocasse as mãos em Flor, ela iria se arrepender. Não foi difícil de acha-la, do começo do corredor já podia sentir o seu cheiro, o mesmo cheiro que estava no quarto quando entrei.
  - VOCÊ! SUA PEQUENA CRIATURA DESPREZÍVEL E NOJENTA, FOI VOCÊ! – Gritei e caminhei pelo corredor até ela, aquela expressão, aquele ar superior... Como ela ousava? Maldita! Ninguém mexe com meu cabelo!
  - Ah você sabia que não se pode usar touca na sala de aula Castiel? – Revirei os olhos.
  - Não brinque comigo garota, você não sabe do que sou capaz. – Dei alguns passos a frente, eliminando a maior parte da distância que havia entre nós.
  - Pois não faço ideia do que está falando. – Claro! Como era esperado dessa criatura inferior e abusada. Rugi e me segurei pra não meter uns tapas nela, faria isso do meu jeito. Peguei o braço dela e me curvei um pouco, levantando seu corpo com a maior facilidade e jogando nas minhas costas,
  - Pois você vai descobrir! – Quando estava caminhando, senti Demetria segurar a minha camisa e tirei a sua mão, dessa vez a fedelha não iria interferir. Sai batendo o pé, ignorando os comentários e os gritos dela. Por mais que a achasse linda tentando me enfrentar, eu não deixaria barato dessa vez, Flor estava passando dos limites.
No meio do caminho, Flor arrancou a minha toca e continuou a se debater, mas a sua força era comparada a de uma formiga, perto da minha. Entrei no meu quarto e fechei a porta atrás de nós.

  - Por que está me trazendo pro seu quarto? Me larga seu tarado... SOCORRO, ALGUÉM ME AJUDE. – Joguei Flor na cama e olhei pra ela, abrindo um sorriso malicioso.
- Você acha mesmo que quero abusar de você? Não perderia meu tempo. – Foi então que ela me olhou e começou a gargalhar.
  - Essa cor... Combina bem com você Castiel! Resolveu fazer cosplay de My Little Pony? – Ela me tira do sério, eu tendo ser legal... Mas ela não permite. Segurei Flor pelo braço e a empurrei pra dentro do banheiro, trancando a porta e tirando a camisa.
  - O-o que você está fazendo imbecil? – Segurei nos dois braços dela e a puxei pra mais perto, sendo capaz de ouvir seu coração batendo forte, tamanha a nossa proximidade. Suas bochechas estavam vermelhas, pra minha surpresa.
  - Você só vai sair daqui, depois que tirar essa tinta do meu cabelo. – Minha boca estava tão perto da dela, eu me senti tão tentado a ceder aos seus encantos, beija-la e esquecer todo o resto. Mas esse não sou eu, e ela definitivamente não vai ter poder algum sobre mim. Afastei Flor, mas continuei a segurando pelo braço, pegando a mangueira do chuveiro e abrindo, me abaixando e puxando ela pra abaixar ao meu lado.
  - Pode começar! – Resmunguei.
  - Mas não vou tocar nesse mafuá. – Ergui a cabeça e a olhei sério.
  - Pois eu tenho a eternidade pra esperar até que você corrija seu estrago. – Continuei com a cabeça abaixada, esperando a boa vontade dela. Demorou, mas Flor resolveu e começou a esfregar os dedos pelos meus cabelos e seu toque era bom, mesmo que estivesse acompanhado pela água gelada, só que ela ainda estava hesitando. Irritado com a enrolação dela, peguei a sua mão e conduzi, a fazendo esfregar meus cabelos com mais vontade.
  - Faça algo direito na vida. – Pedi e ela me acertou diversos tapas na cabeça.
  - Você quer morrer idiota?! – Ergui a cabeça e espirrei água nela.
  - Quieta! – Falei como falaria com Dragon. – A única pessoa que vai morrer aqui é você, se não tirar essa tinta da minha cabeça. – Gritei e ela pareceu ainda mais irritada.
  - Você é mesmo um imbecil! Idiota, fedorento, cabeça de fósforo, seu podre, metido, egocêntrico, nojento, monstro fracote e gordo! – Ela gritava enquanto se debatia e tentava me socar e chutar. Por fim. Flor pegou a mangueira da minha mão e espirrou a água bem na minha cara, me molhando ainda mais do que antes.
  - SUA MALUCA! Para com isso. – Segurei a mão dela e a puxei, tirando a fonte de água de sua mão e virando pra ela, que tentava bloquear a água com as mãos.
  - Paraa tomate podre, você está me molhando inteira doente... Eu vou MATAR você Castipraga! MATAR! – Eu continuei a jogar água nela e ri. Ela estava vermelha e quando mais irritada ela ficava, mas queria irrita-la, como se fosse um ciclo vicioso.

  “ “Você é diferente dos outros caras" e ouvir isso é muito difícil... Se você continua sendo delicada como uma garotinha, se você sorrir para mim como sorri. Perto de você eu me sinto imaturo.”

  - Claro se estou tacando água, queimada que não vai ficar! Se você se comportasse não seria castigada. – Flor avançou pra cima de mim e tentava pegar a mangueirinha da minha mão, enquanto também tentava me estapear. O resultado foi os dois se desiquilibrando e caindo no chão do box. A mangueira se soltou da parte superior e a água passou cair do chuveiro, em cima das nossas cabeças.
  O corpo de Flor estava por baixo do meu e ela tentava me empurrar e continuava a se debater, enquanto eu ria... Era tão fácil segura-la.
  - Sai de cima de mim, sua baleia! Idiota, fedido, cabeça de vento... Filhote de barbie.– Ela continuava com mais e mais ofensas.
  - Cala a boca... Fica quieta!... Ai meu santo Hades, para de se mexer garota!! – Tentava fazer escuta-la, mas ela parecia possuída.
  - Não vou calar coisa nenhuma... SOCORRO! TÃO TENTANDO ABUSAR DE MIM, SOCORRO. – Levei a mão até a boca dela, mas ela mordeu meu dedo. Não queria usar a força, mas ela não me deixou outra escolha. Segurei nos pulsos da humana e sem precisar fazer muito esforço prendi seus braços no chão, acima de sua cabeça. Antes que ela soltasse mais de seus berros, abaixei a cabeça e juntei meus lábios aos dela, que ainda relutou... Mas sua relutância não durou muito, assim como a minha razão se esvaiu e eu comecei a mover meus lábios nos dela de forma ansiosa, só melhorando quando a sua língua veio de encontro a minha.
  Foi como uma descarga elétrica percorrendo por todo meu corpo, subindo até meu cérebro e queimando meus neurônios, por que só conseguia pensar em como seus lábios me causavam a melhor sensação que já havia provado. Era como se o tempo não passasse enquanto a água escorria pela nossa pele, como se fosse muito certo está ali a beijando de forma tão intensa, parecia certo me sentir ansioso e parecia certo meu coração está disparado... O que não acontecia com relação às outras garotas. Soltei as mãos de Flor e ela as levou aos meus cabelos, segurando neles enquanto a minha mão pousou sobre a sua coxa, ela tem a pela tão macia que mal podia acreditar que fosse dela.
  Eu poderia ficar assim eternamente, mas quando se trata dela, nunca posso baixar a guarda ou coisas desastrosas acontecem... Como agora. Flor colocou a sua perna entre as minhas e acertou seu joelho nos meus países baixos. Vi estrelas! Depois de urrar soltei a garota e rolei para o lado enquanto rugia de dor.

  - Isso é pra você aprender a não me tratar como as suas concubinas. – A ouvi dizer, antes de destrancar a porta e saí batendo a mesma, se eu não estivesse tão debilitado iria atrás dela, no final acabei deitado no chão do banheiro, com a água fria caindo sobre o meu rosto.

“Eu sou o cara que você ama? Desculpe, eu sou um bad boy. Está tudo bem, então vá, adeus.”

  **
  Depois daquele evento mais cedo, o beijo que dei em Flor não saía da minha cabeça e isso era bem estranho, antes eu só pensava em como iria me vingar dela e dessa vez não consegui pensar em nada, além daquele maldito beijo.
  - Você tirou as fotos do lugar? – Lysandre me chamou e eu virei pra ele, ainda tentando assimilar.
  - Que fotos?
  - Aquelas fotos.
  - Ah... Não, por quê?
  - Por que não estão aqui. – Levantei e me aproximei, notando que a gaveta onde elas costumavam ficar estava apenas com papeis.
  - Eu tenho certeza que as deixei aqui. – Eu também me lembrava de tê-las visto ali.
  - Se você fosse mais organizado... Já viu a bagunça que é o seu lado? – Lysandre me ignorou e ficou sério, vasculhando a gaveta mais uma vez.
  - Pra que você quer isso? Saudades da Lyana? – Perguntei e ri, sentando na cama.
  - Você parece cada vez mais infantil. – Dei de ombros e então me lembrei.
  - Flor... Foi ela, tenho certeza. – Aquela pequena filhote de hamster além de tudo é enxerida.
  - Com mil demônios, vá logo e recupere as fotos. – Lysandre parecia mais irritado que o normal.
  - O que? Está com medo que ela mostre pra Demi? – Ri, mas ao perceber que ele estava a ponto de arrancar minha cabeça, levantei e fui em busca da garota.

  Como sempre, foi fácil acha-la... Seu cheiro era o mais diferente e conhecido pra mim.
  - Aí está você dona enxerida. – Falei enquanto caminhava na direção dela, ela cruzou os braços e sorriu.
  - Não se contentou e está em busca de mais um chute? – Sorri da forma mais debochada possível.
  - E você, está me provocando pra vê se te calo novamente? – Notei ela fechar as mãos em punhos e ficar vermelha, soltei uma risada baixa e dei de ombros, era tão fácil irrita-la.
  - Mantenha essa sua boca de bueiro longe da minha! Sei que sou sedutora demais e isso pra você vai ser quase impossível, mas você vai ter que se conter. – Ela soltou uma risadinha, cadê minha paciência?
  - Pois saiba que beijar as garotas pra mim é algo natural! Eu beijo quem eu quero e quando eu quero, não é como se você fosse importante de alguma forma... Só queria calar essa sua boca, sua voz me irrita. – Flor fez um “HÁ HÁ HÁ” sem humor algum.
  - Não precisa se enganar Castiel, eu sei que você está louco por mim. – A garota disse isso se aproximando perigosamente, não podia negar a vontade que senti.
  - Como você está enganada... E vou te provar. – Me afastei um pouco de Flor e olhei em volta, quando eu avistei a que seria a minha presa. Caminhei até onde Ambre estava nos espiando e puxei a menina pelo braço.
  - O-o que está fazendo? – Ouvi a voz de Ambre e ignorei, puxando-a pela cintura e colando meus lábios nos dela, como já havia feito diversas vezes, mas dessa vez não teve o mesmo efeito de antes, mesmo assim continuei a beija-la tão intensamente quanto pude.

  “Você é uma boa garota. Conforme o tempo passa e mais eu te conheço, eu sei que tudo que você ganha é decepção.”



CAPITULO 26 •• O tempo passa... Rápido demais.

23 dias depois

  Os dias depois do incidente com Lysandre foram estranhos, havia uma grande sensação de vazio em mim e eu tentava a todo custo não olhar pra ele, foi muito difícil, mas me fingi o mais feliz possível. Flor estava estranha quando se tratava de Castiel, eles continuavam a brigar, mas agora era entre tapas e beijos, só que depois de uns 3 dias nessa situação Ambre grudou no garoto ruivo de uma forma que não conseguíamos mais vê-lo longe dela, não que ele parecesse feliz, mas quando se tratava de olhar pra Flor ou discutir com ela, ele ignorava e tascava um beijo em Ambre que se intitulou namorada. Pra melhorar a amiguinha dela, Charlotte, estava sempre andando com eles e pelo que as meninas diziam se jogando pra cima de Lysandre... Mas tentei não reparar, ela podia... Afinal não é humana.

  Armin era um caso tão perdido quanto Castiel, Rosquenga não largava dele e eu simplesmente não conseguia um segundo pra trocar umas palavrinhas com o garoto, mas de hoje isso não passava... Até por que: só tinha hoje. Alexy parecia deprimido e não queria falar mais comigo desde quando percebeu que falávamos sério sobre nossa partida.
  Antes de ir tentei passar bons momentos com as pessoas com quem eu melhor me relacionava. Ken tem seu jeito meio perturbado quando está perto dos outros, mas quando estamos nós e as flores ele é um grande amigo e me ajudou muito a sorrir... Não poderia me despedir dele.

  Ontem eu passei o dia todo na enfermaria, não havia me machucado, mas Cristãs estava lá com a cabeça enfaixada por que conseguiu uma nova proeza, sentiria tanto a falta dela... Da sua risada e das suas histórias, do seu jeito meigo e ao mesmo tempo sombrio, de jogar cartas com ela e de deixar o Leigh louco por causa do barulho na enfermaria... Também não poderia me despedir dela, mas quando andava na vila achei um colar com umas asinhas de morcego e comprei pra ela, que pareceu realmente gostar, esse seria a nossa despedida e um objeto pra ela lembrar que eu estive ali.

  Sentiria saudade de Catrinn, das suas analogias a games, do som dela jogando e do jeito que ela (mesmo sendo meio desligada) estava sempre nos ajudando. Sentiria falta até mesmo dos momentos em que ela roubava meu bolinho e eu tinha que correr toda a escola atrás dela pra recuperar, mas era sempre tarde demais. Só que sempre havia uma vingança e eu não perdoava na hora de roubar os lanches dela. Meus cafés da manhã não seriam mais tão animados e também não teria com quem implicar ou pintar o rosto... Afinal perdi as contas dos desenhos que fiz na bochecha dela enquanto ela não tirava a cara do vídeo game.

  Sentiria falta de Anelize fazendo as melhores comidas e trazendo pra mim e pra Catrinn, suas oficialmente cobaias. Sentiria falta da sua risada melódica e de ver como ela é doce e gentil, de imaginar como os filhos dela com Alexy seriam. De ver como os cachos se movimentavam tão delicadamente quando o vento batia, como ela caminhava que parecia flutuar e como era fofo quando ela puxava as orelhas de Castiel e o fazia ficar quieto, contrariado, mas quieto. Demorou, mas descobri que Anelize e Castiel são primos e que ele prometeu ao pai de Ane que ficaria de olho nela, por isso ela era a única que o zoava e ele não reclamava. Queria poder dizer ao Alexy que abrisse os olhos e percebesse a garota maravilhosa que estava debaixo da sua fuça, mas não me envolvi por não consegui entender o que se passava na cabeça deles.

  Sentiria falta de Callisto, do seu sorriso (que vi uma ou duas vezes) após uma das confusões que me meti com Flor. Do jeito sério, calado e sempre atento (coisa que invejo). Sentiria falta da forma como as coisas se tornavam geladas quando ela se irritava, dando um pequeno aviso de que era para paramos de implorar por pequenas esculturas de gelo. Da forma especial que tinha de se preocupar com a gente, sem precisar dizer nada, ela nos comovia apenas com o olhar e nos fazia perceber nossos erros, eu particularmente não consigo mentir a essa garota, por que seus olhos não me permitem, afinal é como se ela de tudo soubesse. Me sinto um tanto inútil, por todas as vezes que tentei deixa-la junto com Nathaniel... Nada dava certo, até que cheguei à conclusão de que eram eles mesmo que tinham que dar o primeiro passo.

  Sentiria falta de Nathaniel, sempre sendo legal, me arrastando pra longe de Lysandre e me explorando pra arrumar os papéis na sala dos representantes, mas fazia isso com gosto se fosse pra afastar a ariranha da Melody (que me odeia, pra variar), afinal Nathaniel pertence à Callisto e eu não deixaria qualquer vaca roubar o namorado da minha amiga, já deixei duas fazerem isso e já basta.

  Sentiria falta de Alexy, seus olhos rosa chantagistas me fazendo servir de cobaia pra ir às compras com ele, bagunçando meus cabelos, me forçando a dançar no intervalo, me carregando em um ombro enquanto carregava Flor no outro, sempre bobo e nos arrancando gargalhadas com seus comentários sobre as fofocas da escola.
Não sentiria falta de Armin, Castiel ou Lysandre, por que deles já sinto falta há 23 dias... Mas como seria ficar sem vê-los? Como seria atravessar aquele portal e nunca mais vê-los? 

  - Você não dormiu de novo, não é? – Ouvi a voz de Flor um pouco rouca pelo sono e dei de ombros, descendo da batente da janela, de onde vi o dia clarear.
  - Não consigo. – Anunciei.
  - Pensei que quisesse partir.
  - Eu quero, mas estou em duvida se a dor vai ser maior aqui ou lá.
  - O que quer dizer? – Ela se sentou e coçou os olhos, bocejando.
  - Quero dizer que aqui ainda podemos observa-los, né? – Parecia tão deprimente, mas nunca pensei que quando você gosta muito de alguém, pode acabar se contentando em apenas olha-lo de longe, agora entendia Cristãs, Anelize, Catrinn e Callisto... Ninguém ali estava com quem gostava realmente, mas ninguém parecia desesperado com isso.
  - Isso não é meio... Deprimente demais? – Acenei positivamente com a cabeça, talvez elas não tivessem opção, mas nós também não tínhamos.
  - Antes queria juntar os casais, mas nunca entendi de fato como isso tudo é complicado... Agora sei como se apaixonar é difícil.  – Dei de ombros e me espreguicei. – No final acaba que você está fugindo também, acho que te tornei um pouco covarde. – Soltei uma risada sem humor  e peguei minha toalha.
  - Me tornou covarde? – Ela não parecia gostar do que disse.
  - Por que você está apaixonada, mas não quer assumir. Isso não é muito a sua cara. – Ela bufou.
  - Eu? Apaixonada pelo my little pony? Não seja boba, eu tenho mais o que fazer. E estou com saudade do mundo real, chega dessa baboseira de monstros. – Flor saltou da cama, pegou a sua toalha e entrou no banheiro antes que eu pudesse fazê-lo, batendo a porta na minha cara.
  - E depois diz que num gosta dele... – Revirei os olhos e me joguei na cama.

CAPITULO 27 •• 2° Empurrãozinho.

A aula acabou e eu saltei da cadeira, arrumando as minhas coisas com pressa assim que vi Armin sair da sala.
  - Aonde você vai com tanta pressa? – Catrinn me perguntou e eu joguei a bolsa nos ombros.
  - Eu preciso fazer uma coisa importante. – Anunciei já saindo.
  - Mas não íamos passar a tarde juntas? – Havíamos combinado de fazer algo juntas, pra essa ser a nossa despedida. Pedi que ninguém nos acompanhasse pelo caminho, foi difícil, mas as convenci.
  - E vamos, eu encontro vocês nos pátio. – Sai correndo e ao passar pela porta dei de cara com Alexy no corredor.
  - Aonde pensa que vai? – Ele perguntou parando na minha frente.
  - Preciso falar com seu irmão. – Ele fez um bico engraçado e eu ri.
  - Sempre procurando alguém... Ele acabou de passar pra lá, tentando fugir da Rosalya. – Normal.
  - Okay, obrigada. – Saí correndo pelo corredor, pra tentar acha-lo antes dela.

  Fui encontrar Armin no lado externo caminhando em direção à quadra, mas antes de alcança-lo aquela praga foi rápida demais. Rosalya se jogou nos braços dele e o apertou, mas ele não parecia muito feliz.
  - Rosa, me da um tempo... Vá procurar Melody, sei lá... Arrumar uma coisa pra fazer. – Ele completou, retirando os braços dela do seu pescoço.
  - Aii neném, eu só quero ficar junto do meu namoradinho, qual problema? – Sim, eu estava escondida escutando a conversa.
  - Não sou seu namorado, esqueceu? Você sempre disse que essa coisa de namoro é idiota, então que seja. Agora me deixe um pouco só. – Percebi que ela não gostou nada daquilo. Ela cruzou os braços e fez bico, forçando cara de choro e ele respirou fundo, querendo ceder, mas eu não ia deixar.
  - Armin... Preciso falar com você. – Me aproximei, decidida e recebendo o olhar fatal da vaca. Se ela fosse capaz, conseguiria me derreter ali mesmo.
  - Demi? Claro... A Rosa já estava indo. – Ele enfiou as mãos nos bolsos e a encarou, que saiu batendo o pé.
  - Eu estou querendo falar com você tem tempo, mas estava meio impossível. – Ele entendeu o que eu queria dizer e sorriu sem jeito, dando de ombros. Fiquei ao lado dele e juntos fomos dando a volta em direção à parte esportiva a céu aberto, que ficava depois da quadra.
  - O que tanto tem a me dizer? – Ele perguntou, mas esperei que chegássemos à arquibancada pra falar. Depois que sentei fiquei notando aquela pista de corrida gigante, onde o professor nos fazia correr até colocar as tripas pra fora. Senti o vento soprar bem forte e suspirei... Sentiria saudades, definitivamente seria mais vazia depois que fosse embora.

- Estou querendo te dizer umas boas verdades tem tempo. Se bem que... Esse tempo que usei pra digerir algumas coisas e a Rosvaca... Digo Rosalya, estava grudada em você de qualquer forma, foi bom. – Ele ignorou o apelido, na verdade até riu.
  - Esse apelido... Que maldoso. – Dei de ombros, não iria entrar no mérito do apelido.
  - Estamos partindo... Amanhã. E...
  - Amanhã? Mas já é amanhã? Eu não pensei que fosse passar tão rápido... E nós mal nos falamos. – Ele pareceu um pouco desapontado.
  - Eu te entendo, não é como se você fosse muito esperto. De qualquer forma não podia ir sem te perguntar... Até quando você vai ser o fantoche dela? Eu pensei que se apaixonar fosse fácil, também pensei que bastava duas pessoas quererem pra estarem juntas, mas o tempo todo estão me fazendo acreditar no contrário e então estou desesperadamente tentando entender. Se você gosta da Catrinn, por que está perdendo, dia pós dia, à oportunidade de está com ela? – Armin arregalou seus olhos azuis, sua boca abriu e fechou várias vezes e balançou a cabeça, coçando a nuca logo em seguida.
  - É...
  - Complicado? Por que todo mundo só sabe dizer isso? – Respirei fundo. – Não estou dizendo que deve ficar com ela ou o que deve fazer, eu vim realmente só tentar entender.  Acho que queria me agarrar à esperança de que no fundo vale a pena, sabe? Sempre quis juntar as pessoas por que achei que isso era só o que importava... Mas vi que existem motivos maiores que nos afasta... Qual é o seu Armin? Rosalya? Talvez não goste de Catrinn? Mas por que disse aquelas coisas pra ela? Sabe quão dolorido é quando brincam com os sentimentos? Por que simplesmente não pode se decidir? Tem que manter as duas? Assim todos não sofrem mais? – Ele abaixou a cabeça e ficamos em silêncio por um tempo. Armin ergueu a mão e tocou a minha cabeça, tirando meu cabelo do lugar.
  - Como pode alguém tão pequena, ser tão abusada e intrometida? Mal posso me lembrar da primeira pergunta.  – Ele disse isso com um sorriso largo nos lábios, me fazendo corar.
  - De-desculpe, eu só...
  - Você fez bem, você está certa tampinha. – Dito isso, ele se levantou. Seu rosto estava diferente e ele sorria abertamente. – Vamos. – Me chamou depois que começou a descer as escadas da arquibancada.
  - Vamos? Aonde? – Ele virou apenas a cabeça.
  - Vamos ficar todos juntos, uma ultima vez. – Aquela frase pesou o meu coração, mas por hoje eu iria sorrir e brincar como nunca antes. Saltei de onde estava e desci as escadas correndo, acertando um tapa na cabeça oca de Armin.
  - Se você chegar por ultimo vou te chamar de Kirby pelo resto do dia. – Gritei saltando o ultimo degrau e desatando a correr.
  - Não vale Demi! DEMI! KIRBY NÃO! EU ODEIO CORRER. – Ele berrava, mas desistiu e logo o ouvia correr atrás de mim.

      **

  - Aí estão vocês! – Ouvi a voz de Anelize e parei de correr, Armin me passou por tão pouco! Ele se jogou na grama, abaixo da árvore onde havíamos marcado nosso piquenique. Me curvei e apoiei a mão nos joelhos, enquanto ofegava e tentava me recompor.
  - Não é justo... Suas pernas são maiores. – Bufei e me lancei no chão, ao lado de Armin.
  - O que vocês estavam fazendo? – Ane perguntou de um jeito sapeca e Alexy se jogou ao meu lado se curvando e me encarando sério.
  - Não me diga que você estava de assanhamento com Armin! – Soltei uma gargalhada alta e bati o dedo na testa dele.
  - É pra compensar o seu assanhamento com a Ane, ou acha que não vi tu olhando debaixo da saia dela enquanto ajudava a segurar a escada? O que é meio inútil, sabendo que o equilíbrio dela é o melhor daqui... O que nos leva a perguntar, como você consegue ser tão cara de pau? – Alexy foi ficando vermelho de um jeito que só não superava Ane, que começou a tossir e a receber tapinhas nas costas de Callisto, que tinha uma expressão leve, mas ainda não sorria.
  - Irmão não dê esse tipo de exemplo. – Armin se sentou e Alexy estava lá, emburrado e vermelho como uma criança pirracenta.
  - Cadê a comida? – Perguntei engatinhando até a toalha e já enfiando a mão na cestinha, mas levei um tapa de Ane.
- Auu... Mas qual o problema? – Fiz minha, mais piedosa, cara de choro.
  - Flor ainda não está aqui. – Agora foi a minha vez de emburrar.
  - Mas onde se meteu essa praga? – Foi só eu falar e ela veio batendo o pé, com as bochechas vermelhas de raiva. A garota se sentou e não falou com ninguém.
  - Que cara é essa? Castiel te roubou outro beijo? – Alexy perguntou e ela lançou um olhar mortal pra ele, todos ali sabiam do chove e não molha daqueles dois.
  - Não quero falar sobre isso, podemos confraternizar e esquecer que no mundo existe criatura tão nojenta? – Decidimos não cutucar mais a fera e como aquilo era uma despedida, não seria legal ser assim.
  - COMIDAAAAAAAAAAA! – Me lancei em cima dos salgadinhos, antes que alguém ousasse pegar.

CAPITULO 28 •• Despedidas.

Jamais esqueceria aquela tarde, assim como cada momento ali. Foi o mês mais agitado da minha vida e da de Flor, pra duas garotas excluídas, nós havíamos feito muitos amigos. Agora teríamos que começar tudo do zero em outro internato. Não dizemos adeus, mas eu e Flor sabíamos que aquele era o adeus, falamos com eles que iriamos no ultimo ônibus, os das 19 horas, mas nossas coisas já estavam prontas e sairíamos no primeiro o das 7 da manhã, não aguentaríamos a despedida e assim seria melhor... Quando eles percebessem, nós já teríamos partido e seria mais fácil, menos doloroso... Esperávamos.
Depois do nosso piquenique ficamos por horas conversando, deitados na grama e contando histórias antigas e relembrando os dias que passamos ali, vez ou outra, um silêncio estranho reinava, como se soubéssemos que aquele era o fim, que a partida era certa.

  - Eu tenho que ir. – Falei me levantando e alisando a pança, já havia comido tanto que nem sei como conseguiria andar.
  - E onde é mais importante do que aqui com a gente? – Alexy perguntou fazendo biquinho e eu baguncei os cabelos azuis dele.
  - Lugar nenhum, mas ainda sim tenho que ir. – Acenei pra eles e sorri. – Nos falamos depois! – Comecei a correr pra dentro da escola, tinha que me despedir de Nathaniel.

Quando cheguei à sala dos representantes bati duas vezes e empurrei a porta, vendo Melody com as mãos no peito de Nathaniel, nas pontas dos pés com a boca próxima demais da dele.
  - Com licença. – Falei alto e ele a afastou, que me olhou com aquele olhar mais falso do mundo e sorriu sem jeito.
  - Olá Demetria, você por aqui... De novo. – A voz dela parecia de um papagaio desafinado, era insuportável.
  - Pois é Melody, vim falar com o Nathaniel. – Fui entrando e me sentei no sofá, cruzando as pernas e pegando um livro que estava sobre o sofá. – Podem continuar... Eu espero. – Sorri de forma debochada e Nathaniel fingiu tossir pra não demonstrar que estava rindo.
  - Bom, Melody já estava de saída, não é? – Ela o encarou descrente, mas concordou com a cabeça e saiu. Esperei um pouco e continuei a folhear o livro.

  - Eu sei o que você está fazendo... – Ele falou e se sentou do meu lado, tirando o livro da minha mão e fechando.
  - O que posso fazer? Sou Team Callisto! – Resmunguei e acabamos rindo. – Sério, não gosto dessa cobra venenosa. – Dei de ombros e apoiei a cabeça no sofá.
  - Eu também não, mas alguns inimigos devemos manter por perto. – Ele piscou, ele sempre estava um passo a frente.
  - De qualquer forma, eu odeio despedidas entende?  Mas quero agradecer você por tudo... É como se você fosse meu grilo falante. – Abri meu sorriso mais fofo.
  - Grilo falante?
  - É, o grilo que a fada azul envia pra ser a consciência de Pinocchio, que tem a responsabilidade de mantê-lo a salvo. Mas hoje vim te liberar dessa missão e dizer muito obrigada. – Forcei um sorriso largo, desde o começo do dia eu não queria sorrir de fato, mas meu desejo de levar apenas boas lembranças era maior.
  - Já é amanhã, não é? – Ele perguntou e eu afirmei com a cabeça. Ficamos em silêncio por um tempo, por isso odeio me despedir... Por que no final, não existe nada que possa ser feito.
  - Me promete uma coisa? – Ele me olhou desconfiado e fiz cara de choro.
  - O que é?
  - Você pode cuidar de todos, como fez comigo? – Nath sorriu.
  - Ahh baixinha, eu sempre cuidei e sempre cuidarei de todos! – Nathaniel passou a mão em torno do meu ombro e me puxou pra perto dele, me curvei e quando encostei a cabeça no seu peito deixei as lágrimas se libertarem finalmente. O loiro deslizava as mãos pelo meu cabelo, entendendo que eu precisava daquilo, precisava por pra fora. - Nós não nos falamos mais por nos odiarmos, não nos falamos mais por que às vezes está próximo machuca mais. Não esqueça que eles eram meus amigos muito antes de você e não importa o que aconteça vou cuidar deles. Também vou olhar todos e escrever uma carta pra você com o relatório e enviar toda vez que o ônibus vier. – Acenei com a cabeça.

  - Eu vou sentir tanto a falta de vocês, eu os amo tanto. – Minha voz estava embargada e eu tentava controlar o choro.
  - Também sentiremos a sua falta, você faz ideia de como nos mudou? De como você ressuscitou o bom humor e nos tornou mais próximos? Aconteça o que acontecer, você sempre vai ser importante pra gente, assim como a Flor. – Aí sim que cai no choro, eu sabia que era o melhor a fazer, mas queria está ali com todos eles.
  - Eu prometo que também não vou esquecer vocês. – Ele acenou com a cabeça e ficamos ali, conversando e falando besteiras até que consegui sorri novamente.
  - Esse é o espirito, quando puder vou visitar vocês no mundo humano. – Nathaniel anunciou e eu o abracei mais uma vez.
  - Eu vou indo agora, tem um lugar que quero observar uma vez antes de ir. – Nathaniel estava sempre com aquela expressão, não sabia dizer se ele estava triste, mas às vezes acho que ele está apenas acostumado a ter que aceitar as coisas como elas são. – Desejo que você possa começar a mudar seu destino, Nath. – Dessa vez eu coloquei a mão sobre seus fios loiros e desalinhei seus cabelos, saindo e fechando a sala dos representantes. Restava apenas uma coisa que eu queria fazer antes de ir embora.

  **

  Me certifiquei que Lysandre estava no pátio com Castiel e subi as escadas correndo, quando estava no colo do vampiro, não pareceram ser tantos degraus, mas finalmente consegui chegar. Empurrei a grande e pesada porta vermelha e cheguei ao telhado. O tempo estava especialmente frio hoje e ali em cima ventava ainda mais, mas não me importei... Não ficaria muito tempo. A primeira vez que estive ali só tinha olhos pra Lysandre, mas agora consegui ver os terrenos em torno da escola. Era floresta pra tudo quanto é lado, mas ainda sim era bonito.
  Me aproximei do muro que batia na altura da minha barriga e me inclinei um pouco, apoiando as mãos ali enquanto o vento despenteava meus cabelos. Fechei os olhos e me lembrei do dia em que ele me mordeu, seu cheiro e seu toque... Se não fosse uma mordida... Se fosse um beijo... Eu estaria partindo agora?

  Estava ficando frio demais, então decidi que era hora de ir. Terminar de arrumar minhas coisas e esperar a noite passar, lenta como a anterior, me torturando aos poucos. Quando me virei ele estava lá, parado com as mãos nos bolsos, me olhando de forma fixa enquanto o vento trazia seu cheiro pra mim.  Não me importaria com mais nada... Tudo valeu a pena, por que me apaixonei pelo cara mais incrível do mundo,

**

POV Flor

  - E quando nós formos embora, acho que você deveria continuar a passar mais tempo com as meninas. – Falava feito uma tagarela no ouvido de Callisto, quando me dei conta que podia escutar a música que ela ouvia de onde eu estava. – Estou indo embora e ela me ignorando... Puff. – Reclamei e ela suspirou, abaixando o livro, tirando o fone e me encarando.
  - Você não deveria está em outro lugar, dando tchau pra outra pessoa? – Fiquei quieta e me arrumei na cadeira, cruzando os braços e fitando a janela da biblioteca.
  - Não sei do que está falando. – Afirmei e ela voltou a erguer o livro.
  - Quando o arrependimento bater, você saberá... Existem algumas coisas das quais você não deve se dar ao luxo de ignorar. Você nunca sabe o que pode perder pra sempre e uma vez que a dor chegar, não vai ser fácil manda-la embora. – Depois de dizer isso, Callisto voltou com os fones para o ouvido e a sua leitura, me deixando com essa frase na cabeça. Eu não daria a Castiel o prazer de ir procura-lo, depois da forma como ele sempre estava agindo feito um idiota eu não podia dar o braço a torcer... Não vou me arrepender de qualquer forma... Ou vou?



CAPITULO 29 •• Monster!

POV Lysandre

  “Já faz um tempo e parece que você está indo melhor desde a ultima vez que te vi. Você está mais bonita também, apesar de você sempre ter sido linda aos meus olhos. Mas você parece um pouco diferente hoje, você parece excepcionalmente fria. O jeito que você olhou pra mim é cheio de misericórdia, na sua frente eu pareço pequeno.”

  Sempre que a observava de longe consegui repara como o vento tirava seus cabelos prateados do lugar com facilidade, seus fios longos e lisos têm um cheiro doce e único, um cheiro que torna impossível não associar com paz e ternura. Eu conhecia esse cheiro de outra época, mas qual? Me fazia essa pergunta desde a primeira vez que a vi, desde a primeira vez que ouvi seu coração batendo acelerado, pulsando o sangue doce por todo seu corpo pequeno e frágil. Quando tive a certeza de que ela era humana fiquei extremamente desapontado, pelo meu ódio por humanos, pelo que eles são, por sua fraqueza e por serem naturalmente a minha caça... Mas ela... Por que não podia ser capaz de odiá-la?  Me forcei muito, forcei para tentar entender essa coisa que me arrastava sempre direto a ela, que me fazia somente enxerga-la. Ao descobri que ela é humana deduzi que era seu sangue, que esse tal cheiro era o cheiro do alimento e que era um instinto deseja-lo... Mas por que depois de toma-lo, por mais delicioso que fosse, aquele espaço vazio e a incompreensão permaneciam?

  Eu tinha a resposta, ela estava ali na ponta da minha língua e só não queria aceitar. Não posso amar uma humana... Não deveria poder.
Vê-la tropeçar e não ser eu a segura-la, ver outras pessoas a fazendo ri, tocando... Ver Kentin a tocando, foi a tortura mais longa e sutil que já sofri. Agora chego à conclusão que descobri tarde demais do que precisava, estava tarde demais pra concertar toda a confusão que fiz?

  **

“Eu ajo como se fosse bom, eu tento mudar de assunto. Eu tenho muitas coisas que quero perguntar, mas você me corta. Seu cabelo voa ao vento, você se vira e vai embora, eu iria parecer ridículo se eu tentasse te impedir de ir?”

  - Não imaginei que voltaria aqui. – Anunciei assim que a vi me encarando, dali podia ouvir o som do seu coração mais acelerado e sorri, eu a deixava nervosa. A garota não me respondeu e simplesmente ficou de costas pra mim, voltando o rosto na direção do horizonte, mas eu sabia que seus pensamentos estavam em mim, algo me dizia que era só a mim que ela podia ver mesmo que olhasse além. Seus pés estavam juntos e dos seus tênis preto saiam meias brancas e finas que chegavam a altura de sua coxa, nela haviam dois laços azuis, pequenos, um de cada lado em contraste com a sua pele clara. A saia balançava com o vento e me dava uma breve visão do short colado que ela usava por baixo, podia ver a blusa branca por fora do blazer, que por está aberto, também balançava com o vento. Nunca me dei ao prazer antes, de reparar em como seu corpo é bonito, talvez por que não quisesse deseja-lo como desejava agora. Mordi meu lábio e tirei as mãos dos bolsos, queria correr e toca-la, mas já havia assustado o suficiente por uma década.

  Tudo o que fiz foi me aproximar e me posicionar ao seu lado, apoiando as mãos na mureta, como ela fazia. Só agora percebi que a falta de sentir seu cheiro assim de tão perto era maior do que imaginei. Quando o vento soprava mais forte podia até sentir seus cabelos tocando o meu rosto e isso não me incomodava, apenas me embriagava mais, me deixando um pouco mais viciado.
  - Eu só vim dar uma olhada antes de partir... Como da ultima vez eu não consegui apreciar a vista... – Recebi uma resposta tardia, era como se ela estivesse tentando reunir suas energias pra ter essa conversa. Mas algo na sua frase não se encaixava... Não deveria poder se encaixar.
  - Partir? – Pensei alto, Demi falou isso tão casualmente e quanto busquei nos meus arquivos mentais, me lembrei de quando elas chegaram e Anelize anunciou que iriam ajuda-las até o próximo ônibus sair. Todo primeiro sábado do mês ele vinha e amanhã seria esse sábado
  - 30 dias Lysandre, esse era o combinado e se acabou, agora eu vou embora e tudo vai ficar bem.  Só causei problemas a todo mundo desde que cheguei e me sinto aliviada por partir. – Mentiu, eu sabia que estava mentido. Demi se virou e deu de ombros, se ela soubesse como é fácil ler seus movimentos, se ela soubesse como é uma péssima atriz.

“Eu não consigo pensar em nada para dizer, tremendo, você dá dois passos para trás. Você diz que tem medo de mim, você é a única que me deixa louco...”.

  - Não é como se fosse sua culpa... – Queria encontrar algo melhor pra dizer, mas sua presença não me permitia pensar.
  - E então de quem foi? Se não tivéssemos sido tão desatentas tudo isso não aconteceria. – Estendi a minha mão e toquei a dela, que ainda permanecia sobre o muro, sua pele que costumava ser sempre quente estava fria, mas ainda sim conseguia aquecer a minha.
  - Se fosse assim, não teria te conhecido. – Falei buscando o seu olhar, mas não encontrava de forma alguma. Demi retirou a sua mão de baixo da minha e abraçou o próprio corpo, dando um passo pra trás..
  - Teria sido melhor, talvez assim não tivesse que suportar a humana que tanto odeia, não é? – Não me irritaria, sabia que todas essas ideias eu mesmo havia implantado na sua mente.
  - Eu estava enganado. – Sabia que não seria fácil contornar a situação, mas ainda tentava.
  - Seus instintos não se enganam... Enganada estava eu, pensando que poderia ter me apaixonado por alguém como você. Mas você é egoísta e é o pior dos monstros, por que está sempre agindo como lhe apetece, sempre fazendo o melhor pra você e brincando com a humana idiota e eu te odeio por isso... Você me dá medo.  – Fechei as mãos em punho, ninguém fala comigo daquela forma, Demetria me deixa a ponto de explodir.
  - Você sabe quem eu sou? Do que sou capaz?  Você não faz ideia do que passei pra tentar entender o que estava sentido. – Minha voz se alterou. Avancei um pouco e segurei nos seus ombros a forçando olhar pra mim, mas me arrependi ao ver seus olhos encharcados.
  - Está vendo? Você está fazendo de novo... Está sendo um monstro. – Sua voz embargada, seu olhar piedoso, seus soluços e suas palavras: não havia composto pior. Quando soltei seus ombros ela deu alguns passos pra trás e enxugou o rosto.
  - Demi... Eu... – Minha cabeça dava voltas, queria buscar nela uma única coisa que não me deixasse desejoso, um único motivo que não me fizesse cobiça-la, uma razão pra poder falar adeus, mas não havia nada. Eu amo aqueles olhos grandes e marcantes, suas bochechas vermelhas, suas expressões infantis, seus lábios cor de rosa, seus cabelos platinados sempre bagunçados e o som do seu coração batendo forte e ansioso, analisar tudo isso me fazia perder as palavras. Por que essa criatura tão frágil me deixa assim? Por que eu tinha que amar logo a ela? Queria senti-la, queria ser eu a razão do seu sorriso, a receber um beijo toda vez que a encontrasse a descobrir os pontos que poderia tocar e tira-la de órbita, mas só a fazia chorar. Que tipo de homem não é capaz de cuidar daquilo que mais lhe importa? Perceber agora o quanto precisava dela e do quanto a afastei fez com que me sentisse mais monstruoso do que a minha natureza permitia.

“Sua existência se tornou uma doença incurável para mim. Todo mundo pode olhar para mim e me julgar, mas o que realmente dói é o fato de que você se tornou uma parte como todos... Eu te amo, baby, eu não sou um monstro.”

  - Adeus Lysandre. – Ela falou e se virou, pronta pra sair. Segurei no pulso dela e quando o fiz senti algo estranho, engraçado que naquele momento Demi me lembrou alguma coisa... Ou melhor, alguém. De forma instintiva eu ergui a manga da sua blusa, vendo dois furos no braço da garota. Meus olhos passaram do braço dela pro seu rosto e ela tentou se soltar.
  - Como você conseguiu isso? – Perguntei e Demi, era com certeza uma mordida. – Quem te mordeu Demetria? Fala! – Minha voz havia se alterado de novo e eu segurava seu braço com firmeza, provavelmente deixaria a marca dos meus dedos ali.
  - O único maluco que me mordeu foi você Lysandre, e foi no pescoço. Agora me solta. – Só de imaginar que outro poderia ter experimentado do seu sangue, ter tido contato com a sua pele, me deixava furioso.
  - Eu conheço uma mordida quando vejo, quem foi? – Segurava o seu braço e falava entre os dentes, enquanto me curvava em sua direção com os olhos fixos nos seus.
  - Não é uma mordida! Mesmo que fosse isso não é da sua conta. Eu tenho isso desde criança, agora me solta, está me machucando... Já não basta? Já não basta o quanto me machucou? – Sua voz se alterou e ela voltou a chorar, quando percebi que estava realmente extrapolando soltei o seu braço e ela aproveitou essa oportunidade pra correr, me deixando como sempre deixava: Perdido. Meu objetivo era poder dizer que não sou um monstro, mas por que o efeito é sempre contrario?

     “Eu preciso de você, baby, eu não sou um monstro.”


CAPITULO 30 •• O Passado.

Como pensei a noite se arrastou e eu vi o dia amanhecer. Aquela conversa estranha com Lysandre me deixou zonza e eu não parava de olhar as marcas no meu antebraço, os dois furos muito semelhantes como os que ficaram no meu pescoço, tentava me lembrar de como consegui. Minha mãe dizia que é marca de catapora, mas eu jurava que não... Sempre achei que tivesse mesmo sido mordida, acreditava em vampiros quando criança por causa daquela marca, mas me convenci com o tempo de que era fruto da minha imaginação.
  Levantei e vasculhei a minha bolsa, retirando dela o cordão que havia ganhado, mas não fazia ideia de quem... Acordei um dia e ele estava no meu pescoço, parecia coisa antiga e o tomei como talismã. Quando cheguei à escola nova tirei, por que desejava que fosse tudo novo e aconteceu tudo o que aconteceu, não devia ter tirado. Sacudi a cabeça... Isso estava me deixando realmente maluca. Coloquei o medalhão no pescoço e me joguei na cama.

  Quando o relógio mostrou que era 4 da manhã comecei a tomar banho e a me arrumar, tudo sem pressa. Ao terminar o relógio ainda indicava 4:40. Resolvi passar pelo quarto e ver se não estávamos esquecendo nada e quando terminei não havia se passado nem 10 minutos.
  Sentei sobre a cama e retirei da bolsa a foto que me dei ao luxo de roubar, era uma foto que tinha apenas Lysandre e Castiel e que estava no meio daquele bolo que Flor pegou. Aquela não era uma das antigas, parecia mais recente e não consegui devolve-la... Afinal iriamos embora, e eu precisava e uma prova de que não tinha imaginado tudo.
  O tempo voou enquanto observava a foto dele e me lembrava dos poucos momentos que tivemos. Despertei do meu transe quando vi Flor saindo do banho com a toalha na cabeça, ela parecia desanimada e assim como ela, eu queria acabar logo com isso tudo.

  - O certo não seria esquecer? – Ela perguntou enquanto enxugava os cabelos.
  - Seria, mas não o esqueceria de qualquer forma... A foto é só pra eu ter certeza que não sou louca. – Afinal minha mãe achava que eu era louca e agora eu tinha certeza de que não estava louca e que vampiros de fato existem, só de saber disso valeu a pena todas as dificuldades.
  Flor terminou de se arrumar e eu me levantei, guardando a foto de volta na bolsa e pegando a minha mala. Por muitas vezes tive esperança de que não fosse preciso ir embora.

  - Pegou tudo? – Perguntei a Flor e ela balançou a cabeça positivamente. Era sábado e todos costumavam acordar bem tarde, mas eu e Flor (as duas zumbis) estávamos prontas às 5h20 da manhã pra poder sair sem que ninguém visse.
  - Tem certeza que não quer ir à noite? – Ela perguntou e eu pressionei a mão em torno da alça da bolsa.
  - Tenho, se eu tiver que olhar pra eles enquanto estiver partindo, não vou conseguir. – Flor concordou com a cabeça e abriu a porta, saiu primeiro e a segui, trancando o quarto depois de dar uma ultima olhada. Enquanto ainda estávamos no terreno da escola fomos cautelosas e silenciosas, mas depois que chegamos à estrada passamos a andar mais tranquilas.
  - Foi mais fácil que pensei. – A garota falou meio desapontada e eu concordei, ainda tinha esperança de encontrar alguém no caminho, alguém que pedisse pra que ficássemos e que não nos deixasse ter outra escolha.

  Acho que Flor tinha a mesma vontade, já que enquanto estávamos caminhando nossos passos mais se assemelhava a de uma tartaruga.
  - Chega! Para com essa cara Demi. Eu também não queria ir, eu queria ficar e poder viver normalmente com eles, mas não dá mais. As coisas fugiram do controle vezes demais, nós não pertencemos a esse lugar e eles só nos fizeram sofrer. Agora vamos voltar pra casa, vai ser melhor... Não sente saudade do sol? Da movimentação da cidade? – “Não”, quis responder... Mas concordei com a cabeça, acho que entendi agora que Flor estava realmente sofrendo ao ver Castiel com a loira desnutrida.
  - Isso, bola pra frente. – Forcei um sorriso e estufei o peito, começando a dar passos mais rápidos. – Você ouviu isso? – Flor fechou a cara.
  - Já vai começar Demetria? – Fiz bico, eu juro que ouvi alguma coisa! O som foi aumentando e olhamos pra trás e havia mesmo algo vindo na direção que estávamos, algo que parou bem a minha frente, trazendo consigo uma ventania que quase me levou junto.

  - Aonde pensa que vai? – Era Lysandre. Meus olhos se arregalaram e meu coração falhou uma batida.
  - Eu estou tendo uma alucinação?- Perguntei entre os dentes enquanto encarava Flor, que parecia tão impressionada quanto eu, negando com a cabeça.
  - Você não pode ir. Você me pertence. – Ele falou e se aproximou, segurando meu braço e empurrando pra cima a manga do meu casaco. – Por causa disso, eu me lembro de tudo agora. – Eu encarei as marcas e voltei a olhar seu rosto, sem entender.

  - Espera... Estou um pouco confusa, qual é a história? – Flor perguntou. Juro que também queria entender.
  - Você como sempre intrometida. – Castiel apareceu vestido com uma calça preta larga, sem camisa, descalço e com uma cara de quem havia acabado de acordar.
  - O-O que faz aqui? – Ela perguntou e eu não pude deixar de reparar o brilho nos seus olhos.
  - Garantindo que você não atrapalhe os dois. – Depois de dizer isso o ruivo de aproximou de Flor e a pegou pela cintura, segurando-a abaixo do braço como se fosse uma boneca, com a outra mão ele pegou a mala dela e  nos encarou.
  - Pode levar a fedelha, eu cuido dessa aqui. – Lysandre assentiu com a cabeça e me pegou no colo, correndo comigo de volta pra escola, ele fez o percurso em menos de um minuto.
 
**

  - Lysandre, o que você pensa que está fazendo? – Perguntei, mas ele continuou a me carregar pelo corredor em silêncio.  Não sabia se o socava, ou o agarrava... Estou confusa.
  - Eu vou te fazer lembrar. – Lysandre respondeu um tempo depois e parou. Ele abriu uma das portas do corredor e entrou comigo, trancando a tal porta depois de me colocar no chão. Por que estou com um mau pressentimento?
  - Eu... Eu não estou entendendo... Por que e-estamos no no no no ar-armário da limpeza? – Só agora reparei que Lysandre estava de pijamas, ele usava uma calça de moletom cinza e vestia uma camiseta regata preta, que marcava os seus músculos e me deixava sem ar, não sabia que ele tinha ombros tão largos, braços tão fortes e um corpo tão... Bem definido.

  - Por que não quero que ninguém nos atrapalhe. – Ele anunciou, me fazendo parar de viajar no quanto ele é bonito, e se aproximou. - Quando eu tinha em torno de 7 anos, resolvi aprontar com Castiel e usei um portal da minha casa, caindo no mundo humano. Não foi uma boa ideia, por que só eu consegui passar e Castiel foi pego antes. De qualquer forma quando eu estive lá foi meio traumático... Os humanos podem ser muito cruéis quando veem uma coisa que não entendem. Eu fui perseguido, era só uma criança e tudo que conhecia se resumia as paredes da minha casa, mas encontrei um esconderijo. – Engoli a seco, suas palavras começavam a fazer sentido pra mim. – Eu devia está chorando tão alto que atrai atenção de alguém, uma garota mais ou menos da minha idade, de cabelos brancos e com um pijama engraçado que parecia um panda, ela se aproximou e ao contrario de todos os humanos não era assustadora pra mim, não teve medo da minha aparência... A garota acreditou em mim e acreditou que não a faria mal, e quando disse que estava faminto e falei do que me alimentava...
  - Ela deu o braço... – Completei, me lembrava agora! Me lembrava de tudo, absolutamente tudo. O barulho que me acordou aquela noite, o menino encolhido no jardim, seu olho vermelho e outro branco, suas presas, a sensação da mordida, seu sorriso e... -... O medalhão! – Ele confirmou com a cabeça e deslizou os dedos pelo meu pescoço puxando a corrente que prendia o medalhão, o encarando.
  - Meu pai me encontrou e me levou embora e não a vi mais.  Esse é um medalhão que sempre retorna ao seu dono, por isso eu lhe dei... Pra que um dia você voltasse pra mim, por que quando eu te vi pela primeira vez, eu sabia que você me pertenceria... E enquanto estiver usando eu vou saber como você está. – Eu pisquei algumas vezes.
  - Então você sempre esteve comigo? – Lysandre afirmou com a cabeça e colocou as mãos ao lado do meu rosto, sentia a sua respiração se misturar com a minha e tudo aquilo parecia mais do que surreal, não ousei chorar por que não queria que meus olhos embaçados perdessem a oportunidade de vê-lo se aproximar. O vampiro continuou se aproximando e a coisa que mais desejei desde que cheguei ali aconteceu, senti os lábios dele junto aos meus.



Esse capitulo pode conter cenas hum... Mais complexas. HAHAHA Por isso recomendo aos maiores de 16, só pra evitar problemas. Eu não acho nada demais, mas nunca se sabe né? Qualquer reclamação, duvida, sugestão e se quiserem me matar, favor enviar uma MP e tals. Um beijo ;*

CAPITULO 31 •• Encontrando o sentido.

P.O.V. Castiel

  - É inútil se debater, quando vai entender? – Dizia entediado, bocejando mais uma vez enquanto caminhava pelo corredor do dormitório feminino, com Flor debaixo do braço.
  - Então me solta, eu não sou igual a sua Barbie que você pode sair por aí carregando pra cima e pra baixo. – Bla bla bla, lá estava ela sendo chata novamente.
  - Não estou a fim de te soltar... E vocês duas, pensei que fossem embora só à noite. – Foi uma surpresa quando Lysandre me acordou, dizendo que elas estavam partindo e dizendo que precisava impedir Demi de ir, por que ela era algum bla bla bla importante e bla bla bla frescurinha.
  Eu não tinha nada com isso, mas como sei que Flor tem a tendência a estragar momentos românticos (como o nosso no chuveiro, por exemplo) fui atrás só pra poder me certificar que ela não estragaria esse, afinal não é todos dia que o vampiro doido resolve se redimir, talvez assim ele ficasse menos mal humorado e insuportável. ERA SÓ POR ISSO, não por querer impedir essa pequena demônia.

  - Não é da sua conta o que fazemos! Também já nos despedimos de todos, só não queríamos que ninguém nos acompanhasse. – Soltei a mala dela e em seguida a coloquei no chão, segurando-a pelos ombros, estava irritado.
  - De todos? – Meus olhos estavam fixos nos dela e ela apenas concordou com a cabeça. - Você iria embora sem me dizer nada? – Ela confirmou com a cabeça novamente.
  - Não tenho nada a dizer pra você. – Aquilo me deixou desapontado.
  - Você acha que pode sumir da minha vida como se nunca tivesse entrado? Quem você pensa que é? A quem você está tentando enganar, Flor? Você está completamente apaixonada por mim. – Ainda segurava Flor pelos ombros, dessa vez comecei empurra-la até conseguir encostar seu corpo na porta do quarto, adoro quando ela fica encurralada.
  - E-eu...  Você ficou maluco? Por que não vai encher o saco da Ambrejenta? Você está sempre grudado nela afinal. – Sorri, foi mais forte do que eu.
  - Você está com ciúmes, isso é mais uma prova. – Soltei uma risada baixa e vi sua expressão mudando, eu já sabia o que viria agora, uma enxurrada de ofensas e alguns tapas que nem faziam cócegas. Antes que eu recebesse alguma resposta que fosse me deixar ainda mais irritado, me inclinei o suficiente pra encaixar os meus lábios nos dela, matando a saudade de senti-los daquele jeito. Sim, eu sentia falta da sua boca, do seu cheiro e do toque da sua pele... Mesmo que ontem, quando brigamos no corredor, eu a tivesse beijado só pra irrita-la. No fundo eu estou sempre a beijando pra poder sentir um pouco mais daquela sensação louca que ela me despertava e ela sempre me correspondia, ela sempre se deixava levar... E dessa vez, diferente de todas as outras vezes, minhas mãos estavam postas sobre a sua face, acariciava sua bochecha com o polegar e movia os meus lábios sem pressa, assim como as nossas línguas não pareciam está travando uma guerra mundial. Sempre me sentia tão bem quando a beijava... Então qual era o problema?

O problema é que eu não me apaixono. 

  Ao me dar conta de como estava pensando feito um babaca, soltei a garota e me afastei, retomando o folego.
  - A sua mala, você pode guardar as suas coisas de volta no armário, acho que a sua amiga não vai mais querer ir embora. – Tentei evitar olha-la. Dei as costas a ela, decidido a voltar pro meu sono, tenho certeza que quando acordasse essa sensação louca teria ido embora.
  - Castiel... – Ela me chamou e parei de andar.
  - O que foi agora? – Me virei.
  - Você quer que eu fique? – O que era essa pergunta de repente? Cocei a nuca com força, não conseguia pensar com ela me olhando daquele jeito.
  - Do que está falando? Pra mim não importa. – Menti, droga... Eu menti.
  - Então não vai importar, que independente de Demi ficar ou não, eu vou partir. – Flor segurou a alça da mala e começou a arrasta-la pelo corredor, voltando pelo caminho que havíamos acabado de fazer. Rugi e quando me dei conta já havia saltado pra direção de Flor, arranquei a mala de sua mão e a lancei longe.
 
  - Você ficou maluca de vez? Você não vai a lugar nenhum. – A peguei no colo e entrei com ela no que era seu quarto, fechando a porta atrás da gente.
  - Me deixa sair Castiel, saia da minha frente de uma vez. – Ela gritava e acertava socos no meu peito.
  - Não vou até que você desista dessa ideia! – Gritei de volta e continuei a segurar a porta.
  - Então me diga o que quero ouvir. – Ela parou de me bater e respirou fundo, com aqueles olhos heterocromáticos postos em mim.
- O que você quer ouvir? – Eu sabia, mas será que conseguiria dizer?
  - Você sabe... Mas acho que não importa muito pra você... Me perder. – Revirei os olhos, estava tão na cara que eu não queria perde-la? Demorei um pouco e ela continuou a tentar sair do quarto.

- Então fique... Por que quero que você fique. – Falei bem rápido e embolado, me sentindo envergonhado com essa declaração, não fazia meu tipo. – Não me faça repetir ou... – Antes de terminar a frase senti os braços de Flor em torno do meu pescoço, ela se esticou e voltou a juntar os nossos lábios me fazendo acreditar que valeu a pena agir como um imbecil. Envolvi meus braços na sua cintura e correspondi o beijo, só que dessa vez era mais intenso, era diferente. Ainda segurando na sua cintura a ergui, a garota envolveu as suas pernas em torno do meu quadril e dei alguns passos pra trás, batendo as costas na porta. A forma como ela deslizava as mãos pelos meus cabelos me fazia perder totalmente o foco, era tarde demais pra pensar em qualquer coisa.  MAS QUE INFERNO... Eu ODEIO admitir, mas acho que estou apaixonado.
P.O.V. Castiel Off

  **

P.O.V. Lysandre

  Por que demorei tanto tempo? Não deveria ter demorado, devia ter lhe roubado esse beijo desde o primeiro momento que a vi, por que nele eu tinha todas as minhas respostas. Quando fechei os olhos aquela noite, a lembrança retornou a minha mente, clara como se tivesse ocorrido ontem e foi quando me dei conta de que toda aquela minha obsessão por Demetria não era de hoje, ela me fazia me sentir daquela forma por que desde cedo ela tinha me despertado aquela coisa, que um vampiro só tem uma vez em toda sua existência.
Mordisquei seu lábio inferior e afastei o meu rosto do dela pra poder observa-la melhor.

  - Eu não estou acreditando. – Ouvi a sua voz baixa, ela estava com os olhos fechados bem apertados, me fazendo sorrir.
  - É só abrir os olhos e verá que estou aqui. – Sussurrei perto do sua orelha, me inclinando e dando um beijo demorado no seu pescoço, onde antes eu havia mordido. Os pelos do seu corpo se arrepiaram e eu voltei a encara-la, colocando a mão sobre a sua bochecha e a admirando assim, por alguns segundos.
  - E se quando eu abrir os olhos, perceber que estou alucinada? – Ela fez um bico que a deixava sexy e me arrancou uma risada.
  - Essa é a realidade e eu vou te provar. – Ela me olhou finalmente e eu sorri, achando incrível como a vontade que eu tinha de beija-la era muito maior do que a vontade que eu tinha de provar do seu sangue outra vez.
  - Prove então. – Ela sussurrou quando seus lábios já estavam próximos demais dos meus, tudo o que tive que fazer foi aproxima-los um pouco mais. Deslizei minha mão do seu rosto pra sua nuca, enfiando meus dedos por entre seus cabelos macios e os segurando, mantendo sua cabeça bem perto da minha. Me dava o prazer de saborear seus lábios bem suavemente, tocando-os com calma, sentindo a sua textura, sentindo seu calor, sua respiração. Era demais pra mim, eu a queria há muito tempo e não faria cerimônias agora, sendo assim não demorou até que a minha língua pedisse passagem e fosse de encontro com a dela. Empurrei Demi até que seu corpo se esbarrou em uma mesa, a segurei pelas coxas e a fiz sentar sobre a mesma, me encaixando no meio de suas pernas e mantendo as mãos ali, satisfeito por finalmente poder tocar as coxas que só fui capaz de admirar de longe. Pressionei meus dedos contra a sua pele clara e macia e fui subindo com calma, enquanto sentia uma de suas mãos acariciando a minha nuca, a outra deslizando pelas minhas costas. Cada toque dela me fazia precisar de mais, afastei meus lábios dos seus com muita dificuldade. Sorri ao ouvi-la ofegar e ao olhar o seu rosto vermelho assim como seus lábios, me senti ainda mais apaixonado. Deslizei a língua pelo seu lábio inferior e depois lhe dei um selinho demorado. Desci meus lábios pelo seu queixo e pescoço, distribuindo beijos pela sua pele quente e macia. Tudo estava bem agora, eu não a deixaria partir.

P.O.V. Lysandre Off

CAPITULO 32 •• Então é isso.

Empurrei a porta do quarto, quando consegui parar de beijar Lysandre, e entrei no mesmo dando de cara com...
  - Castiel? – Não sabia se ria ou se saía correndo, por que Castiel estava na cama de Flor.
  - Eaí Demi? – Ele acenou, pelo menos estava vestido... Ou quase, digo ele estava só com as calças como há algumas horas atrás.
  - O-O que você está fazendo aqui? – Pelo menos não havia atrapalhado nada.
  - Vim só deixar as duas malas aqui, Flor e que ele carregava. – Cerrei os olhos e ele sorriu de um jeito malicioso. – E recuperar isso. – Ele me mostrou as fotos que Flor havia pegado há algum tempo... Ué, mas ela me jurou que tinha devolvido.
  - O-okay então. – Antes de passar por mim ele parou e me encarou sério.
- Está roxo aqui. – Congelei e arregalei os olhos, colocando a mão no lugar onde ele havia tocado.
  - Ro-ro... Roxo? Não tem roxo não, é coisa da sua cabeça. – Ele me deu mais uma olhada e gargalhou, saindo do quarto assobiando. Assim que ele saiu eu corri até o espelho e procurei vê se estava roxo, mas não havia nada.
  - Maldito... – Sentei na penteadeira e suspirei, eu sou sempre tão fácil de enganar.

  Flor saiu do banheiro enrolada em um roupão e com a toalha na cabeça, sua expressão era a das mais felizes e ela até cantarolava.
  - Demi? Já voltou? – Ela pareceu um pouco surpresa quando me viu e passou os olhos pelo quarto.
  - Ele já foi... - Cruzei os braços e arqueei uma de minhas sobrancelhas, esperando alguma explicação.
  - Que... Que cara é essa? – Ela corou e eu gargalhei, olhando bem pras camas.
  - Pelo menos ficaram longe da minha cama. – Ri novamente e me joguei na cama, suspirando.
  - Há há há, engraçadinha... Não aconteceu nada... Digo... E essa sua cara coradinha? O que você e Lysandre estavam fazendo? – Quase morri engasgada com a minha saliva. Quando recuperei o folego, me sentei.
  - Nós fizemos as pazes e eu vou tomar banho, tchau. – Saltei e me joguei no banheiro, ouvindo Flor batendo na porta.
  - Não pense que vai me escapar Demetria! A senhorita vai me contar tudinho, por bem ou por mal. – Ela deu mais algumas batidas na porta e continuou a resmungar.

  **

  - Aí estão vocês! – Alexy correu na nossa direção com uma expressão sapeca no rosto.
  - Hey Alexy, o que está fazendo aqui? – Afinal era proibido aos meninos ficarem perambulando pela ala das meninas, não que isso fosse muito respeitado... Né dona Flor? Infelizmente mantive esse comentário só pra mim.
  - Fiz uma lista de 10 motivos pra vocês não irem embora. – Ele inflou o peito e eu abri um sorriso largo.
  - Ó Alexy você é sempre tão fofinho. – Não resisti e dei um beijo na bochecha do garoto.
  - 1° motivo: por que eu sou lindo. 2° motivo: por que meus cabelos são sedutoramente azuis. – Flor começou a ler a lista e soltei uma gargalhada alta.
  - 3° motivo: por que tenho um corpo escultural, 4° motivo: meus brilhantes olhos cor de rosa. – Flor lia em meio a risadas.
  - Viu? Vocês não podem viver sem mim. – Enquanto Flor continuava a ler, Alexy me abraçou pela cintura e me ergueu, dando um beijo demorado no meu rosto.

- Assim vou ficar com ciúmes. – Ouvi a voz de Lysandre e abri um sorriso largo, ainda meio que não acreditava nos acontecimentos das ultimas horas.
  - Sai fora Lysandre, ela é minha. – O Garoto respondeu de forma sapeca e ouvi a risada de Lys ressoar atrás de mim. Alexy me colocou no chão e continuou a me abraçar apertado, não me deixando fugir do abraço. Senti suas mãos de Lys na minha cintura e ele me puxou, me afastando de Alexy que quase me matou sufocada contra seu peito.
- Sinto te informar que essa aqui é minha e ela vai ficar por mim. – Lys me abraçou por trás e se curvou, beijando o meu rosto, me deixando ainda mais boba.
  - Mas o que foi que perdi? – Alexy coçou a nuca e fez uma careta engraçada, nos arrancando risadas.
  - Também estou querendo saber, mas alguém num quer me contar... De qualquer forma, você me convenceu Alexy, eu fico por você. – Ele soltou um grito e saltou na frente de Flor a pegando e jogando nas costas, já disse o quanto ele adora fazer isso?
  - Pelo menos a Flor ainda é minha. – Depois de gritar isso, ele correu pelo corredor afora.
  - Castiel não vai gostar muito disso. – Lysandre anunciou e rimos, seguimos para o restaurante da escola de mãos dadas, não me acorde se for um sonho.

**

  - Huuum, já sabemos dos namoradinhos. – Anelize comentou quando me aproximei com Lysandre.
  - Onde estão Cat e Armin? – Perguntei depois que me sentei com Lys ao meu lado. Ele passou o braço em volta do meu ombro e empurrou a cabeça de Alex de forma implicante.
  - Demi, ele está me batendo. – Não aguentei com aquele jeito infantil que Alexy usou pra dizer aquilo e desatei a ri, assim como todos na mesa.
  - Lys, não faz assim com o Alexy. – Falei tentando parar de ri, não acreditando na expressão serena que ele tinha no rosto.
  - Só depois que ele for se engraçar para o lado de outra. – Obviamente que estava quase me explodindo de tanta alegria de vê-lo brincar dessa forma, de tê-lo ali comigo.
  - Mas que egoísta, que tal compartilhar às vezes? – Rimos de novo e Alexy mudou de lado, depois do olhar ameaçador que Lysandre mandou, se sentando junto com Anelize e balançando as sobrancelhas de forma sugestiva pra ela, deixando a garota vermelha.
  - Eu não mereço... – Ela respirou fundo e se virou pra mim. - Ah sim Demi, não vi nem um e nem outro, será que Armin e Cat estão juntos? – Ane ainda estava vermelha e batia na mão de Alexy toda vez que ele tentava brincar com seus cachos.
- Finalmente... – Comecei a fazer a minha dança da Vitória.
  - Sabia que tinha dedo seu nessa história. – Dei de ombros e mostrei a língua pra Flor.
  - Só estou feliz que ela não esteja aqui, assim sobram mais bolinhos. – Peguei o bolinho que estava na bandeja de Flor e comecei por ele.
  - Mas então, vocês vão mesmo ficar? – Anelize perguntou e sorriu.
  - É claro que vão, elas não vivem sem a gente. – Castiel apareceu e sentou o lado de Flor, empurrando a garota para o lado e passando o braço em torno do pescoço dela, o garoto surpreendentemente a puxou pra mais perto e beijou sua cabeça, deixando-a ali debaixo do seu braço do seu jeito nada romântico e delicado. Ele tinha um sorriso iluminado no rosto, mas não deixava de se malicioso. Flor empinou o nariz e tentou disfarçar que estava vermelha, mas já dava pra perceber que havia algo de diferente entre eles.
  - Na verdade vocês que não vivem sem a gente, foram nos buscar, ou já se esqueceu Castiel? – E começou.
  - Você estava andando tão devagar que parecia está me esperando. – E lá vamos nós...
  - Que história é essa? – Alexy se inclinou pra encarar Flor e ela ficou ainda mais vermelha, se não fosse ele, acho que os dois iam passar o resto do café da manhã discutindo.

CAPITULO 33 •• Retorno Inesperado.

P.O.V. Armin

  - Não adianta chorar Rosalya, eu simplesmente não caio nessa. Já chega de ser o seu otário, acabou entende? Não que tivéssemos algo concreto, tanto faz... Não deveria nem está me explicando, mas estou, em nome do tempo que gostei de você. – Depois que disse isso ela parou de chorar e secou o rosto, cruzando os braços e mudando a expressão inocente, pra uma que passava longe da que eu conheci.
  - Pois eu juro que farei você, Catrinn e aquela garota nova imbecil pagaram por isso, ninguém me troca, entendeu? Ninguém. – Rosa havia se tornado outra.
  - O que a Demi tem a ver com isso? – Perguntei.
  - Você acha que não ouvi a sua conversinha com aquela imbecil? Às vezes você esquece as minhas habilidades, mas garanto que vai se lembrar logo. – Na verdade tanto fazia as suas habilidades pra mim, nunca parei pra pensar em nada mais do que nas suas curvas, achei delicado não dizer isso.
  - Quando vai entender que o problema é você? – Rosalya foi ficando vermelha e bateu o pé, dando as costas. Fiquei observando-a sumir pelo corredor, enquanto praguejava. Por quanto tempo eu me enganei achando que ela era a garota mais doce que eu conheci? No final ela não passava de uma pessoa totalmente diferente. Esfreguei a mão pelos meus cabelos e respirei aliviado, agora só faltava arrumar uma coisa...

  - Armin? – Ouvi a voz de Cat e me virei, estava mesmo indo procura-la antes de dar de cara com Rosalya.
  - Cat... Estava mesmo te procurando. – Sorri e vi ela se encolher um pouco, olhando em volta parecendo buscar uma saída.
  - A mim? Por quê? – Ela já estava enfiando a mão na bolsa. – Se for pelo jogo que me emprestou, ele está aqui em algum lugar. – Cat continuou a vasculhar a bolsa e eu a parei, segurando a sua mão e puxando a garota pra perto de mim, que evitou o meu olhar e tinha as bochechas vermelhas.
  - Não é o jogo. Quero me desculpar. – A garota tentou puxar o braço, dessa vez eu não seria tão amigo como da ultima.
  - Não precisa se desculpar de nada... E a Rosalya não vai gostar nada de ter ver aqui comigo, melhor você ir. – Balancei a cabeça negativamente e soltei os seus braços segurando seu rosto, mesmo fazendo assim ela não olhava em meus olhos.
  - Não tem mais Rosalya Cat, agora só existe você pra mim... Na verdade há muito tempo, só demorei demais pra perceber. – Catrinn arregalou os olhos e me olhou finalmente. – Vou provar que essas não são palavras vazias. - Me aproximei rapidamente, conhecia seu jeito tímido e a forma como ela relutava a falar de seus sentimentos, mas já perdi tempo o suficiente. Me curvei e selei nossos lábios, não era o certo surpreende-la assim, mas por sempre querer fazer o que era certo, perdi tempo demais. Continuei com os meus lábios nos dela até que a Catrinn pareceu menos tensa, até que ela pareceu me aceitar. Com isso, me senti seguro pra mover minha boca na dela e quando fui correspondido, fiquei imaginando se é assim que o Mario se sente depois que ganha uma vida.

P.O.V. Armin off

  - Não vai mesmo me contar o que estava escrito nos bilhetes pra Flor? – Lysandre perguntou enquanto caminhávamos pelo corredor.
  - Bilhetes? Não sei do que está falando. – Ele soltou uma risadinha e me puxou, passando o braço em torno do meu pescoço.
  - Vocês duas não são as pessoas mais discretas do mundo. – Corei, será que ficou tão na cara?
  - É um segredo. – Mostrei a língua pra ele, que parou de andar e me encarou.
  - Conte-me, adoro segredos. – Lys abriu um sorriso no canto dos lábios, enquanto me lançava aquele olhar que fazia meus joelhos tremerem.
  - E-eu... Eu não posso, não me olhe assim. – Fechei os olhos bem apertados e senti o rosto dele se aproximar, misturando nossas respirações.
  - Então vou ter que te torturar. – O garoto roçou seus lábios na minha bochecha e engoli a seco, depois disso ele começou a distribuir beijos pelo meu rosto e tocou os meus lábios de forma sutil, se essa for à tortura, mate-me assim, por favor.

Só que me enganei e tudo o que é bom dura pouco. Lysandre tocou a minha barriga, começando a me fazer cócegas.
  - NÃO, Cócegas nããão Lys, nãão... Eu vou morrer. – Tentava me soltar dele e me contorcia, estava as gargalhadas.
  - Não vai me contar? – Ele continuou com as cocegas e eu tentava responder, mas estava sem ar. Acho que ele percebeu que estava ficando roxa e parou de fazer cócegas.
  - Nunca! – Anunciei aproveitei pra tentar correr, claro que eu sabia que era inútil.
  - Você está mesmo correndo de mim? – Ouvi a sua voz e logo ele estava na minha frente, bufei.
  - Para de roubar, você não pode usar suas habilidades aqui. – Ele deu de ombros e me puxou novamente, dando um beijo demorado no meu rosto.
  - Eu...
  - Lysandre!  - Ouvimos a voz ecoar pelo corredor e ele se afastou um pouco, pra poder olhar de onde vinha, fiz o mesmo e quando vi a garota de cabelos rosa correndo na nossa direção eu fiquei em choque. Era... Era mesmo ela? Eu estava ficando louca?
  - Lyana? – Ele parecia surpreso, a garota saltou em cima dele e o abraçou, que parecia está em choque. Eu fiquei ali, congelada, sem saber o que fazia.
  - Quando você voltou? – Ele perguntou esquecendo totalmente que eu estava ali.
  - Ontem à noite, no ultimo ônibus... Já era pra estamos aqui há muito tempo, mas houve um pequeno acidente. – Quando ela falou isso até a minha visão ficou turva.
  - Senti tanto a sua falta, eu... – Ela começou a acariciar o rosto dele e o encarava de uma forma que não me agradou nadinha. Peguei na mão de Lysandre e apertei, pra vê se ele lembrava que eu estava ali. Funcionou, já que o vampiro se livrou dela bem rápido e me puxou pra perto.
  - E essa é? – Ela me olhou com cara de nojo e eu sorri.
  - Essa é a minha namorada Demetria, Demi essa é Lyana, uma velha amiga. – NAMORADA? ELE ME CHAMOU DE NAMORADA! A HÁ HÁ HÁ MORRA VACA! Digo...
  - É um prazer te conhecer. – Ela não tentou disfarçar a sua frustração.
  - Velha amiga Lysandre? – A maluca o encarou e ele acenou com a cabeça. – Você me trocou por isso aí? – Opa, ofendeu.
  - Não havia nada pra ser trocado. "Isso aqui" é a quem eu pertenço. – Ele disse isso e saiu me arrastando pelo corredor. Minha cabeça estava totalmente zonza e se elas nos descobrissem? Aquilo me deixou tensa... Precisava falar urgentemente com Flor.

  **

  - Você parece chateada. – Ele moveu uma mecha do meu cabelo e beijou meu pescoço. Lysandre estava sentado no banco de madeira que fica no telhado, comigo no colo. Tentei não demonstrar tanto a minha confusão, mas como sempre ele conseguia me ler com facilidade.
  - Ela é aquela menina da foto. – Falei abaixando a cabeça e encarando meus dedos, saber que ele teve algo com ela e agora ela estava de volta me deixou mais insegura ainda.
  - Sim, é a menina da foto. – Ele falou de forma tranquila e fiz bico, falava como se ela não fosse nada. Suspirei e o sentir tocar meu rosto. – Olha pra mim. – Obedeci e o vi sorrindo.
  - Que é? – Ele se aproximou e beijou minha bochecha, subindo os lábios até a altura da minha orelha.
  - Você fica linda com ciúmes. – Depois disso ele mordeu o lóbulo da minha orelha e me arrepiei, ele tinha que fazer isso justo quando eu queria ficar brava?
  - E-eu não estou nada, para. – Minha voz saiu falhada, “concentre-se”  pensei, mas era impossível com aqueles lábios na minha pele.
  - Vamos deixar uma coisa clara aqui, o que sinto por você vai muito além da compreensão humana e até mesmo de outros monstros. Vou resumir. – Ele segurou meu queixo e me fez olha-lo de novo, agora Lysandre estava bem sério. - O mundo sem você é como uma pena de morte, entendeu? – O que eu poderia dizer depois de ouvir algo assim? Eu juro que tentei abrir a minha boca, mas sabia que qualquer coisa que dissesse iria estragar aquele momento, então apenas o beijei, eu tinha certeza absoluta que não conseguiria mais viver sem ele, simplesmente não conseguiria.

  **

P.O.V. Flor

  - Como se eu estivesse com ciúmes de você, filhote de Chuck. – Resmunguei e bati o pé, me dava nos nervos esse jeito convencido dele.
  - Então por que ficou tão brava quando Lyssa veio falar comigo? – Dei de ombros.
  - Por que a achei muito mal educada, apenas. – Castiel se aproximou e segurou os meus braços, me fazendo descruza-los. Em seguida me puxou pra perto dele, com aquele sorriso convencido nos lábios... QUE ÓDIO desse sorriso.
  - Você está morrendo, repito: morrendo de ciúmes. Está escrito na sua testa hamster. – Tentei me livrar de suas mãos pra lhe acertar um soco na fuça, mas ele infelizmente era mais forte do que eu. Tentei dar uns chutes também, mas ele estava mais esperto do que antes.
  - Me solte de uma vez seu ogro, não estou com paciência pra você. – Ele deu outra risada e me pressionou na parede, beijando o meu queixo.
  - Tudo bem ciumentinha, eu me calo... – Depois ele apanha e não sabe o motivo. - Mas que antes fique claro, não estou nem aí pra ela. – Eu acreditaria que ele era outra pessoa, se ele não tivesse um jeito tão grosseiro de falar às coisas que sente, mas me contentava com aquilo, por que sei que Castiel está perdidamente apaixonado por mim, sentia isso nesse beijo que ele acabara de me roubar.

P.O.V. Flor Off

CAPITULO 34 •• Um lado da história.

P.O.V Flor

  - Por favor, Callisto, é caso de vida ou morte. – Fiz cara de choro, eu prometi que não a atrapalharia mais na leitura, mas se não fizesse o plano não daria certo! E ela nunca para de ler.
  - O que você quer na sala dos representantes? – Ótima pergunta, sorte que já tinha pensado em uma desculpa.
  - Lembra que te contei que viemos parar aqui no lugar de duas pessoas? – Ela afirmou com a cabeça. – Então, acho que são as gêmeas mal educadas!  – Callisto me encarou desconfiada, como sempre, e tentei parecer o mais séria possível. – Estou preocupada, se forem mesmo elas e descobrirem que somos humanas? – Não foi uma mentira completa, afinal estava mesmo querendo dar uma fuçada na inscrição daquelas duas.
  - Por que ainda te dou ouvidos? – Ela levantou e eu quase saí saltitando, espero que Demi consiga mesmo realizar a sua parte do plano.
Estava chovendo quando saímos da biblioteca e não era chuvinha pouca não, era um tremendo temporal. Já vi que dona Demi vai pular pra minha cama hoje.
Quando chegamos à sala dos representantes olhamos em volta e nem sinal do Nathaniel, era domingo então não seria difícil encontrar a sala vazia. Entramos e Callisto fechou a porta atrás de nós.
  - Eu fico vigiando...
  - Nem pensar, se me ajudar a procurar vai ser mais rápido. – Ela pareceu relutante, mas decidiu ajudar. Começamos a mexer em todos os arquivos, era bom a Demetria se adiantar, não sei quanto tempo conseguiria enrolar.
  - Vem vindo alguém. – Callisto falou e eu saltei na direção dela, pegando seu braço e correndo pra dentro de uma sala gigante de arquivos que ficava anexa à sala dos representantes, era bom ser Demi.

POV Flor off.

  - Uaaah, esse temporal começou do nada! Que bom que você estava lá pra me ajudar a levar a Cris pra enfermaria. – Falei depois que entramos na sala dos representantes, sentia muito por envolver ela no meu plano: Cupido em ação 9.0. Esse tinha que dar certo, já que os outros oito falharam.
  - Já disse que às vezes acho que ela finge, só pra passar um tempo com Leigh? – Ele falou e fechou a porta, suspirando cansado. O som da chuva só ia aumentando.
  - É o amor... E já que Leigh agora é meu cunhado, posso ter uma conversa com ele. – Soltei uma risada boba e rodopiei pela sala.
  - Você e essa sua mania de juntar casais. – Nathaniel massageou as têmporas e eu ri novamente.
  - Eu parei de tentar juntar as pessoas, agora vou ocupar tooodo o meu tempo me juntando com Lysandre. – Menti, será que ele ficaria bravo se soubesse que ele era a vítima do momento?
  - Muito me preocupa essa sua relação com Lysandre... Apenas não o deixe ficar tomando do seu sangue, entendeu? – Parei de girar e sentei no sofá, acenando positivamente com a cabeça.
  - Pode deixar grilo falante... Mas agora que estou de volta, você não quer me contar a história complicada? – Fiz carinha de pedinte.
  - Você não tinha algo pra buscar aqui? – Ele tentou desviar do assunto e cruzei os braços, fazendo cara de choro.
  - Por favor, Naaath! Agora que essas meninas voltaram... Por favor, deixe me saber o que aconteceu. – Ele respirou fundo e se sentou no sofá ao meu lado, concordando com a cabeça. Desejava de coração que Callisto estivesse escondia em algum lugar, escutando.
  - Te preocupa saber se Lysandre voltaria pra Lyana é isso? – Eu acenei com a cabeça, isso me preocupava também.
  - Na verdade todos foram me contando sempre os pedaços da história e eu não sei o que pensar. – Fiz bico mais uma vez.
  - Se eu te contar promete que vai parar de tentar me reaproximar da Callisto? – Congelei e engoli a seco.
  - Eu não... – Nathaniel me olhou sério, e concordei com a cabeça.
 
  - Certo, lá vai...  – Me arrumei no sofá e o encarei, mal posso acreditar que alguém vai me contar o babado do passado. - Conheci Callisto quanto tinha aproximadamente uns seis anos, antigamente nós monstros costumávamos a maioria ter a educação em casa e ela é filha da antiga professora de ballet de Ambre. Enquanto minha irmã fazia Ballet eu tinha o horário livre e passava esse tempo com Callisto, nos víamos duas vezes por semana e nos tornamos muito próximos. – Ele fez uma pausa e se ajeitou no sofá. - Quando completei uns 10 anos uma escola de ensino fundamental apenas para monstros foi fundada e então passei a estudar lá, foi aí que conheci Anelize, Castiel e logo em seguida Lysandre. Nos tornamos muito amigos, fazíamos tudo junto.  Ambre nos odiava cada vez mais, por nunca ter conseguido se encaixar no grupo. – Ele revirou os olhos, parecia lhe fazer mal se lembrar como a irmã é uma vaca. - Não muito tempo depois chegaram Lyana, Lyssa e Ken. Não gostávamos muito dele, mas como Lyana e ele eram muito próximos o aceitamos no grupo. Nessa época tudo parecia bem, éramos crianças ainda, mas todos sabiam da minha relação com Callisto. Lyana era apaixonada por Lysandre e Lyssa obcecada por Castiel, e isso começou a afasta-las de Ken. Ele não era como hoje... Era... Digamos... Mais nerd. - Eu bem me lembrava da foto onde ele parecia outro Kentin. – De qualquer forma era visível que por mais que Lysandre estivesse com Lyana, por serem parecidos, ele não gostava dela o suficiente. O que não vem ao caso, acontece que a minha irmã começou a fazer a cabeça de Kentin e ele mudou totalmente chegando ao que é hoje. Ambre junto com Charlotte passou a infernizar a gente, usando ele como bibelô. Um dia Lysandre pegou Kentin beijando Lyana e daí você já imagina o estrago. Não era uma atitude normal dele, por isso logo descobri que tinha dedo de alguém nisso... E algo me diz que Melody também está envolvida na história.  – Nathaniel ficou pensativo por um tempo e então suspirou. – Resumindo: Ambre, Ken e seu grupo misterioso conseguiram nos afastar, houve uma época que nem mesmo Castiel e Lysandre se falavam. Eu ainda tenho as minhas dúvidas de como, mas tenho certeza que essas mesmas pessoas fizeram as gêmeas serem expulsas da escola. – Certo, começava a entender por que todos não gostavam de Ken. Um silêncio estranho reinou entre nós.

  - Mas e sobre você e Callisto? – Perguntei e ele pareceu desconfortável. – Você me falou algo sobre sacrifício... – Nathaniel baixou a cabeça e suspirou, seu olhar tornou-se triste imediatamente.



CAPITULO 35 •• Lies.

P.O.V. Nathaniel.

  “Tarde da noite e a chuva está caindo. Eu te trago de volta das minhas memórias, prometi a mim mesmo que ficaria bem sem você, mas não consigo evitar.”

  - Eu mesma a afastei. – Prometi que nunca revelaria isso a ninguém, por que essa era uma parte da minha fraqueza, mas quanto mais tempo eu guardava isso dentro de mim, parecia que maior era o peso que eu tinha que carregar.
  - Você... Você não a ama? – A voz da garota ao meu lado era bem surpresa, eu virei o meu rosto e encarei seus olhos grandes, repletos de confusão.
  - Existem algumas raças que só amam uma vez na vida e a minha é uma dessas. "Essa coisa" acontece de formas diferentes, no meu caso foi na primeira vez que a beijei que soube que ela era a minha garota destinada. Quando isso acontece, ela se torna a única. Nunca contei a ninguém, mas Callisto é a minha única, entende? Não importa quanto tempo passe, ela continuará a ser a garota que eu amo. – Aquilo era um peso saindo lentamente das minhas costas, mas ainda doía saber que o meu primeiro beijo com Callisto foi o beijo da nossa despedida.
  - Eu... Então por que a afastou? – Demi perguntou e eu respirei fundo mais uma vez, coçando a nunca e encarando o chão.

  - Meu pai é o alfa de uma mantilha muito poderosa e eles se acham os donos do mundo. Não podem se envolver com ninguém abaixo deles e fazem o que bem entendem. Ele me criou pra ser aquele que ficaria no lugar dele quando chegasse a hora, seu primogênito e essa é uma responsabilidade maçante. Eu me dava bem com meu pai até os seis anos, quando descobri que minha mãe morreu depressiva pela traição dele, que gerou a Ambre. – Essa história me enoja, mas já havia começado. – É incrível que ele sempre dizia como não devíamos misturar a nossa raça e deu aquela cria de cobra, por sorte quando acontece a mistura de raças a criança puxa só a uma e no caso... Ela puxou a mãe. Acontece que meu pai pode errar e por isso aceitou Ambre depois que sua mãe morreu. Ela tinha a mesma idade que a minha, sabe? Tudo pelo que ele fez minha mãe passar... – Fiz uma pequena pausa e Demi tocou a minha mão, me dando força a continuar a história, não pude deixar de tentar sorrir. – Depois a minha convivência com meu pai se tornou um inferno.  A única coisa boa que havia nos meus dias era quando Callisto ia pra minha casa, esperar sua mãe terminar a aula. Eu e meu pai brigávamos o tempo todo e eu pouco me importava com as atividades da mantilha ou sobre o que ele queria me ensinar. Quando passei a estudar junto com Callisto, ficamos ainda mais próximos e eu, que já não gostava mesmo de Ambre, consegui mantê-la ainda mais afastada.  Ela não gostou disso é claro... Ambre mudou radicalmente, não sei quem a infectou daquele jeito, por mais que fosse mimada, Ambre não era tão traiçoeira. Sabendo do meu romance com Callisto, ela avisou ao meu pai e disse que estava me afastando da mantilha por que estava me envolvendo com uma raça inferior. Na verdade ela foi envenenando ele aos poucos e quando eu percebi a coisa tinha saído do meu controle. – Parei de falar e mordi o lábio inferior.

  “Eu bebo toda a bebida que não posso beber tentando preencher o meu coração vazio. Rezo para que talvez eu consiga te esquecer, um dia sem você é muito longo.”

  - Você enfrentou seu pai? – Soltei uma risada debochada e balancei a cabeça negativamente.
  - Eu tentei, mas ele não precisou dizer muito pra me fazer desistir. Apenas: “Que triste seria se algo acontecesse com ela, não é mesmo?”. - Fechei a mão que Demi não segurava, em punho.
  - E-ele não... Ele não faria isso, faria? – Voltei a encara-la.
  - As pessoas que meu pai não gosta morrem misteriosamente e ele é sempre inocente. – Demi pareceu assustada com isso. – Fiz um trato com meu pai e comecei a afastar Callisto aos poucos, era egoísta demais pra fazê-lo de uma vez... Até que Ambre voltou a descontar sua frustração e começou a persegui-la, a machuca-la e principalmente a colocar suas marionetes contra ela. Callisto nunca foi fraca e nunca me contou nada, mas eu sabia que isso havia se tornado demais pra ela. Eu era tão novo e imaturo, eu poderia acabar com Ambre facilmente, mas meu pai era a pessoa que eu mais temia no mundo. Mas não temia por mim... E se ele a machucasse? Você não pode imaginar a dor que de não poder proteger a pessoa que você ama. - Fiz uma pequena pausa e retomei o fôlego. -  Em troca de que meu pai a deixasse em paz eu abandonei a música, os sonhos, a vontade de ir para o mundo humano, a vida rebelde que levava e me tornei um bom aluno, me afastei de todos pra poder me concentrar em ser um exemplo e o mais engraçado... Nada disso, nada disso fez meu pai me enxergar. Já me revoltei demais, bebi, xinguei e enlouqueci o suficiente... Agora só posso viver, sem nenhum sentido, sonho, perspectiva. Mas saber que ela está bem é o suficiente. Entende por que dói tanto quando tenta nos juntar? – Perguntei e vi que Demi estava com os olhos úmidos.

  “Isso é uma merda, está me enfurecendo meus pensamentos em você, estou enlouquecendo. Quero te ver, mas fui avisado que não posso, está tudo acabado... Estarei bem aqui.”

  Um som alto de porta batendo ressoou pela sala e Callisto surgiu na minha frente, com os olhos vermelhos. Saltei do sofá com o susto de vê-la ali e percebi que logo atrás dela vinha Flor, com uma cara assustada.
  - Como... Vocês estavam...? – Eu não sei explicar como me senti naquele momento, era como se tivesse levado um soco na boca do estômago, só que pior...
  - Vem Demetria. – Flor pegou no braço de Demi e a arrastou pra fora da sala, fechando a porta e me deixando a sós com Callisto, que ainda tinha os olhos vermelhos, eu odiava vê-la assim! Era enlouquecedor.

  - Por que não em contou Nathaniel? – Ela estava brava e eu entendia, fiz ela me odiar, fiz ela acreditar que eu a odiava, roubei o seu primeiro beijo e fui um cretino, só pra que ela acreditasse que eu não a amava.
  - Eu...
  - Você me fez acreditar que eu era só mais uma garota da sua lista, me tratou assim! Depois quebrou o meu coração sem a menor piedade. Sabe o quanto eu sofri tentando entender o motivo? Sabe como foi difícil ter ver dia após dia, mudando, se afastando...?
  - Eu sinto muito se a sua vida era mais importante pra mim.
  - Não é esse o problema, o problema não é a MINHA vida, o problema é a SUA vida. Eu não pedi que se sacrificasse por mim, eu não me importaria com o que viesse se você ao menos tivesse contado.
  - E falar o que Callisto? “Oi, vamos nos separar por que meu pai é um desgraçado e ele vai destruir a vida da sua família.” Por que não é só de você que estamos falando aqui, dos seus pais também. Pro meu pai é apenas uma brincadeirinha acabar com a vida de alguém. – Nossas vozes estavam alteradas, mas me sentia aliviado por ela saber de tudo agora. Eu jurei que não a contaria, mas não contei diretamente a ela, não é?
  - Você prometeu! Prometeu que nunca esconderia nada de mim. – Lágrimas, além delas a sala se tornou muito mais fria, como acontecia quando ela não podia controlar seus sentimentos.

“Sinto muito, mas eu te amo, é tudo uma mentira. Eu não sabia, mas agora sei que preciso de você. Sinto muito, mas eu te amo, além da raiva. Eu te afastei com essas palavras furadas, sem perceber...”

  - ME DESCULPE ENTÃO! Por ter amar! Eu menti, eu menti sobre tudo, sobre não gostar do seu sorriso, da forma que mexe nos seus cabelos, por dizer que odiava a forma como você me olha, a sua forma de andar, os momentos em que ficávamos sentados um ao lado do outro sem precisar dizer nada. Me perdoe se eu menti por te amar demais, mas quando eu te disse adeus eu não sabia que poderia ser capaz de mover o mundo pra ficar do seu lado.  Eu não sabia que estava destinado a te amar... Como acha que eu me senti? Acha que sofreu sozinha?
  - Você só precisava falar... Tudo o que aconteceu, tudo poderia ser evitado... – Eu queria pensar como ela, juro que queria ver por esse lado.
  - DEPOIS DE TUDO? Depois de ter te destratado? De tornar nossas vidas um campo de batalha? Depois de ver você nos braços de outro, você queria que eu voltasse e dissesse: “Olha, percebi tarde demais, mas você é tudo pra mim”? Como é fácil dizer... Como é fácil dizer.  – A Sala foi se tornando mais e mais gelada.
  - Eu só beijei Dake por que era uma criança idiota e pensei que você sentiria ciúmes. – Ri de forma debochada.
  - Ciúmes? CIÚMES? Eu enlouqueci... Você tem ideia do ódio que fiquei? Faz ideia do quão baixo eu desci pra o sabotar e fazê-lo expulso da escola? – Ela arregalou os olhos.
  - Foi você? – Acenei com a cabeça.
  - Ainda sou egoísta o suficiente pra não consegui te ver com ninguém. Dizem que esse não é o jeito certo de amar, mas seja como for é mais forte do que eu. – Meus olhos ardiam. Pela primeira vez desde que a afastei eu estava chorando, parecia patético e ridículo, mas era minha alma sendo lavada enquanto as mentiras iam sendo reveladas.

  “Eu ainda não consigo te esquecer, acho que nem irei até o dia que eu morrer, yeah... As cicatrizes que dei para você sararam? Me desculpe por nunca ter feito nada por você.”

  - Eu não sei o que dizer... – Ela mais uma vez enxugou seus olhos, via a sua relutância, via sua confusão.
  - Me diga como poderia dar certo... Me diga o que deveria ter feito pra não ter te perdido. – Esfreguei a mão pelo rosto e tentei me recompor, ela visivelmente segurava o choro e eu me aproximei. Trazer a tona todo aquele passado trouxe a tona também a mesma coisa que senti ao beija-la pela primeira vez. – Me diz o que faço pra te deixar ir... – Quando disse isso estava a apenas um passo dela, estendi a mão e toquei sua bochecha molhada pelas lágrimas geladas, só de tocar a sua pele eu tremia e sabia que não era o frio, era apenas o receio de voltar a ser o covarde que fui antes e deixa-la continuar a chorar.
  - Você mão percebeu? Nunca me perdeu. – Sua voz era baixa e ela mantinha seus olhos fechados, mais uma lágrima escorreu e essa foi de encontro a minha mão, enquanto meu coração pulsava tão rápido que pensei que ele iria rasgar meu peito.

  O que mais poderia ser dito? Eu sabia que não podia mais vê-la, toca-la e me entregar de novo a esse sentimento, mas também sabia que era tentar me enganar fingir que podia viver sem nunca ao menos ter tentado. Callisto ainda mantinha os olhos fechados quando eliminei o resto da distância que havia entre nós e a beijei, a beijei pela segunda vez desde que a conheci. Agora esse não era um beijo de despedida e sim de recomeço.
                “Eu não sabia, mas agora sei que preciso de você.”

CAPITULO 36 •• Verdadeira face

P.O.V  Lyana

  - Ora, o bom filho a casa torna. – Ouvi a voz sarcástica de Melody assim que me aproximei.
  - A filha aqui não sairia da casa, se não fosse sabotada. – Falei baixo e sorri de forma debochada, olhando em volta.
  - Fique tranquila, aqui ninguém nos escutará. Por que me chamou? – Ela tinha aquele seu olhar de interesse, aquele que eu precisava que ela tivesse.
  - Você sabe o motivo! Mas antes preciso saber por que você e Ambre não seguiram com o plano original há dois anos? – Ela revirou os olhos e se apoiou na parede da minúscula sala que nos encontrávamos, parece que ali funcionava o clube de jornalismo, ao julgar pelo abandono dava pra saber que havia sido desativado há algum tempo.

  - O plano era: Destruir o grupo e foi assim que fizemos. Sabe o que mais me intriga Lyana? É por que você queria destruir um grupo do qual fazia parte? – Como sempre a garota tinha aquele jeito macio de falar, como se fosse inocente e doce.
  - Eu expliquei mil vezes, não gostava de Anelize e Callisto, muito menos de Ken no meu pé, isso só fazia irritar o Lysandre. Foi Ambre não foi? Foi ela que colocou os artefatos roubados no meu armário e no de Lyssa, não foi? Juro que vou matar aquela vaca. – Melody soltou sua risada melódica e se aproximou de mim, do seu jeito manso.
  - Foi, eu a mandei fazer. É engaçado não é? Ambre está sempre tão sedenta por atenção que não percebe como está sendo usada e manipulada por mim, uma classe abaixo a dela. Foi tão fácil induzi-la, comandá-la e ainda é. – A garota riu e fechei as mãos em punhos.

  - Nós tínhamos um acordo! Por sua culpa perdi o Lysandre. – Outra gargalhada, aquilo estava me irritando profundamente.
  - OH Lyana, faça-me o favor! Lysandre nunca foi seu! E você o “perdeu” no dia que forjou aquele seu afogamento, começou daí. Você é meio burra né? Vampiros odeiam muita água junta e você vai logo se jogar em uma piscina... Sobrou pro Ken te resgatar. Pra você ver como o seu vampirão gosta de você... Ele nem sequer ficou preocupado, ainda lembra a expressão dele?  – Melody falava e me rodeava, ela pegou uma mecha do meu cabelo, mas me afastei imediatamente.
  - Ele me ama...
  - Mesmo? Vamos ver... Mesmo depois do desastre da piscina você não aprendeu e achando que Lysandre era idiota, beijou Ken. Foi lindo ver o vampirão a ponto de matar vocês dois, teria sido perfeito se Castiel e Nathaniel não o tivesse impedido. Sabe o que mais machuca a honra de um cara como Lys? Ser feito de idiota. – A garota mostrou a sua língua de cobra e sorriu em seguida.
  - Eu tinha tudo sobre controle, eu o teria de volta... Era só questão de tempo. – Anunciei, meus olhos estavam embaçados.
  - Tsctsc... Tempo... Tic, tac. – A garota parou diante de mim e me encarou. – Seu tempo acabou, ninguém tenta me enganar e sai ileso, garotinha. O combinado era nos livramos das duas intrometidas e no final você e a sua irmãzinha queriam se livrar de nós e esse foi o seu maior erro. Minha doce Ambre queria o Castiel e Lyssa sabia, mas mesmo assim tentou se engraçar com ele. – Fechei os olhos e respirei fundo, não iria chorar.

  - Mandasse ela embora, não a mim. – Melody parecia surpresa com o que disse.
  - Ora ora, cadê o amor de irmã que você tanto prezava? – Dei de ombros e a encarei.
  - Não me importo! Todas as armações que fiz, em tudo o que ajudei é por que queria Lysandre só pra mim e ainda quero... Por isso vim aqui. – Ela pareceu se interessar.
  - Você é doente... Mas eu gosto disso. Fale... – Melody encostou-se à parede novamente e ficou me encarando.
  - Quero que me ajude a me livrar das duas garotas novas, quero que me ajude a destruir a garota que está com o MEU Lys. – Ela respirou fundo e fechou os olhos por um momento.
  - Sabe quanto adoro esse cheiro? Cheiro de vingança... E qual sua ideia pra fazer isso, queridinha? – Balancei a cabeça negativamente.
  - Eu ainda não tenho nenhuma, por isso que vim! Você envenenou Ambre contra todos e todos contra Ambre sem ela perceber, me ensinou a como enganar Ken, você teve a ideia de colocar os itens roubados dentro do armário... Eu só ajudei com tudo, ajudarei novamente. Não quer se livrar de Callisto de uma vez? Pelo que vi, ela e Nathaniel voltaram a se falar e isso é só o começo, acha que eles não ficarão juntos outra vez? É vantagem pra todas nós, mas...
  - Mas...?
  - Lyssa ficará com Castiel, e não Ambre. – A garota deslizou os dedos pelos seus longos cabelos castanhos e sorriu.
  - Pensei que não se importasse... De qualquer forma, Ambre me é muito útil. Como você me será mais útil que ela? – Já havia pensado nisso.
  - Quando terminarmos colocamos toda a culpa nela, e eu e minha irmã lhe serviremos tão bem, ou melhor do que ela. – Melody se aproximou e se curvou um pouco, me olhando de perto.
  - Quer que eu troce um monstro classe C, por duas de classe D? – Acenei positivamente com a cabeça.
- Você tem o controle de Ambre até contraria-la, todos sabem disso. Se ela se irritar você será a primeira que ira cair, ela sabe todos os seus podres e o único objetivo de Ambre sempre foi chamar a atenção de Nathaniel... Acha mesmo que ela vai entregar o irmãozinho pra você? Me poupe Melody, até você sabe que isso nunca acontecerá. Nos livramos de Ambre, fazemos ela passar por mentirosa e ninguém vai acreditar quando ela resolver contar o que aprontamos... Já eu e Lyssa, não teremos nada contra você e seremos suas servas fieis.  – Vi o brilho nos olhos azuis dela, estava ganha.
  - Servas, heim? Gosto disso... Quanto à ideia, eu tenho uma. Mas vamos precisar do seu amado amiguinho, Ken... – Tudo o que não queria era ter que voltar a manipula-lo, mas faria o que fosse preciso.
- Feito. – Apertei a mão de Melody, dessa vez ninguém me sabotaria.

P.O.V Lyana off

5 dias depois

  - Cris, o que está fazendo aqui? – Estranhei vê-la sentada em um banco no pátio da escola. - Er... Lys, pode indo na frente? – Ele entendeu que queria falar com a minha amiga e depois de me dar um selinho foi caminhando em direção ao restaurante. Sentei no banco ao lado de Cris e percebi que ela não parava de encarar o chão.
  - Ela não sai mais de lá, Demi-Chan. – Sua voz tinha um tom tristonho, entendi do que ela estava falando.
  - Rosalya continua enfurnada na enfermaria? – A garota acenou positivamente com a cabeça e suspirou, deitando a cabeça no meu ombro.
  - Ela vai o tempo todo, e fica se empurrando nele, se esfregando e chamando sua atenção... Eu cansei de olhar, dói demais olhar. – Cris fungou e eu senti meu coração ficar pequenininho, ela sempre sabia o que dizer pra me deixar feliz e agora eu não sabia o que falar. Ergui a mão e toquei seus cabelos, desalinhando-os.
  - Hei, essa não é a Cris-Chan que eu conheço! Ânimo! Tenho certeza que Leigh sente a sua falta, vamos fazê-lo perceber isso. – Ela ergueu a cabeça e fez um bico, não parecia animada com a ideia.
  - Não sei, olha pra ela... Ela é tão...
  - Ridícula, sem graça, peituda, perna fina, escandalosa, mimada, enjoada, oferecida... – Parei de falar quando ouvi as risadas de Cristãs.
  - Já entendi, entendi. – Ela enxugou uma lágrima solitária que havia ocorrido pelo seu rosto e eu levantei.
  - Certo, vamos iniciar a operação “Adeus RosaVaca” afinal você é uma succubbus é naturalmente mais se xy e bonita do que aquela sem sal, sem tempero, sem noção, sem... – Cristãs colocou a mão sobre a minha boca e rimos, ela parecia mais animada.
  - Obrigada, você é uma boa garota. – Balancei a cabeça e sorri.
  - Não suporto vê um cara tão legal quanto Leigh perder a oportunidade de ficar com alguém que é perfeita pra ele. – Certo, lá vou eu atacar de cupido de novo. Deu certo com Armin e Catrinn, Nathaniel e Callisto, por que não daria com Leigh? Cristãs me encarou bem e franziu a testa.
  - Você está pálida e com olheiras. Aconteceu alguma coisa? – Suspirei, havia reparado isso também quando me olhei no espelho essa manhã.
  - Não é nada demais, apenas fome. – Ela ainda parecia desconfiada, será que minha aparência estava tão ruim assim?
  - Certo, vá comer então... Eu tenho algo a fazer.  – Eu concordei com a cabeça e me afastei indo em direção ao restaurante, me sentia fraca, mas com certeza depois de comer iria ficar melhor.

CAPITULO 37 •• Bons momentos.

Entrei nos restaurante e aquela era uma cena muito boa de ver: Todos reunidos! Catrinn e Armin pareciam brigar por um jogo, era engraçado como ele sempre a atrapalhava a jogar, pra que ela não fosse melhor do que ele em uma fase. Callisto estava sentada em uma extremidade e Nathaniel na outra, todos ali sabiam que eles se encontravam escondidos, mas para o resto do mundo eles eram apenas duas pessoas que decidiram esquecer o passado e se tornaram amigos, a face de Callisto era muito mais amigável, mesmo que ela pouco sorrisse. Castiel estava sempre junto com Lysandre a praticar bullying contra Alexy, mas essa manhã especialmente o garoto estava ocupado demais em seus próprios pensamentos. Ane e Flor conversavam alegremente enquanto Castiel, parecia entediado e Lysandre, estava sendo Lysandre: Excepcionalmente lindo, enquanto viajava em seus pensamentos.

  - Essa mesa nunca foi tão pequena. – Falei assim que me aproximei, com um sorriso nos lábios. Lysandre chegou para o lado empurrando Castiel e Alexy e sentei ao seu lado, sentindo o garoto passar o braço em volta dos meus ombros e me dar um beijo sobre a cabeça.
  - Que cara de defunta é essa? – Flor sempre tão gentil e sutil. Ela não havia me visto pela manhã, já que saiu mais cedo que o normal, provavelmente pra se engalfinhar com Castiel.
  - Não dormi bem à noite... Só isso. – Ali a desculpa mudava, eu sabia por que me sentia assim, mas não queria que mais ninguém soubesse, não me sentia tão mal como parecia e todos fariam uma dramalhão.
  - Espero que num tenha pulado a janela pra se atracar com Lysandre no mato. – Ela falou e ouvi Lysandre tossir e começar a ri logo em seguida, acompanhado por todos os outros, enquanto eu ficava vermelha e me encolhia.
  - Olha quem fala, você não espera nem chegar ao mato pra se atracar com o cabeça de fósforo. – Fiz careta e ela emburrou quando todos riram dela... Viu como é bom?
  - Infelizmente Flor, você não acertou dessa vez. E tenho que concordar que se tornou comum ver você se agarrando com Castiel no corredor. – Ele continuou a ri e acertei um tapa em seu peito pelo “infelizmente”, ficando ainda mais corada, pelo menos as risadas era de Flor e Castiel, que começaram a brigar, pra variar...
Lysandre me puxou pra mais perto e deitei a cabeça no seu peito enquanto recebia seu carinho, era tão calmo ficar assim com ele. Sentia que todo o tempo alguém estava nos observando e algo que dizia que esse alguém era aquela garota... Lyana.


  O café da manhã foi tão tranquilo quando podia ser, assim como as primeiras aulas.
Nossa última aula foi educação física e é por isso que estávamos no vestiário, nos trocando. Tirei a blusa suada do treino e Flor se encostou no armário ao meu lado.
  - Quando emagreceu tanto? – Soltei uma risada alta.
  - Agora eu sou a magra? Estou contente por ter parado de me chamar de baleia, feria meus sentimentos. – Dei de ombros e ela fez careta empurrando o dedo contra as minhas costelas. – Aíi, isso dói ou maluca. – Flor me olhava desconfiada, mas não comentou nada. Ane já estava pronta e sentou, acompanhada de Catrinn.
  - Ane... Você está estranha ultimamente. – Anunciei, depois de fechar o meu armário e colocar a blusa branca do uniforme.
  - E-eu? Não... É impressão sua. – Foi só eu comentar e ela corou, levando as mãos ao rosto.
  - Eu também notei isso, aconteceu algo e não quer nos contar? – Catrinn sentou ao lado dela e deu um leve empurrão com o ombro.
  - Vocês estão imaginando coisas. – Soltei os cabelos e comecei a penteá-los tentando entender o motivo, quando Callisto se aproximou, com aquele seu olhar esperto de sempre.
  - É por causa do Alexy? – Foi só a garota dizer esse nomezinho básico, que Ane congelou no lugar se encolhendo e olhando mais fixamente para o chão.
  - Já vi tudo... – Revirei os olhos e sentei do lado dela, tocando a sua mão. – Pode falar o que está te incomodando, nós estamos aqui pra lhe ajudar. – Sorri e ela forçou um breve sorriso.
  - É que... Ontem, ele foi me ver na sala do clube e eu estava só, por que ainda não tinha terminado o meu bolo, como sempre ele foi irritante e me jogou nas costas, mas dessa vez nós caímos... – Acho que estava começando a entender e saltei do banco.
  - ELE TE BEIJOU? – Gritei, mas logo Flor saltou me acertando um tapa e me mandando ficar quieta. Não da nem pra ser feliz aqui, oxe.

  - É-é... Não foi bem um beijo, nossos lábios encostaram e depois disso ele me tirou de cima dele, me levantou e saiu. Hoje... Hoje ele nem falou comigo. – Senti a angustia em sua vez. Então era por isso que ele estava daquele jeito essa manhã?
  - Estranho! Isso não parece muito o estilo do Alexy... – Catrinn deu de ombros, todas ali pareciam confusas com a história.
  - Claro que não é o estilo de Alexy, todos sabem que ele é gay. – A voz soou pelo vestuário e a garota de cabelos curtos e rosa, apareceu e encostou-se no armário. Seus olhos negros e bem delineados focaram bem em Flor e depois em Anelize, aquela deveria ser a Lyssa.
  - O que está dizendo? – Flor já não gostava bem da vaca, ela ainda vinha provocar.
  - Todos no colégio sabem que ele é o maior gay de todos até mesmo Ane, e que a paixão de Alexy é o professor Dajan. Não viu como eles conversavam animadamente durante a aula? Ane, eu sempre te disse que não era certo espichar os olhos pra ele. – Ela falava como se fosse sua amiga, não que não fosse (disso não sei), mas senti ciúmes do fato dela chegar aqui e querer agir como se tivesse o direito de se meter.
  - Não diga besteiras, Alexy não é gay...– Cruzei os braços e revirei os olhos, estava cansada dessa garota e da irmãzinha dela sempre chamando a atenção e bla bla bla.
  - E-ela tem razão, eu não acho que ele goste de garotas...
  - Não dê ouvidos a ela! Anelize, aposto que se você finalmente confessar seu amor, ele não iria recusa-la. – Empinei o nariz, minha vontade era enfiar a escova no nariz daquela praga.
  - E você o que sabe? Chegou aqui ontem e acha que é dona do mundo, me poupe tampinha. O Alexy é gay. G-A-Y! – Flor deu um passo à frente com as mãos fechadas em punho, mas coloquei a mão no ombro dela a puxando pra trás.
- Por que não desaparece garota? – Ane estava com as mãos sobre o rosto, a ouvia chorar baixinho e me sentei de volta ao lado dela, esfregando as mãos nas costas delas, tentando acalma-la.

  - Mas que diabos! Tinha que ser você a espalhar mentiras Lyssa. – Alexy apareceu no vestiário feminino, sua voz estava irritada e seu rosto vermelho. Ele segurou o braço da garota e a puxou, olhando-a nos olhos. - Repita ou eu juro que acabo com você. – Parecia outro Alexy, nunca o vi daquele jeito. Logo atrás dele vieram os outros meninos. Primeiro Armin:
- Irmão você não pode invadir o vestiário das meninas assim. – Ele tocou o ombro de Alexy que se desvencilhou e continuou a ameaçar Lyssa com o olhar, ela parecia congelada.
Depois veio Castiel:
  - Mas que diabos, coloquem uma roupa! Não está vendo que tem garotos aqui? – Castiel falou apontando pra Flor, foi quando me dei conta de que ela estava só de sutiã e saia do uniforme. Acho que ela se deu conta disso também, mas continuou sem se mover.
  - Me visto se quiser! Vocês que deveriam sair imediatamente, seus tarados. – Ela falou tentando esconder a satisfação que sentia ao entender o ciúme na voz de Castiel.
  - Ainda bem que a minha Catrinn está vestida. – Soltei uma risada alta, mas Catrinn deu um tapa no braço do Armin.
  - O que pensa pra ficar entrando assim? Feche os olhos... Tem gente sem roupa. – Ela ficou nas pontas do pé com as mãos esticadas a tapar os olhos dele, que ria e fingia de desviar pra provoca-la.
  - Eu disse que vocês não deveriam... Mas quem está sem roupa? – Lysandre entrou parecendo curioso e quando colocou os olhos em mim, os arregalou e saltou o banco que ficava entre os armários ficando na minha frente. – Mas com mil demônios Demetria, ficou totalmente louca? E vocês o que estão olhando? – Ele resmungou pros meninos que riam e tirou o blazer do uniforme jogando por cima de mim.
  - O queeee? Eu estou vestida. – Reclamei, quando ele ainda irritado me cobria.
- Só da cintura pra cima, querida. Agora todos viram sua calcinha de moranguinhos. – Minha cara foi no chão e quanto mais eles riam, mais corada eu ficava. NÃO ACREDITO QUE ME ESQUECI DE VESTIR AS CALÇAS.

  - Sabia que estava esquecendo algo... Mas Callisto também está... Quando foi que você se vestiu? – Juro que há minutos atrás ela estava apenas com as roupas de baixo.
  - Chega dessa balburdia, estamos no vestiário feminino e vocês deveriam sair agora. – Ouvi a voz de Nathaniel, que vinha andando calmamente e ao se deparar com aquela cena de meninas sem blusa colocou a mão nos olhos e ficou espiando pelas frestinhas.   – Juro que não vi nada... – Ele falou ao sentir o olhar de Callisto, era engraçado vê-lo corado.

  - Me solta Alexy! – Finalmente nos lembramos do motivo de estarmos ali, o garoto soltou o braço dela e Lyssa saiu xingando.
  - Vem comigo. – Ele atravessou de onde estava, pegou na mão de Anelize e saiu arrastando a garota pra fora do vestiário.

  - Não se pode nem ter um momento de garotas, nesse lugar. – Flor reclamou e colocou a blusa, talvez por causa da Barreira que Castiel tentava fazer.
  - Vão, vocês que estão vestidos... Saiam de uma vez. – Ouvi Lysandre falar, ainda de costas pra todos e a minha frente, me arrancando novas risadas.
  - Vê se não vão fazer coisas pervertidas, esse é um vestiário de família. – Catrinn zombou, SÉRIO CATRINN ZOMBOU DA GENTE, a minha imagem pura está indo pelo ralo.
  - Hey... – Ia reclamar, mas todos já haviam saído. Lysandre se sentou no banco e suspirou, abrindo um sorriso malicioso logo em seguida.
  - Pode se vestir agora. – Mesmo depois de tudo que já vivemos, ainda coro quando ele me olha daquele jeito.
  - Nem adianta me olhar assim, você entrou aqui querendo ver “quem está sem roupa”, não vai conseguir nem um beijinho. – Mostrei a língua pra ele, que me segurou pelo braço com aquele sorriso bobo, me fazendo sentar no seu colo.
  - Entrei por que algo me dizia que a única cabeça de vento que ficaria conversando e se esqueceria de vestir alguma peça de roupa, seria você. – Lys mordeu a minha bochecha suavemente e eu não pude deixar de arrepiar.
  - Falou a pessoa que se lembra de tudo... – Ele deu de ombros e tocou o meu queixo, ergueu o meu rosto e juntou nossos lábios. Era mais forte do que eu, nunca conseguiria negar nem um beijinho sequer a Lysandre.


CAPITULO 38 •• Somebody To Love.


P.O.V Alexy
“Eu quero alguém para amar, alguém para amar, alguém para amar. Só para parar toda essa busca agora...”


  - Mas por que essa demora toda? – A aula de educação física havia acabado e as meninas ainda estavam enfurnadas dentro do vestiário, precisava desse tempo todo pra se trocar? Continuei a andar de um lado pro outro até que Armin pousou a mão no meu ombro.
  - Irmão, qual o seu problema? Está estranho desde que acordou. – Dei de ombros e cocei a nuca, todos me encaravam como se também quisessem saber a resposta.
  - É que preciso falar com a Ane. – Sorri e cocei a nuca mais uma vez, sem jeito. Castiel soltou aquela sua risada sacana e deu de ombros.
  - Já passou da hora de você tomar juízo. E é bom que para de ficar azarando as outras meninas. – Ele cruzou os braços e virou o rosto.
  - O que pode falar de mim? Vive aí brincando de gato e rato com a Flor, mas todos sabem que não tem coragem de se declarar. – Cruzei os braços e imitei o movimento de Castiel, que fechou a cara ainda mais.
  - Cala a boca, ow... Você não sabe de nada. – Dei de ombros, estava cansado de esperar. Precisava conversar com Ane, saber como ela se sentiu depois e ontem, mas elas não saiam de dentro do vestiário. Quanto eles se distraíram entrei no vestiário, a maioria das garotas já havia saído, por isso consegui caminhar por entre os armários sem ouvir gritos e apanhar. Será que elas estavam no chuveiro? Uuu... Já que estou aqui, não custa conferir.

  - Não diga besteiras, Alexy não é gay.... – Ouvi a voz de Demi e arregalei os olhos, mas que história é essa de eu ser gay? Nem eu estava sabendo que era.
  - E-ela tem razão, eu não acho que ele goste de garotas... – Congelei, aquela voz era da Ane? Tipo... A minha Ane?
  - Não dê ouvidos a ela! Anelize, aposto que se você finalmente confessar seu amor, ele não iria recusa-la. – A história só parecia mais confusa, minha mente deu algumas voltas e algumas coisas começaram a se encaixar. Fui despertado dos meus pensamentos quando ouvi com QUEM, Demetria estava discutindo.
  - E você o que sabe? Chegou aqui ontem e acha que é dona do mundo, me poupe tampinha. O Alexy é gay. G-A-Y! – Claro, só podia ser ela. Nunca eu e Armin fomos com a cara dessas gêmeas, sabia que Lyana e Lyssa tinham uma aura ruim, e agora só comprovava mais isso.
  - Por que não desaparece garota? – Continuei a andar pelo vestiário, meu objetivo antes era só escutar a conversa delas, mas agora a coisa ficou diferente.
Sem pensar a situação que as encontraria por está no vestiário, avancei até onde elas estavam.
  - Mas que diabos! Tinha que ser você a espalhar mentiras Lyssa. – Aquelas duas deviam ter ficado no buraco de onde vieram, se afogando no próprio veneno. Não sou do tipo que perde a paciência facilmente, mas eu não estou em um dia normal mesmo. – Repita o que disse... Repita ou eu juro que acabo com você. – Segurei no pulso de Lyssa com força. Conhecia sua raça e por mais que meus olhos estivessem na direção dos dela, eu não os fitava realmente. Ignorei o comentário de Armin, assim como seu toque. Enquanto todos resolviam discutir, permaneci ali a encarando.

  - Eu conheço o seu tipo, mas dessa vez você não vai contaminar mais ninguém. – Falei baixo o suficiente pra que só ela escutasse.
  - Contaminar não... Mas destruir com certeza. – Ela falou de forma debochada e apertei mais o seu braço, por mais que soubesse que ela fosse duas caras, era a primeira vez que a verdadeira Lyssa se revelava.
  - Tente, eu vou destruir tão lenta e dolorosamente tudo o que você é, assim como você gosta de fazer com os outros... – Depois de ouvir isso a garota arregalou seus olhos negros.
  - Você não tem coragem pra isso. – Soltei uma risada baixa.
  - Você não me conhece o suficiente. – Arqueei uma de minhas sobrancelhas e pela primeira vez ela tentou se soltar.
  - Me solta Alexy! – Lyssa voltou a subir o tom de voz e eu a soltei. Depois que larguei seu braço a garota saiu apressada de onde estávamos. Percebi que o fuzuê havia diminuído e encarei Anelize, ainda sentada, com seus olhos vermelhos e confusos.
  - Vem comigo. – Caminhei até ela e peguei a sua mão, puxando a garota pra fora do vestiário.

”Eu estive esperando por hoje, eu continuava pensando sobre isso. Tivemos tantos momentos difíceis ao longo desta relação, menina. Quantas vezes nossos caminhos tem se cruzado? Me apaixonando por você o tempo todo.”

  - A-Alexy? – A ouvi chamar e ignorei, não pararia até que estivesse em um lugar tranquilo.
  Desde ontem, depois que a minha boca encontrou a de Ane pela primeira vez, eu senti uma sensação muito estranha como se a minha ficha tivesse caído. Sempre a quero por perto, ela me faz bem, eu gosto do seu sorriso e das caretas que faz quando tendo bagunçar seus cachos, gosto quando ela fica corada, ou quando solta uma risada escandalosa no meio da aula, do seu jeito meigo e esperto, da forma como ela fica linda quando não para de falar sobre que roupa quer levar ou sobre o que ela aprendeu a cozinhar e ontem, ontem descobri que tenho a observado mais do que qualquer coisa. Anelize esteve sempre ali, enquanto eu estava procurando nos lugares errados pela garota certa, ela estava ali, sendo a minha amiga... Só que o que sinto por ela deixou de ser amizade há muito tempo e eu só não percebi. Foi difícil demais alcança-la, mas antes da conversa que ouvi hoje eu não fazia nem ideia de como Anelize se sentia, não que soubesse melhor agora... Mas saberia.
  - Onde estamos indo? – Ela perguntou mais uma vez. Empurrei a porta da sala de música e entrei, puxando-a pra fazer o mesmo.
  - Aqui está bom. – Soltei sua mão e fechei a porta atrás de nós, voltando a olhar Ane. A garota olhou em volta, parecia envergonhada demais pra me olhar.
  - Ane, eu vou fazer duas perguntas e quero que você seja bem sincera... – Ela parecia curiosa e ao mesmo tempo envergonhada. – Você promete que será? – Anelize entreabriu os lábios parecendo insegura e suspirou.
  - E-eu prometo... - Me senti menos tenso e encostei-me à parede, perto da porta.
  - Há quanto tempo você acha que eu sou gay? – Se esse pensamento fosse antigo, explicaria muita coisa. O motivo dela não levar minhas investidas a sério, nem as minhas cantadas e sempre me chamar apenas quando queria fazer compra, não que não me divertisse, mas não fazia ideia de que estava fazendo o papel de amigo gay.
  - Desde que te conheci, na verdade antes... Quando as gêmeas ainda estavam aí, elas disseram que você era. Não te conhecia e por isso não pensei muito nisso, mas depois que te conheci você sempre gentil demais, fofo, sensível, gosta das mesmas coisas que eu, é capaz de chorar sem ter vergonha disso e está sempre sendo tão atencioso que eu comecei a achar que fosse isso mesmo, que você era perfeito demais pra ser hetero... Me... Me desculpe por pensar isso, eu deveria ter falado com você antes, perguntado e... Somos amigos antes de tudo e eu devia ter considerado isso... – Ela se embolou nas palavras, parecia irritada consigo mesma e estava mais vermelha do que nunca. Seus olhos cor de rosa estavam marejados.

  “Eu só não consigo entender tudo isso, o que eu posso fazer? Então você ainda não me conhece bem? Me desculpe senhorita. Se você ainda não tem certeza disso eu tenho você querida, eu vou proteger minha garota, não duvide.”
Estendi a mão tocando a seus lábios e impedindo-a de continuar a falar.
  - Não foi sua culpa... Só que na verdade eu nem sabia o que sentia, foi preciso o incidente de ontem pra me despertar. Quando se trata dessas coisas eu sou mais lesado do que o Lysandre junto com a Demetria e a Catrinn somados em dias comuns. – Soltei uma risada baixa, aqueles três eram mais cabeça de vento do que qualquer um que já conheci. Ane abriu um sorriso tímido, seu rosto ainda estava entre as minhas mãos.
  - Eu sei... Não acredito que dediquei tanto tempo achando isso de você. Eu realmente sinto... – Soltei uma risada baixa e baguncei seus cabelos.
  - Eu quero esquecer isso, está bem? Até por que fere meu ego... Como pode ter pensando que um cara sexy e másculo como eu, é gay? To passado! – Disse a ultima frase com uma voz bem afeminada e ri junto com ela. – Quero que intenda que isso é novo pra mim, sabe? Sempre te admirei, sempre quis está perto de você... Mas desde ontem você entrou na minha cabeça de um jeito que eu não podia pensar em mais nada. Você é a garota que eu mais gosto e venero e por isso a ultima coisa que eu quero é te machucar...
  - Alexy você não...
  - Deixe-me terminar... Se eu por um momento for idiota com você, fizer algo que você não goste ou qualquer coisa que possa te ofender, me avise que irei me castigar. – Sorri novamente e tirei as mãos do seu rosto a abraçando bem apertado. Ane me abraçou de volta e me senti aliviado, desejava que não estivesse confundindo a amizade que temos com amor, desejava que eu finalmente tivesse entendido a minha mente, que implorava por uma dose mais de Anelize.
  - Você não precisa ficar comigo por causa do que ouviu lá, eu aprendi a conviver com isso... Realmente gosto de você Alexy e está perto já é bom pra mim. – Revirei os olhos e dei um cascudo nela, sem força, vendo-a fazer careta.
  - E eu lá faço algo de que não tenho vontade? Ou por pena? – Fiz bico e a abracei pela cintura.
  - Mas é que...
  - Eu sou bem destrambelhado, mas tenho certeza que quero tentar isso... Que quero você... – Ela me abriu aquele seu sorriso doce e gentil. O brilho nos seus olhos, suas bochechas levemente vermelhas e o formato que seus lábios faziam quando sorria foram mais do que tentadores, me curvei e toquei seus lábios iniciando um beijo calmo e diferente do de ontem, sem tensão, sem medo ou pressa.

  - AEWWWWWWWW FINALMENTE, CADÊ OS CONFETES? – Dai um pulo pra trás quando ouvi aquela vozinha conhecida. Esfreguei a mão pelo rosto sem acreditar realmente e quando olhei lá estavam Demetria e Armin nos espiando pela janela. Catrinn e Lysandre também estavam presentes, a diferença é que eles não pareciam está ali e os outros dois dançavam no meio do corredor em comemoração.
  - Irmão, juro que tentamos não espiar. – Armin anunciou assim que seu deu conta que eu não estava mais me amassando com Anelize, como eu queria está. Franzi a testa.
  - Pois você e essa peste mediana que se preparem. – Sabia que Armin era tão curioso quanto Demi e sabia que ela não precisou falar muito pra que chegassem até onde estavam. Corri até a porta e só vi a cabeleira branca sumindo pelo corredor com meu irmão ao seu encalço, enquanto Lysandre massageava as têmporas e Catrinn tentava conter o riso.
  - Agora se vocês me dão licença. – Fechei a porta e puxei a cordinha, soltando a cortina e impedido que alguém pudesse nos ver. Virei-me pra Anelize, que ainda ria.
- Onde estávamos? – Me aproximei dela de novo e voltei a beija-la, era melhor do que fazer compras.

  “Sua beleza me manteve tão forte, só nós dois não é o bastante? Me diga o que há de errado com você garota, eu irei ouvir tudo, tudo o que você quiser dizer, capitã. Pegue minha mão, seja meu anjo, me faça recordar. O sentimento dentro do meu coração faz caminhos para você.”

CAPITULO 39 •• Transformações.

- Ken? – Chamei depois de empurrar a porta do telhado. Mal havia vento e o tempo estava fechado, com certeza viria chuva forte por aí. O garoto se virou e sorriu.
  - Mesmo sabendo que era eu, você veio... Mas como descobriu? – Revirei os olhos.
  - Eu conheço a letra do meu namorado, Ken. E também conheço a sua, não precisava me mandar um bilhete fingindo ser ele, é meio bobo. – Dei de ombros e caminhei até onde ele estava, me apoiando ao seu lado no muro.
  - Você não é tão boba quanto dizem. – Ri e fiquei encarando o meu tênis, não me agradava ficar sozinha com ele, mas ele ainda era meu amigo.
  - Não sei se acho isso bom, ou ruim... – Rimos e dei de ombros. - Você é um bom garoto Ken, foi a primeira pessoa desse lugar com quem me dei bem, não compartilho das ideias dos outros. – Sorri e quando ergui a cabeça percebi o espanto dele.
  - Um bom garoto? Mesmo depois de saber a história completa, você ainda pensa assim? – Balancei a cabeça positivamente, havia contado a ele sobre o que Nathaniel me contou e pedi sua versão dos fatos, mas ele disse que era apenas aquilo que Nath disse e nada mais.
  - É o que sinto, meu pai me dizia que esse é um dom especial que eu tenho... Saber quando as pessoas são boas. – Ri baixo.
  - Sério?
  - Não... Mas eu sei isso sobre você. Não importa o que fez ou o que te pediram pra fazer. Eu apenas desejo que tenha aprendido com seus erros, por que eles não me interessam e deveriam interessar apenas a você... Acho que o passado deve permanecer onde está. – Desencontrei do muro e coloquei a mão sobre o ombro dele.    – Eu nem sempre sou esperta ou digo coisas legais, então aproveite. – Ken me surpreendeu, segurou o meu braço e me puxou contra si, me envolvendo em um abraço apertado.
  - Me desculpe Demi. – Ele continuou a me apertar, eu não me senti confortável e mesmo assim retribuí o abraço.
  - Não tem que se desculpar comigo. – Ele permaneceu calado e depois de um tempo se afastou me olhando.
  - Vou fazer o melhor, pro seu bem... Acredite. – Depois de dizer isso Ken se virou e me deixou lá, com cara de tacho, tentando entender que conversa estranha foi aquela.

  **

  Noite do mesmo dia.

  - Por que mesmo estamos fazendo isso? – Flor perguntou enquanto caminhávamos pra fora da escola, estava tarde e muito, muito frio. Com certeza logo a chuva ia voltar a castigar.
  - Eu perdi o cordão que Lysandre me deu... Se ele descobrir... Céus eu não me lembro de tê-lo tirado, não sei como aconteceu. – Ela não discutiu e apenas ficou refletindo, provavelmente tentando entender.
  - Onde foi a ultima vez que o viu? – Puxei pela memória.
  - Ahh foi no telhado! Eu recebi um bilhete de Ken e fui lá, tivemos uma conversa estranha. –Ela me encarou séria. Certo era esse o primeiro lugar que deveria procurar! Mudamos o rumo para o telhado.
  - Ken? Já disse que...
  - Eu sei, você não gosta dele. Só que não vou ignora-lo enquanto ele for legal.
Um sábio me disse que alguns inimigos devemos manter por perto. – Flor riu baixo e deu de ombros.
  - Certo! É bom que você me deixe comer dois bolinhos por eu está saindo nesse frio com você. – Dei de ombros.
  - Deixo você comer todos eternamente, desde que me ajude a encontrar o cordão. – Ela me olhou assustada.
  - Ele é mesmo tão importante? – Perguntou.
  - É a coisa mais importante que tenho. – Ela suspirou e fez um carinho suave na minha cabeça.
  - Então vamos logo. – Concordei e continuei a subir as escadas. Quando empurramos a porta que dava para o telhado um vento congelante soprou e me fez arrepiar até a alma.
  - Seja rápida. – Concordei e comecei a procurar por onde estive, mas não o encontrava em lugar nenhum. - Algum sinal? – Flor perguntou e neguei com a cabeça.
  - Está muito escuro. – A garota saiu de perto da porta e veio me ajudar a procurar.

  - Ouviu isso? – Perguntei e ela me encarou.
  - O que foi dessa vez? – Me endireitei e uma claridade começou a se formar, percebi que a nuvem que cobria a lua agora se movia lentamente, tornando o telhado mais claro e revelando uma cabeleira loira que conhecia bem.
  - Nathaniel! – Gritei e corri na direção dele, que estava caído e gemia.
  - DEMI NÃO! – Flor correu e me segurou pelo braço, antes que pudesse alcança-lo.
  - Qual problema? Ele deve está machucado! Nath!! Nath. – Gritei novamente e Flor meteu a mão na minha boca.
  - Qual era a raça que você disse que Nathaniel é? – Parei de tentar me soltar de Flor e a olhei nos olhos engolindo a seco, agora entendia. A lua cheia... Flor estava de frente pra mim me olhando nos olhos, mas meus olhos se desviaram e focaram na criatura que apareceu atrás dela. Ouvi o som de tecido sendo rasgado e aquela criatura foi crescendo, crescendo e quando ficou de pé parecia três vezes maior que o Nathaniel.
- Não olha agora... Mas acho bom nós corrermos. – Minha voz saiu falhada e prendi a respiração. Flor se virou lentamente.
- Sem movimentos bruscos... – Ela sussurrou e ao dar de cara com e monstro que eu vi, Flor segurou minha mão. – CORRE! AGORA!! – Depois que ela disse isso começamos a correr, mas só por que tinha que correr as minhas pernas pareciam pesar 100 quilos. Eu não conseguia raciocinar muito bem e não sei como, mas meus pés se embolaram com os de Flor, mas nós caímos.

  - Levanta, anda... Vamos Demi, ele está vindo. – O monstro rugiu, seu rugido me fez começar a soluçar de medo enquanto Flor tentava me levantar. A criatura saltou e pousou na frente da porta barrando a nossa passagem. Eu ofegava, estava começando a entrar em pânico.
  - Demi, não é hora pra pânico... Foco. – Tarde demais... Comecei a chorar, meu choro provavelmente irritou a fera, que avançou sobre nós. Antes que ele chegasse a mim Flor me empurrou, na queda bati de costas com a parede e consequentemente a cabeça, que começou a doer. Daí em diante tudo aconteceu rápido demais. Flor foi derrubada e tentou se arrastar, mas o ser abocanhou a sua perna fazendo-a urrar de dor..
  - FLOR! – Berrei e engatinhei até ela, que começou a ser arrastada por ele. Me joguei e estiquei as mãos, ela segurou as minhas mãos, mas com um puxão dele e meus dedos suados, os dedos dela escorregaram e eu, no meu desespero, não consegui fazer mais nada.
  Pensei que tudo estava acabado, que aquela coisa mataria minha melhor amiga e depois a mim. Uma silhueta apareceu e saltou contra o lobo, que largou o pé de Flor.
  - Tire-as daqui eu cuido dele. – Ouvi a voz de Lysandre ressoar e tudo foi ficando escuro, provavelmente ele falava com Castiel.

  **

  - Humanas Lysandre? Vocês enlouqueceram de vez? – Ouvi a voz de Leigh, eles falavam baixo, mas ainda podia escuta-los.
  - Você vai manter esse segredo, certo? – Lysandre não parecia está pedindo ao irmão.
  - Você sabe o que pode acontecer se a nossa mãe descobrir que você anda brincando com uma humana dentro da escola? Sabe o que ela vai fazer? – Minha cabeça pulsava, me movi com dificuldade. Quando abri os olhos, percebi que eles estavam discutindo próximo a minha cama, com a cortina fechada a sua volta.
  - Demi... Como está se sentindo? – Lysandre tinha a expressão preocupada e quando ele tocou a minha mão, aos poucos fui me lembrando do que havia acontecido e quase saltei da cama, mas ele me impediu.
  - E Flor? Onde ela está? Como ela está...? Foi tudo minha culpa Lysandre, eu... Oh céus, me diga que nada de ruim aconteceu. – Quando me dei conta já estava aos prantos. O garoto se aproximou e me puxou para o seus braços, deitei a cabeça sobre o seu peito e segurei com força na sua camiseta, enquanto sentia seu carinho suave na minha cabeça.
  - Está tudo bem meu amor, ela está bem... Acalme-se. – O apertei ainda mais e continuei a chorar, Lysandre continuou a me acariciar e acalmar e ele sempre tem sucesso quando se trata em fazer com que me sinta melhor.

  **

P.O.V Flor

  - Não posso tirar os olhos de você, e se mete em confusão! Agora vou ter que dormir no seu quarto também? – Mal abri os olhos e já estava ouvindo o sermão de Castiel, ele parecia bravo. Minha cabeça doía, meu corpo doía e a minha perna doía mais do que todo o resto junto. Tentei me sentar e Castiel me ajudou, arrumando os travesseiros atrás de mim.
  - Cadê Demi? – Perguntei e puxei o lençol vendo a minha perna enfaixada.
  - Ela está com Lysandre aqui do lado. O que deu na cabeça de vocês? Vocês ficaram retardadas? – Castiel deu um puxão suave na minha orelha, não doeu, mas não deixou de ser um puxão.
  - Aaiii seu ogro! – Fiz bico e ele respirou pesadamente, sentando na cama. Depois Castiel se curvou e me abraçou mais apertado do que o habitual.
  - Pela primeira vez na vida eu fiquei com medo e assustado. – Arregalei os olhos e fiquei congelada, o que era essa declaração de repente? – Se algo realmente grave tivesse acontecido, eu não sei o que faria. – Era a primeira vez que ele me dizia alguma coisa assim sem relutar ou fazer uma piadinha. Fechei os olhos e correspondi o abraço dele, se ele e Lysandre não tivessem aparecido e nos resgatado, eu teria virado petisco de lobo.
  - Obrigada, por está sempre evitando que algo ruim me aconteça.  – Castiel se afastou um pouco e colocou seus olhos acinzentados sobre os meus, seu rosto estava perto do meu e sentia a sua respiração alterada se misturando com a minha. Aquele seu olhar era uma novidade, uma novidade que gostei muito.
  - É isso que namorados devem fazer, defender suas garotas. – Namorados? Mas o que...? Não tive tempo de falar nada, por que os lábios dele vieram de encontro ao meu. O beijo doce e suave me fez esquecer o susto, a dor na perna e todo o resto.

P.O.V Flor off

  Lysandre foi embora depois que Castiel apareceu. Ele disse que precisava acertar umas coisas e que não deveria me preocupar, que estaria segura ali, Lys também afirmou que conversaríamos melhor depois.
  - Ei ameba, para de chorar. – Flor puxou o tecido branco que separava nossas camas e quando a vi com o pé pra cima, comecei a chorar ainda mais.
  - Me... Me... Me desculpa. – Soluçava com o rosto afundado no travesseiro.
  - “Para de chorar”, que parte disso não entendeu? Está tudo bem, agora venha aqui. – Enxuguei o rosto e levantei, caminhando até a cama dela e deitando ao seu lado. Fiquei assim deitada ao lado dela por muito tempo, ambas olhando pra cima, apenas o silêncio entre a gente.
  - Não foi sua culpa. – Ela quebrou o silêncio e continuamos imóveis.
  - Se eu não tivesse sido tão desatenta e perdido o cordão... – Flor tocou a minha cabeça e fez um carinho.
  - Lembra-se da nossa promessa? Prometemos que ficaríamos sempre juntas e que protegeríamos uma a outra. Eu fui com você, por que tenho certeza que você viria comigo. – Disso isso eu me virei e abracei a minha amiga.
  - Vai tudo ficar bem, não vai? – Ela acenou positivamente com a cabeça, mas algo me dizia que de agora em diante as peças não se encaixariam mais.

CAPITULO 40 •• Abrindo os olhos.

P.O.V Nathaniel.

  - Alexy e Armin deram um jeito de disfarçar o cheiro de sangue, se aparecer alguém desconfiado usarei a hipnose pra fazer com que esqueçam do mesmo. – Lysandre terminou de reportar como eles se livraram da situação e me tranquilizei.
  - Pensei que você nunca tirasse o cordão. – Castiel falou, minha cabeça ainda doía e tudo parecia girar.
  - E não tiro... – Minha voz saiu com mais dificuldade do que antes. Odeio me transformar em noites de lua cheia, por ser muito novo, perco totalmente o controle da transformação, além de não me lembrar de nada.
  - Então como diabos isso aconteceu, pode me explicar? – O ruivo estava visivelmente nervoso. Eles haviam me encontrado pela manhã, caído na floresta, e me trouxeram pro quarto.
  - Eu estou tentando entender, mas fica difícil com você me fazendo tantas perguntas. – Sentei na cama e esfreguei a mão pelo rosto. Como ainda estávamos em época de lua cheia todos os meus hematomas se curaram sozinhos. Tentei puxar pela memória o que havia acontecido antes e durante a transformação, mas nada vinha.
  - O que temos que fazer primeiro é descobrir onde foi parar o colar que evita que você se transforme. – Acenei positivamente com a cabeça e me levantei.
  - Acho que posso rastreá-lo, meu olfato... Você sabe. Mas antes preciso tomar um banho. – Castiel ainda tinha uma expressão nada agradável no rosto, sei que ele me olharia torto até a história ser esclarecida.

  - E quanto a Flor? Você a mordeu... O que vai acontecer? – Parei de andar e me virei lentamente, não me lembrava de tê-la mordido... Então o sangue na minha roupa era... Dela?
  - O que está dizendo? Eu... Eu a mordi? – Castiel avançou na minha direção, me segurou pelo colarinho da camisa e me ergueu.
  - Não só mordeu como quase arrancou a perna dela, seu otário. – Ele rosnou enquanto eu tentava assimilar a merda que havia feito.
  - Eu não me lembro... Sinto muito, eu realmente sinto muito. Não é como se pudesse controlar. – Lysandre colocou a mão no ombro de Castiel e o garoto me soltou, esfregando a mão pelos cabelos.
  - É visível que alguém queria que Nathaniel se transformasse, agora precisamos descobrir o motivo. – Lysandre parecia saber o que aconteceria a humana.
  - Você não me respondeu Nathaniel. – Eu me dei por vencido e cocei a nuca.
  - Vamos precisar de dois cordões... Por que Flor vai ser quase como eu. – Castiel parecia um pouco surpreso, mas não consegui entender bem o que ele achou da nova noticia. – Se fosse um aranhão ainda poderia duvidar... Mas como foi uma mordida e sou sangue puro... Não vai ter jeito. – Como hoje á noite a lua também estaria cheia, isso significa que se ela vai começar a se transformar.
  - Como é o processo de transformação? – Lysandre me encarou.
  - E o que você quer dizer como “quase” como você? - Castiel emendou.
  - A primeira transformação é a mais dolorosa. Ela vai ter febre muito alta, não vai conseguir comer ou dormir, vai delirar e... Não vai ser bonito. Eu digo quase, por que ela vai ser mais fraca a principio e muito mais irritadiça. No caso, ela vai ter muito mais dificuldade de se controlar do que eu. – Era possível que Flor se tornasse muito mais mal humorada, por um bom tempo.
  - Já entendi. Vamos procurar esse maldito cordão... Depois você vai contar isso a ela. – Castiel deu as costas e foi na frente.

P.O.V Nathaniel OFF

  - Paraaa Alexy. – Resmunguei enquanto ele continuava a apertar as minhas bochechas, arrancando risadas dos outros.
  - Eu só estou fazendo você ficar mais coradinha, anda muito pálida ultimamente. – Ele abriu outro daquele seu sorriso sapeca e apertou a minha bochecha novamente, aquilo doía.
  - Para de torturar a menina. – Flor falou com dificuldade, ela estava febril e parecia muito cansada.
  - Admite que está com ciúmes Flor, mas nem pense que eu vou voltar pra você. Me trocou pelo cabeça de tomate, estou desapontado. – Alexy cruzou os braços e fez bico, como uma criança mimada. Em troca logo levou um beliscão de Anelize, nos arrancando risadas.

  - Você parece cansada Flor, acho melhor nós irmos. – Callisto anunciou, ela com certeza percebeu também.
  - Nãããoo, fiquem um pouco mais. – A moribunda pediu.
  - Voltaremos depois, agora é bom você descansar. – Anelize tentou ajudar.
  - Exatamente, o horário pra visitas acabou. – Leigh apareceu e Flor se deu por vencida.
  - Okay, mas voltem depois. – Flor fez bico.
  - Pode deixar. – Catrinn prometeu. Armin bagunçou o cabelo de Flor e saiu, em seguida Alexy beijou seu rosto e as meninas acenaram.
  - Inclusive você Demetria. – Leigh parecia diferente comigo. Não queria sair de perto dela, mas aproveitaria pra deixa-la descansar e ir procurar Lysandre.
  - Certo... Eu volto depois. Descanse okay? – Ela parecia desanimada com a minha saída. – Leigh, a gente pode falar? – Ele me olhou de forma estranha, mas apenas afirmou com a cabeça.
  - Me espere no escritório. – Eu acenei positivamente e fui na frente.

  Não demorou nem cinco minutos e ele apareceu, se sentando no seu lugar de costume e me encarando.
  - Como ela está? – Eu sentia que havia algo de errado com Flor.
  - Ela vai ficar melhor. Não sei seu nível de conhecimento do nosso mundo, mas você sabe o que pode acontecer com ela agora? – Eu conhecia lendas, coisas bobas e muito do que pensei estava errado até agora.
  - E-eu não tenho certeza. – Ele revirou os olhos e me encarou, com a mesma hostilidade que Lysandre me encarava no inicio.
  - Existe uma grande probabilidade de Flor ser como Nathaniel. Sua força não seria como a dele, claro. Mas ela se tornaria uma de nós... Não sou muito a favor de humanos transformados, mas é melhor do que ser...
  - Uma humana. – Entendi o que ele queria dizer, significava que Flor agora faria parte daquele lugar e não eu. – Obrigada, por esclarecer que ela vai ficar bem. – Levantei, pronta pra sair.

  - Demetria... – Parei e me virei pra olha-lo. - Você deve se afastar de Lysandre, sabe disso, não sabe? – Sabia que ele falaria algo do tipo.
  - Eu sei que preciso dele. – Ele arqueou uma de suas sobrancelhas.
  - Vale a pena os riscos? Ele é um predador natural da sua raça, nossa família nunca te aceitaria, você está aqui clandestinamente fazendo as principais regras da escola serem quebradas... Você acha que vão conseguir ficar juntos? – Ele parecia indignado. Sorri e balancei a cabeça negativamente.
  - Não, eu acho que não vamos ficar juntos e é justamente por isso que eu estou aproveitando cada minuto ao lado dele, por que quando estivermos separados eu vou poder lembrar tudo o que fomos juntos. – Leigh ficou inexpressível por alguns momentos. – Pior seria se eu nunca tivesse tentado, seria covardia. – Parei de falar e o olhei bem séria. - Vi que Cristãs não tem mais frequentado muito a enfermaria, fico muito feliz por ela está bem, não acha? – Abri um sorriso no canto dos lábios e saí, deixando aquele sonso sozinho.

  Caminhava pelo corredor tentando imaginar como Flor reagiria a essa nova ideia de ser como eles, quando ouvi alguns gritos vindos da sala dos representantes.
  - Me solta Nathaniel você está me machucando. – Era a voz de Ambre, franzi a testa e me aproximei da porta, não queria fuxicar nem nada... Mas estava curiosa.
  - É pra machucar Ambre! E vou machucar muito mais se não começar a abrir essa boca. POR QUE MEU CORDÃO ESTAVA COM VOCÊ? – Nunca ouvi Nathaniel tão irritado.

P.O.V Nathaniel

- Desembucha logo garota. – Castiel parecia tão irritado quanto eu. No fundo não me sentia surpreso por encontrar o cordão com ela.
  - E-eu... Não foi ideia minha. – Estava cansado disso, peguei Ambre e a empurrei contra a parede, com a mão no seu pescoço. Apoiei a cabeça ao lado do ouvido dela.
  - Você vai começar a contar agora, ou juro que esqueço que você tem o mesmo sangue que o meu. – Minha mão estava apertada no seu pescoço, estava cansado das armações dela.
  - Me solta Nathaniel você está me machucando. – E lá estava ela chorando, mas por que seu choro simplesmente não me afetava? Talvez por que ela chegou longe demais.
  - É pra machucar Ambre! E vou machucar muito mais se não começar a abrir essa boca. POR QUE MEU CORDÃO ESTAVA COM VOCÊ? – Bati as costas dela contra a parede e ela ofegou.
  - E-eu conto... Apenas me solte. – A soltei e me afastei.
  - É bom você ser muito sincera. – Cruzei os braços e fiquei esperando ela desembuchar.
  - Foi coisa da Melody e da Lyana, não fui eu! Juro que dessa vez não foi eu que planejei nada. A Melody só pediu pra eu tirar o cordão de você enquanto Ken tiraria o da baixinha do Lysandre. Eu acho que a ideia era que ela revelasse sua verdadeira forma, mas ela não me explicou nada. – Ambre falava tudo meio embolado e parecia perdida.
  - O que você disse? Kentin está metido nessa história? – Lysandre perguntou. Era só o que faltava, agora que ele parecia ter nos deixado em paz.
  - S-sim, ele... Ele faz tudo que a Lyana pede, sempre foi assim e vocês que não queria ver. Ela armou tudo com ele, sempre se fazendo de vítima e quanto tentou derrubar Melody, Melody a derrubou. – Voltei a encara-la, aquilo fazia sentido.
  - E você faz tudo o que Melody manda? Que tipo de criatura baixa você é? Sabe o desastre que poderia ter acontecido? Sabe que eu poderia ter matado alguém? Você perdeu totalmente o juízo Ambre e dessa vez não vai sair ilesa...
  - O-o que você vai fazer?
  - Te dedurar pro nosso pai, não é isso que você adora fazer? E como representante de turma, eu vou te levar até as autoridades e tenho certeza que seus dias nessa escola estarão contados. – Meu pai adorava passar a mão na cabeça dela, mas sabe que por causa dela o nome da família podia ter ido pra lama, daria a ela um bom castigo.

P.O.V Nathaniel Off


CAPITULO 41 •• Love Song.

P. O V Leigh

  “Eu não posso te tocar, eu sei sim. Estou caindo, me segure. Eu odeio essa canção de amor, eu odeio essa canção de amor.”

  - Então Leigh, você acha que estou com algum problema? – A voz enjoada de Rosalya maltratava os meus tímpanos, estava cansado dela. As coisas que o brinquedo de Lysandre falou, me deixaram mais irritado do que o habitual.
  - Acho que o único problema que você tem é surdez, e infelizmente não exista nada que eu possa fazer. – Soltei a prancheta sobre a mesa e me levantei, ignorando a expressão ofendida da oferecida. – Agora pare de se oferecer como se fosse um pedaço de carne e vá caçar alguém mais idiota. – A encarei, esperando que ela entendesse que estava demasiado irritado pra conversar.
  - D-desculpe... – Choramingou.
  - Poupe o trabalho de chorar. Vou dar uma volta e espero que não esteja aqui quando voltar. – Saí do escritório e comecei a caminhar pelo corredor. Concordei em manter segredo das humanas, ou melhor, da humana. Mas, na primeira segunda-feira do mês, quando o ônibus viesse eu iria pessoalmente leva-la de volta, se Lysandre não o fizesse. Todos que a conheciam corriam mais risco do que imaginam e se minha mãe descobrisse que Lysandre estava envolvido com uma humana, ela certamente colocaria a escola abaixo. A conversa com Demetria ainda rondava minha mente.

          “Pior seria se eu nunca tivesse tentado, seria covardia.”

  Por que acreditava que aquela criança havia dito algo do tipo pra mim? Sempre foi o filho exemplar, fazendo as coisas certas, recebendo os elogios necessários, sendo o padrão e bla bla bla e isso fazia de mim um covarde? Fazer as coisas do jeito certo fazia de mim um covarde? Maldita humana que mal sabe  metade do quanto nosso mundo pode ser cruel e se ela quer descobrir, que faça sozinha e não arraste os outros consigo.
  Dopei Flor, pra que os delírios da febre fossem menores e a deixei na enfermaria com Castiel, logo Nathaniel estaria lá também e ambos a ajudariam na hora da transformação, tudo o que eu podia fazer já tinha feito. Se eles queriam encobrir as humanas que o fizessem sem mim e respondessem por esses atos.

  Saí do prédio da escola cantarolando uma música que costumava sempre ouvir Cristãs cantar quando estávamos juntos. Sorri ao pensar nela, mas logo me livrei desses pensamentos, tudo o que não queria era mais alguma coisa pra me atormentar. Talvez depois de caminhar um pouco pelos arredores, conseguisse espairecer e pensar em uma melhor maneira de convencer Lysandre da bobagem que está fazendo.
Quando alcancei o caminho que dava a pequena vila próxima da escola, senti um cheiro muito conhecido e não demorou que a dona do cheiro aparecesse.
  - Cris? – Avancei e sem demora estava na frente da garota, que tinha os olhos inchados e vermelhos pelo choro. Ela esfregou o braço contra os olhos e respirou fundo, forçando um sorriso.
  - Tudo bem Leigh? Quanto tempo. – Estreitei os olhos e me inclinei em sua direção respirando profundamente e percebendo que estava certo, era o cheiro do sangue dela.
  - Como você se machucou? – Perguntei enquanto com as mãos segurava o seu rosto e o virava olhando cada detalhe a procura do machucado, mas ela tocou minhas mãos e deu um passo pra trás.
  - Eu estou bem, não preciso de ajuda. Foi bom te ver. – Fiquei paralisado, talvez por isso nunca ter acontecido antes... Ela me olhar daquele jeito, ou por sempre ser o primeiro que ela procurava quando se machucava e agora Cristãs estava se afastando. 

  “Eu odeio essa canção de amor, jamais voltarei a cantá-la, assim poderei parar de pensar em você e te esquecerei mais cedo.” 

  Virei e a observei andar lentamente, voltei a me aproximar da garota, dessa vez por trás. Coloquei as mãos na sua cintura, fazendo com que a garota parasse de andar. Me inclinei e com a boca próxima ao seu ouvido sussurrei:
  - Deixe-me cuidar de você, por favor. – Agora já sabia que o hematoma estava localizado nas suas costas, ao julgar pela lama perceptível mesmo nas suas vestes escuras, ela devia ter caído há pouco tempo. Por que ela negava? Por que estava se fazendo de forte diante de mim? Logo de mim? Por que simplesmente parou de ir me ver?
  - Eu estou bem... Me solte, por favor. – Sua voz saiu chorosa. Por que ela chorava? Seria egoísmo demais desejar que ela chorasse por sentir a minha falta? Talvez fosse só o machucado que a incomodava, mas ainda desejava que ela sentisse a minha falta.
  - Não minta pra mim. – Dei um passo pra trás e fiz que ela se virasse, forçando-a a olhar pra mim. - Qual o problema? Por que você simplesmente desapareceu? – As bochechas dela estavam vermelhas, seus olhos negros se reviraram e ela mais uma vez se livrou das minhas mãos e toda vez que ela me afastava eu me sentia mais confuso, mais vazio.

  Foi quando me dei conta do quanto sentia falta dela, do cheiro que ela exala e da forma como sempre tornava os meus dias menos vazios. Por mais que eu soubesse que seus machucados não requeressem tanta atenção eu sempre largava tudo pra atendê-la, às vezes tinha a certeza que Cristãs ganhava um novo hematoma apenas pra ficar na enfermaria. No começo pensei que fosse por que era o único lugar onde ela podia ficar só e tranquila, mas com o tempo eu percebi nos seus olhares que era mais do que isso, me sentia satisfeito em saber que ela gostava de mim. Coloqueis meus braços nos ombros dela e a segurei novamente, não permitiria que a garota se afastasse, não machucada daquela forma.
  Sabe a loucura que seria se eu me envolvesse com uma aluna? O quanto escutaria? Meu emprego iria por água abaixo, assim como a confiança que minha mãe depositava em mim. Não só o emprego de enfermeiro, claro... O de guardião. A primeira regra é: Não se envolver com alunos e eu estou aqui, parado e totalmente envolvido por aquela coisinha pequena e frágil, por que é assim que ela sempre iria aparentar ser pra mim.

  Não importava sua raça, não importava a sua força.
                                                A meu ver, Cristãs é frágil e eu preciso cuidar dela.

  - Você sentiu minha falta? – Sua voz era baixa, e quando ela falava fitava o chão. As mãos dela que antes estavam abertas sobre o meu peito, passaram a segurar o meu casaco com força, afrouxei as mãos e agora a segurava com cuidado, como se a qualquer aperto pudesse parti-la.
  - Eu senti. – Por que só me dei conta agora?
  - Então por que não me procurou? – Sua cabeça permanecia baixa e a franja tapava seus olhos, mas pude ver a lágrima escorrendo pela sua bochecha. Às mãos que seguravam o tecido da minha roupa se fecharam em punhos e ela começou a socar o meu peito, sem força, mas me sentia atingido de qualquer forma, não pelo toque, mas por todo o conjunto. – Por que você tinha que preferir a Rosvaca? Por quê? Por que você não veio me ver? Por que eu tinha que gostar de você Leigh? Por quê? – Sua voz foi desaparecendo aos poucos e agora só ouvia seu choro. Coloquei a mão sobre a sua cabeça e a recostei sobre o meu peito, abaixando a cabeça e enterrando a face nos seus cabelos negros.

  “Acho tão difícil viver nesse mundo sem sentido, me leve para onde você está, um lugar com lua e estrelas. O que nós tínhamos era tão bonito, sabe você me ensinou como amar.” 

  - Por que eu não posso admitir, que amo você... Não queria me render.  – Falei baixo com rosto ainda contra seus cabelos e os braços ainda a envolvendo e segurando contra mim, por que não conseguia mais solta-la? Tudo que deveria fazer era abrir os meus braços e ir embora, mas não conseguia tirar minhas malditas mãos dela.
Mesmo que minha voz estivesse baixa, mesmo assim eu percebi que ela ouviu o que eu disse. Seus braços ficaram tensos e o choro parou, ouvi seu coração pulsar muito rápido.
  - Me desculpe. – Sua voz parecia receosa e eu soltei uma risada baixa.
  - Acabo de dizer que eu te amo, e você simplesmente se desculpa? – Me afastei um pouco e fitei seus olhos, elas parecia está travando uma batalha sentimental dentro de si, mas ali nos seus olhos eu vi um brilho diferente. Cristã me deu seu sorriso mais largo.
  - Me desculpe... Digo eu, eu fui pega de surpresa eu... Pensei que gostasse da Rosalya. – Seus lábios formaram um pequeno bico involuntário e eu apertei o mesmo com as pontas dos dedos, sorrindo.
  - Boba, ela não é de longe tão interessante, desastrada, divertida, ladra em cartas, metida a esperta, ou sexy quanto você. Na verdade eu acho que deveria te castigar por me deixar sozinho com aquela mala. – Revirei os olhos e dei um passo pra trás. Cristãs riu e se jogou contra mim novamente, com o rosto apoiado no meu peito.

  - Eu amo você, realmente sempre quis dizer isso e todos os dias arrumava uma desculpa pra tentar te contar, mas eu nunca conseguia... Não aguentaria uma rejeição sua... Quando a vi lá, com você... No seu colo, eu achei que você a preferisse. – Continuei com as mãos nos bolsos, com os olhos cerrados.
  - Hunm... Faz sentido. Está perdoada, mas só por causa das três primeiras palavras. – Depois de dizer isso a abracei, ouvindo ela resmungar e me lembrando do seu machucado. – Venha aqui, deixe-me ver. – Como estávamos no meio da estrada, segurei na mão da garota e a arrastei por entre as árvores.
  - Você que devia pedir perdão, você que estava com ela no colo. – Cristãs fez seu costumeiro bico e eu dei de ombros.
  - Não foi minha culpa. – Parei de andar e a virei de costas pra mim, joguei seus longos cabelos pra frente e abri o primeiro botão do seu vestido.

  - O-O que está fazendo? – Sua voz falhou e eu ri.
  - Fique tranquila, eu só quero ver como está esse machucado, não vou te agarrar, por mais que queira. – Sabia que ela devia ter corado com a minha frase, a menina cruzou os braços a frente do corpo provavelmente pra sustentar o vestido e abri mais alguns botões do tecido fino, revelando sua pele branca. Não demorou pra que o grande roxo aparecesse, era inconfundível o cheiro de todo aquele sangue preso acima das suas costelas.
  - Você tem que se cuidar. – Afirmei deslizando os dedos pela sua nuca e descendo pelo seu ombro, percebendo o corpo dela se arrepiar, gosto disso.
  - Eu... Eu estava distraída. – Curvei e beijei seu ombro.

  “Fecho os olhos, sinto sua respiração e sonho com você. Um sorriso percorre meus lábios, você está respirando comigo agora. Tempo, por favor, pare, não separe nós dois. Vento pare de soprar, esta é minha última carta para você.” 

  - Não se preocupe, eu vou cuidar disso. – Aproximei meus lábios da pele dela. – Eu posso? – Cristãs ainda parecia tensa, mas sabia provavelmente o que queria fazer. Quando ela afirmou com a cabeça apenas sorri e deslizei a ponta da língua pela sua pele, em seguia cravei minhas presas contra o seu pescoço e dei a ela o meu sangue. É de conhecimento geral a capacidade regenerativa que o sangue vampiro tem. Nosso sangue tem a capacidade de dar força a outras criaturas e curar seus machucados se o vampiro for um sangue puro. Não precisei dar muito do meu sangue a ela e quando me afastei ainda pude ver o roxo desaparecendo lentamente. – Como se sente agora? – Perguntei virando-a pra mim e erguendo seu rosto, que ainda estava vermelho, agora possivelmente de vergonha.
  - Melhor, bem melhor. – Cristãs voltou a me olhar e eu sorri, me curvando lentamente. Ninguém poderia saber do nosso envolvimento, ninguém poderia sonhar o que acabará de acontecer e ninguém nunca poderia imaginar o que aconteceria, mas ninguém mais me separaria de Cristãs. Não importaria que tivesse que mentir e pra quem teria que mentir. Provavelmente nos encontraríamos escondidos e me sentia como se tivesse voltado a ser um adolescente tolo, que não pensa nos seus atos. Mas agora, eu finalmente entendia o que aquela humana tentou me dizer: Existe algo muito mais valioso do que nossos deveres.

  Com a mão no queixo dela ergui seu rosto, a vi fechar os olhos assim que percebeu a minha extrema proximidade. Por alguns momentos fiquei com a testa encostada na dela, sentindo sua respiração quente se misturar com a minha, me proporcionando uma sensação gostosa.
  Desde o dia que coloquei meus olhos naqueles lábios rosados que sibilavam um sorriso inocente, senti vontade de toca-los e agora finalmente podia, e o fiz. Juntei meus lábios com os dela de forma apressada, acho que já fui devagar demais em todos os quesitos anteriores. Firmei minha mão nas suas costas desnudas e a ergui um pouco, sustentando o seu peso enquanto movimentava minha boca contra a sua, simplesmente não desejava mais nada.

  “Eu odeio essa canção de amor, irei cantá-la com um sorriso e para curar sua solidão, estou indo até você agora.”

CAPITULO 42 •• Preocupações.

Depois que acabei de ouvir a discussão de Nathaniel, saí correndo pelo corredor e tentei não falar com Lysandre, não queria vê-lo bravo comigo por causa de Ken.
  - Demi! – Ouvi a voz e apertei o passo, depois que ouvir o que Ambre disse, a ultima coisa que queria era falar com ele. Kentin me alcançou e segurou o meu braço, me puxando e fazendo meu corpo colidir com o dele.
  - Me solta! – Tentei me soltar, mas ele era mais forte do que eu.
  - Eu precisava falar com você, soube o que aconteceu... Está tudo bem? – Puxei o meu braço e dessa vez ele soltou.
  - Claro, tirando que você mentiu pra mim. – Ele me olhou curioso e senti uma vontade enorme de soca-lo.
  - Do que está falando? – Fechei as mãos em punho.
  - Eu acreditei em você! Confiei em você, confiei que você era um bom garoto. Ignorei quando todos diziam que você é cruel e fui idiota o suficiente pra te defender! – Me sentia muito irritada, se eu tivesse sido esperta e ignorado aquele maldito bilhete, Flor não teria sido mordida.
  - Eu só queria te proteger, eu juro... – Estendi a mão e acertei um soco no peito dele.
  - Pois se é esse tipo de proteção que você me dá, eu prefiro que seja cruel comigo! Dói mais quando a mão que te faz carinho é aquela que bate mais forte. – Parei de socar o peito de Ken e dei as costas, mas o garoto me puxou de novo.
  - Dessa vez eu juro que queria te proteger, você é especial pra mim Demetria, justamente por ver o que mais ninguém vê. – Puxei o meu braço de novo.
  - Pois você tem um jeito muito estranho de tratar as pessoas que considera “especiais”. – Terminei de falar e ergui a cabeça. Quando fiz isso notei Lysandre se aproximando rápido demais. Lys jogou Kentin contra a parede o segurando pela gola da camisa. Sem se esforçar muito o vampiro erguia Kentin e o encarava, eu notei seus olhos mudando de cor, assim como a sua voz parecia diferente.
  - Sua criatura medíocre, como ousa tocar no que é meu? –Por mais que estivesse chateada com Kentin, não desejava que Lysandre arrancasse sua cabeça.
  - É disso que você gosta Demetria? Ser tratada como o brinquedo dele? – Certo Lys, arranque membro por membro.
  - Não ouse falar com ela! Não ouse olhar pra ela, não ouse tocar nela novamente! – Lysandre bateu as costas de Kentin contra a parede e pressionou os punhos contra o peito do garoto, que ia ficando vermelho e sem ar... Certo, não estou preparada pra ver um assassinato. Abracei Lys por trás e afundei o rosto nas suas costas o apertando.
  - Chega... Vamos embora. – Ele continuou a tentar afundar o peito do menino. Quando ouvi Kentin tossindo apertei Lysandre mais forte. – Por favor, Lys... Solte-o.  – Ele soltou Kentin e o garoto caiu como um saco vazio no chão, sorrindo. Por que diabos ele estava sorrindo?
  Lysandre se curvou e eu o soltei, ele vasculhou os bolsos de Ken e tirou de lá o meu cordão, em seguida segurou os cabelos castanhos fazendo o menino o encarar.
  - Dessa vez você deu sorte, não consigo negar um pedido dela. Mas se ver você perto de Demetria de novo, juro que arranco a sua cabeça com um golpe só. – Depois de dizer isso, Lysandre deu um tapa na cabeça dele e segurou o meu pulso, me levando pra longe. Olhar pra trás e ver Kentin caído apertou meu coração, mas achei melhor ficar calada.

  **

  - Flor não vai poder voltar pro quarto hoje? – Lysandre negou com a cabeça, ele estava sentado na ponta da minha cama, enquanto eu estava encostada na cabeceira. Já havia colocado o pijama e desde o encontro com Kentin no corredor, meu namorado estava calado e distante.
  - Hoje é a primeira transformação, não se preocupe, Castiel e Nathaniel vão está com ela. – Ele voltou a folhear o livro e eu revirei os olhos, mostrando a língua. Não acredito que ele passaria a noite ali e ficaria me ignorando desse jeito.
- Eu estou preocupada. – Já bastava o meu nervosismo por causa de Flor, agora não sabia se ele estava ou não com raiva de mim.
  - Mas já disse pra se acalmar. – De novo, ele falou sem nem desviar os olhos do livro.
  - Yaaaaaaa! O que deu em você? – Joguei meu travesseiro nele. Como era de se esperar Lysandre estendeu a mão e o segurou, pra melhorar ele colocou o travesseiro no colo e apoiou o livro, continuando a me ignorar.
  - Apenas estou lendo. – Infeliz! Não estava mais aguentando essa tortura, por isso levantei da cama e caminhei em direção da porta. - Aonde você pensa que vai? – Ele perguntou tirando a cara do maldito livro.
  - Ah agora lembrou que eu existo? Pois eu vou dar uma volta. – Mostrei a língua pra ele e tentei abri a porta, mas estava trancada.
  - E você iria vestida assim? – Ele apontou pro meu pijama, e eu dei de ombros.
  - Qual o problema? Quem sabe alguém lá fora não percebe que eu existo? – Resmunguei e comecei a procurar a chave na cômoda, eu não me lembro de ter trancando a porta.

  Ouvi a gargalhada de Lysandre e fiquei com ainda mais raiva.
  - Está procurando por isso? – Ele mostrou a chave e abriu um sorriso vitorioso, bati o pé e estendi a mão.
  - Me dá a chave. – Lysandre parecia se divertir com a minha irritação.
  - Nunca. – Ele respondeu debochado. Revirei os olhos e caminhei até a janela, empurrando a cortina.
  - Então pulo a janela. – Abri o vidro e já estava colocando a perna pra fora quando ele me puxou pra dentro e fechou a janela.
  - O que deu em você? Não pode ficar quieta? – Ele me encarou sério e eu cruzei os braços, engolindo o choro. Quando foi que ele ficou tão chato?
  - Não... Essa expressão não. Me desculpe, não faz assim. – Ele me abraçou e eu continuei paralisada, não abraçando de volta.
  - Me solta, volta pro seu livro. – Lysandre deu outra risada e com facilidade descruzou os meus braços me fazendo abraça-lo, eu afundei o rosto no seu peito. – Idiota... – Resmunguei e o abracei bem forte.
  - Eu vou cuidar melhor de você, está bem? Só que... Você está bem? Digo... Se sentindo bem? – Afastei um pouco o rosto do seu peito e ergui a cabeça, um tanto relutante ele abaixou o rosto e me fitou, seu olhar parecia preocupado e agora eu entendia o motivo.
  - Eu estou ótima, o pior que você pode me fazer é me ignorar dessa forma de novo. – Fiz bico e ele sorriu, tocando meu rosto.
  - Estava testando a minha resistência. – Lysandre deu de ombros e se curvou, deslizando seus lábios pela minha testa, descendo pelo meu nariz e tocando a minha boca. – Percebi que sou fraco. – Ele disse com os lábios nos meus. – Mais uma coisa Demi, você não é o meu brinquedo! Eu te amo e eu vou te proteger, não importa como. – Lysandre disse isso com a boca na minha e eu sorri, saber que ele se preocupava comigo me deixou ainda mais feliz.
  - Eu também amo você e vou tentar não te dar trabalho. – Não podia protegê-lo, eu acho, mas o amaria com todas as minhas forças.
Coloquei a mão na sua nuca e dessa vez foi eu a beija-lo.

  **
No dia seguinte
  P.O.V Lyana

  - Ainda estou tentando entender o que deu errado. – Melody revirou os olhos e bufou.
  - Até mesmo Ambre era mais esperta que você Lyana, não deu certo por que Lysandre e Castiel estão sempre ligados nessas duas. Admita que ele nunca foi assim com você, por isso não esperava... – Ela tirou do bolso uma lixa e começou a lixar as unhas, de forma irritante.
  - Era pra elas terem lutado e Nathaniel ter acabado com as duas! Ele não seria prejudicado, por que perde o controle total. E mesmo se elas sobrevivessem à culpa no final seria delas se colocássemos o cordão no armário da Demetria. Pelo que Ambre falou elas nem se transformaram. – Bati o pé irritada, era impossível que elas fossem um monstros acima da classe C, nós sentiríamos.
  - Mas não foi assim... Não deu pra seguir o curso normal do plano, então falei pra Ambre ficar com o colar mais tempo e acabou que nos livramos dela, ela foi expulsa da escola... Mas ainda não estou contente. – Melody me encarou. – Sobre o que você disse...  Isso me deixou intrigada também! O que elas são afinal? – Era essa a pergunta que não queria calar, por que tipo de criatura Lysandre havia me trocado?
  - Só tem um jeito de saber... – Olhei pra Melody e ela rapidamente parou de lixar as unhas.
  - Nem pensar. – A garota saltou da mesa e guardou a lixa, me encarando séria. – Eu sou louca, e realmente odeio aquele grupo, mas eu NÃO vou fazer isso. – Ela empurrou o dedo contra o meu peito.
  - Está amarelando Melody?  - Ela sorriu e segurou o meu rosto, pressionando suas unhas contra a minha bochecha.
  - Você perdeu o sentido da coisa? Essa sua ideia não afeta só a elas, nos afeta também. E não, não quero ser expulsa como Ambre foi. Qualquer monstro é sensato o suficiente pra não fazer o que você quer. – Ela me empurrou e cambaleei pra trás, respirando fundo.
  - Diga apenas onde está o espelho... Eu e Lyssa faremos tudo!  Só preciso que você me diga como. – Melody não parecia feliz com a ideia, mas era esse o único jeito de matar a minha curiosidade, curiosidade essa que ela também tinha.
  - Não é como se ele fosse controlável, Lyana. – Revirei os olhos.
  - Só vamos pegar o espelho, ver o que as duas são e depois o guardamos de volta... Vai ser mais fácil que imagina. – A curiosidade dela parecia maior do que qualquer coisa.
  - Está bem, mas me avise quando for acontecer... Pra eu não sair do meu quarto. – Ela deu de ombros e suspirou.

P.O.V Lyana off

CAPITULO 43 •• A verdade machuca.

- Acorda dorminhoca. – Flor abriu a porta do quarto e entrou daquele jeito nada gentil dela, minha cabeça doía. Me ergui com um pouco de dificuldade, ainda estava sonolenta e percebi que Lysandre não estava mais lá. Ele passou a noite inteira abraçado comigo, me contando histórias sobre sua infância com os outros, Lys me fez esquecer a preocupação que tinha.
  - Flor? Que horas são? E você parece ótima. – Olhei a garota e ela estava mais corada, seu corpo parecia muito mais bonito e forte... E eu que pensei que ela estaria um caco hoje.
  - Eu estou ótima agora, mas pela manhã eu parecia mais defunta do que você... – Ela se jogou na cama com um sorriso largo. Franzi a testa e me virei pra olhar o relógio.
  - MEU DEEEUS, Já são duas da tarde? Por que ninguém me acordou? – Resmunguei chutando o lençol e sentando na cama. Deslizei as mãos pelo cabelo e o prendi em um nó, bocejando e me espreguiçando.
  - Lysandre disse que você precisava descansar... A noite foi boa? – Revirei os olhos.
  - Não diga besteira! –  Joguei uma almofada nela e Flor se desviou rapidamente da almofada.
  - Uau... Isso foi... Legal. – Ri, era um pouco difícil imaginar Flor tão rápida, ela geralmente é só um pouco menos lesada do que eu. – Como foi? – Ainda não tinha caído a ficha de que ela estava virando, ou era, ou ia ser um monstro, pensei que essas coisas de transformações fossem lendas.

  - Foi doloroso e estranho demais, mas também não me lembro o que fiz. Lembro só de sentir muita fome e de correr. Acordei na enfermaria, estava toda arranhada, mas Nathaniel disse que como estamos em época de lua cheia eu me regenero mais rápido e uau... É incrível, eu me sinto mais forte e mais viva a cada segundo... – Ela abriu os braços e respirou fundo. – Fora que posso sentir melhor os cheiros e enxergar coisas que estão bem distantes... Sinto-me incrível. – Ela deu de ombros e sorriu.
  - Que ótimo, e você vai se transformar hoje de novo? – Ela balançou a cabeça positivamente.
  - Nath disse que as primeiras transformações são importantes.  – Silêncio mórbido.

  - Agora você é como eles. – Sua expressão mudou e ela pareceu entender o que eu quis dizer.
  - Significa que você tem mais uma pessoa pra te proteger. – Suspirei cansada.
  - Não quero ser a garota que todos protegem. – Dei de ombros e esfreguei os olhos. – Leigh quer que eu vá embora no próximo ônibus. – A expressão da garota mudou drasticamente.
  - Pensei que ele fosse seu amigo. – Balancei a cabeça positivamente.
  - Era, antes de saber que somos humanas... Ou melhor, que eu sou humana. – Baixei a cabeça e fiquei encarando os meus dedos.
  - Eu meio que o entendo, sabe? – Ergui a cabeça e olhei minha amiga sem acreditar no que tinha escutado.
  - Você o que? – Ela com certeza tinha uma explicação boa, ou escutei errado?
  - Não me olhe assim, é só que... O mundo como um monstro é tão diferente, me sinto mais forte, rápida, poderosa, eu posso quebrar as coisas com facilidade e o Castiel finalmente sente meus socos... E quem domina o mundo são os humanos, criaturas muito mais fracas e menos evoluídas do que a gente. – Ela deu de ombros e entreabri a boca, sem saber bem o que falar.
  - Flor, você se tornou um deles há menos de dois dias e está dizendo que a raça humana é inferior? Não diga coisas tão idiotas. – A garota ficou séria e me encarou.
  - Você não poderia entender...
  - A única coisa que não posso entender é: Quem é a pessoa sentada na minha frente? – Me levantei e fui caminhando na direção do banheiro.
  - Não seja tão dramática, não é pra tanto. Só que eu sou uma loba agora! Sei como é a sensação e você não, por isso não vou pedir que entenda. Fora isso nada mudou.
  - “Fora isso”, como se “isso” não mudasse nada! – Era a segunda vez na vida que estávamos brigando.
  - Mas não muda...
  - Como não? “Isso” muda tudo! Você nunca mais vai ser a velha Flor, a garota que eu conheci. – Ela revirou os olhos mais uma vez, como se eu fosse à coisa mais entediante do mundo.
  - Você está muito dramática ultimamente. Chega disso Demi, não pode agir racionalmente uma vez na vida? Nada mudou. – Por que a cada frase que Flor dizia eu sentia que ela estava me zombando?

  - Se Lysandre não conseguir convencer Leigh que devo ficar e eu tiver que ir embora no próximo ônibus, você virá comigo? – A expressão dela mudou, seus olhos pareciam confusos. Flor não conseguia responder e ficava apenas movendo a boca. Senti meus olhos arderem e a lágrima fugiu, tão rápida que só tive tempo de enxuga-la quando estava na altura da bochecha. – Seu silêncio prova, que “isso” muda tudo. – Minha voz saiu chorosa.

Eu a perdi... Perdi minha melhor amiga.

  - Você ia querer que eu abandonasse tudo por você? – Dessa vez ela parecia mais agressiva do que antes.
  - Não! Nunca! Só queria saber se a nossa promessa ainda estava de pé. – E não, não estava.
  - Por culpa dessa promessa eu era uma das perdedoras da escola, eu vim parar aqui, eu permaneci aqui e eu fui com você naquele telhado, já tive minha cota do que essa promessa pode me oferecer. – Aquele foi como o golpe de misericórdia em alguém que estava morrendo lentamente. Eu nunca me senti sozinha, por que sabia que Flor estava sempre lá, e agora? O que vou fazer? O que vou fazer sem ela? O que vou fazer se voltar para o mundo “real” e não a tiver comigo?
  - Eu... Sinto muito oh tão grande e poderosa Flor, que precisa apenas de amigos monstros. – Debochei.
  - Quer saber? Você está com inveja! Inveja por que agora faço parte do mundo deles e você está prestes a ser mandada embora. Aposto que você quem queria ter sido mordida, assim você viveria seu conto de fadas com o Lysandre e me esqueceria. – Aquilo bastou pra mim, coloquei a mão no rosto e parei de segurar o choro.  Minha cabeça girava, não sei se era pelas novas informações ou pela fraqueza que vinha sentindo há algum tempo.
  - Não vou discutir com você, pra mim já deu. - Virei pra entrar no banheiro, mas o mal estar tomou conta de mim. Meu corpo se tornou mais pesado, quando me dei conta estava caindo, e tudo foi ficando escuro.

(Ps. A personalidade da Flor está assim, por causa da lua cheia)

**

P.O.V. Lysandre

  - Saiam... – Conheço aquele tom de voz que Leigh usava e sabeia exatamente que esse “saiam” não me enquadrava.
  - Deixe-me ficar mais um pouco com ela. – Flor insistiu e Cristãs negou com a cabeça, pegando na mão da garota e saindo com ela, era outra que reconhecia quando Leigh está zangado. Depois que as duas passaram pela porta ele a trancou e se virou pra mim, que estava sentado na poltrona ao lado da cama de Demetria.
  - Certo, você definitivamente enlouqueceu. – Sabia que receberia um sermão e dessa vez eu merecia. Me mantive imóvel na poltrona, encarando a garota que respirava lentamente. Seu rosto estava pálido, os lábios antes sempre rosados agora estavam ressecados, ela estava com olheiras também e parecia mais magra, mas ainda sim Demetria continua a mais bonita pra mim.
  - Não fale tão alto, vai acorda-la. – Ela precisava descansar e com ele usando aquele tom, não iria conseguir. - Vamos falar no escritório. – Levantei e toquei suavemente os cabelos da minha menina, dando um beijo na sua testa e começando a fazer o caminho para o escritório.
  - Eu estou cansado das suas criancices Lysandre! Agora vai fingir que se importa com ela? Pra cima de mim? Ela está tão fraca que não vai escutar se o mundo estiver acabando. – Parei de andar e me virei para observar Leigh.
  - Eu me importo.
  - Se importa? Alguém que se importa não faz o que você faz!! Demetria está visivelmente anêmica. Você tem sugado mais sangue do que o corpo dela é capaz de produzir, olha pra ela! Olhe bem pra ela! Você a está matando e vem me dizer que se importa? – Fechei as mãos em punho e voltei a olhar pra onde Demi dormia, nem mesmo com todo o barulho que meu irmão fazia, ela acordava.
  - É mais forte do que eu... Toda vez que nós... Eu apenas perco o controle quando estamos juntos, mas eu nunca desejei machuca-la. – Leigh revirou os olhos e se aproximou.
  - Agora vai me dizer que ela é a garota? Não brinque com a minha inteligência. – Sua voz estava mais baixa e eu o encarei, bastou isso pra que ele percebesse que ela é "A" garota. – Eu não... Uma humana Lysandre? Uma maldita humana? Como isso é possível? Você naturalmente odeia os humanos, não deveria ser assim... – Foi assim que me senti quando descobri que ela é uma humana, exatamente assim.
  - Eu odeio todos, menos uma. – Leigh se afastou novamente e levou as mãos até a cabeça, depois esfregou o rosto e parou diante da cama dela.
  - Ela tem que ir! Assim que o ônibus vier você vai apagar a memória dela e manda-la embora. – Iriamos ter aquela discussão de novo? Revirei os olhos.
  - Você sabe que não posso, eu não posso aguentar tê-la longe de mim. Eu tenho que pro...
  - Protegê-la? Então a proteja de si mesmo irmão. Por causa dessa humana as regras da escola foram quebradas... Não só da escola, mas da nossa família. Sabe o que mamãe diria se soubesse que anos de tradições foram quebrados por você? Sabe há quanto tempo nossa família luta pra se manter com o sangue sintético? O quanto ela se orgulha dessa escola? Imagina o que acontecerá se ela descobrir que tem uma humana aqui? Por todos os deuses! Alguma vez você pensou na nossa mãe, a fundadora dessa escola e mentora das regras? Pensou nas consequências? – Eu já sabia de toda essa história e estava cansado dela.
  - Não vou manda-la embora. – Leigh virou seu olhar.
  - Então a mate de uma vez só, será mais misericordioso.  Como consegue conviver vendo ela se acabar dia após dia?! Eu não vou permitir Lysandre. Se você escolher deixa-la viver, eu mesmo me certificarei de manda-la embora... Pro bem dela. – Depois de dizer isso, Leigh se afastou e bateu com o ombro no meu, me deixando inerte nos meus pensamentos. Ele infelizmente tinha razão.

CAPITULO 44 •• Espelho de Lilith.

2 dias depois.

  - Você vai ficar me vigiando agora? – Perguntei a Leigh que estava sentado na poltrona onde o Lysandre costumava ficar, mas Lys não veio mais me visitar... Será por causa do irmão?
  - Vou. – Ele falou de forma seca. A Enfermaria estava escura, o que me dava a entender de que passei outro dia inteiro dormindo.
  - Flor esteve aqui? – Ele acenou com a cabeça, sem tirar seus olhos de mim.
  - Você parece melhor, então vamos ter a conversa. – Não sei se queria ter “a conversa”, mas não era como se eu pudesse sair correndo.
  - Eu... Me desculpe pelo mau que causei. – Ele estreitou os olhos e suspirou, cansado.
  - Você quebrou a principal regra da escola, melhor, fez com que outros quebrassem a regra da escola, mentiu, induziu, irritou, perturbou a paz, se envolveu com um predador, deixou que o vampiro de uma linhagem importantíssima saísse de sua dieta, colocou a vida de sua amiga em risco e ainda por cima é desatenta e desastrada, podendo cair em qualquer lugar e através do sangue dar a alguns monstros um belo de um banquete, destruindo tudo o que pregamos aqui... Devo aceitar suas desculpas? – Me contraí. Falando dessa forma tudo parecia muito pior. Balancei a cabeça negativamente e fitei as minhas mãos enrolando meus dedos e pressionando os lábios com força, pra não chorar.
  - Eu não...
  - Queria, eu sei. – Leigh se levantou e sentou na cama, ao meu lado. – Olha Demetria, não vou mentir que não gosto de saber que você está aqui. Uma das minhas responsabilidades nesse lugar é garantir que os monstros possam conviver bem com os humanos. Me irrita saber que tem um humano aqui por que um simples erro poderia jogar anos de ensino no lixo, você entende? Existem criaturas que são doidas pra quebrar a barreira que nos separa do mundo humano e só precisam de uma pequena desculpa. – Funguei e o olhei, seu olhar não era tão agressivo como antes. – Digamos que você e sua amiga não trouxeram só coisas ruins. Vocês despertaram nesses garotos um grande espirito de companheirismo, quebraram barreiras que eles haviam posto em si mesmo e você abriu muitos olhos, abriu os meus e é por isso, que estou te dizendo o que vou dizer agora. – Voltei a encarar as minhas mãos, acho que sabia exatamente do que viria agora. – A minha mãe foi quem fundou essa escola há muito tempo, depois de um conflito terrível contra os humanos. Você entende o que quero dizer? – Digamos que esse foi um choque, e percebi que não sei nada sobre de onde Lys veio. - É pedir demais achar que ela não mate você assim que descobrir que seu filhinho preferido jogou todos seus princípios para o ar. Também não sei o que meu pai faria com ele... Lembra que você disse que sabia que vocês não podem ficar juntos? Eu lamento, mas realmente não podem. Você tornou meu irmão uma pessoa melhor, mas também pode leva-lo a um extremo que não queremos ver Demi. Se algum dia Lysandre perder o controle da sua forma humana ele, por está viciado no seu sangue, vai te matar em menos de 5 segundos. – Não conseguia, por mais que tentasse imaginar Lysandre tentando me matar. - Você tem que partir pra proteger a si e principalmente a ele, como acha que ele viveria sabendo que te matou? Que te fez mal? – Entendi o que Leigh queria dizer, infelizmente eu entendia tudo. Nunca pensei que a nossa relação fosse tão complicada, nunca vi desse ângulo. Não queria partir, do fundo da minha alma desejava ficar, mas meus desejos não podem ser tão egoístas. O enfermeiro tocou a minha mão e seu olhar de piedade só fez com que me sentisse pior.

  - Agora descanse e... – Ele parou a frase no meio e olhou bruscamente em direção à porta. Franzi a testa e olhei pra onde ele olhava, mas não vi nada.
  - Leigh? - Chamei, mas ele colocou o dedo sobre seus lábios, pedindo silêncio.
  - Tem algo acontecendo. – Depois que ele disse isso, ouvi um estrondo, como se alguma parede estivesse quebrando. Um frio percorreu a minha espinha e senti que algo muito, muito errado estava acontecendo. Menos de um minuto depois Lysandre abriu a porta de forma brusca e a fechou atrás de si.
  - O que está acontecendo? – Lys correu até a minha cama e tirou o soro do meu braço.
  - O Espelho de Lilith foi solto, a escola se transformou em um inferno, a barreira está quebrando e eu preciso escondê-la. – Isso foi grego pra mim, mas parecia plausível para Leigh.
  - Leve-a! Vou chamar ajuda. – Leigh desapareceu, Lysandre me pegou no colo e preferi não perguntar nada por enquanto, sua expressão não era a mais amigável.

  **

  - O que está acontecendo? – Lysandre ordenou que eu não olhasse em volta, enquanto me carregava sabe-se lá pra onde. Ele permaneceu em silêncio. Eu podia escutar os gritos e o som de coisas quebrando, era verdade o que ele disse sobre a escola ter se tornado o inferno. O garoto parou de correr e abriu uma porta, me colocando no chão depois de descer algumas escadas.
  - Demetria, aconteça o que acontecer não saia daqui, me ouviu bem? – Estava escuro, mas ainda podia ter um vislumbre do seu rosto.
  - O que está acontecendo Lysandre? Você está me assustando. – Ele tocou o meu rosto e olhou bem nos meus olhos.
  - É assustador, mas eu quero que você me escute. Não saia daqui em hipótese alguma e eu juro que voltarei pra te buscar, entende? – Comecei a tremer só de pensar. Lembrei-me de um detalhe: “o espelho de Lilith foi solto”.
  - O que é o espelho de Lilith? – Perguntei e ele balançou a cabeça, pegando o colar que estava no meu pescoço.
  - Quando puder lhe explicarei absolutamente tudo, mas por enquanto preciso que fique quieta e faça o mínimo de barulho possível. Eu vou precisar pegar isso de volta, me perdoe. – Ele ia retirar o cordão de mim e toquei sua mão.
  - Não, por favor... Ele, ele me protege. – Lysandre puxou o colar e colocou no próprio pescoço, beijando a minha testa.
  - Eu sei que sim, mas ele tem outra missão agora. – Ele segurou no meu rosto mais uma vez e fitou, abrindo um sorriso no canto dos lábios. – Não importa o que aconteça, eu vou sempre te amar, ok? E te proteger acima de tudo. – Não gostava do jeito que ele falava, como se estivesse se despedindo.
  - Não fale assim, eu... – Ele me beijou, foi um beijo meio desesperado e muito mais rápido do que desejei. Sem dizer mais nada, Lysandre subiu algumas escadas e empurrou a grande porta de ferro, depois ouvi a porta se fechar e o som de correntes e cadeado. – Também amo você. – Respondi e juntei minhas pernas contra o meu peito, abaixando a cabeça e encostando a testa nos joelhos. Agora as lágrimas corriam sem freio pelas minhas bochechas, o que estava acontecendo afinal?

POV Catrinn

  Armin segurava a minha mão firmemente enquanto corríamos pelo corredor, ainda não me lembrava de como começou, mas lembro exatamente do momento que ele entrou de pijamas no meu dormitório com Alexy ao seu encalço, ambos gritando que o espelho de Lilith havia sido solto e que os monstros estavam perdendo o controle.
  - Eu e Anelize vamos atrás de Castiel, Lysandre e Nathaniel. Vocês vão procurar Callisto, Flor e Demetria, nos encontramos na sala de música. – Alexy falou com Armin e ele concordou com a cabeça, voltando a segurar a minha mão.
- Vamos direto ao quarto delas. – Ouvi a voz de Armin e concordei. Durante o caminho encontramos alguns youkais lutando, mas não interferimos.
  - Callisto! – Berrei e a garota correu até nós, ofegando, possivelmente havia sido acordada pelos barulhos.
  - O que está acontecendo? – Ela perguntou e ouvimos alguns estrondos vindos do corredor, Armin pegou minha mão e eu peguei a mão de Callisto. Nós três corremos e adentramos a primeira sala que encontramos vazia.
  - O espelho de Lilith foi solto. – Falei, sem fazer ideia do que era isso realmente. – O que isso quer dizer? – Demonstrei a minha dúvida, estávamos abaixados por trás de uma das grandes mesas do que parecia pertencer ao clube de culinária.
  - O espelho é controlado por uma pequena Youkai, ele tem o poder de revelar a verdadeira natureza de um monstro. A Youkai Lilith tinha sido presa dentro do espelho, condenada pela desordem que causou nos dois mundos, alguém que conhece seu poder jamais seria louco o suficiente pra liberta-la. – Agora eu entendia por que todos estavam agindo daquele jeito.
  - Como para essa coisa? – Perguntei baixo.
  - Não faço a menor ideia, mas de uma coisa sei... Com tantos demônios ensandecidos demonstrando seu poder e provavelmente lutando entre si, a barreira que nos protege e impede de sair vai romper... – “Oou” ouvi Armin falar e entendi a gravidade do problema, se os youkais saíssem no estado que estavam: A guerra seria feia!
  - Lysandre deve saber de alguma coisa, a mãe dele é a grande chefona. Quem esconde uma porcaria de espelho desses na escola? – Armin contribui com a conversa e revirou os olhos, estava me fazendo à mesma pergunta.
  - Encontraram mais alguém? – Callisto perguntou.
  - Não, Alexy e Anelize foram tentar encontrar os meninos. – Ela parecia preocupada, imagino que com Nathaniel.
  - Flor não estava no quarto e Demi está na enfermaria ainda, vamos tentar encontrar os meninos também e tentar ajudar quem ainda não foi “transformado”. – Era o máximo que podíamos fazer, nunca pensei que a escola fosse se despedaçar assim, o que mais me dava medo era saber que poderíamos acabar lutando uns contra os outros.

P.O.V. Catrinn off

CAPITULO 45 •• Espelho de Lilith - Parte dois.

Ouvi um som contra a porta do porão e me encolhi ainda mais. O tecido fino do meu vestido branco não ajudava em nada e todo o meu corpo tremia por conta do frio. O som se repetiu e voltei para o canto mais escondido do lugar onde estava. Outro barulho e dessa vez era o som do cadeado sendo quebrado, meu coração saltava desesperado... Seria Lysandre? Ou fui descoberta? Será que alguém estava atrás de mim? Apertei-me mais e a porta se abriu.

  O vento frio entrou e junto com ele o cheiro de terra molhada. Enfiei o rosto entre os joelhos, por que sou demasiadamente covarde para encarar a morte de frente. Ouvi a porta sendo fechada novamente e os passos se aproximaram.
  - Demetria? – Ouvi a voz e levantei o rosto, vendo a quem pertencia.
  - Melody? O que faz aqui? – Ela se aproximou e agachou na minha frente.
  - Eu jurei que não ia me meter, mas não achei que as coisas fossem tomar essa proporção. Farejei você e juro que não foi fácil, mas você é a única solução. – Arqueei a sobrancelha a encarando desconfiada.
  - O que está acontecendo? Que brincadeira é essa? – Enxuguei meu rosto pra não parecer fraca na frente dela, como se fosse funcionar.
  - Eu sei que você é humana! O cheiro do sangue que senti na noite que foi atacada por Nathaniel era sangue humano, tinha certeza. Estava curiosa pra saber o que você era e andei investigando um pouco enquanto as gêmeas estavam ocupadas. Por sorte tenho acesso às fichas e percebi que tirando o nome a sua ficha está exatamente igual à de Lyana, você e Flor vieram pra cá no lugar delas não foi? Bem... Depois ouvi umas conversas e liguei os pontos. – Arregalei os meus olhos e me afastei um pouco, mas já estava contra a parede e não surtiu muito efeito.
  - O que você quer? – Ela parecia fascinada.
  - Queria saber como você conseguiu isso, mas infelizmente não temos tempo. Acontece que a imbecil da Lyana resolveu brincar com uma coisa muito mais poderosa que ela e acabou liberando um espelho que revela a verdadeira natureza de um youkai. – Agora comecei a entender, mas deveria acreditar nela?
  - Por que está me dizendo isso? – Permaneci desconfiada.
  - Por que eu queria a destruição do seu grupo, não da escola inteira. A barreira que protege a escola está rachando e se o amuleto quebrar estaremos em uma enrascada e só você pode ajudar.
  - Eu? Uma humana? Ficou maluca?
  - Pense um pouco, o espelho revela a verdadeira natureza de um youkai, mas não funciona com humanos. Ou seja, você tem que caçar o espelho e quebra-lo, assim salvará todo mundo. – Ela segurou no meu pulso e me puxou. Como é fácil falar.
  - Espera... Se a escola está o caos que você diz, eu não duraria nem dois segundos lá fora. – Recebi outro puxão.
  - Vamos ver, você quer ou não quer salvar seus amiguinhos? Então é bom você ser cuidadosa... Não temos tempo, queridinha. Lilith, quem controla o espelho, tem sinos amarrados aos pés, siga o som dos sinos e a encontrará. – Melody me empurrou pra fora do porão e de imediato eu senti o contado da chuva contra a minha pele, e não era uma chuvinha qualquer, era A CHUVA!  Por que desgraça pouca, é bobagem. 

  Ouvi o som de algo rachando e ao olhar pra cima (por mais bizarro que possa parecer) o céu apresentava uma grande rachadura, na verdade era como se estivéssemos dentro de uma bola de vidro e ela estivesse se quebrando. – Está esperando o que? – Melody gritou e acordei do meu transe, com os pés descalços em contado com a lama, lá fui eu procurar os tais sinos.

P.O.V Catrinn

  - Castiel, aqui! – Chamei o garoto e ele correu até nós. Ele tinha os cabelos molhados e o pijama colado no corpo. – Como está lá fora? – Perguntei. Estava preocupada, Armin tinha ido procurar Alexy e Anelize e até agora não tinha voltado.
  - Os professores que não olharam no espelho estão tentando conter os outros, a chuva está muito forte e Lysandre está com Leigh esperando outros da família pra tentar resolver o problema da barreira, mas não adianta fazer nada enquanto o espelho não for encontrado. – Ele respirou profundamente, estava com o braço arranhado, os pés sujos de lama e uma expressão cansada no rosto.
  - Você viu os outros? – Castiel apoiou as mãos na cintura e acenou com a cabeça.
  - Anelize se transformou também, mas a tranquei em uma sala. Nathaniel está tentando conter os outros e Flor correu pela floresta. Eu ainda a persegui por um tempo, mas sabia que se a pegasse a gente ia lutar então resolvi voltar e dar um jeito de encontrar esse maldito espelho. – Ele fez uma pausa dramática e me encarou. - Alexy e Armin estão duelando no pátio, não sei dizer quem está transformado ou se são os dois... Não tenho como para-los. – Levei as mãos até a boca e segurei o soluço, Callisto me puxou e abraçou, tocando a minha cabeça.
  - Nós vamos te ajudar a procurar o espelho, isso tem que acabar ou...
  - Ou eles vão se matar. – Completei, esfregando os olhos marejados. Não podia correr até lá e parar os dois, não era forte o suficiente pra me meter na briga de dois bruxos com o calibre que eles têm.
  - Certo, preciso falar com Lysandre. O melhor a fazer agora é tentar não arrumar briga com ninguém. – Castiel falou e Callisto afirmou com a cabeça.
  - O-onde está Demi? – Era a única da qual não sabíamos o paradeiro.
  - Lysandre a escondeu. – Fiquei um pouco mais tranquila, um pouco. Imaginar Armin lutando com Alexy estava quase me enlouquecendo. Castiel correu pelo corredor e logo desapareceu.
  - Vamos encontrar esse espelho! – Falei decidida e Callisto concordou com a ideia, era só o que nos restava fazer. Não conseguiria ficar escondida sabendo que todos estavam lutando por algo.

P.O.V. Catrinn off.

  Tremia, cada parte do meu corpo parecia está congelando lentamente debaixo daquela chuva. Tive que me esconder umas duas vezes, pra não esbarrar com ninguém pelo caminho. Antes quando andava pelos terrenos da escola acreditava que tudo não passava de uma farsa, que no fundo não havia monstros mesmo ali, mas agora a minha ficha foi obrigada a cair. Eram criaturas de todos os tipos e uma mais estranha do que a outra. Algumas eu podia ver vagarem de longe ou voando, outros lutavam entre si.
  A chuva densa me fazia ver pouco e talvez fizesse assim com muitos deles. Vi um clarão muito forte vindo do pátio e percebi que conhecia o dono daqueles cabelos azuis. Alexy estava flutuando e estava um pouco acima do prédio, suas mãos brilhavam. O garoto lançou um jato de luz no que percebi ser o próprio irmão, me fazendo ver que Melody estava certa quando disse que eles estavam fora de si. Dei alguns passos de forma automática, queria gritar e ordenar que eles parassem imediatamente com aquilo, mas senti uma mão contra minha boca. Eu mal comecei a procurar o espelho e já fui pega, iria morrer ali e agora. Coloquei as mãos sobre a mão que me segurava e tentei me soltar.

  - Calma Demi, sou eu... Não vou te machucar, eu juro. Mas não é esperto se meter em uma briga de bruxos. – Kentin falou e parei de me sacudir. Ele tirou a mão na minha boca e respirei fundo, o encarando. Kentin estava com os cabelos molhados e vestia uma bermuda com estampa militar e uma regata branca.
  - Você quer me matar de susto? Pensei que fosse morrer agora. – Deslizei a mão pelo rosto e tentei inutilmente enxugar a água que escorria pelo meu rosto. Ouvimos um barulho vindo do corredor e ele me puxou na direção das escadas.
  - Não é seguro ficar vagando por aí. Venha, vou te esconder. – Ele começou a subir as escadas de emergência, que ficavam escondidas nos fundos do prédio e puxei a minha mão.
  - Eu já estava escondida e não ajudei em nada, agora tenho que encontrar o tal espelho.  – Kentin parou de andar e me encarou sério.
  - Você ficou maluca? Não pode chegar perto do espelho ou se tornará como eles! Não vou permitir. – Sacudi a cabeça negativamente e me soltei dele.
  - Eu não posso explicar Kentin, tenho que ir. – Comecei a descer as escadas, mas ele me segurou de novo.
  - Demetria eu já fiz coisas demais pra te prejudicar, dessa vez não vou deixar que se machuque, você é a melhor amiga que eu tenho...A única, e não vou te perder. – Kentin me segurou de novo e bufei.
  - Eu tenho que achar o espelho e destruí-lo, não vou me tornar como um deles por que sou humana. – Kentin arregalou os olhos e afrouxou o aperto no meu braço, o garoto pareceu ter levado uma porrada na boca do estômago. Não queria contar isso dessa forma, mas ele estava me atrasando. – Me perdoe... Mas eu preciso ir. – Antes que ele tentasse acabar comigo, por ser uma humana, deveria fugir. Quando virei dei de cara com a garota de cabelos rosa.

  - Finalmente te encontrei... TUDO ISSO ESTÁ ACONTECENDO POR SUA CULPA. Minha irmã se transformou em pedra POR SUA CULPA, MALDITA!– Lyana berrou e me encolhi, Kentin tapou meus olhos e sussurrou:
  - Nunca olhe nos olhos dela. – A garota avançou pra cima da gente, mas Kentin me empurrou e a segurou que se debatia. – Corre Demetria, eu cuido dela... Faça o que tem que fazer. – Kentin empurrou Lyana e eu corri escada à cima, tendo tempo apenas de ver o cabelo dela se transformar em cobras.

  Corri pelo corredor, o chão gelado estava escorregadio provavelmente por causa da água que escorria enquanto eu caminhava. Tentei manter a calma, não chorar e não cair de cara no chão. Mais parecia está patinando pelo corredor do que correndo, e pelo menos consegui não chorar até agora.
  Quando virei derrapei e quase fui de cara na parede, ali tudo parecia quieto demais. Meu coração batia de forma desesperada e devia procurar o tal espelho, mas não fazia ideia de onde ele estava. Caminhei lentamente pelo corredor, olhando em volta. A maior parte das luzes estavam apagadas, uma ou outra ainda piscavam, prontas pra falhar a qualquer momento. Engoli a seco e ouvi o som que Melody me descreveu... Sinos.

Caminhei mais apressada atrás do som e abri a porta de uma sala, lá estava a tal criatura. Ela mais se assemelhava a uma pequena fada lilás, sua pele também tinha um tom arroxeado bem claro e seus cabelos eram cacheados de um lilás muito forte. Em suas mãos ela segurava um espelho mediano, a pequena criatura batia as asas e balançava os pés como uma criança sapeca, fazendo uma música com seus sinos enquanto ria de forma travessa. Havia uma aura negra no lugar, não parecia vim dela.
  - Mais um... Peguei mais um. – Mais um? Raciocinei de forma lenta demais, por que quando me dei conta algo avançou e caiu por cima de mim, me prendendo ao chão. Suas mãos eram frias e ele me segurava de forma que não conseguia me mover um milímetro sequer, mas ainda continuava a tentar me debater.
  - É inútil, quanto mais a presa se debate, mais interessante fica. – Quando reconheci a voz parei e mesmo por entre os fios de cabelo que se aglomeraram  no meu rosto eu o vi, vi Lysandre com seus olhos opacos: Um vermelho e um branco. O Vi me olhando de uma forma que nunca olhou antes e senti medo, medo de verdade.
  - Lys... Lys sou eu, Demi. – Minha voz estava meio abafada pelo choro e soprei os meus cabelos tentando ver seu rosto melhor. Havia um sorriso malicioso nos lábios e as presas estavam visíveis. Ele respirou fundo e riu.
  - Eu sei o que você é... – Quase suspirei aliviada. – Meu jantar. – Arregalei os olhos e voltei a me remexer mais uma vez, sentindo as lágrimas quentes escorrendo pela lateral do meu rosto. Agora sabia quem exalava aquela aura negra.

“Se algum dia Lysandre perder o controle da sua forma humana ele, por está viciado no seu sangue, vai te matar em menos de 5 segundos.”

  Lembrar as palavras de Leigh me fez desistir de lutar contra ele, estava feito. Eu nos trouxe a esse limite, talvez Lyana não estivesse tão errada quando dissesse que era tudo minha culpa e agora ele estava ali, embriagado, pronto pra poder me matar. Não posso dizer que nunca o imaginei fazendo isso, seria a pior das mentiras... Mas nunca imaginei isso depois do dia em que nos beijamos pela primeira vez, acreditava que o nosso amor era muito mais forte. Lysandre se curvou e esfregou o nariz pelo meu pescoço, como ele sempre costumava fazer e eu gostava, gostaria agora se não soubesse que: Uma vez que ele me mordesse eu estaria morta.

  Não demorou. Sentir aquela mordida foi diferente de todas às vezes, doeu. Era como se ele estivesse sugando toda a minha vida de uma vez só... E estava.
  - Lysandre! – Ouvir a voz de Leigh foi como ver a luz no fim do túnel. O enfermeiro avançou contra o corpo do irmão. As presas dele, que ainda estava cravadas da minha pele, me rasgaram e me fizeram gritar de dor. Meus dedos tremiam e quando coloquei a mão sobre onde os dentes dele haviam rasgado a minha carne, senti meus olhos ficarem embaçados e uma grande tontura.
  - Corre Demetria! Corre agora. – Leigh falou enquanto segurava Lysandre, que rosnava alguma coisa sobre eu ser sua presa.

  Correr? Ele disse correr? Por acaso ele sabia como eu estava me sentindo? Apoiei as mãos no chão e tentei me levantar, quase voltei para o chão quando as mãos molhadas escorregaram. Eu juro que estava tentando ser rápida, mas meu corpo não respondia.
  - Vem comigo. – Senti alguém me segurar e me levantar, quando olhei era Cristãs.  Nas suas costas havia asas negras e pontudas, que se assemelhavam a de um morcego. A garota me abraçou por baixo dos braços e bateu a suas asas, flutuando comigo pra outro canto da escola.
  - O... O espelho, preciso quebrar o espelho. – Anunciei.
  - Tenho que te colocar em um lugar seguro. – Sacudi a cabeça negativamente.
  - Não, eu consigo quebrar o espelho e acabar com tudo isso... – Ela pareceu entender o que dizia, provavelmente por causa do cheiro de sangue ela tinha descoberto o que sou.
  - Faz sentido... – Cris desviou o caminho e voou comigo até a entrada principal, me colocando no chão e tocando o meu rosto. – Você não me parece nada bem, seria melhor... – Toquei sua mão e sorri.
  - Eu posso fazer isso, você sabe onde está? – Cristãs queria me proteger, eu sabia. Mas ela também sabia que se eu era a única chance de quebrar o espelho o mais rápido possível, deveria fazê-lo. A garota ficou pensativa por alguns instantes e olhou lá pra fora, apontando em direção à floresta.
  - Sinto o cheiro dela por ali... Não consigo voar na chuva, mas te dou cobertura... Seu sangue vai atrair... – Afirmei com a cabeça e lá fomos nós, estava perdurada no braço dela e de começo foi fácil, mas assim como ela disse, logo meu cheiro atraiu atenção demais.

CAPITULO 46 •• Então será assim?

Começamos a correr quando alguns youkais vieram na nossa direção. Cristãs com as suas garras se livrou de dois deles, um que mais parecia um sapo gigante e outro que parecia um pássaro, mas eles continuavam a vir.
  - Vai Demi, eu os distraio. – Ela não daria conta de todos sozinha, mas logo apareceu Melody e Kentin.
  - Nós ajudamos, vai... – O garoto gritou pra mim e dei as costas, correndo por entre as árvores. Ali o terreno estava mais barroso, as árvores sacudiam rapidamente por causa do vento que soprava forte, parecendo que iria vencer e enverga-las totalmente. A densidade da chuva ali diminuiu por causa das árvores, mas ainda sim, a água me acertava e fazia o machucado de quase um palmo que começava no meu pescoço, arder. Pelo menos era capaz de lavar o sangue que ainda escorria pela ferida recém aberta.

  - Ahh vou pegar mais um, mais um. – Ouvi a voz infantil acompanhada pelo som dos pequenos sinos, então comecei a seguir. Pulava e desviava das raízes com dificuldade, minha cabeça estava muito pesada, assim como o resto do meu corpo... Mas não poderia parar agora, por que se caísse não levantaria nunca mais. Andei mais um pouco e respirei fundo, me curvando e apoiando as mãos nos joelhos tentando recuperar o fôlego.
  - Mais uma vítima, como é divertido... – Ouvi a sua voz infantil e me ergui, notando a criatura a minha frente. Uma coisa que não havia reparado antes é que seus olhos eram totalmente brancos e no seu rosto não havia nariz... Significa que ela se guia apenas pelo som? Então ela não poderia saber que sou humana, por isso veio até mim? – Mestra, revele a sua verdadeira natureza. – Como uma coisa tão “angelical” poderia ter causado tamanha destruição? Por culpa dela todos estavam daquele jeito, e isso me deixou tão, mas tão irritada que nem pensei muito antes de agir.
  - Vou te mostrar a verdadeira natureza... – Ouvi o badalar dos sinos e ela pareceu estranhar o fato de que eu não estava me transformando em nada.
  - Por-Por quê?? – A mini youkai parecia frustrada.
  - Por que eu sou humana. – Quando disse isso ela pareceu ficar distraída e me aproveitei desse momento pra puxar o espelho de suas mãos. Não foi fácil me esticar toda pra pegar aquele espelho, mas depositei todo o peso do meu corpo pra puxa-lo pra baixo e quando consegui pega-lo um grito bem fino ecoou.  O pequeno espelho era bem pesado e estava bem quente, parecia ir esquentando a cada segundo. A tal da fada, ou seja lá o que for aquilo, voou na minha direção e me abaixei erguendo o espelho e batendo-o contra a raiz de uma árvore, no primeiro golpe ela soltou outro grito muito fino e agudo, no segundo golpe ela voou pra cima de mim de novo, mas no terceiro golpe o espelho finalmente se partiu, foi como uma grande explosão.

  **

P.O.V Lysandre

  O cheiro de sangue era forte, quando abri os meus olhos e olhei em volta Leigh estava me encarando na defensiva, desconfiado.
  - Lysandre? – Ele perguntou.
  - Quem mais seria? – Resmunguei e inspirei profundamente, mais uma vez o cheiro de sangue adentrou as minhas narinas, era o cheiro dela... O sangue de Demetria. Olhei pra minha camisa, que outrora fora branca, manchada por aquele sangue e encarei Leigh. - O que eu fiz?  – Perguntei a ele, que pareceu mais aliviado. Deslizei a língua sobre meus lábios e senti o sabor doce, voltando a encarar meu irmão.
  - Você não a matou, por pouco. – Meus sentidos estavam reagindo lentamente, como se despertassem aos poucos. – Houve um clarão e você apagou de repente, o que me faz pensar que o espelho foi quebrado, já que você voltou ao normal. – Rasguei o tecido manchado pelo sangue dela e limpei a minha boca, depois de me levantar. Aquela frase foi como uma punhalada: “Você não a matou, por pouco”. Comecei a andar pelo corredor.
  - Vou procura-la. – Leigh segurou no meu braço e negou com a cabeça.
- Eu não acho uma boa ideia irmão, depois do que você fez... – Puxei o meu braço bruscamente e o ignorei, saltando escada abaixo e tentando encontrar o cheiro dela. Por que ela não ficou onde mandei? Por que ela não podia ter simplesmente esperado? Quando cheguei ao andar debaixo percebi que havia mais alunos no chão, todos que antes tinham sua forma de monstros agora estavam completamente em sua forma humana.

  - Lysandre! – Ouvi uma voz me chamar e não parei, continuei a caminhar e a tentar encontrar o rastro de Demetria, mas o cheiro do sangue youkai, da lama, de coisas queimando e da chuva, que ainda caía, estavam me confundindo. – Lysandre! – Senti alguém me segurar e olhei, dando de cara com Cristãs que tinha os olhos marejados.
  - Não tenho tempo agora Cris, preciso encontrar Demetria. – Ele apertou as mãos no meu braço e sacudiu a cabeça.
  - Ela entrou na floresta pra tentar destruir o espelho. Alexy e Armin e Nathaniel estão machucados, mas Flor e Castiel estão procurando por ela. Está difícil e todos estão com os sentidos fracos demais. Talvez você consiga... – Tive um péssimo pressentimento. Um frio subiu pela minha espinha e antes que ela pudesse continuar a falar, corri em direção a floresta, não consegui utilizar toda a minha velocidade, mas de parte dela.

  Lá fora os cheiros estavam ainda mais misturados e fortes, havia ainda mais pessoas recobrando a consciência. Reconheci alguns dos cheiros em particular, mas não parei pra conversar com quem quer que fosse e apenas adentrei na floresta. Foi mais fácil do que pensei e senti o cheiro do sangue que eu conhecia tão bem e do qual já provara tantas vezes. Acelerei o passo e não demorou pra eu a encontrasse, o sangue fresco quase me fez perder o foco, mas o que realmente me atingiu foi à imagem de Demetria caída no chão. Seu corpo pequeno estava mais pálido que o normal, o vestido branco encharcado, seus lábios estavam roxos e seu coração batia tão lentamente que mal podia ouvi-lo, prendi a respiração ao notar a ferida visível no seu pescoço e me lembrei de que foi eu quem a fiz. Ajoelhei-me ao seu lado e ergui seu tronco em meus braços, nunca sua pele foi tão gelada.
  - Por que você tem que ser tão teimosa? – Seu peito subia e desci tão lentamente que por um momento pensei que ela não estivesse respirando. Juntei mais o seu corpo pequeno contra o meu, mas eu nunca exalei calor algum e infelizmente não poderia esquenta-la. Sacudi seu rosto mais uma vez e ela não respondia, não seu movia. – Vamos lá, por favor... Vamos lá garota. Apenas abra seus olhos. – Implorava, tudo o que precisava era ver seus grandes olhos brilhantes, queria que ela me olhasse e dissesse que estava tudo bem.

  - O que está acontecendo? Eu quero ver, me solta Castiel. – Tentei ignorar a voz de Flor, assim como ignorei os passos dos outros, Leigh e Cristãs também estavam ali.
Me curvei e cravei meus dentes na sua pele pálida e fria, dando a ela meu sangue.
  - O que ele está fazendo? Ele vai mata-la! – Ouvir Flor mais uma vez.
  - Ele a está salvando. – Leigh informou. Pelo menos ele não me impediu. Tirei a boca da sua pele e me afastei, mas nada mudou. Seu coração continuava a bater lentamente, sua pele continuava com o mesmo tom pálido, sua respiração fraca e seus olhos, seus lindos olhos estavam fechados.
  - Vamos lá, não desista. – Nunca me vi tão desesperado, nunca tive tanto medo de perder alguma coisa e nunca me senti tão impotente. Voltei a mordê-la e a dar mais do meu sangue a ela, era justo já que eu lhe roubei tanto. – Abra os olhos Demetria, por todos os deuses, abra os olhos. – Fornecer tanto do meu sangue a ela já estava me deixando tonto, talvez fosse por causa da força que o espelho nos tomou, mas eu não desistiria dela assim. As bastidas do seu coração tocavam uma música lenta, mas sabia que ela ainda estava ali, ela tinha de está!
  - Essa não é uma boa brincadeira, já pode despertar fedelha. – Aquela sensação de vazio estava começando a me atormentar. – Você acha que pode me deixar assim? – Sacudi seu corpo, dessa vez com mais força e aumentando o timbre da voz, enquanto ignorava o choro de Flor. Eu a traria de volta.
  - Já chega Lysandre. – Ouvi Leigh anunciar, sabia se que o meu sangue não a transformasse a mataria e por isso não a dava mais, por que nada mudava, nada acontecia e eu não fazia ideia se a estava ajudando ou terminando de mata-la. Bastava mais uma mordida e Leigh sabia...

  Pressionei meus braços um pouco mais forte em torno do seu corpo e toquei a sua testa com a minha. Aquela sensação era totalmente nova, aquilo de ter os olhos encharcados também era totalmente novo pra mim. Ainda mais nova era aquela sensação de que eu estava sendo rasgado por dentro, ouvir o coração dela quase parando me tornava tão culpado. A chuva havia ido, o vento havia parado, o silêncio reinava naquela clareira e a vida da pessoa que eu amo, estava escorrendo pelos meus dedos.
  - Eu não sabia que vampiros choram. – Ouvi a voz dela e me afastei assustado, dando de cara com aqueles olhos grandes e quase não pude acreditar. Não sabia se continuava a chorar, se ria, se a sacudia, se a beijava e no entendo só consegui ficar a observando. – Que cara é essa? Minha aparência está tão ruim assim? – Ela perguntou e sacudi a cabeça negativamente, rindo. Mais um pouco, mais uma mordida e ela morreria ou se tornaria como eu... Mas não foi preciso.
  - Quem está chorando? Meu rosto molhado é pela chuva. – Ela sorriu e depois tossiu, então seu coração começou a retomar o ritmo normal, me deixando aliviado. – Você está linda, como sempre. – Toquei sua bochecha e me curvei, dando um beijo demorado sobre os seus lábios.. – Nunca, nunca mais me assuste dessa forma! Eu mandei você me esperar. – Demetria fez seu bico costumeiro. Tentou se levantar, mas parecia tonta demais pra isso e a segurei.
  - Eu estava te esperando, sempre estive. – Depois de dizer isso a abracei e beijei sua cabeça, percebendo a expressão confusa de Leigh. Percebi que logo teríamos outra daquelas conversas. Peguei Demetria no colo, agora tudo se resolveria. Castiel e Flor não estavam mais ali, provavelmente ela e levou, pelo que entendi ela havia desmaiado pela fraqueza, pelos ferimentos e pelo nervosismo.

P.O.V Lysandre Off


P.O.V Leigh.

  - Agora voltemos para a escola. – Anunciei. Enrolado na minha capa estava o espelho que Demetria havia quebrado, não ousei analisa-lo, não sabíamos de fato o que havia acontecido ali.
  Não posso negar que me surpreendeu a força da humana. Lysandre é um vampiro novo demais, com apenas 16 anos de vida não se pode transformar um humano, mas nunca vi um vampiro tão novo tentar, mas ainda sim seu sangue foi o suficiente para desperta-la.
Ficamos em silêncio e saímos calmamente da floresta, não estávamos muito longe dos arredores da escola. Quando chegamos ao pátio principal, tivemos a visão. Lá estavam eles, os grandes vampiros da nossa família, todos ajudando os alunos a se erguer, enquanto dois vampiros em particular estavam parados no portão, olhando na nossa direção.
  - Vocês estão atrasados. – Anuncie e a mulher de longos cabelos negros e olhos vermelhos profundos me fitou séria, visivelmente descontente.
  - Quando te dou um trabalho, você deve cumpri-lo... No entendo deixa isso acontecer? – Claro, como sempre a responsabilidade era toda minha.
  - É bom te ver também mãe, mas quantas vezes lhe disse que não deveria deixar o espelho a encargo de pessoas tão inúteis? Ele não estava sob minha proteção. – Por que ela compôs o corpo docente por monstros diversos e eles mais faziam medir suas forças do que uni-las pelo bem da escola.

  - Foi pra isso que você também ficou aqui e... O que é isso? – Ela finalmente voltou a sua atenção para Lysandre, que carregava a humana. O ferimento que os dentes do meu irmão havia feito se fechou, mas as marcas ainda estavam lá e o sangue ainda estava nas vestes dela. – Lysandre o que é essa coisa que você está segurando, querido? – Com ele era sempre “querido”, “filhinho”, “amorzinho” e derivados.
  - Seu “filhinho” andou aprontando uma das boas, mãe. – Meu pai que estava do lado dela, não costumava se meter nos assuntos da escola, por que ele tinha seus próprios negócios, mas quando se metia sua palavra era lei.
  - Lysandre, por que está carregando uma humana? – Lysandre era o espelho do meu pai, não só na aparência, mas também no tom calmo e na forma que olhava.  Mas sabia que por trás desse tom tranquilo, havia um tom reprovador, conhecia bem.
  - É uma longa história. – Minha mãe colocou seus olhos vermelhos nos meus, nada feliz.
  - Leve a garota e se livre desse cheiro, depois nos encontre na diretoria. – Acenei com a cabeça e me aproximei do meu irmão, que não quis entrega-la.
  - Não complique ainda mais. – Ele bufou e então peguei a humana, tratei de ser rápido e leva-la pra dentro da escola antes que seu delicioso sangue causasse mais estragos.

P.O.V Leigh Off

No dia seguinte

  - Já repararam? Isso mais parece uma reunião da turminha do mal. – Alexy falou empolgado, nossas camas na enfermaria estavam próximas, haviam outros enfermos, mas esses não pareciam contar para o garoto. Alexy ele estava com a testa enfaixada, por causa do combate com o irmão. Armin estava emburrado por ter quebrado o braço e já havia xingado Alexy de todos os nomes possíveis.
  - Por que não fica quieto Alexy? Ninguém aqui quer ouvi sua voz. – O gêmeo enfezado fez bico e revirou os olhos.
  - Não fique tão irritado Armin. Que tal fazermos assim: Você joga com o braço direito e eu serei seu braço esquerdo. – Catrinn anunciou e o mandou chegar mais para o lado, sentando na cama e vendo se aquela sua ideia funcionava, rapidinho o humor do garoto melhorou.
  - Ele é um tanto dramático... Aí está a minha gatinha! – O garoto de cabelos azuis anunciou animado, ao ver Anelize entrar na enfermaria. Ele me contou milhões de vezes como ela ficava linda quando estava transformada e parecia mais empolgado que o normal.
  - Você já está perturbando todo mundo? – Ela perguntou de forma brincalhona e se aproximou da cama dele.
  - Demi e Nathaniel já acordaram, qual o problema? Você acha ruim heroína? – Alexy me olhou com carinha de piedade e neguei com a cabeça.
  - E a Flor? Vai acorda-la. – Ane completou.
  - Não se preocupe com essa aí, ela está dopada. – Ele pareceu mais animado com isso e então se lembrou do seu plano.
  - Aii... Aii está tudo doendo... Agora terá que me dar beijos em dobro, felina. – Alexy começou com o seu drama planejado, arrancando risadas de nós. Nathaniel quebrou a perna acabara de acordar, Callisto estava com as mãos geladas sobre o roxo que ele arrumou nas costas.

  - Como se sente, Demi? – O Garoto perguntou, sua cama estava do meu lado.
  - Por mais incrível que pareça, me sinto bem. – Sorri e ele pareceu satisfeito com a resposta.
  Flor ficou com cortes profundos e agora dormia, ela teve alguns pesadelos e por isso Leigh a dopou.
  Por falar nele...
  - Demetria! Venha comigo. – O enfermeiro apareceu, seu rosto estava sério, acho que sei do que se trata. Me levantei com calma da cama e antes de ir, passei os olhos pela face dos meus amigos recebendo olhares de “seja forte” de todos, mas eu já fui forte por toda a vida, no dia anterior.

  **

  A sala estava escura, havia uma aura negra no ar como a que senti quando Lysandre me atacou. A cadeira em que estava sentada caberia três de mim. Além de mim, na sala estava apenas a mulher que descobrir ser a mãe de Lysandre.
  - Vou ser direta. A minha ideia era matar você... – Congelei na cadeira, ela falou isso com mais naturalidade do que eu desejava. – Mas dadas às circunstâncias, eu resolvi repensar e vou apenas te expulsar e apagar a sua memória. – Ela cruzou os braços e arqueou uma de suas sobrancelhas.
  - Eu...
  - Não terminei. Não sei o que você fez com meu filho, mas saiba que eu não vou deixar você chegar perto dele de novo. Saiba que você só está viva por que ele interferiu e é justo dado que você ajudou a escola. Você será mandada embora hoje à noite, então se prepare.  – Baixei a cabeça e acenei positivamente, olhando meus dedos.
  - Posso pedir uma coisa? – Voltei a erguer a cabeça e a encarei, ela tinha uma expressão ainda mais irritada do que antes.
- Você não acha que está querendo demais pra uma criatura que quase destruiu tudo o que construí? – Acenei positivamente com a cabeça, mas não desisti de pedir.
  - Me de mais um dia, pra me despedir de todos. – Ela soltou uma risada baixa.
  - Acha que vou permitir você mais um dia nessa escola? – A vampira me lançou seu olhar mais ameaçador e tentei não me intimidar.
  - Acho. Eu sei que tudo o que fiz foi muito errado. Nunca planejei nada, vim pra cá foi um acidente, também tive a minha vida mudada, corri riscos dia após dia dentro da escola e se consegui é por que tive amigos que me aceitaram como eu sou e que decidiram guardar esse segredo. Eles cuidaram de mim e perderam parte do seu tempo pra isso. Uma professora disse que nem todos os humanos são ruins e me vi em um mundo invertido, por que de onde eu venho são vocês as criaturas assustadoras e cruéis. Hoje posso provar que nem todos os monstros são ruins e foi por eles, por esses seres que me ajudaram que eu me esforcei tanto pra encontrar o espelho e eu não digo que são monstros, digo que são apenas diferentes... Então, por favor, por favor! Mesmo que eu nunca mais vá lembrar nenhum deles, deixe-me apenas ter mais um dia com eles, por que se o objetivo era fazer os monstros saber lidar com os humanos, eles se saíram muito bem. – Deslizei as costas da mão pela minha bochecha, não achava que ela fosse se sensibilizar ou coisa do tipo, mas desejava com todas as forças que ela ao menos, me permitisse ter mais um dia com eles.

  - Entendo... – Ela ficou me encarando um pouco fascinada, ou irritada, ou debochada (não, não sei ler as pessoas) e balançou a cabeça positivamente. – A meia noite de amanhã você vai embora. – Ela moveu a mão e a porta da sala onde estávamos se abriu.
  - O-obrigada...
  - Vá de uma vez, antes que eu mude de ideia. – Depois de ouvir essa frase, me levantei rapidamente e saí da sala. Estava muito tarde, então tudo o que eu deveria fazer era ir para o meu quarto e dormir, esperando pelo amanhã.



CAPITULO 47 •• Tesouro mais precioso. •• FINAL

“Sempre que nos víamos tudo o que fizemos foi brigar, mas aquilo eram também lembranças maravilhosas.” 

  Meus passos escoavam pelos corredores recém-arrumados da escola, as pessoas caminhavam e interagiam como se nada tivesse acontecido, como se o dia de ontem tivesse sido apagado de suas memórias, mas na minha memória cada segundo daquele dia estava pulsando. Suspirei e pressionei os dedos contra o pingente do meu novo cordão. Flor caminhava em silêncio ao meu lado, não estávamos mais brigadas e não foi preciso uma conversa pra que soubéssemos disso. Ambas erramos e ambas tínhamos muitos defeitos, mas no final acabávamos por nos completar. Ela não sabia, que essa era a ultima vez que eu vestia aquele uniforme, a ultima vez que jogava a almofada nela pela manhã pra que ela despertasse, a ultima vez que lutaríamos pra ver quem entrava no banheiro primeiro. Nunca antes reparei como esses momentos bobos e pequenos pudessem me fazer falta posteriormente, sentiria falta de andar com ela lado a lado pelo corredor, geralmente trocávamos ofensas, falávamos mal de alguém, contávamos alguma fofoca ou apenas resmungávamos da vida, mas hoje permanecemos em silêncio por que nada precisava ser dito, ou precisava? Mas como seria dito? Nenhuma de nós era boa com isso, portanto estava ótimo assim.

  Passei por Kentin no corredor e ele acenou com um sorriso e passou direto, provavelmente pra não ascender à ira de Flor. Ele parecia menos abatido e muito mais leve, havíamos tido uma conversa e colocado tudo nos eixos, ele prometeu que não seria mais manipulado, de agora em diante. Soube que a gêmea Lyssa se transformou em pedra quando olhou seus próprios olhos refletidos no espelho e o mesmo aconteceu com Lyana mais tarde, mas essa por que Kentin foi capaz de engana-la. Foram elas quem libertaram o espelho e por isso estavam condenadas a permanecer como pedra por alguns anos, enfeitando o jardim na escola como exemplo aos que atentavam contra a mesma. Melody com certeza estava envolvida, mas ela saiu ilesa como sempre, eu só desejava que dessa vez ela passasse a cuidar mais de sua vida do que da dos outros.

  Encontramos com Castiel no meio do caminho e ele passou o braço em torno do pescoço de Flor, dando uma mordida em sua bochecha e a chamando de pulguenta. Bastou isso, pra que os dois fossem se batendo até o restaurante.

“Você me ensinou muito, eu não estou mais assustada. Não importa o quão difícil, eu posso agarrar a felicidade, então eu vou por mim mesma, mesmo que isso pareça doloroso.” 

  Aproximamo-nos da mesma mesa onde tomávamos café todas as manhãs e todos estavam lá, com as expressões costumeiras, vê-los me fez sorrir.
  - Mas o que você acha que está fazendo, seu verme  de cabelo azul? Tira já essa boca de perto da minha prima. – Castiel gritou assim que chegamos e pegamos Alexy e Anelize trocando um selinho.
  - Castiel, não diga bobagens. – Anelize falou, com um sorriso doce nos lábios.
  - BOBAGEM? Vou mostrar a bobagem na fuça desse aí. – Alexy só acreditou que Castiel ia realmente ataca-lo, quando o ruivo já estava quase com as mãos no seu pescoço. O garoto de cabelos azuis saltou por cima da mesa soltando um grito, enquanto todos os outros riam.
  - Alguém me ajude! Não deixe Castiel terminar de partir minha cabeça. O segure Flor. – Gargalhavam.
  - Volte aqui! Você não vai levar minha prima inocente para o mau caminho, seu tarado! Não acredito que você caiu na lábia dele Ane. – Alexy correu e se escondeu atrás de mim.
  - Olha quem fala Castiel! – Flor revirou os olhos e segurou no braço dele, o puxando.
  - Ele se escondeu atrás da meio metro, da meio metro! Alexy você é burro? – Castiel ainda tentava avançar.
  - Não toque no Alexy Cast, ele é um bom menino. Garanto que ele cuidará muito bem da Ane. – E era uma pena que não estaria ali pra vê-lo fazendo isso, pra poder puxar a orelha do garoto se ele a fizesse sofrer e pra ajuda-la quando Alexy começava a lhe fazer perguntas constrangedoras. Não mais roubaria os docinhos que ela fazia para o namorado e muito menos passaria uma tarde sentada na sombra de uma árvore, ouvindo música com meu amigo.
  A fim de ajudar Alexy fiz um biquinho apelativo e pisquei os olhos, cutuquei Alexy e ele ficou do meu lado, com a expressão mais inocente do mundo no rosto.
  - Rá, não pense que não ficarei de olho em vocês. – O Resmungão sentou e cruzou os braços, nós também nos sentamos.

  - Como está se sentindo, Demi? – Catrinn perguntou e acenei a cabeça positivamente.
  - Muito bem, por mais incrível que pareça. – Sorri e suspirei.
  - E como foi à conversa com a poderosa chefona? – Armin estava sentado ao lado da garota, com o braço bom em torno do ombro dela.
  - Foi estranho... Mas ela diz que me perdoou, por eu ter salvado a escola e que ainda não decidiu o que fará comigo. – Menti, um dos acordos era que eles não soubessem quando eu partiria.
  - Menos mal, se quiser podemos nos juntar e pedir que você fique. – Alexy falou, ele já estava sentado do lado de Ane novamente, mas toda vez que tentava envolve-la com o braço, levava um tapa de Castiel.
  - Talvez seja uma boa ideia, mas ainda temos que esperar a decisão final. Enquanto isso... Eu estudo. – Era exatamente pra evitar esse tipo de comoção que havia o segredo. Dei de ombros e peguei um bolinho de chocolate, que estava na bandeja de Anelize, ela já nem ligava.
  - Onde está Lysandre? – Anelize perguntou e imediatamente fiquei encarando o bolinho a minha frente, mordendo meu lábio inferior.
  - Ele não dormiu no quarto essa noite, deve ser por causa da mãe. – Castiel falou e depois resmungou, provavelmente por que Flor o cutucou.
  - Ah ali está ele. Lysandre! Lysandre! – Anelize chamou e o garoto veio na nossa direção, com as mãos no bolso e uma expressão serena no rosto.
  - Vejo que já estão melhores. – O garoto deu de ombros e sorriu.
  - Você, seu desnaturado, por que não foi nos ver na enfermaria? Demetria te chamou enquanto dormia. – Alexy tinha a boca maior do que ele mesmo. Me encolhi um pouco e fiquei olhando o alimento, do qual perdi a vontade.

“Eu vou sempre continuar o sonho que tive com você. Estar com você era tão maravilhoso, não havia mais ninguém, mas quando eu acordei de manhã, você não estava lá.” 

  - Quem? – Aquilo doeu mais do que eu imaginei.
  - Yaa, que brincadeira é essa? – Flor perguntou o encarando, séria.
  - Tsc, se for mais uma daquelas fãs malucas, saibam que não estou interessado. – Depois de dizer isso ele esfregou a mão nos cabelos de Flor e a voltou pra dentro do bolso. – Tenho que ir agora, nos vemos depois. – Depois de dizer isso, ele deu as costas e nos deixou.
  - O que foi isso? Esse cara ficou maluco? – Castiel pareceu um pouco irritado com a atitude dele.
  - Lysandre bateu com a cabeça ou coisa assim? Ele nem olhou pra Demi... – Armin falou e eu me levantei, suspirando.
  - É hipnose, Leigh me contou... Se me dão licença, eu preciso ir agora, preciso ficar um pouco sozinha. – Não era pra ser assim, eu usaria esse dia pra passar com eles... Mas foi mais forte do que eu.

  Dessa vez fiz o caminho de volta para o dormitório em uma velocidade recorde. Quando finalmente cheguei ao quarto, tranquei a porta atrás de mim e encostei-me à mesma. Coloquei a mão sobre a minha boca e prendi a respiração, mas não aguentei muito tempo e as lágrimas já estavam caindo. Deslizei as costas pela madeira da porta e quando me vi no chão, me dei liberdade pra chorar e soluçar, quanto mais eu aguentaria? O quanto eu ainda sou forte?

  **

“Eu senti que poderíamos jogar para sempre, mas eu sei que isso é só o que eu acreditava.” 

  Não sei por que sugeri um piquenique, não tinha fome, me sentia enjoada só de imaginar, mas ainda sim tentava. Estava encostada na árvore sobre a toalha quadriculada, enquanto mordiscava um cookie e observava em torno, estavam todos lá.

  - Vamos Catrinn, você nunca vai passar essa fase sem a minha ajuda. – Armin anunciou, dando um beijo no pescoço da menina, que tentava se concentrar no video game portátil. Ela se encolheu e ouviu-se o barulho da partida perdida.
  - Perdi de novo, mas por sua culpa. – Ela tentou se afastar dele, mas o garoto a puxou de volta enquanto ria.
  - Mas não fiz nada... Tudo o que você precisa é da minha técnica, mas não será assim de graça. – Ela cerrou os olhos e corou, ao notar o sorriso malicioso que ele tinha no rosto, mas logo esse foi substituído por um sorriso divertido. – Eu me conformo com um beijo, e uma vida de servidão. – Ele gargalhou e tomou o vídeo game da mão dela.
  - E pode dizer como vai jogar? Ou já esqueceu que tem um braço quebrado? – Ele deu de ombros e tentou jogar, mas não durou nem um minuto, arrancando risadas da namorada.
Era interessante observa-los, sentiria falta de ouvi-los discutindo por algum jogo, por algum filme, ou coisas do tipo. Queria que Armin cuidasse bem de Cat, e que Cat mantivesse seu jeito tímido e distraído, nunca me esqueceria das comparações que ela fazia do jogo com a vida real. Me lembraria dela quando jogasse algum?

  “Não me arrependo de ter nascido mais. Como o sentimento depois de um festival, é triste, mas vamos avançar pouco a pouco.” 

  - Castiel, vai cuidar da Flor e me deixe em paz. – Anelize anunciou e virei o rosto pra olhar aqueles quatro, não pude evitar a risada.
  - Anelize, você é muito nova pra ficar namorando esse aí. – O ruivo resolveu mesmo implicar com o casal, Alexy revirou os olhos e puxou a garota pra mais perto.
  - Castiel, larga de ser careta... Eu não sou feito você que pegava qualquer uma. Já pegou metade das meninas da escola. – Alexy falou isso e Flor acertou um tapa no braço de Castiel.
  - É assim? Você pegou metade da escola? – O garoto esfregava o braço onde recebeu o tapa.
  - Não seja tão dramática Flor,  agora eu sou só seu. Mas estou tentando proteger o nome da minha família aqui. – Dito isso ele puxou Anelize mais uma vez, pareciam está fazendo cabo de guerra com a menina.
  - Pois é Flor, ele se refere ao que vocês têm como “lance”.  – Alexy provocou ainda mais, e levou um cutucão de Anelize.
  - Alexy, não piora tudo.
  - UM LANCE? RÁ, bom saber... MUITO BOM SABER. – Flor parecia irritada, mas ela ficava engraçada assim.
  - EU VOU TE MATAR ALEXY. – Castiel rosnou e ameaçou voar em cima do garoto.
  - Se eu fosse você ia atrás da Flor. – Depois de ouvir isso, o ruivo percebeu que Flor estava se afastando do grupo e foi atrás dela.
  - Finalmente paz... Descobri como mantê-lo ocupado. – O Garoto de cabelos azuis abriu um sorriso vitorioso e beijou a bochecha rosada de Anelize, que sorria sempre tão gentil.
  - Agora eles vão ficar brigando, você não tem jeito! – Ela beliscou o braço de Alexy, que riu.
  - Eles já fazem isso normalmente, agora usarei isso ao nosso favor. – Ele riu e roubou alguns biscoitos da cesta.

  Meus dias não seriam tão animados sem essas discussões, saber que perderia essas memórias preciosas causava uma dor estranha no meu coração. Estava ali recostada a árvore, desejando guardar aquele dia muito bem, cada detalhe... Por que talvez assim, nunca me esquecesse... Não importa quanto tempo passasse, ficaria aqui dentro em algum lugar, tinha que ficar.

“Eu vou ir a qualquer lugar, você sabe disso. Eu vou te mostrar que eu posso conceder o seu sonho de felicidade.” 

  - Desculpe. – Ouvi a voz tranquila de Nathaniel e olhei, percebendo que ele de fato falava comigo.
  - Pelo que? – Ele sorriu e observei que Callisto havia emendado uma conversa com Cristãs e pareciam está se dando bem.
  - Você queria ter uma tarde agradável depois de tudo, e aqui estamos fazendo barulho. – Seus olhos de tom âmbar tinham um brilho, Nathaniel desde que voltara a se relacionar com Callisto, parecia outro. Era um garoto mais vivo, mais decidido e tinha a aparência mais saudável... Era isso que a felicidade fazia, não é? Vez ou outra o casal trocava um carinho sutil e ele beijava a mão dela. Estavam evoluindo, um aprendendo com o outro, um sendo à base do outro e juntos eles encontrariam um meio de enfrentar o resto do mundo, queria poder ver esse meio... Mas ainda sim estava feliz.
  - Está perfeito assim. – Terminei de por o único biscoito que peguei na boca e suspirei, deixando transparecer a minha melhor expressão.
  - Talvez tenha uma forma de fazê-lo lembrar. – A minha dor deveria está saindo pelos poros, ou era apenas Nathaniel que me conhecia melhor do que qualquer um?
  - Se tiver, eu encontrarei. Por enquanto, eu quero só... Quero só descansar. – Franzi a testa e olhei pra cima. A claridade passava sutilmente por entre as folhas das árvores, que se sacudiam com o vento. Fechei os olhos e respirei fundo, tudo daria certo afinal.
  - Não há nada que queira me dizer? – Eu sou realmente uma péssima atriz.
  - Sim, mas por hoje eu não quero chorar. Por hoje só quero aproveitar essas boas memórias.   – Nathaniel acenou com a cabeça e sorriu.
  - Está bem, está bem. – Ele esfregou os dedos na minha franja e eu sorri. Por dentro eu estava exausta de fingir.

  **

  “Mesmo se eu estou separado de você, não importa o quão distante, eu vou ser carregada com o novo amanhecer.” 

  Todas as vezes que fiz esse caminho algo inusitado aconteceu, mas hoje eu sabia que infelizmente nada aconteceria, ninguém me salvaria. Caminhava à frente, de cabeça baixa, com Leigh e seu pai me seguindo. A lua minguante estava no céu e seu brilho era a única coisa que iluminava aquele caminho. Dessa vez eu não senti medo e também estava conformada, mas não deixava de pensar: Como seria amanhã?

  Como seria quando Flor encontrasse a minha carta e se desse conta de que eu não estava mais lá? Ela sempre soube que odeio despedidas. Quando você olha pra trás e não vê nada, é muito mais fácil continuar. Agora como eu conseguiria seguir em frente com todos aqueles olhos sobre mim? Como eu conseguiria dizer adeus a todas aquelas pessoas que eu amo? Como conseguiria aceitar o que viria, se desejava que meu destino fosse ali do lado deles? Partir assim seria mais fácil. Eles acordariam pela manhã e agiriam normalmente, por que não havia mais nada a ser feito.

  Desejava na carta a Flor que me perdoasse, agradeci pelo tempo que dedicou tentando me proteger e que estava na hora de seguir sozinha. Pedi também que me escrevesse sobre a escola como se eu nunca tivesse colocado meus pés nela e sobre seus amigos como se nunca tivessem sido meus. Pedi que se tornasse mais forte, que vivesse bem e que algum dia viesse me ver... Mas sabia que ela não iria. Ela não me perdoaria por muito tempo, e quando seu ressentimento fosse menor as suas lembranças sobre mim também teriam diminuído até nossa amizade se tornar uma fina e longa linha, sempre nos mantendo juntas independente de tudo, mas distantes demais pra podermos voltar a ser como antes. Talvez isso fizesse parte de amadurecer, de crescer e de amar, permitir que a pessoa se torne mais forte, por que o que sempre puxou Flor pra baixo, fui eu.

“Eu vou por mim, mesmo se estou com medo de morrer, eu consigo ouvir a sua voz, não devo morrer.” 

  Será que eles sentiriam a minha falta? Eu não queria entrar na vida deles e também não queria sair, não pedi permissão pra nenhuma dessas coisas e desejava que ainda sim eles não me odiassem por muito tempo. Queria que todos se lembrassem do nosso “pique-pega” hoje à tarde, da Demi intrometida, brincalhona e feliz... Não da garota que derrubava uma lágrima a cada passo, mas era o fim. Percebi que não tinha volta quando vi o ônibus me esperando, no mesmo lugar que ele havia me deixado.
  - Bom, é isso. – Leigh anunciou e eu parei, me virando para encara-lo e acenando com a cabeça.
  - Pode me fazer um favor? – Ele acenou com a cabeça e eu respirei bem fundo, procurando a minha voz.
  - Pode dizer a eles que eu os amo? Eu realmente os amo, e agradeço do fundo do coração tudo o que fizeram por mim, os dias que dedicaram ou se preocuparam comigo, as forma como me receberam. Eu fui uma intrusa, mas eu estive aqui... Eu amei, brinquei, briguei... E juro que dei o meu melhor, e fui aqui a Demetria de verdade, a garota que esqueci que existia dentro de mim, então obrigada... Muito obrigada... E desejo que todos eles me perdoem por ter sido covarde demais pra me despedir, mas eu realmente os amo muito. – Solucei e Leigh se aproximou, me abraçando e dando um beijo na minha testa. Era algo surpreendente vindo dele.
  - Eles com certeza, sempre vão saber que você esteve aqui. – O vampiro abriu um sorriso singelo e tocou o meu rosto, me fazendo olhar em seus olhos.
  - Me desculpe por isso, mas você terá que esquece-los. - Acenei positivamente com a cabeça.
                                                                 Eu esqueceria.


  “Mesmo que pareça doloroso, mesmo se eu estou chorando de tristeza, no fundo do meu coração eu sinto seu calor.” 

**

  2 ANOS DEPOIS


  O vento tocava os meus cabelos, enquanto os meus pés tocavam a grama verde. Aspirei o cheiro doce que a primavera trazia e apoiei a cabeça na corda do balanço, que ficava no jardim da minha nova mansão. O sol estava se pondo e por isso resolvi sair um pouco, toda aquela claridade me incomodava incrivelmente. Minha vida mudou drasticamente nos últimos tempos. Um acidente de carro com a minha família do qual só eu sobrevivi há 18 meses, tornou tudo mais difícil. Uma semana depois descobri que havia uma grande herança a minha espera e um homem bateu a minha porta dizendo ser um antigo amigo da família que jurou nos servir, esse era Dimitry. Ele parecia severo demais às vezes, mas no fundo era gentil, confiável e vivia se engalfinhando com Suzy, a minha tutora. Acho que eles se amam.

  Me levantei e espreguicei, talvez leria um livro já que tinha a tarde de hoje livre. Quando entrei em casa ouvi o som da campainha ressoar, e como estava perto da porta resolvei atender.
  - Pode deixar que eu atendo, Dimitry. – Anunciei ao mordomo que estava na cozinha, possivelmente atormentando a vida da pobre Suzy, aquele dois viviam discutindo sobre a organização disso e daquilo, enlouquecendo a cozinheira e seu marido, o motorista.
Quando abri a porta dei de cara com os ombros largos de um rapaz, seu cabelo crescidinho descia pela nuca apresentando algumas áreas com um tom de preto, seu cheiro era tão delicioso que me senti embriagada.
  - Ah, olá? – Chamei e quando ele se virou, abriu um sorriso que mostrava perfeitamente seus dentes brancos e alinhados. Não conseguia diminuir o meu sorriso, meu corpo queria saltar e se jogar contra ele, mas tentei manter as aparências.
  - Demorei muito? – Soltei uma risada baixa e dei de ombros.
  - Muito, mas sou boa em esperar. – Anunciei.
  - Estava me esperando? – Revirei os olhos, o que era essa pergunta tola agora?
  - Claro, você pediu que eu o fizesse. – Ele abriu outro daquele seu sorriso iluminado e me surpreendeu, envolvendo seu braço na minha cintura e colando seus lábios aos meus. Não queria pensar em nada mais, nada além daqueles lábios nos meus.

  “O tempo mudou, uma vez que subia e descia. Eu não consigo lembrar o que aconteceu mais, mas se eu fechar meus olhos eu consigo ouvir o riso de alguém, de alguma forma esse é agora o meu tesouro mais precioso.”

http://imageshack.us/a/img252/2096/semttulo2xao.png


EPILOGO •• Deixando você ir.

FlashBack

  - Por que estamos aqui tão cedo? – Bocejei e me estiquei, a dor no corpo ainda estava ali, mas me sentia muito mais disposta do que normalmente, sentia meu corpo mais forte, talvez por causa do sangue de Lysandre.
  - Essa é a nossa despedida. – Ele falou e eu parei de me alongar, me virando pra encara-lo.
  - Do... Do que está falando? – Ele parecia bem sério e decidido em suas palavras.
  - Demetria, eu preciso que você confie em mim mais do que nunca. – Lysandre se aproximou e tocou minhas mãos, beijando cada uma delas. – Eu estou realmente orgulhoso de você, de como evoluiu e da garota que é hoje. E eu te amo. – Seus olhos pareciam tristes e seu toque na minha mão era firme, como se ele não desejasse mais me largar e eu queria que ele não largasse.
  - Eu também te amo, e gostaria que você fosse mais direto. – Ele abriu um sorriso no canto dos lábios e me puxou, sentando e me fazendo sentar ao seu lado.
  - Tenho um plano pra que fiquemos juntos, mas infelizmente você terá que partir primeiro. – Eu o encarei, não entendendo muito bem. – Convenci a minha mãe a te manter viva, mas não convenci que você deve ficar. De qualquer forma, sabe o cordão que peguei de volta? Ele é uma forma de amuleto muito antigo da minha família e é um desse que protege o portal da escola, mas ele foi meio danificado. Com isso o meu cordão será colocado no lugar, enquanto original está sendo restaurado. Quando isso acontecer, parte da minha humanidade se vai...
  - Então você ficaria...
  - Como no dia que eu te ataquei. Ficaria com a minha forma original, e se isso acontecer com você por perto, outro desastre poderia acontecer e não quero, não posso ser o responsável pela sua morte. – Pressionei meus lábios e acenei positivamente com a cabeça.
  - O-o que devo fazer? Eu te verei novamente não verei? – Lysandre enxugou a lágrima que começou a escorrer pela lateral do meu olho, então ele sorriu.
  - Vai, não sei quanto tempo isso pode levar, mas definitivamente eu vou atrás de você, não importa onde. – Ele tirou do bolso um colar, com um pingente em forma de gota. – Não é como o outro, mas também te protegerá. Esse é um cordão como o de Flor e de Nathaniel, que mantem totalmente a forma humana de uma pessoa. – Ele abriu o fecho e virei, pra que ele colocasse o cordão em mim.
  - E por que está me dando isso? – Voltei a encara-lo.
  - Por que existe muito do meu sangue em você, e pelo que conversei com Leigh não é certo, mas com o tempo você pode ir se transformado em alguém como eu, isso é uma forma de te proteger. Esse tipo de cordão só pode ser retirado por outra pessoa, então quando eu te encontrar novamente eu o tirarei e veremos. – Então eu podia ir me transformando em vampira aos poucos? Era realmente novo pra mim.
  - Eu estou com medo... De nunca mais te ver. – Ele me puxou e fez com que sentasse no seu colo, abraçando minha cintura e beijando por cima da minha blusa, o lugar da cicatriz que ele deixou.
  - Isso não vai acontecer! Não confia em mim? Você me pertence. – Sorri e sustentei seu olhar, seus olhos me tranquilizaram de forma inexplicável. – Vou precisar que você faça mais uma coisa. – Agora aquele olhar triste voltou a sua face, e ele tocou a minha bochecha.
  - O que é? – Perguntei com a voz chorosa.
  - Preciso que seja uma boa atriz. – Ele beijou o meu rosto. – Minha mãe quer que minha mente seja alterada e que eu assim me esqueça de você. Conversei com Leigh e ele topou fingir apagar a sua mente, quando for te deixar no ônibus e fará o mesmo comigo. Nesse caso quando te ver, eu irei fingir que não te conheço. – Derramei outra lágrima.
  - Você promete que vai ser só atuação? Lysandre, me jure que será... – Ele me apertou em seus braços e afundei o rosto no seu pescoço, me entregando ao choro, enquanto ele deslizava a mão pelos meus cabelos.
  - Eu juro! É impossível, mesmo se eu quisesse... Você é uma parte de mim. – Depois de dizer isso ele segurou no meu rosto e olhou bem nos meus olhos. – Você pode confiar em mim? Você pode me esperar? – Ele parecia preocupado e então afirmei com a cabeça.
  - Eu posso, eu sempre vou te esperar. – Sorri e ele sorriu também. Lysandre puxou a minha coxa e fez com que eu ficasse sentada de frente pra ele, o garoto deslizou a mão pela lateral do meu corpo e me puxou pra ainda mais perto, mordendo meu queixo e em seguida meu lábio inferior.
  - Então isso não é um adeus. – Depois de dizer isso Lysandre me beijou, no inicio era um beijo calmo e afetuoso, mas com o tempo tornou-se desesperado, como se ele desejasse recompensar todo o tempo que ficaríamos longe.

  Eu usaria esse tempo pra me tornar mais forte, pra ser uma pessoa melhor e mais inteligente. Usaria esse tempo pra me lembrar de todos os bons momentos que vivi. Viveria dia após dia, apreciando a minha vida e ansiando pelo dia que o teria de novo assim, nos meus braços.

[b]Fim do FlashBack[b]











Nenhum comentário:

Postar um comentário